A semana parecia arrastar-se, como se cada dia fosse mais longo que o anterior. Tudo o que eu conseguia pensar era no encontro com Azirrel. Por mais que eu tentasse me concentrar no trabalho na lanchonete ou nas tarefas de casa, minha mente sempre acabava vagando para aquele momento. Será que ele era tão interessante pessoalmente quanto parecia nas mensagens? Será que gostaríamos um do outro tanto quanto imaginávamos?
Quando finalmente o domingo chegou, acordei cedo, sentindo uma mistura de ansiedade e empolgação. Escolhi um vestido midi cor rosa bebê, que sempre me fazia sentir confiante e confortável. Penteei meu cabelo com cuidado, deixando-o solto, e passei um toque de maquiagem leve, só para realçar. Quando olhei no espelho, sorri para mim mesma. Eu estava pronta.
Pedi um carro por aplicativo e, durante o trajeto, senti meu coração bater mais rápido a cada quilômetro percorrido. O dia estava bonito, o céu limpo, e parecia que até o universo conspirava para que tudo desse certo.
Ao chegar ao local marcado, a feira do livro já estava movimentada. Pessoas caminhavam entre as barracas, conversando animadamente e segurando sacolas cheias de livros. Desci do carro, ajustei o vestido e olhei ao redor, procurando por Azirrel.
E então o vi. Ele estava um pouco afastado, perto de uma barraca de livros antigos, e parecia estar me esperando. Seu cabelo ruivo brilhava sob o sol, e seus olhos verdes destacavam-se ainda mais em contraste com a pele clara. Ele usava uma camisa preta simples e calça jeans, e mesmo com a aparência casual, havia algo nele que chamava atenção.
Quando nossos olhares se encontraram, ele abriu um sorriso. Um sorriso tão lindo que fez meu coração dar um salto. Por um momento, o resto do mundo pareceu desaparecer, e tudo o que eu conseguia enxergar era ele.
Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade, e caminhei em direção a ele. Quando cheguei perto, ele me olhou de cima a baixo, como se estivesse me admirando, e disse:
— Laís, você está linda.
Eu sorri, sentindo minhas bochechas corarem.
— Obrigada. Você também está muito bem.
Ele riu, e aquele som me fez relaxar um pouco. Era um riso leve, genuíno, e combinava perfeitamente com ele.
— Pronta para mergulhar no mundo dos livros? — ele perguntou, estendendo a mão como um gesto amistoso.
Assenti, sentindo uma onda de empolgação me invadir.
— Sempre.
E assim, começamos a caminhar juntos pela feira. E eu sabia, no fundo, que aquele dia seria mais especial do que eu poderia imaginar.
O dia parecia ainda mais bonito enquanto caminhávamos pela feira. Azirrel e eu explorávamos cada barraca, conversando sobre livros, autores e histórias que marcaram nossas vidas. A atmosfera estava cheia de risos, páginas sendo folheadas e cheiros de café vindo de uma barraca ao fundo.
Foi então que, enquanto passávamos por uma área mais tranquila, meus olhos se arregalaram. Ali, sentado em uma mesa, cercado por poucas pessoas, estava ele: Júlio Serrano. Meu autor preferido.
Ele era exatamente como eu imaginava, talvez até mais impressionante. Um homem de pele negra brilhante, careca, com uma barba bem aparada e uma expressão amigável. Usava uma camisa azul clara e óculos que lhe davam um ar intelectual, mas acessível. Ele parecia tão tranquilo, sorrindo enquanto autografava alguns livros e conversava com os poucos fãs ao redor.
Meu coração disparou.
— Azirrel! — exclamei, segurando seu braço com um entusiasmo que o fez rir.
— O que foi, Laís? — ele perguntou, confuso, mas divertido.
— É o Júlio Serrano! Meu autor preferido! Eu não acredito que ele está aqui!
Ele olhou na direção que eu apontava e sorriu, parecendo entender minha empolgação.
