Capítulo – O Chamado da Linhagem
As neves do Norte nunca dormem. Nem mesmo no silêncio das madrugadas, quando o mundo parece suspenso entre os sussurros do vento e o ruído distante das criaturas que vivem entre véus.
Naquela noite, Kátyra despertou suada, a respiração entrecortada. O sonho havia voltado, mais vívido do que nunca.
> "Χάτυρα... Χάτυρα εἶ... Θυγάτηρ τοῦ Φωτός..."
Kátyra… Kátyra és… Filha da Luz…
A voz ecoava em sua mente como um trovão suave, carregada de poder e dor. Era a mesma voz das últimas noites, mas agora havia um nome diferente: Thygátēr tou Phōtós.
Ela levantou-se, ignorando os olhares dos guardas à porta do salão de inverno. Havia uma atração irresistível em direção aos limites do reino — ao Vale das Almas Adormecidas, onde nenhum sangue real havia pisado desde o tempo de Moira.
Caminhou sozinha até a cripta ancestral, onde as estátuas dos antigos se alinhavam como sentinelas esquecidas. Ali, entre espelhos cobertos por gelo eterno, encontrou um de cristal puro. Ao tocá-lo, ele a reconheceu.
No reflexo, viu todas as linhagens que habitavam seu sangue: o fogo dos Dragões, o sopro dos Grifos, a firmeza dos Ursos, a sombra dos Darxas… e algo mais. Um sexto traço, oculto, que pulsava em tons dourados.
Uma inscrição surgiu no espelho, em grego antigo:
"Aquela que é de todas as casas será a última luz ou a primeira sombra."
Ela agora sabia: os Darxas buscavam o Coração de Éter, e seu sangue era a chave.
– O Olhar do Bardaxa
As geleiras tremiam com o peso dos passos de Kátyra. Ela seguia por trilhas abandonadas ao tempo, onde nem os corvos ousavam voar. A procura por respostas a levou a uma antiga biblioteca enterrada sob os escombros de um templo Ataxa.
Mas antes que pudesse decifrar os sigilos nas paredes, foi emboscada. Três Ataxas surgiram das sombras com suas lâminas negras, olhos incandescentes.
A batalha foi breve, brutal. Ela teria perecido… se não fosse por ele.
Tharion.
Um Bardaxa. Alto, pele marcada por runas antigas, olhos com reflexos âmbar e roxo — um sinal da mistura de Guardião com Darxa. Ele lutava com ferocidade e beleza. Quando os corpos tombaram, ele se virou para ela, arquejando:
— "Você é a filha do Norte… Mas também é herdeira de algo que ninguém entende. Os Ataxas não a querem morta. Querem usá-la."
Caminharam juntos. Ele revelou ter fugido das minas de ônix, onde os Bardaxas eram escravizados. Trazia consigo parte de um mapa que levava à relíquia sagrada.
Durante a jornada, Kátyra começou a ouvir sussurros nos ventos — vozes que Tharion também escutava. Eram memórias. Vidas antigas que vibravam entre os dois, como se o destino deles estivesse preso por fios tecidos antes mesmo do tempo.
Ela não sabia se confiava nele. Mas em seus olhos havia algo que ela reconhecia: dor, resistência… e algo mais perigoso — verdade.
A Torre de Ébano
Erguendo-se no coração da Floresta dos Ecos, a Torre de Ébano parecia viva. Feita de um metal negro e liso, pulsava com energia sombria. Diziam que nela repousavam os ecos dos Guardiões originais, que um dia caminharam entre os mundos.
Kátyra e Tharion chegaram ao portão ao cair da noite. As runas na entrada reagiram ao toque da princesa, abrindo passagem. Mas só ela pôde entrar.
> "Três espelhos. Três escolhas."
Primeiro espelho: Coragem.
Ela foi confrontada com uma versão de si mesma — uma Kátyra cruel, dominadora, que aceitara o trono das sombras. Lutou contra essa visão, negando-a… mas compreendendo que a força também era parte dela.
Segundo espelho: Verdade.
Mostrou-lhe Moira em Corinto, conjurando feitiços proibidos para proteger o Clã de Cristal. Mostrou Cora sendo traída pelos próprios guardiões. Mostrou Adam selando pactos com forças ocultas. Kátyra entendeu que todos haviam mentido. E que ela era o resultado dessas mentiras.
Terceiro espelho: Sacrifício.
Ela viu Tharion aprisionado por Ataxas. Do outro lado, o Fragmento do Coração de Éter flutuava. Mas ela só poderia escolher um: salvá-lo… ou cumprir sua missão.
Com lágrimas nos olhos, ela virou as costas para o cristal e quebrou o espelho. A torre tremeu. O coração desapareceu, e Tharion foi libertado.
Uma voz antiga ecoou:
> "Aquela que renuncia ao poder por amor… carrega o poder que não se pode roubar."
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Atualizado até capítulo 115
Comments
Kavaurei
Estou emocionada com essa história! É de tirar o fôlego!
2025-04-23
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