ELISA SANTIAGO
Acabei de despertar em um ambiente totalmente iluminado e
estou deitada sobre uma enorme cama de casal, a qual parece ser
maior do que todo o barraco onde moro. Minha cabeça está doendo
e eu me sinto cansada, sonolenta. Há um lençol sobre o meu corpo
para me aquecer e o ar-condicionado do lugar deixa o clima muito
frio.
Observo cada detalhe do vasto quarto de luxo em que estou e
minha mente começa a recobrar tudo que aconteceu antes que eu
pudesse desmaiar. Lembro-me da chuva e de estar voltando da
faculdade, quando fui abordada por um homem que usava roupas
pretas. Será que fui sequestrada? Meu pensamento questiona essa
possibilidade. Mas se foi realmente um sequestro, que diabos estou
fazendo neste quarto que mais parece um palácio, de tão luxuoso?
Tento me levantar da cama, mas é em vão. Levo as mãos à
cabeça e noto que tudo dentro dela está girando igual a um
carrossel sem freio. Fecho os olhos, tentando controlar a tontura.
Minha mãe me ensinou que nunca devemos nos entregar aos
nossos problemas.
Pouco tempo depois, felizmente, consigo me sentir melhor e
posso me levantar. Noto que estou usando uma linda camisola de
seda da cor rosé, muito macia. Eu nunca tinha sentido nada assim
antes. Ela vai até a altura dos joelhos e tem um pequeno decote e
alças finas. Definitivamente, não é minha. Nada aqui é meu.
Caminho em direção à porta e vejo que, pelo menos, ela não está trancada. Passo as mãos nos meus cabelos, que não estão mais molhados da chuva e parecem ter sido hidratados como nunca
antes. Os fios cacheados estão controlados nos seus devidos
lugares e a maciez se faz presente neles.
Não posso deixar de perceber que, no quarto, há algumas
roupas para que eu me troque, certamente. Acabo ignorando tudo
isso, a fim de tentar encontrar alguém que possa me dizer alguma
coisa.
Será que estou na casa da patroa da minha mãe? Aqueles
homens que me abordaram podem ter sido os seguranças
particulares da senhora Vilar. Se foram eles, logo encontrarei
mamãe. Tento não ficar nervosa, pois não sou mais uma garotinha
para não encarar a realidade.
Que tipo de pessoa precisa lhe dopar para que você a
acompanhe até algum lugar? Criminosos fazem isso, pessoas de
bem não.
Fecho a porta do quarto e começo a caminhar por um corredor,
onde há quadros pendurados nas paredes escuras. Percebo que
estou com os pés descalços, pisando sobre um longo tapete
vermelho que parece ir até o fim do corredor. O lugar é muito
elegante.
Este não é um sequestro normal, porque não fui raptada para
morrer rapidamente e meus órgãos ainda estão devidamente nos
seus lugares. Pelo menos é isso que penso. Toco em mim mesma,
um pouco assustada, e, enfim, sei que nada de ruim me aconteceu
até agora. Está tudo em seu lugar. Então percebo uma pequena
cicatriz no meu antebraço. Ela é tão minúscula, que há apenas um
único ponto.
Assustada, passo as pontas de alguns dedos sobre o local e o
sinto doer um pouco, como se a ferida tivesse sido aberta há poucas
horas. Posso sentir que há algo pequeno dentro de mim, durinho, de
uma textura sólida e resistente. O que é isso? Por Deus!
Corro até uma porta rapidamente e tento abri-la, mas não encontro o trinco. Ela pode ser aberta apenas com um escaneamento ou um cartão.
Estou presa. Alguém quer me manter aqui dentro. Mas quem
seria tão cruel a esse ponto? Tento me lembrar de alguém que
poderia me fazer algum mal, então constato que não tenho
inimizades, nem mesmo com o dono do Morro. Os chefes e
bandidos da favela sempre me respeitaram e os vapores nunca
tocaram um dedo sequer em mim. Não faço ideia de quem está por
trás de tudo isso.
Começo a chorar, apavorada. Por que a porta não abre? Tento
colocar minha impressão digital, só que é em vão, e bato várias
vezes contra ela. Penso até em gritar, mas sei que seria perda de
tempo, já que ninguém me ouviria.
Corro até uma grande janela de vidro na sala e quase caio
para trás ao ver a vista lá fora. Não é possível! Esta cidade não é
nada parecida com o Rio de Janeiro. É incrivelmente moderna,
repleta de arranha-céus, a tecnologia se faz presente em cada parte
dela e a arquitetura é variada, demonstrando luxo e poder.
