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Elena tinha 17 anos e levava uma vida tranquila no campo ao lado de sua mãe, Mirian. Crescera entre o perfume das flores, o canto dos pássaros e os longos dias de sol entre plantações. Ao longo dos anos, mãe e filha cultivaram muito mais do que alimentos — cultivaram laços profundos, feitos de amor, dedicação e cumplicidade.
Mirian, uma mulher forte e decidida, fazia o impossível para que nada faltasse à filha. Mesmo sendo mãe solo, nunca permitiu que as dificuldades se sobrepusessem ao carinho. Elena sempre teve o essencial para viver — e o mais importante: um lar cheio de amor.
Sobre o pai, Mirian contava apenas o necessário. Dizia que ele fora um homem honrado, mas que a vida o levou cedo demais, antes mesmo de conhecer a filha. Elena respeitava o silêncio da mãe, mas, no fundo, nutria uma curiosidade crescente.
Com sua beleza serena — cabelos ruivos, olhos bicolores e uma presença delicada — Elena chamava atenção por onde passava, especialmente entre os jovens da cidade. Ainda assim, Mirian a aconselhava a manter o foco nos estudos e no coração protegido. “Tudo tem seu tempo”, dizia com a firmeza de quem sabia o que havia além do que os olhos viam.
Elena era gentil, educada e pura de espírito. Um sopro de doçura em meio a um mundo que, para ela, ainda parecia simples e seguro.
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Elena:
Acordei cedo, como de costume. Fiz minha higiene, vesti meu uniforme e fui para a cozinha, onde mamãe já tomava o café da manhã. Sentei à mesa e comi algumas torradas com a geleia de damasco que ela mesma preparava. Bebi meu suco de laranja — colhido por ela no pomar, sempre fresco, sempre doce. Mamãe tinha um cuidado tão grande com cada detalhe… às vezes, eu me perguntava se havia algo mais por trás de tanto zelo.
Adelaide e Cristian me esperavam na escola. Eles sempre estiveram ao meu lado. Nossa escola era pequena, discreta, e apesar de a cidade ser grande, não havia tantos jovens por lá. Nunca tive problemas com ninguém — talvez por ser mais quieta, talvez por sorte. Meus amigos eram meu porto seguro.
Agora, prestes a completar 18 anos, mamãe me perguntou o que eu gostaria de ganhar. Pensei em pedir livros. Já havia lido todos os que tínhamos em casa, e novas histórias sempre acalmavam minha alma.
Mas o que realmente ocupava meus pensamentos era a tal carta.
Mamãe mencionara que havia uma carta destinada a mim, guardada há anos, e que só poderia ser aberta no meu aniversário de dezoito. O mistério em torno dela me deixava intrigada. Seria algo sobre meu pai? Sobre nosso passado?
Eu mal podia esperar. Faltavam apenas três dias.
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Cristian:
Cheguei à escola com Adelaide, mas minha cabeça estava longe. Um turbilhão de pensamentos me acompanhava desde o momento em que acordei. Eu havia decidido: hoje, falaria com Elena. Revelaria tudo.
Nossa amizade já durava anos. Adelaide foi quem a conheceu primeiro, e logo me aproximei. No início, era só amizade mesmo. Mas, com o tempo, fui me dando conta de como aquela garota — tão diferente de tudo ao meu redor — mexia comigo.
Seus olhos bicolores sempre voltavam nos meus sonhos. Seu jeito calmo e simples, a forma como ela valorizava as pequenas coisas… tudo nela me tocava de uma forma que eu não conseguia ignorar.
Tenho medo, claro. Medo de estragar o que temos. Mas guardar isso dentro de mim está se tornando insuportável.
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Adelaide:
Cristian pensa que me engana, mas eu o conheço como a palma da minha mão. Ele está completamente apaixonado por Elena — e, sinceramente, não o culpo.
Elena é uma garota rara. Não tem malícia, nem vaidade exagerada. Vive de forma simples, mas é feliz com isso. A verdade é que, apesar de termos tudo em casa — dinheiro, conforto, roupas caras — falta o que ela tem de sobra: amor.
Nossa mãe morreu há anos, e desde então, nosso pai mergulhou no trabalho como se fosse a única coisa que restava. Ele nunca está presente. Nunca olha nos nossos olhos com carinho. Em casa, somos ricos… mas vazios.
Por isso admiro Elena. Ela não tem muito, mas tem tudo o que importa.
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Atualizado até capítulo 131
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