( Alexandre )
Me chamo Alexandre Lacerda e tenho 28 anos.
Na maior parte da minha vida, sempre me senti como o peso que ninguém queria carregar. Não o filho prodígio, nem o rebelde charmoso – só o "erro" que teve sorte demais para sequer existir. Sempre fui Alexandre, o bastardo. É engraçado como uma palavra consegue resumir tão perfeitamente o desprezo que alguém pode sentir por você.
Naquela época, eu tinha 16 anos, mas me lembro como se fosse ontem. Ainda morávamos na mansão da família, um lugar tão grande e vazio que parecia mais um mausoléu. Não porque faltasse gente; meus meio-irmãos sempre estavam por lá, espalhados como estátuas de mármore, frios e implacáveis. Eles nunca me chamaram pelo nome; era sempre "o garoto" ou "o outro". E meu pai... bom, ele preferia evitar o incômodo de lembrar que eu existia.
A verdade é que ele me reconheceu legalmente porque minha mãe o obrigou. Forçou a barra, jogou sujo, ameaçou expor segredos, e ele acabou cedendo. No entanto, reconhecimento não é aceitação.
Flashback - Jantar na Mansão
Era uma daquelas noites sufocantes. Sentávamos à mesa do tamanho de um campo de futebol, com cadeiras forradas de veludo vermelho. Eu odiava aqueles jantares – cheios de etiqueta e falsidade. Minha mãe dizia que era importante manter as aparências, mas, honestamente, eu nunca soube para quem.
Seu Fernando, meu pai, aquele velho severo com um olhar de pedra, estava na cabeceira. À direita, estavam meus dois irmãos mais velhos: Álvaro e Edgar, perfeições vivas aos olhos dele. À esquerda, eu, sozinho.
Álvaro (olhando para mim): Você podia pelo menos fingir que tem algum propósito em estar aqui, Alexandre.
Edgar (rindo): Deixa pra lá, Álvaro. Propósito e Alexandre nunca se encontraram na mesma frase.
A ironia é que eu tinha resposta pra isso, mas aprendi rápido que retrucar só piorava as coisas. Então engoli seco, comendo devagar, enquanto minha mãe apertava minha perna debaixo da mesa – um lembrete mudo para me controlar.
Meu pai pigarreou. Uma voz pesada que silenciava qualquer sala.
Fernando: Álvaro, Edgar, em breve vocês serão os novos representantes da família nas ações do grupo. Estou cansado, e confio que vocês vão manter nossa reputação intacta.
Ele não olhou na minha direção nem por um segundo. Como se eu fosse invisível. Talvez, naquele momento, fosse melhor ser. Mas minha mãe Ângela tinha outros planos.
Ângela (desafiadora): E Alexandre, o que ele fará?
Eu levantei a cabeça, surpreso por ela abrir a boca. Ela sabia como as coisas funcionavam ali, mas mesmo assim tentou.
Meu pai finalmente se deu o trabalho de me encarar. Foi como olhar para uma parede que está prestes a desabar.
Ângela: Alexandre já faz muito apenas existindo. Não temos tempo para expectativas irreais.
As palavras cortaram mais fundo do que eu esperava. Álvaro e Edgar riram, como sempre faziam, mas minha mãe... ela segurou minha mão embaixo da mesa.
Ângela (tentando manter a compostura): Você é tão filho quanto eles. Ele merece uma chance, Fernando.
Fernando (com desprezo): Chance? Tudo que ele tem veio de você manipular situações. Então talvez ele seja seu filho – mas nunca será meu herdeiro.
Levantei-me sem terminar de comer. Não podia mais aguentar aquilo. Subi correndo para o meu quarto, os olhos queimando. Não era a primeira vez que aquilo acontecia, mas de alguma forma, ainda doía como se fosse.
Perspectiva Atual
Acho que, a partir daquele dia, decidi que não me importava. Pelo menos era isso que eu dizia a mim mesmo. Fiz do sarcasmo meu escudo, da determinação meu combustível. Se eles não queriam me dar nada, eu ia pegar. Se eles me viam como um "erro", eu seria o erro mais bem-sucedido que já existiu.
Era irônico, realmente. Cresci cercado por luxo e poder, mas nenhum deles era meu. Tudo o que construí depois foi pelas minhas mãos, longe daquela família. E ainda assim, o peso daquele jantar e das palavras do meu pai nunca me abandonou.
Minha não pôde mais me proteger, ela faleceu quando eu ainda era adolescente.
E hoje, tudo que faço carrega uma sombra daquele garoto que ouviu, impotente, que nunca seria o suficiente.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 98
Comments
Naiara Neta
nossa que triste coitado
2025-04-18
0
Fatima Gonçalves
CARAMBA QUE TRISTEZA
2025-04-18
0