Estou em Nova Iorque. Aquele prédio à minha frente é o
Empire State Building, um dos mais famosos arranha-céus de todo o
mundo. Com fachada de calcário e colunas de aço, ele é localizado
no centro de Manhattan, na cidade de Nova Iorque, e possui 102
andares, para eu ser mais exata. A ilha é conhecida como “a cidade
dos milionários”. Como já fiz uma pesquisa sobre a cidade no tempo
de escola, posso afirmar que quem vive neste centro são pessoas
com muito dinheiro.
Minha ficha caiu por terra agora. Não estou mais no Brasil, e
sim nos Estados Unidos da América, na América do Norte. Por Deus! Como isso foi acontecer? Quem me trouxe para cá? Eu dormi por mais de 24 horas? Óbvio que sim.
A fome me fez despertar. Estou tão faminta, que juro que não
como nada há mais de um dia.
A minha mãe!
Preciso lhe avisar onde estou. Ela deve estar morrendo de
preocupação por minha causa.
Procuro algum telefone pela sala e encontro um fixo.
Rapidamente, digito o número dela, mas então percebo que a
ligação não irá se completar, pois não há nenhum tipo de sinal que
indique alguma conexão.
Preciso manter a calma, não perder o controle. Quem está por
trás de tudo isso elaborou um plano infalível, pensando até mesmo
nos mínimos detalhes, como cortar a conexão do telefone fixo.
Na cozinha deve ter algum, só preciso encontrá-lo. Há algumas
portas aqui, mas uma grande e preta é a mais chamativa. Ela é
coberta de madeira maciça e seus detalhes e símbolos de cavalos
conseguem prender minha atenção.
Será que... Não custa tentar.
Consigo abrir a porta, que estava destrancada, e a primeira
coisa que vejo é um telefone fixo branco em cima da mesa do
luxuoso escritório. O piso de madeira brilha, de tão limpo, e o
perfume do ambiente exala um cheiro amadeirado que faz com que
meu nariz arda, de tão forte que é. Ao lado do telefone, há uns
charutos com as iniciais “M. L.” Nunca nem ouvi falar dessa marca.
Ou será que já? Pelo menos não de charutos, e sim de joias.
O telefone fixo daqui também está sem conexão alguma.
Droga! E agora? O que irei fazer?
— Não é possível! Que droga! — Assusto-me comigo mesma,
já que nunca havia falado nenhuma palavra de baixo calão em toda
a minha vida. Minha mãe não permite. — Eu preciso sair daqui.
— Nem por cima do meu cadáver, isso irá acontecer, senhora Lansky.
Meus olhos fitam o homem alto de terno preto, lábios vermelhos e olhos azuis. A personificação perfeita da palavra “beleza” se enquadra nesse cara forte e másculo. É o mesmo que
me abordou quando eu estava voltando da faculdade.
Meu corpo entra em alerta com sua presença. Não sei nada
sobre ele, apenas que é o responsável por eu estar aqui neste
momento. O homem mantém um olhar gélido sobre mim. Sua pele
pálida combina perfeitamente com seus olhos claros e seu olhar é
capaz de me causar medo.
Nunca temi ninguém em toda a minha vida como temo ele.
Eu devolvo o telefone para o gancho, e o cara nem ao menos
pisca, como se tudo em mim chamasse a sua atenção. Seu olhar
penetrante faz eu me sentir completamente exposta. É como se ele
conseguisse ver todo o meu corpo nu, mesmo eu estando coberta
pela camisola. Lembro-me de que o decote dela é bem visível e,
rapidamente, cubro-me com as duas mãos, fazendo uma barreira. O
sorriso de lado em seu rosto é incrivelmente sexy.
— Acha mesmo que isso vai me impedir de fazer alguma
coisa? — Ergue uma das sobrancelhas.
O homem falou como se fosse capaz de me forçar a fazer algo.
Certamente, acha que possui esse poder só porque está em seu
país e, possivelmente, em uma propriedade em seu nome. Pelas
roupas que ele veste, é possível notar, de longe, que ele não é uma
pessoa como eu: pobre. Tudo nele grita “dinheiro”.
— Você fala como se fosse um doente.
Nunca fui de esconder meus pensamentos. Sempre fui uma
menina sincera, e se algo me incomoda, falo imediatamente.
— Tem a língua bastante afiada. Não será nada bom para você
continuar assim — seu tom é ameaçador.
Sua voz rouca tem um sotaque português muito diferente do meu. Logo percebo que ele não é brasileiro, como eu. Deve ser americano, já que estamos na América do Norte.
O homem me olha como se eu fosse um pedaço de carne.
Um maníaco.
Meu corpo treme só de eu pensar nessa possibilidade. Tento
não demonstrar isso, mas, como falei, sou péssima em esconder as
coisas.
— O que estou fazendo aqui? Por que me trouxe para outro
país?
— Nota-se que é muito inteligente. Não é à toa que estava
cursando Direito.