— Então, o que está esperando? Vai falar com ele.
Eu hesitei por um momento, sentindo a timidez ameaçar me paralisar.
— Não sei... e se eu atrapalhar? — murmurei, mordendo o lábio.
Azirrel riu e segurou minha mão, me puxando levemente em direção à mesa.
— Laís, você não vai perder essa oportunidade. Vai lá.
Respirei fundo, tentando controlar o nervosismo, e deixei Azirrel me conduzir. Quando estávamos perto o suficiente, Júlio Serrano levantou os olhos, e eu senti como se o chão estivesse desaparecendo.
— Olá — ele disse, sorrindo de forma calorosa. — Como posso ajudá-la?
Eu abri a boca, mas por um segundo nenhuma palavra saiu. Azirrel apertou levemente minha mão, me incentivando, e finalmente consegui falar:
— Eu... eu sou uma grande fã do seu trabalho. Suas histórias me inspiraram tanto, e... seria um sonho tirar uma foto com você.
Ele riu suavemente, claramente acostumado com a admiração dos leitores, mas ainda assim atencioso.
— Claro que podemos tirar uma foto. É sempre um prazer conhecer alguém que aprecia o que escrevo.
Tirei meu celular da bolsa e pedi para Azirrel tirar a foto. Ele pegou o aparelho com cuidado e posicionou, enquanto eu me aproximava de Júlio Serrano. O autor sorriu para a câmera, e eu fiz o mesmo, sentindo meu coração quase sair pela boca.
Depois da foto, peguei o exemplar do meu livro preferido dele, que eu sempre carregava na mochila, e perguntei:
— Você poderia autografar?
Ele assentiu, pegando o livro e abrindo na primeira página.
— Claro. Qual é o seu nome?
— Laís.
Enquanto ele escrevia uma dedicatória, Azirrel me observava com um sorriso discreto, mas eu conseguia sentir o apoio dele. Júlio Serrano fechou o livro e me entregou, dizendo:
— Continue lendo, Laís. E, quem sabe, um dia escreva suas próprias histórias.
Eu agradeci várias vezes, ainda incrédula, e quando finalmente nos afastamos, olhei para Azirrel com os olhos brilhando de emoção.
— Você não tem ideia do quanto isso significa para mim.
— Tenho sim — ele disse, com um sorriso que parecia ainda mais brilhante. — É só olhar para você.
Segurei o livro contra o peito enquanto continuávamos a caminhar. Aquele dia já era inesquecível, mas agora tinha se tornado ainda mais especial.( se não fosse por algo que vai acontecer)
Enquanto caminhávamos pela feira, ainda emocionada com o encontro com Júlio Serrano, notei algo incomum no olhar de Azirrel. Ele parecia distraído, como se algo tivesse captado sua atenção. Antes que eu pudesse perguntar, duas mulheres se aproximaram.
Elas eram idênticas, gêmeas de pele negra com um tom albino que fazia seus traços parecerem quase etéreos sob a luz do sol. Cada uma vestia um vestido de cor diferente: uma de verde-esmeralda e a outra de azul-celeste. Seus cabelos eram longos e prateados, caindo em ondas impecáveis sobre os ombros. Havia algo de fascinante nelas, como se emanassem uma presença que fosse impossível ignorar.
Elas se aproximaram com passos leves e sorrisos enigmáticos, cumprimentando Azirrel como se já o conhecessem há muito tempo.
— Olá, irmão — disse uma delas, sua voz suave, mas cheia de autoridade.
A outra apenas sorriu, olhando para ele com olhos que pareciam saber demais.
Azirrel deu um passo à frente, claramente desconfortável, mas manteve um sorriso no rosto. Ele olhou para mim e fez as apresentações, como se estivesse tentando agir com naturalidade.
— Laís, essas são minhas irmãs, Vanessa e Valéria. Elas moram em Portugal, mas estão de passagem.
