ELISA SANTIAGO
Quando Matthew disse que as coisas seriam do jeito mais
difícil, realmente pude sentir pavor. Por um instante, pensei que ele
fosse me obrigar a tudo e me jogar na enorme cama de casal king
size. Mas não, ele apenas se retirou e me deixou sozinha neste
enorme quarto, com meus pensamentos a um milhão por hora.
Ele disse que queria a minha pureza, como se soubesse que
sou virgem. Como ele tem conhecimento dessas coisas? É algum
tipo de vidente? Um psicopata que me assusta e me leva ao
extremo do meu medo. Ele seria capaz de voltar aqui a qualquer
instante e me tomar em seus braços?
E que braços! — penso por um momento.
Mesmo com medo, assustada, não deixei de notar o quanto ele
é um homem bonito e sedutor, que está usando de toda a sua
sensualidade para me tomar como sua mulher. Cada vez que
aqueles lábios lindos e carnudos emitem sons através de palavras,
sinto arrepios involuntários percorrerem toda a minha pele. Matthew
agora é o meu marido.
Eu sou tola por sentir desejos pelo meu sequestrador. Acredito
que não seja nada relacionado ao meu medo, pois não sou capaz
de perder o controle das minhas emoções. Não nesse sentido. Não
agora, que ele me deixou sozinha.
Verifico muitas vezes se a porta está mesmo trancada. É muito
assustador estar sozinha neste enorme quarto. Sempre fomos
apenas eu e minha mãe em um cômodo pequeno e sempre
estávamos juntas. A saudade em meu peito me consome, assim
como a preocupação por eu saber que ela está sozinha.
Sento-me sobre a cama. Toda hora, meu olhar vai de encontro a ela. Eu sei que ele voltará para consumar o casamento. Não sei quando, só sei que ele logo estará de volta.
Abaixo a cabeça por alguns instantes, e quando olho para a
minha frente, lá está ele me observando. Tomo um susto. Quando
ele entrou? Por que não escutei o barulho da porta sendo aberta?
Levanto-me da cama em um pulo. Meus olhos estão no mar azul
dos seus. Oh, céus! Eu preciso de um banho, e Matthew precisa
muito apagar o fogo que está sentindo ao me olhar como se eu
fosse o pedaço de carne mais suculento que ele está prestes a
comer na vida. O seu olhar carregado de desejo me deixa sem jeito.
Em casamentos na máfia, isso acontece o tempo todo: os
homens se casam com as mocinhas virgens e as tomam em uma
noite tórrida como se elas fossem objetos de procriação. Eu não
desejo que minha vida acabe sem nenhum propósito dos quais eu
tanto sonhei para mim. Não passei anos estudando para acabar
sendo esposa de um mafioso.
— Matthew, você é um psicopata? — Enfim, tomei coragem
para perguntar.
— Dessa vez você não afirmou, questionou. — Ele é sempre
muito observador. — Não sou um psicopata, Elisa, sou seu marido,
e também seu protetor.
Protetor? Isso foi uma piada?
— Meu protetor?
— Sim. Sempre irei te proteger de todos os perigos que a
cercam.
— Você é o perigo que me cerca neste momento. Como irá me
proteger de si mesmo? — demonstro toda a minha irritação.
— Em breve você irá descobrir que eu não sou o perigo que a cerca, e sim a sua proteção.
Suspiro, enfadada com seus enigmas. Custa ele me falar a
verdade, sem rodeios?
— Por favor...
— Shiiiii! — Ele se aproxima de mim plenamente, e quando
para em minha frente, roubando o meu ar, vai colando seu dedo nos
meus lábios.
A fascinação dele pelos meus cachos, que eu acabei de
prender, é coisa de louco. E seus olhos azuis parados em minha
direção como se eu fosse a mulher mais bonita deste mundo me
espantam.
— Tome um banho, vamos sair.
— Sair? Para onde?
— Digamos que vamos nos conhecer, morena.
Toda a minha pele se arrepiou quando ele me chamou de
morena.
Sua mão vai de encontro à presilha dos meus cabelos e solta
os cachos, deixando-os livres.
— Não prenda, não gosto.
A minha vida toda, ouvi das pessoas que eu deveria prender
meus cabelos porque eles são volumosos demais, crespos e feios.
Agora esse homem lindo e poderoso diz que os prefere soltos.
— Mas eu gosto — retruco.
— Faço qualquer coisa para vê-los soltos — fala com urgência.
Sua paixão pelos meus cabelos é intensa. Ninguém nunca me disse que gostava dos meus cachos, apenas minha mãe me dizia que achava eles lindos.
— Você quer mandar até no modo como lido com meus cabelos?
— Pretendo mandar em tudo relacionado a você, esposa. — Quando ele usa essa palavra, sinto arrepios involuntários.
— Então me deixa ir embora — peço mais uma vez.
— Se você não estiver pronta em 20 minutos, eu mesmo a
levarei para o chuveiro e lhe darei banho, morena. — O sorriso
safado em seu rosto me faz ruborizar. Todo o meu sangue correu
para as minhas bochechas.
