Capítulo 5

Kelly tentava analisar tudo ao seu redor. Falou várias vezes com seus pais, dizendo que sentia algo estranho e que havia algo de diferente, mas eles sempre repetiam a mesma história, atribuindo tudo às sequelas do acidente e do coma. Quando chegou a noite, seus pais foram dormir, e sua irmã, Vivian, pediu para conversar. Kelly, então, questionou:

— Por que está tudo diferente? Nossa vida não era assim. Vocês não são assim. Parece uma encenação.

— Você ficou em coma por seis meses, Kelly. É natural que esteja confusa… Todo esse tempo esperamos por você e nunca desistimos da sua recuperação… Estamos felizes por ter você de volta.

Kelly estava perplexa. Sua irmã nunca gostou dela, e agora estava falando palavras tão agradáveis. Pensou que, se tivesse morrido, Vivian talvez ficasse feliz. Jamais esperaria tamanha aproximação por parte dela. A conversa continuou:

— Realmente suponho que pode ter acontecido um acidente e eu fiquei em coma. Mas vocês estão omitindo alguma coisa. Nossos pais estavam se separando, e você sempre quis distância de mim. Agora, parece tão próxima. É estranho.

— Pare com essas besteiras. Nós sempre fomos grudadas. Se você não lembra, eu posso provar.

Respondeu Vivian, pegando o celular e mostrando várias fotos das duas juntas em viagens, festas ou apenas unidas. Eram lugares e momentos dos quais Kelly não se lembrava. Vivian continuou:

— E quanto aos nossos pais, eles se amam. Nunca brigam. Você está confusa, vai se lembrar aos poucos. Não force tanto sua mente.

— E o Charlie? Por favor, me diga a verdade sobre ele.

— Não conheço nenhum Charlie

Respondeu Vivian rapidamente.

— O nosso vizinho, meu namorado!

Insistiu Kelly.

— Você não tem namorado. Nossos vizinhos são um casal de idosos, e os filhos deles já têm mais de quarenta anos.

Kelly ignorou a resposta e quis saber mais:

— E a faculdade?

— Ah, que alegria! Finalmente você se lembrou de algo.

— Meu curso de psicologia, certo?

— Sim. Sua matrícula está trancada. Seus amigos e professores sempre perguntam por notícias suas. Foi um choque para todos o seu acidente.

— Não sei o que pensar sobre isso…

— Não precisa voltar a estudar agora. Você precisa se recuperar e descansar.

— Eu deveria fazer algo para me distrair de tudo o que está acontecendo.

— Você pode tirar mais tempo para se cuidar.

— Não sei…

— Você se esforça muito… Vai acabar se sobrecarregando de novo.

— Quando me sobrecarreguei com isso?

— Você sempre foi uma aluna brilhante, como sempre. Inclusive, descobri depois do seu coma que você é uma das melhores alunas da sua turma. Um professor veio aqui prestar solidariedade e disse que você faz falta nas aulas.

— Que professor? Meus professores jamais fariam visitas pessoais na casa de um aluno.

— Como eu disse, você é uma aluna de destaque, muito valorizada e com grande potencial.

— Qual o nome desse professor?

— Eu não me lembro… Talvez Carlos, Thomas, Edson… Não sei ao certo.

— Não conheço nenhum desses nomes. Como ele era?

— Posso descrevê-lo depois. Agora, vamos dormir. Já está tarde, e você precisa descansar. Foram muitas informações por hoje.

Em seu quarto, Kelly teve dificuldades para dormir. Quando finalmente adormeceu, começou a ter sonhos estranhos, quase reais. Em um dos sonhos, uma presença parecia ser a de um homem, mas ela não conseguia enxergá-lo claramente, apenas sua sombra. Não conseguia se aproximar, pois havia uma barreira invisível entre eles. O homem ficou parado a uns cinco metros de distância e disse algumas frases que, a princípio, eram incompreensíveis. Aos poucos, Kelly entendeu suas palavras:

— Kelly, aqui não é o mundo real. É o mundo paralelo. Aqui é o mundo ideal.

Ele repetia isso várias vezes. Kelly tentou fazer perguntas, mas sua voz não saía. O homem continuou:

— O mundo ideal deve ser o mundo perfeito. O mundo ideal é o melhor.

Ela se contorcia, tentando falar, mas permanecia muda. O homem não parava:

— O universo paralelo foi uma escolha. Não se assuste.

Subitamente, Kelly acordou suada e ofegante. Sentou-se na cama, assustada. O sonho parecia muito real, e ela ficou confusa. "Que história é essa de mundo ideal e universo paralelo?", pensou. Sua cabeça estava fervendo. Era um sonho ou um delírio? A sensação de realidade era tão forte que Kelly começou a questionar se deveria acreditar naquilo. Mesmo que fosse um sonho qualquer, algo dentro dela queria acreditar naquela loucura.

Começou a sentir calafrios e náuseas. Levantou-se para beber água. Alguns minutos depois, quando começou a se sentir melhor, percebeu que havia perdido o sono. Decidiu andar pela casa, observando todos os detalhes ao seu redor. Notou vários porta-retratos da família, todos sorrindo, transmitindo felicidade e união, algo que nunca foi comum.

O ambiente era acolhedor, mas, ao mesmo tempo, assustador, porque não parecia ser a sua família de verdade. À medida que o dia clareava, Kelly viu os primeiros raios de sol aparecerem. Decidiu sair de casa e caminhar até a porta dos vizinhos, querendo confirmar se Charlie realmente não morava mais lá. No entanto, sem coragem de bater na porta, limitou-se a observar de longe.

Havia um banco de madeira perto da entrada de sua casa. Kelly sentou-se ali, olhando para a rua. Com o sol surgindo lentamente, viu o vizinho saindo de casa para colocar o lixo para fora. Era um senhor de cerca de setenta anos, alguém que ela nunca havia visto antes. Ele olhou para Kelly com surpresa e se aproximou, dizendo:

— Minha nossa! Que felicidade! Você se recuperou! Está tudo bem, Kelly?

— Quem é o senhor?

Perguntou curiosa, sem reconhecê-lo.

O homem ficou desapontado por não ser reconhecido e respondeu:

— Somos vizinhos desde que você nasceu. Estou tão contente que tenha saído do coma e esteja de volta! Minha esposa vai ficar muito feliz em saber.

— O senhor conhece o Charlie? Ele morava nessa casa.

Ela apontava para a casa ao lado. O vizinho pareceu confuso e assustado com a pergunta.

— Não conheço nenhum Charlie. Vivo nessa casa há anos. Mas não se preocupe, tenho certeza de que seus pais vão cuidar de tudo. Foi muito bom vê-la novamente!

O senhor se afastou lentamente, lançando-lhe um olhar de piedade. Kelly permaneceu indiferente, pensando onde poderia estar Charlie. Se aquilo tudo fosse uma alucinação, por que ele não fazia parte dela? E se fosse realmente um universo paralelo, como no sonho, Charlie poderia não existir nesse mundo? Por outro lado, por que ele não existiria? Ela o amava. Se fosse realmente um universo paralelo criado por sua mente, Charlie jamais seria ignorado ou inexistente.

Além disso, Kelly não achava que aquele era o "mundo ideal", como a voz no sonho afirmava. Percebia que tudo tinha um tom forçado. Ficou sentada no banco, observando as pessoas caminhando tranquilamente pela calçada, quase sem carros nas ruas. Todos pareciam felizes e animados. O ar era mais puro, e a temperatura agradável. Nada fazia sentido. Não podia ser real algo que se apresentava como perfeito.

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