capítulo 4

ELISA SANTIAGO

Sempre carreguei na pele a dor do preconceito e da discriminação racial, portanto, jamais imaginei que alguém me

sequestraria e me prenderia em outro país. Não que eu não me considere bonita, pelo contrário, sei que sou bonita, mas estava enfadada de ouvir as pessoas me julgarem pela cor da minha pele.

Matthew me parece ser um homem sério, um verdadeiro psicopata capaz de cometer uma grande loucura e acabar com a vida da minha mãe se eu não me submeter a todos os seus desejos.

Esta situação está me fazendo perder o controle das minhas emoções e, a todo instante, imagino aquele sujeito entrando pela porta. Ele deixou bem claro quais são suas intenções comigo: levar￾me para a cama. Seus desejos são de um tarado, de uma pessoa completamente fora de seus juízos mentais. Um devasso

inteiramente pervertido, um possível serial killer pronto para me matar a qualquer momento após me usar de todas as formas possíveis.

Matthew é perigoso, e disso não tenho dúvida. Nenhum cidadão de bem mantém alguém em cárcere privado, muito menos

ameaça a mãe dela por sexo. Seu mundo se resume a isso? É assim que ele pretende ganhar a minha atenção? Causando-me medo? Sentimento de raiva e ódio não levam ao amor, apenas ao

desejo de destruir a pessoa.

O homem violou mais de dez leis: sequestro, cárcere privado, ameaça, infiltração de alguém na delegacia, incitação de desejos maliciosos e obrigar uma mulher a ficar em outro país e a assinar algo que não desejava. Possivelmente, ele tentará me violentar também, e ainda corro o risco de ser espancada, atacada verbalmente e fisicamente.

Preciso encontrar alguma saída, uma forma de conseguir fugir deste apartamento. Não irei me entregar facilmente aos seus desejos insanos. Esse americano pode até se achar o dono do mundo, mas não é o meu e nunca será. Ele vai conhecer toda a minha ira. Sou uma mulher negra, forte, determinada e jamais me abalo. Não serei diferente com esse homem e irei prevalecer acima

de todos os seus caprichos.

No momento, minha única preocupação é a minha mãe. Pude ver a dor em seu olhar quando ela falou de mim. Ela sempre me

protegeu do mundo, das pessoas, e agora deve estar arrasada pensando que estou morta ou que me encontro nas piores situações possíveis, chorando por mim, sem nem imaginar tudo pelo que

estou passando. O que mais quero é poder abraçá-la novamente e lhe dizer que está tudo bem. Não suporto vê-la sofrer.

Começo a chorar, imaginando toda a sua dor. A única pessoa neste mundo que não aguento ver sofrendo é a minha mãezinha.

Abraço o meu corpo quase que desinibido nesta camisola de seda

com rendas, não muito apropriada para ser vista por um estranho.

Temo que ele possa tentar algo contra mim. Um serial killer que quer domar as suas vítimas.

Meus olhos vão de encontro à sua presença máscula, que acabou de adentrar o ambiente. Tão rápido? Pensei que ele fosse demorar mais para vir ao meu encontro. Continuo sentada sem

mover um músculo sequer. Em meu corpo, passa uma grande corrente elétrica, varrendo de mim toda a coragem que algum dia já tive. Vários pontos me dizem que a melhor opção é eu tentar não o aborrecer, mas algo dentro de mim grita para que eu tente, de alguma maneira, fugir dele e atirar algo contra a sua cabeça a ponto de fazê-lo desmaiar.

Seus olhos sombrios me fitam intensamente e eu sinto que ele me despe apenas com seus pensamentos perversos neste momento. O homem em minha frente é uma verdadeira incógnita.

Mais um ponto negativo para mim.

Eu nunca tinha ouvido falar em Matthew Lansky. Suas origens americanas estão descritas em seus traços, só que algo nele me faz lembrar do porte alemão. A cor dos cabelos, talvez, faça-me imaginar que ele pode ter alguma descendência alemã. Não que sua vida privada ou ele me importe, pelo contrário, a única coisa que sinto é medo.

— Eu trouxe o documento para que você assine. — Mostra-me o papel que está em suas mãos.

Sua postura ereta e olhar sério causam arrepios por todo o meu corpo.

— Sobre o que é esse documento? — pergunto, tentando ganhar tempo para poder pensar em algo que me livre de assiná-lo.

— Nossa união. Uma assinatura e estaremos casados oficialmente, para todo o sempre.

