Tentei seguir o conselho da Bianca. De verdade, tentei.
Mas eu sou intensa. Ansiosa. Não sei esperar pacientemente como uma daquelas pessoas que simplesmente aceitam o fluxo da vida. Eu queria agir, queria buscar, queria encontrar ele.
Os dias se arrastavam, e eu tentava me distrair como podia. Saía para caminhar, assistia filmes, comecei até a ler um livro novo coisa que eu não fazia há tempos. Mas, no fundo, a espera me corroía.
E, para piorar, Daniel não facilitava minha vida.
Três meses depois do nosso término, ele já estava com outra. Vi a foto deles no Instagram. Um jantar romântico, taças de vinho, legendas melosas. Pareciam felizes.
O problema?
Ele ainda me mandava mensagens.
"Oi, Hady. Como você tá?"
"Lembrei de você hoje. Achei aquele restaurante que você sempre quis conhecer."
"Sinto sua falta."
Era irritante. Não porque eu ainda sentia algo por ele, mas porque me fazia questionar se tinha tomado a decisão certa. Eu sabia que sim, mas as dúvidas insistiam em aparecer.
Naquela manhã, resolvi levar minha cadelinha, Latinha, para passear. O sol estava quente, mas uma brisa suave tornava o dia agradável. Enquanto caminhávamos pelo bairro, Latinha começou a puxar a guia em direção a um pequeno jardim em frente à casa da minha vizinha, Dona Célia.
E foi aí que conheci ele.
— Ei, calma, calma! — disse uma voz masculina, rindo.
Olhei para frente e vi um rapaz abaixado, com Latinha já deitada de barriga para cima, recebendo carinho. Ele tinha cabelos castanhos, um pouco bagunçados, e olhos castanho-escuros que brilhavam sob o sol.
— Parece que alguém gostou de mim — ele brincou, olhando para mim.
Sorri, puxando a guia de leve.
— Desculpa, ela adora atenção.
— Sem problemas, eu gosto de cachorros.
Ele se levantou e estendeu a mão.
— Eu sou Caio. Sobrinho da Dona Célia.
Apertei sua mão.
— Hadassa. Mas pode me chamar de Hady.
Ele sorriu.
— Nome bonito.
— Obrigada.
— Você mora aqui no bairro há muito tempo?
— Desde sempre. Minha mãe mora ali naquela casa de portão azul.
Ele assentiu.
— Entendi. Eu vim passar um tempo com a minha tia. Me mudei recentemente para cá, ainda estou me adaptando.
— E de onde você veio?
— São Paulo. Mas não me acostumei muito com a cidade grande. Prefiro lugares mais tranquilos.
Conversamos por um tempo. Ele era simpático, divertido, tinha um jeito leve de falar. E, no final da conversa, ele pediu meu número.
Por que não?
Passei meu contato e seguimos nossas vidas.
Nos dias seguintes, trocamos mensagens. Falávamos sobre tudo e sobre nada. Ele me mandava memes, perguntava como eu estava, me chamava para sair.
Mas… não rolava nada.
Nada de frio na barriga, nada de coração acelerado.
Eu gostava de conversar com ele, mas não tinha um pingo de química entre nós.
E eu sabia por quê.
Ele não era ele.
Numa noite qualquer, Bianca me ligou.
— Como anda a paciência? — ela perguntou, já rindo.
— Péssima.
— Imaginei. Alguma novidade?
Suspirei.
— Conheci um cara. Caio, sobrinho da minha vizinha.
— E aí?
— Nada. Ele é legal, mas não sinto nada além de amizade.
— Pelo menos está conhecendo pessoas.
— Mas de nada adianta. Sinto que estou perdendo tempo.
Bianca ficou em silêncio por alguns segundos antes de perguntar:
— E Daniel?
Revirei os olhos.
— Ele arrumou outra.
— E continua te mandando mensagem, né?
— Sim.
— E você responde?
— Às vezes.
— Hady… — ela suspirou. — Você tem que cortar isso de vez.
Mordi o lábio inferior.
— Eu sei.
— Então faz. Você não ama mais o Daniel. Você só tem medo de estar errada.
Respirei fundo.
Ela estava certa.
— Tá bom. Eu vou parar de responder.
— Ótimo. E sobre o Caio, só curte a amizade. Você não precisa forçar um romance se não sente nada.
— Eu sei. Só fico me perguntando se algum dia vou sentir algo por alguém de verdade.
— Vai. E quando acontecer, você vai saber.
Depois que desliguei, fiquei olhando para o teto do meu quarto.
E se Bianca estivesse certa?
E se eu estivesse tentando apressar algo que só vai acontecer na hora certa?
Suspirei e peguei o celular.
Bloqueei Daniel.
E, pela primeira vez, senti que estava dando um passo na direção certa.
Depois de tanta insistência da minha mãe e da Bianca, comecei a suspeitar que elas achavam que eu estava entrando em depressão.
— Você precisa sair um pouco, Hady — minha mãe insistiu enquanto lavava a louça. — Só trabalha e fica em casa o tempo todo.
— Eu gosto de ficar em casa — respondi, concentrada no celular.
— Isso não é saudável — Bianca entrou na conversa pelo viva-voz. — Você tem que se divertir.
— Eu me divirto assistindo séries.
Minha mãe bufou e Bianca suspirou.
— Aceita sair com o Caio, só uma vez — minha mãe sugeriu.
— Já disse que não sinto nada por ele.
— E quem disse que você tem que sentir? É só um encontro casual. Sem pressão — Bianca argumentou.
— Se eu for, vocês me deixam em paz?
— Sim — as duas responderam ao mesmo tempo.
E foi assim que me vi sentada num restaurante com Caio, tomando um suco de laranja e ouvindo um monólogo interminável sobre a ex-namorada dele.
— Então, cara, ela me trocou por uma mulher! — ele exclamou, gesticulando como se isso fosse a maior tragédia do mundo. — Como é que eu ia competir com isso?
— Hm… — murmurei, tomando um gole do suco.
— Mas sabe o que é pior? Eu ainda sou apaixonado por ela.
Tentei não revirar os olhos.
— E por quê?
— Porque ela topava tudo.
Arqueei uma sobrancelha.
— Como assim?
Ele se inclinou na mesa e abaixou um pouco a voz.
— Cara, ela era muito aberta, sabe? Gostava de usar uns brinquedinhos.
Quase engasguei com o suco.
— Brinquedinhos?
— É, para apimentar a relação.
Fiz um som neutro.
— Ok.
— E além disso, ela era bi. Então curtia relação a três.
Meu estômago revirou.
— Ah.
— E também tinha fetiche de masoquismo.
Parei, respirei fundo e olhei para ele.
— Caio…
— Oi?
— Você tem noção de que isso que você sente por ela não é amor?
Ele piscou.
— Como assim?
— Isso é obsessão. Você não ama ela, você ama a ideia do que ela fazia por você.
Ele ficou em silêncio por um momento, pensativo.
— Nunca tinha pensado por esse lado…
Levantei a mão para chamar o garçom.
— Olha, Caio, acho que você precisa resolver esses sentimentos antes de sair com outras pessoas.
Ele riu sem graça.
— É… talvez você tenha razão.
Terminamos a noite sem muito mais conversa e fui para casa, aliviada por aquele desastre ter acabado.
Nunca mais aceitei sair com alguém por insistência dos outros ou era o que pensava.
Obrigada por acompanhar.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
Luisa Nascimento
Muito direto esse Caio.
2025-04-20
1
Dulce Gama
KKK esse Caio foi direto KKK 🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️
2025-03-16
0
nandinha
Nossa cara falar sério
2025-02-28
0