Entre o Dever e o Desejo

Nicole sabia que estava em um ponto de transição. A vida que ela conhecia, a que lutou para deixar para trás, parecia uma memória distante. Agora, vivendo na mansão de Gabriel, cuidando de Maria Clara e imersa em um mundo de riqueza e luxo, sua vida havia mudado de forma drástica. No entanto, à medida que os dias se passavam, ela começava a perceber que as mudanças não eram apenas externas. Sua mente, suas emoções e, até mesmo, seu coração estavam começando a se moldar a essa nova realidade.

Ela tentava ser racional, focada no que importava: garantir que sua nova vida fosse segura e estável, e que ela fosse capaz de manter os irmãos distantes de qualquer perigo. O trabalho como babá parecia simples, mas estava longe de ser fácil. Maria Clara era uma menina encantadora, mas exigente, e Nicole sabia que seu principal dever era protegê-la e ajudá-la a se adaptar à ausência da mãe, que, por razões que Gabriel raramente falava, não estava mais presente. Embora o trabalho fosse gratificante em muitos aspectos, Nicole não podia negar que sua mente frequentemente se via ocupada com pensamentos que a desconcertavam: o comportamento de Gabriel.

Ele era tão enigmático. Por mais que tentasse manter a distância, a presença dele em sua vida era avassaladora. Nicole não sabia como lidar com ele. No começo, ela o via apenas como seu empregador, alguém que a contratara para cuidar de sua filha. Mas, com o passar do tempo, as interações entre eles se tornaram mais intensas. Gabriel estava sempre por perto, sempre observando-a, com seu olhar penetrante e sua postura imponente. Nicole se pegava em momentos de silêncio, observando-o de longe, tentando entender o que estava por trás daquela máscara de CEO bem-sucedido.

Ela sabia que não devia nutrir sentimentos por ele. Ele era um homem rico, poderoso e, provavelmente, inalcançável para alguém como ela. Mas, ao mesmo tempo, algo em seu comportamento a atraía. Havia uma vulnerabilidade em Gabriel que ela começava a perceber, uma fragilidade oculta que ele fazia questão de esconder. Talvez fosse a maneira como ele tratava Maria Clara, com uma doçura rara para alguém tão impessoal e distante. Ou talvez fosse o fato de que, por mais que estivesse cercado de luxo e poder, ele parecia tão solitário. Mas, mais do que tudo, era a tensão palpável que existia entre eles. Cada olhar trocado, cada palavra dita com cuidado, carregava um peso que Nicole não conseguia compreender.

O primeiro mês passou rapidamente, com Nicole tentando equilibrar suas responsabilidades e as emoções que estavam começando a borbulhar dentro dela. Ela sabia que tinha que se concentrar no trabalho e não se deixar levar por sentimentos complicados. No entanto, a presença de Gabriel tornava tudo difícil. Ele sempre a observava de longe, com seus olhos escuros e intensos, como se fosse capaz de ver além de sua fachada e entender o que ela estava tentando esconder. Nicole sentia como se estivesse à mercê dele, como se ele tivesse o poder de mexer com suas emoções a qualquer momento.

Numa noite, após um longo dia de trabalho, Gabriel chegou mais cedo do que o habitual. Nicole estava na cozinha, preparando o jantar, quando ele entrou sem avisar. Ela não o viu se aproximar, mas sentiu sua presença antes de ouvi-lo. Quando ela levantou os olhos, se deparou com ele parado na entrada da cozinha, com um olhar penetrante e um sorriso enigmático nos lábios.

— Nicole. — Gabriel disse, sua voz baixa e calma. — Espero que você tenha tido um bom dia.

Nicole, surpresa por ele estar ali, tentou manter a compostura. Ela sabia que o que fosse dito entre eles naquela noite poderia mudar tudo. Então, com um sorriso educado, respondeu:

— Sim, Gabriel. Tudo correu bem com Maria Clara.