O cara não pode estar falando sério. Não nos conhecemos e ele está me propondo um casamento? Em que mundo vive? Ele não tem o direito de me tomar como sua, vivemos em uma sociedade moderna.

Eu continuo imóvel em meu lugar e lágrimas rolam pelo meu rosto. Eu nunca havia sentido tanto medo como agora e não entendo o porquê de ele estar fazendo isso comigo, usando a minha

mãe para ter tudo de mim. É um jogo muito baixo. Ele me parece ser dominador, um homem frio e prepotente, capaz de passar por cima de tudo e de todos para alcançar seus objetivos. Se aprendi algo nesta vida é que as pessoas com essas características são as mais perigosas que existem.

O homem de estatura alta e corpo másculo caminha em minha direção, muito tranquilo, como se nada nunca o abalasse.

Friamente, ele me faz ficar em pé e me guia até uma parte alta da cômoda, onde deposita o papel. Do seu paletó, tira e me entrega

uma caneta muito sofisticada.

Qual é sua real intenção? Simplesmente, casar-se e ser feliz?

Obviamente, esses não são os seus objetivos. Mas um psicopata

não se casaria comigo para me matar em seguida. Ele tem planos

em relação a tudo isso. Quais são?

Seguro a caneta em minhas mãos trêmulas, demonstrando

todas as minhas emoções, porém meu rosto banhado em lágrimas

não o comove. Que tipo de homem pode não se importar com a dor

do próximo?

— Assine! — ordena. — Não tente me enganar, bela morena.

Você não tem outra saída, a não ser assinar de uma vez.

— Por favor — tento de novo.

— Não me faça perder a paciência. — Sinto que ela já está por

um fio.

— Por...

— Assine agora, pelo bem-estar da sua mãe — rosna alto,

puxa-me por um braço fortemente até uma cadeira e me joga com

força contra ela.

Sinto o meu quadril estalar com o impacto. Ele não está para

brincadeiras. Sem saída, sou obrigada a assinar o documento em

inglês, não prestando atenção em nada que está nele. Não pensei

duas vezes. Pela minha mãe, eu daria a minha vida.

Ele segura o papel, satisfeito, e um sorriso largo se forma em

seu rosto. Em seguida, abre a porta do quarto. É quando o ouço

falando algo com alguém que o esperava lá fora.

Minhas pernas trêmulas me fazem sentar no chão e eu abraço meu próprio corpo enquanto um filme se passa na minha cabeça. A agonia em meu peito me faz sangrar por dentro, minhas pupilas

estão dilatadas de uma maneira diferente e a sensação de ódio se torna cada vez maior. Ele não tinha o direito de me obrigar a nada.

Sinto suas mãos grandes e firmes me puxarem para junto de si e meu corpo pequeno bate contra um paredão de músculos. Seus olhos de predador parecem querer me devorar.

— Não se assuste, princesa. — Toca em meu rosto.

— O que o senhor quer de mim?

— Exatamente tudo, a começar pelo seu corpo. Quero tua pureza para mim, docinho.

Estremeço com sua afirmação. Pode ser algo normal se entregar a um homem bonito em uma noitada de balada, mas para mim não. Eu não sou como as demais garotas da minha idade, não estou acostumada a sair para festas nem a beijar na boca. Será que ele sabe que sou virgem? Por incrível que pareça, eu sou. Eu preferia ficar em casa e estudar em vez de beijar os garotos nas esquinas do Morro. Atualmente, com 21 anos, nunca beijei nenhum menino, e a virgindade para mim é um tabu. Eu não pensava em nada além da minha formatura, e o sexo viria com o tempo, não da forma que esse psicopata está querendo.

Ele me assustou ainda mais ao afirmar que terá a minha pureza, e parece ler meus pensamentos neste instante. É algo que eu nunca imaginei passar em toda a minha vida.

— Não precisa me obrigar a ter sexo. Sei que muitas mulheres desejam manter relações sexuais com o senhor, portanto, eu lhe peço para que me deixe voltar para casa.

Matthew abre um lindo sorriso. Seus olhos claros são de uma cor intensa e de um brilho incrivelmente bonito, impactante. Ele me olha como se tudo em mim chamasse a sua atenção.

— Linda Elisa, tem razão, posso ter todas as mulheres que quiser à minha disposição. Mas você é a única que desejo neste momento. Acredite em mim quando digo que tentei lutar contra isso.