Ele tem o dom de me deixar sem jeito, sem fala, muda. E o pior
de tudo é ele ter percebido isso. Seu sorriso vitorioso é minha ruína,
e as covinhas em seu rosto são um charme, não posso negar.
— Então, você já pode se retirar. Estarei pronta em 20 minutos,
como tanto quer.
Ele assente e se retira em seguida. No mesmo instante, entra
no quarto uma mulher que me traz um vestido com um casaco. A
noite está fria. Iremos sair do apartamento pela primeira vez desde
que cheguei aqui, e essa pode ser minha chance de conseguir
escapar.
Tranquei a porta do banheiro e liguei o chuveiro. Foi o banho
mais rápido que já tomei na vida. Tive medo de que Matthew
entrasse e invadisse o ambiente. Ele me causa todo tipo de pânico e
pavor. Eu o odeio por pensar que pode me prender, por acreditar ser
meu dono, quando, na verdade, só me causa repugnância.
Quando saio do quarto vestida com as roupas que a empregada me trouxe, penso, mais uma vez, em pedir ajuda à
moça. Só que ela não me ajudaria; trabalha para ele e é uma
cadelinha fiel ao seu dono. Sinto náuseas.
O homem me espera, pronto para sairmos. Tive um susto ao
vê-lo sentado na poltrona de uma maneira elegante, como se estivesse me esperando há séculos. Seu olhar emblemático me
deixa completamente desnorteada.
Aonde iremos? Por que ele não pode ser mais direto em suas
respostas?
Seus olhos brilham ao me encararem intensamente como se
eu fosse a mulher mais bonita do mundo.
— Aonde vamos? — insisto em perguntar mais uma vez,
querendo quebrar um pouco mais deste gelo entre nós dois.
Matthew se põe de pé e meu ar diminui a cada passo seu. É
sufocante.
— Vamos nos conhecer melhor — diz de uma maneira galante,
fazendo-me perder o raciocínio brevemente.
Engulo em seco. Ele quer me conhecer melhor? Patife de
merda! Eu deveria estapear sua face.
Ele me olha intensamente, como se pudesse me ver
totalmente nua, despida, por baixo do tecido do vestido. A volúpia
em seus olhos azuis é como labaredas de fogo que me queimam
ardentemente.
— Não preciso lhe alertar de que se tentar fugir de mim, não
irá adiantar muita coisa. Eu sempre irei te encontrar, minha
pombinha — fala com uma convicção de milhões. — Eu te rastrearia
até mesmo no inferno, se fosse necessário. Também não preciso lhe
lembrar de que a sua mãe... — O sorriso cafajeste em sua face é a
minha maior irritação.
Não posso negar que Matthew é um homem atraente e que o
seu corpo escultural definido é bastante chamativo aos olhos femininos. Estou mesmo casada com um homem tão bonito? E rico, pelo que posso perceber devido às minhas acomodações e às suas roupas, que gritam “riqueza”. O que diabos ele deseja comigo?
— Eu não vou tentar fugir — minto.
Já é noite. Eu temo aonde ele pretende me levar. Mas se sou
sua esposa, acredito que ele não esteja me levando para o meu
túmulo. Ao menos isso me tranquiliza em parte, enquanto a outra
parte de mim está tremendo, imaginando a possibilidade de ele
querer consumar este casamento.
Há um elevador particular somente para nós. Posso perceber
que ele sempre está cercado de seguranças, homens fortes com
caras de malvados. Esta organização é perigosa. Posso sentir
calafrios ao passar por tantos homens que seriam capazes de
qualquer coisa para me manter presa a esse americano que diz ser
meu marido.
Adentro o veículo de luxo, cabisbaixa. Meu olhar, o tempo todo,
fica na janela. Imediatamente, as portas são travadas. Estamos lado
a lado no banco de trás, enquanto o motorista toma assento e
seguirá as ordens do chefe.
— Para a propriedade ao lado, Lucca — ele ordena.
— Sim, senhor.
Durante todo o trajeto até a propriedade mais afastada, em
uma área de condomínios de luxo, na qual sua mansão é a última,
posso ver uma floresta muito densa ao lado. Uma oportunidade para
eu correr e fugir. Mas, provavelmente, não será agora que farei isso.
O perfume de Matthew é amadeirado e sua pele branca mostra
facilmente que o frio o incomoda um pouco. A noite está bem mais
gélida do que estou acostumada. O calor do Rio de Janeiro costuma
ser torturante algumas vezes. Não consigo esconder que estou com
frio, mesmo usando casaco. Matthew, percebendo isso, tira o seu
sobretudo e o coloca em mim com cuidado. Espanta-me a sua
gentileza.
Paramos diante da mansão. As luzes iluminam boa parte da
fachada e do jardim em frente a ela. De onde estou até o portão da
saída leva alguns minutos. O local é bastante isolado.
— Obrigada, mas não precisava — tento ser dura.
Ele apenas abre um sorriso, segura em minha mão e me leva
para dentro da casa. Seu toque físico faz com que o meu coração
acelere e um misto de arrepios e calafrios me invada. Ele é tão
másculo, que me faz sentir medo. A qualquer hora pode me atacar.