Elas se voltaram para mim, avaliando-me por um instante antes de sorrirem de volta.
— É um prazer conhecê-la, Laís — disseram em uníssono, como se suas vozes fossem ecos perfeitos uma da outra.
— O prazer é meu — respondi, tentando ser educada, mas sentindo a tensão no ar.
Azirrel parecia cada vez mais inquieto. Ele ajustava os ombros, evitava contato visual prolongado e parecia estar travando uma batalha interna. Antes que eu pudesse perguntar algo, ele virou-se para as irmãs.
— Com licença, Laís. Preciso conversar com elas em particular. Não demoro.
Ele deu um sorriso forçado, claramente tentando me tranquilizar, e se afastou com as duas mulheres. Observei enquanto eles caminhavam para um canto mais isolado da feira, onde começaram a falar em tons baixos.
Algo no comportamento dele estava diferente. Azirrel sempre fora misterioso, mas agora havia algo mais... um peso, como se aquelas mulheres trouxessem algo que ele não queria enfrentar.
Fiquei ali parada por um momento, segurando meu livro autografado e tentando entender o que estava acontecendo. Por mais que confiasse nele, não pude evitar sentir que talvez houvesse mais na história de Azirrel do que ele estava disposto a compartilhar.
O momento em que Azirrel se afastou com suas irmãs deixou uma sensação estranha no ar. Algo não parecia certo, e minha curiosidade só crescia à medida que eu os observava à distância. Ele gesticulava de forma preocupada, enquanto Vanessa e Valéria pareciam manter uma postura calma, mas firme. Eu não conseguia ouvir o que diziam, mas a expressão no rosto dele era de tensão.
Algo estava errado, e eu sabia disso. Contra meu instinto de me manter distante, decidi me aproximar, tentando entender o que estava acontecendo. Dei alguns passos em direção ao trio, mas, de repente, o céu começou a mudar.
Nuvens escuras surgiram do nada, cobrindo o céu azul da manhã. Uma sensação estranha percorreu meu corpo, como se o ar tivesse ficado mais pesado. Raios começaram a cruzar o céu, seguidos por trovões ensurdecedores. A feira, que antes era um lugar animado, rapidamente virou um caos.
As pessoas começaram a correr em todas as direções, gritando em pânico, enquanto o vento aumentava e derrubava barracas. Eu tentei me manter firme, mas então o inesperado aconteceu.
Do nada, duas figuras monstruosas surgiram no meio da multidão. Uma delas era uma criatura grotesca, metade humana e metade demoníaca, com braços longos e garras afiadas que arranhavam o chão enquanto andava. Seus olhos brilhavam em um tom vermelho intenso, e sua pele parecia feita de lava ressecada. A outra figura era completamente demoníaca, com chifres retorcidos, asas negras imensas e uma expressão que exalava puro ódio.
Antes que eu pudesse reagir, os dois seres vieram em minha direção. Meu corpo congelou de medo, e mesmo tentando correr, era tarde demais. O ser com garras me agarrou com força, levantando-me do chão como se eu não pesasse nada.
— O que está acontecendo?! — gritei, tentando me soltar, mas era inútil.
Foi então que meus olhos encontraram Azirrel. Ele estava lutando para se libertar, mas Vanessa e Valéria o seguravam pelos braços, impedindo-o de avançar. Seus olhos, normalmente calmos e cheios de mistério, estavam cheios de desespero.
— Laís! — ele gritou, lutando contra as irmãs. — Soltem-me! Eu preciso salvá-la!
Mas as duas não o soltaram. Vanessa olhou para ele com firmeza e disse algo que não consegui ouvir por causa do caos ao meu redor. Ele gritou novamente, uma mistura de raiva e frustração, enquanto as criaturas me levavam para longe.
Meu coração estava acelerado, e eu mal conseguia pensar. Olhei para Azirrel uma última vez, vendo a dor em seus olhos, antes de ser arrastada para o que parecia ser um destino desconhecido.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 21
Comments