Havia uma tensão no ar, algo que Nicole não conseguia explicar. Ela sabia que ele a observava, mas nunca sentia que ele estava realmente se importando com as pequenas coisas. No entanto, naquela noite, havia algo diferente. O que era? Nicole não conseguia entender.

Ele se aproximou mais, caminhando lentamente até a bancada da cozinha, onde ela preparava a refeição. Ela sentiu seu cheiro — uma mistura de madeira e couro, algo inconfundível. O simples fato de ele estar tão perto fez com que sua respiração se acelerasse. Nicole se forçou a focar no que estava fazendo, mas sua mente estava em outro lugar.

— Você está confortável aqui? — ele perguntou, quebrando o silêncio.

Nicole olhou para ele, tentando disfarçar a apreensão. A pergunta era simples, mas havia algo nas entrelinhas. Algo que ela não podia ignorar.

— Sim, estou. — Ela respondeu com sinceridade, embora seu coração estivesse batendo mais rápido. Ela não queria mostrar que estava insegura. Isso não era sobre ela. Era sobre garantir que Maria Clara estivesse bem e que Gabriel estivesse satisfeito com seu trabalho.

Gabriel deu um passo à frente, mais próximo do que ela esperava. O espaço entre eles estava se tornando menor, e a tensão, mais palpável.

— Você tem algo a dizer, Nicole? — Ele perguntou, com um tom de voz suave, quase provocador.

Nicole hesitou. O que ele queria dela? Ela não sabia como responder a isso. Não era simples ser próxima de seu empregador, principalmente quando ele parecia querer mais do que apenas uma relação profissional.

Ela sentiu o peso do olhar dele em seu rosto. Não conseguia olhar para ele diretamente nos olhos, então desviou o olhar rapidamente.

— Não... Não tenho nada a dizer. — Ela respondeu, tentando parecer tranquila.

Mas a verdade era que ela tinha muito a dizer. Havia algo dentro dela, uma necessidade de entender o que estava acontecendo entre eles. O que Gabriel queria dela? O que ela sentia por ele? E, mais importante ainda, o que esse sentimento significava para o futuro deles?

Gabriel observou seu comportamento por um momento antes de dar um passo atrás, como se percebesse que a tensão estava ficando insuportável para ela. Ele não disse mais nada, apenas fez um gesto para que ela continuasse com o jantar. Nicole, aliviada pela mudança de comportamento dele, voltou ao que estava fazendo, mas a sensação de que algo estava prestes a acontecer entre eles não a deixava em paz.

Durante o jantar, Gabriel foi mais ameno. Ele conversou com Maria Clara sobre a escola e os assuntos do dia, mas Nicole sentia que ele não estava realmente ali. Ele estava com a mente em outro lugar, e ela sabia que esse lugar, por mais que tentasse esconder, era ela. As palavras não ditas entre eles estavam carregando uma energia que não poderia ser ignorada por muito tempo.

Após o jantar, Nicole se retirou para o seu quarto. Ela precisava de um tempo para processar tudo o que havia acontecido naquela noite. O olhar de Gabriel, a proximidade inesperada, as palavras não ditas... tudo aquilo estava criando um turbilhão em seu peito. Ela sabia que não poderia continuar ignorando o que sentia. Mas o que ela deveria fazer com isso?

O que ela queria? O que ela deveria querer? Ela olhou pela janela do seu quarto, vendo as luzes da cidade lá fora, e pensou nos irmãos, na sua luta para dar a eles uma vida melhor. Nicole não podia se dar ao luxo de se perder nesse jogo. Não era apenas sobre ela e Gabriel. Era sobre os sacrifícios que ela já fizera. Sobre as escolhas difíceis que ela continuava a fazer.

Mas, no fundo, ela sabia que sua vida estava prestes a mudar mais uma vez, e dessa vez, era impossível voltar atrás.

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