Após a recepção tensa no salão principal, fui conduzida por Lucien até o quarto onde passaria a noite. O interior da mansão era tão impressionante quanto sua fachada. Paredes adornadas com molduras douradas exibiam quadros de paisagens exuberantes, provavelmente representações da própria Corte Primaveril. Lustres de cristal pendiam do teto alto, refletindo a luz do sol que entrava por enormes janelas. Um leve aroma de flores silvestres e madeira polida pairava no ar, tornando o ambiente simultaneamente acolhedor e imponente.
O quarto em que fui alojada era grandioso. Uma cama de dossel com cortinas de tecido translúcido ocupava o centro, os lençóis de cetim em tons de verde claro e dourado. Uma lareira esculpida estava acesa, irradiando calor suave e fazendo o quarto parecer menos opressor. Havia uma varanda que dava para o jardim, e o som distante de água corrente sugeria a presença de um riacho próximo. As paredes estavam decoradas com tapeçarias florais, e móveis de madeira entalhada completavam o cenário. Um perfume doce, talvez de lavanda ou alguma flor mágica, impregnava o ar.
Os empregados feéricos que cuidavam da casa passavam pelos corredores silenciosamente, alguns com orelhas pontudas e olhos brilhantes, outros com características ainda mais exóticas, como pele esverdeada ou asas delicadas. Apesar de suas aparências, havia algo servil em suas posturas, uma deferência absoluta que parecia mais forçada do que voluntária.
Após tomar um banho quente e vestir uma roupa confortável que foi deixada para mim - um vestido leve em tom creme com detalhes bordados em verde -, fui chamada para uma conversa com Tamlin.
Ele me aguardava em uma biblioteca luxuosa, cercada por estantes altas repletas de livros antigos. A luz dourada do entardecer filtrava-se pelas janelas, lançando sombras longas pelo chão de mármore. Tamlin estava encostado em uma mesa, os braços cruzados, seu olhar sério fixo em mim.
"Precisamos conversar sobre Feyre," ele começou, sem rodeios. Sua voz era firme, mas havia um peso nela. "Ela foi tirada de nós. Levada para a Corte Noturna contra a vontade. Desde então, meu único objetivo tem sido trazê-la de volta."
Cruzei os braços, encarando-o com desconfiança. "E por que isso deveria me importar?" perguntei, minha voz mais dura do que pretendia. "Eu vim aqui por outro motivo."
Os olhos de Tamlin brilharam com uma intensidade perigosa. "E qual seria esse motivo, humana?"
Respirei fundo antes de responder. "Estou procurando uma cura para meu pai. Ele está doente, e no mundo humano não há como salvá-lo." Minha voz falhou ligeiramente no final, mas mantive o queixo erguido.
Tamlin inclinou a cabeça, como se ponderasse minhas palavras. "Uma cura," repetiu, seus olhos estreitando-se. Então, ele deu um pequeno sorriso, cheio de algo que eu não conseguia decifrar completamente. "Você está com sorte. A cura que você procura pode ser encontrada aqui, na Corte Primaveril."
Senti um misto de alívio e desconfiança. "Então me diga onde está."
Tamlin levantou-se, aproximando-se. Seu olhar era quase hipnótico. "Eu posso lhe dar a cura, mas há algo que preciso que você faça primeiro. Você deve ir até a Corte Noturna e trazer Feyre de volta. Apenas então lhe darei o que procura."
Minhas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo. "Você espera que eu arrisque minha vida por alguém que nem conheço?"
"Você conhece Feyre," Tamlin corrigiu, sua voz firme. "Ela é sua amiga, não é? Ela te ajudou, te deu motivos para vir até aqui, para cruzar a muralha. Você sabe disso, Joyce. Feyre é como uma irmã para você. Não me diga que deixaria ela nas mãos de Rhysand, aquele monstro da Corte Noturna."
Minhas defesas vacilaram. Feyre. Ela era uma das poucas pessoas que eu realmente amava, que considerava família. A ideia de que ela pudesse estar em perigo fazia meu coração apertar. Mas ainda assim... "Se Feyre está em perigo, por que você não foi resgatá-la? Por que eu?"