— Elisa, não precisa me olhar como se eu fosse atacá-la a
qualquer momento. Eu não sou o tipo de homem que força uma
mulher. — Como se ele estivesse lendo a minha mente, pronunciou
isso assim que paramos ao lado da escada.
— Eu... Eu...
Agora ele segura as minhas mãos fazendo algum tipo de
carinho que faz eu me sentir protegida diante daquele olhar
tenebroso de quem me deseja ardentemente.
— Vamos nos conhecer melhor, como eu disse. — Ele me guia
até a sala de jantar, que está com a mesa posta e farta.
Muita comida para apenas duas pessoas. Com uma olhada
rápida para a mesa, posso ver uma grande variedade de alimentos:
frango assado, peito de peru, macarrão, arroz à grega, carne ao
molho e saladas variadas. Também camarão e outras coisas que
não identifico.
— Quantas pessoas vão comer aqui hoje?
— Somente nós dois — ele me avisa ao puxar a cadeira para mim, e eu me sento.
Matthew se direciona ao seu lugar e fica sentado ao meu lado.
— Por que tanta comida?
— Eu não sabia bem o que servir à minha esposa, por isso pedi que a governanta mandasse a cozinheira fazer muitos pratos típicos do Rio de Janeiro.
Observo a convicção em seu olhar. Não sei se me admiro ou
se me espanto mais.
— Acontece que é muita comida. O que fará com o que
sobrar?
— O que você espera que eu diga? Que vamos doar?
— Seria o correto.
— Podemos fazer como quiser.
Suspiro. Estou me sentindo estranha depois desse diálogo,
como se fôssemos um casal de verdade.
— Matthew, você é um mafioso. Correto?
— Essa palavra é bastante pesada, meu bem — a ironia na
sua voz me deixa irritada.
— Então, a definição é “bandido”?
— Uma esposa advogada é interessante.
— Não sou advogada formada, você me tirou esse sonho ao
me sequestrar.
— Querida, não pense assim. Veja pelo lado bom: eu te salvei.
— Me salvou de quê?
— De perigos que a cercavam.
— Que tipo de perigos?
— Vamos jantar.
Levanto-me, irritada, socando a mesa. Machuquei a minha mão, mas não importa. Ele precisa me explicar as coisas.
— Chega! Eu não entendo. Por que eu? Por que está me obrigando a conviver com você? Não poderia ter se casado comigo como se isso fosse normal. Vivemos no século XXI, eu tenho o
direito de me recusar a ser sua esposa.
— Acontece, esposa, que no mundo da máfia a mulher não
tem direito de recusar nada.
— Eu não pertenço ao seu mundo.
— Elisa, querida, você fazia parte dele desde muito antes. E
agora é a minha esposa. Chega! Não vou tolerar desrespeito, porra!
Se quer saber por que me casei com você, eu lhe direi agora
mesmo.
— Não vou escutar. — Eu lhe dou as costas. Não é birra,
talvez muito orgulho. Isso não pode ser tolerado. Ele não pode me
obrigar a nada. Não mesmo.
Exasperada e cansada, tento escapar, mas antes mesmo que
eu chegue perto da porta que dá acesso ao jardim da frente, sou
barrada pelo corpo másculo dele. A fúria em seu olhar não me faz
tremer, pelo contrário, dá mais forças a mim para o enfrentar.
— Quer saber de uma coisa? Já chega! Estou tentando ser
gentil e agradar minha esposa de alguma maneira, mas você não é fácil, garota. — É um absurdo ouvir isso dos seus lábios, como se ele tivesse razão em alguma coisa.
— O que disse? Patife! — Isso nem é um xingamento. Droga!
— Você me sequestrou e está me obrigando a tudo isso. Vá à
merda! Eu te odeio e odeio este casamento!
— Sabe por que me casei com você?! — grita.
— Não, eu não sei! — grito mais alto por cima da sua autoridade.
— Porque você é a porra de uma gostosa. Uma gostosa de tirar o fôlego, que está me deixando louco.
Arregalei os olhos quando percebi que ele iria me beijar. Foi tão rápido, que não pude escapar. Matthew me prendeu ao seu corpo, colando os nossos lábios, e sua língua já veio invadindo a minha boca. Não pude correr.
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Atualizado até capítulo 64
Comments
Maria Helena Macedo e Silva
ela se apaixonou pela aparência dele do mesmo jeito dele, tenta lutar, fugir e se distanciar mas o quê quer mesmo é ficar e si perder no encanto e fascínio do bandido da máfia 🙊🙉🙈
...bandido bandido bandido coração...
2024-03-13
2
Vanussa batista vitorino vicente Batista
Amando
2024-01-18
0
Marta Monteiro
estou achando que o pai da Elisa é mafioso também, e por isso ela corre perigo,pode ser que o pai dela tenha muitos inimigos,ou o pai dela vendeu,trocou a filha por poder a vários mafiosos 🤔🤔🤔
2024-01-06
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