— Garanto que o senhor não vai gostar do que vai ver em seguida — argumento, tentando escapar desta situação.

Ele é um mafioso? Já li que, em máfias, as mulheres se casam obrigadas, como se ainda vivessem no século passado, com os casamentos arranjados. Isso chega a ser ridículo.

— Não me faça rir do seu comentário, minha doce Elisa.

Garanto que a última coisa que irá acontecer é um arrependimento

da minha parte. Sabe o que aquele papel significa?

— Não.

— Somos marido e mulher. Você agora me pertence, minha menina, para sempre.

Começo a chorar novamente, porém seu olhar duro em nada muda.

— Você não tem esse direito! Nunca serei sua! Prefiro que me mate agora mesmo.

— A escolha é sua, anjo. Você pode ser uma boa menina e me obedecer fielmente ou sofrer as consequências, juntamente com sua mãe.

— O que você está fazendo comigo é monstruoso. O senhor fala como se não soubesse a importância de ter uma mãe presente.

E se não teve, não é culpa minha. Eu só estava tentando voltar da faculdade, mas você apareceu na minha vida, me sequestrou e me impôs uma série de coisas indecentes e ilegais. Não serei sua.

— Nem mesmo pela sua mãe?

— Seu desgraçado! — Tento atingir seu rosto com o intuito de lhe machucar, pois a raiva em mim é muita.

— Você fez uma escolha, anjo. Agora aguente as consequências. — Puxa-me para os seus braços e me prende contra a parede.

Não desvio meus olhos dos seus em momento algum.

Ele sente o perfume dos meus cabelos e olha para os meus cachos como se estivesse vendo uma preciosidade. Com uma mão, pressiona minha cintura, apertando-a com muita intensidade.

— Eu deixo você escolher, meu bem. Contudo, espero que tome a decisão correta. Posso agir como um animal bruto, devorando sua carne e saboreando seu tempero, sem sentir remorso em lhe causar dor, que não será uma simples dor, minha bonequinha, e sim uma terrível. Sei que é virgem, portanto, imagino que irá escolher as coisas do jeito mais simples para nós dois. —Seus olhos azuis me encaram de um jeito intenso e assustador.

Como ele pode saber da minha virgindade? — Não sei fazer amor,

princesa, mas posso ser cuidadoso com você. Apenas hoje. Então...

O que me diz?

— Eu prefiro que você me mate! — grito contra a sua face, fazendo um barulho estrondoso.

Não posso ficar em silêncio e aceitar facilmente sua posse sobre mim, colaborando para que seus desejos insanos sejam realizados.

— Do jeito difícil, anjo? — Coloca a sua testa na minha, fitando-me com seus olhos sombrios.

— Sim, do jeito difícil — falo, firme e decidida.

Se eu for morrer, morrerei com honra.

— Adoro as coisas do jeito difícil. — Sua risada diabólica estronda por todo o ambiente.

Ele é um demônio, o pior de todos. Em um instante, acreditei que ele rasgaria toda a parte de cima da minha camisola de seda, a fim de me deixar totalmente exposta. Seus olhos estão cheios de

desejo, e uma luxúria iminente me faz querer recuar, só que atrás de mim só há a parede.

— Que comecem os jogos, my baby — ele diz.

Mais populares

Comments

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

ela sabe que ele pra te-la por perto ameaça com a mãe. e ainda o prova ... 🤦

2024-03-13

1

Yeve Martins Dourado

Yeve Martins Dourado

Só uma observação, e isso já li em várias histórias que abordam a questão da personagem ser negra, a cor da pele não precisa ser destaque tipo, ele é isso porque é negra ou ela faz assim porque é negra. quer dizer ela é uma mulher e pronto com sua personalidade e seu caráter. nas histórias que a personagem é branca, ruiva etc ninguém fica falando da cor da pele 😊 se ela é linda e pronto entendeu? sei que precisa descrever como ela é para podermos imaginar a história mas só isso mesmo. sei que o preconceito existe sou uma mulher negra e entendo a nossa posição perante a sociedade existe mesmo o racismo e preconceito mas lidamos com isso e pronto e cada um lida de uma maneira vamos continuar lutando assim como tudo que causa preconceito tipo a diferença social, os deficientes, a obesidade em fim tudo que é contrária ao que a mídia determina que é bonito ou não

2024-01-07

5

Solange Coutinho

Solange Coutinho

Acho que ele não terá coragem de possui-la contra a vontade

2024-01-01

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!