Tamlin suspirou, passando uma mão pelos cabelos dourados. "Se eu pudesse, já teria trazido ela de volta. Mas a Corte Noturna está cheia de armadilhas. Rhysand sabe como me manipular, como me manter afastado. Mas você... ele não conhece você. Você tem uma chance. E eu te darei tudo que precisar."
As palavras dele me atingiram em cheio. A Corte Noturna era envolta em lendas sombrias, histórias de terror que circulavam em minha aldeia desde que eu era criança. Cada fibra do meu ser dizia que era uma loucura, mas a imagem de meu pai, fraco e doente, me forçava a considerar a proposta.
"Eu vou pensar nisso," murmurei finalmente, saindo da biblioteca antes que Tamlin pudesse dizer mais alguma coisa.
À noite, o peso das revelações e decisões iminentes parecia esmagar-me. Fui até o terraço do quarto, onde uma brisa fresca acariciava minha pele. A vista era deslumbrante: campos de flores que se estendiam até o horizonte, iluminados pelo brilho prateado da lua. Riachos brilhavam como fitas líquidas sob a luz lunar, e as árvores ao longe pareciam dançar suavemente com o vento. Mas mesmo essa beleza não conseguiu acalmar meu coração inquieto.
Sem perceber, lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Sentei-me no chão frio do terraço, abraçando os joelhos, permitindo que a dor e a confusão me dominassem. Eu era uma rocha por fora, mas no fundo... ainda tinha um coração que podia quebrar.
"Joyce." A voz de Lucien quebrou o silêncio, e eu me sobressaltei. Ele estava parado na entrada do terraço, o rosto sério. "O que aconteceu?"
"Nada," murmurei, virando o rosto para longe. Não queria que ele me visse assim, frágil e vulnerável.
Mas Lucien não se deixou afastar. Ele aproximou-se, ajoelhando-se ao meu lado. "Você pode enganar Tamlin, ou qualquer outra pessoa, mas não a mim," disse suavemente. "Algo está te consumindo."
"Eu não preciso da sua compaixão," retruquei, tentando levantar-me. Mas ele segurou meu braço, firme, mas não de forma rude.
"Você é forte, Joyce. Eu sei disso. Mas ninguém carrega o peso do mundo sozinha," ele disse, sua voz baixa, quase um sussurro.
Antes que eu pudesse responder, ele me puxou para mais perto. Seus olhos, um dourado brilhante e outro castanho avermelhado, estavam cravados nos meus. Senti meu coração disparar, meu corpo reagindo antes mesmo que minha mente pudesse processar o que estava acontecendo.
Então ele me beijou.
O mundo pareceu desaparecer. O toque de seus lábios era exigente, quente, como fogo líquido. Minha mente gritava para me afastar, para não ceder, mas meu corpo não obedecia. Suas mãos firmes seguravam minha cintura, puxando-me contra ele sentindo seu volume, e cada ponto de contato parecia incendiar minha pele. Era um beijo intenso, ardente, cheio de uma paixão que me deixava sem fôlego e meu ventre em chamas.
Tentei resistir, tentei me afastar, mas ele era implacável. E, no fundo, eu não queria que ele parasse. Meus dedos encontraram seus cabelos, puxando-os enquanto me perdia na sensação. Seu beijo era igual ha de um animal feroz agarrando sua presa. Meu corpo inteiro parecia queimando, consumido por um prazer que eu não sabia ser capaz de sentir.
Quando finalmente nos separamos, ambos ofegantes, Lucien encostou sua testa na minha, um sorriso satisfeito nos lábios. "Se isso é o que acontece quando você está fragilizada," ele murmurou, "mal posso esperar para ver o que acontece quando você estiver pronta para lutar."
Eu o empurrei suavemente, tentando recuperar o controle. Meu coração ainda batia freneticamente, e minha mente estava um caos. "Isso... isso não deveria ter acontecido."
"Talvez não," ele respondeu, levantando-se. "Mas aconteceu. Pense nisso, Joyce. O que você realmente quer?"
E com isso, ele se afastou, deixando-me sozinha no terraço, com o coração acelerado e a mente cheia de dúvidas.
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Atualizado até capítulo 34
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