— Por que nunca responde às minhas perguntas?
— Por que sempre está fazendo perguntas?
Esse foi o estopim para acabar com toda a minha calma. Esse
homem está pensando o quê? Que é algum rei? Um presidente?
Alguém que merece respeito? O cara pode até ser rico, porém isso
não lhe dava o direito de me trazer à força para outro país. Isso é
crime. Segundo a Constituição Brasileira, ele pegaria de quatro a
dez anos de cadeia, e por me manter em cárcere privado, de cinco a
oito anos. Um bom tempo para aprender que não é o dono do
mundo.
— Tudo bem se não quiser me responder, mas fique sabendo
que eu vou te denunciar para as autoridades. A embaixada
brasileira irá tomar todas as medidas cabíveis para que você pague
pelos seus crimes. — Ele me observa tranquilamente. Nada o
abala? — Não vou ficar mais nem um segundo aqui, você não tem o
direito de me manter presa. E se tentar fazer alguma coisa contra
mim, juro que vai pagar caro por isso.
Ele continua firme, observando-me de maneira eficiente. Algo que me irrita tanto.
Caminho em direção à saída, temerosa. E o que eu temia, acontece: ele me segura pelo braço direito com muita força,fazendo-me parar de andar bruscamente. Sua mão é grande o
suficiente para me fazer querer chorar de dor. Prendo as lágrimas
que se formaram.
— Você não vai a lugar algum, Elisa.
Como ele sabe o meu nome?
Assustada, encaro os seus lindos olhos azuis sombrios. Ele
parece ser a própria morte, um enviado do demônio para me
destruir.
O homem me faz ficar de frente para o seu corpo musculoso e
forte. O meu queixo bate abaixo do seu ombro. Ele é muito alto, e
eu com meu 1,60 m pareço uma anã diante dele, que aparenta ter
quase 2 metros de altura.
— Como você sabe o meu nome?
— Eu sei tudo sobre você, morena.
Ele parece ser muito possessivo.
— O meu braço... por favor.
— Você não vai sair deste apartamento nunca. A partir de agora, será minha mulher e fará de tudo para me agradar e me obedecer fielmente. Se houver desobediência, haverá consequências: punições severas. Portanto, sugiro que seja uma boa garota e que esteja disposta a colaborar comigo. Caso seja uma boa esposa, terá seus privilégios: uma vida confortável e regalias de
princesa.
O que esse cara disse é uma loucura. Ele não pode me tomar como sua mulher. Não dessa maneira. Não sou nenhuma prostituta de luxo para que ele me possua em troca de dinheiro e de uma vida
confortável. Ele não tem o direito de fazer isso comigo.
— Só pode ser um daqueles psicopatas. Não vou ser sua mulher. — Solto-me dele. — Prefiro morrer a ter que passar uma noite com você. Quem pensa que sou, para querer me tomar como
uma vadia?
— Você... — Puxa-me pelos cabelos e me prende em seu
corpo forte. O impacto foi tão grande, que me machucou. — É muito
abusada, garota. Eu sabia que seria assim no início. Por isso, quero
que veja uma coisa. — Solta-me, fazendo com que eu tenha acesso
à saída.
A porta está aberta e eu posso correr neste momento. Estou
prestes a fazer isso, quando ouço uma voz vindo atrás de mim. É a
minha mãe. Fico congelada, sem mover um músculo sequer,
paralisada.
— Tem certeza de que não quer ver como sua mãe está,
morena?
Olho para trás e vejo um grande telão que não estava ali antes.
Ele, certamente, apertou algum botão e esse negócio apareceu de
repente. A imagem mostrada é da minha mãe sentada no velho sofá
da nossa pequena casinha, chorando, enquanto um homem de,
aparentemente, uns quarenta e poucos anos está conversando com
ela.
Ele implantou uma câmera lá? O quão perigoso esse homem
é? Seria mesmo capaz de fazer mal à minha mãe? Meu Deus! Ela
está correndo perigo.
— Hoje faz dois dias que minha filha não me dá notícias. Elisa não é como essas garotas que saem de casa sem avisar. A minha filha está correndo perigo e a polícia parece não querer fazer nada
para encontrá-la.
Minha mãe está usando uma calça jeans rasgada e uma blusa branca, surrada, que eu lhe dei de aniversário há dois anos e se tornou a sua favorita.
Meus olhos se enchem de lágrimas quando vejo a dor no semblante da minha rainha. Seus olhos estão vermelhos de tanto ela chorar.
— Calma, senhora. Sou um delegado de polícia e estou aqui
para a ajudar.
O homem me encara com muita satisfação no olhar. Ele sabe
que esse é o meu ponto fraco.
— Carlos é o meu homem de confiança. Ele se infiltrou na
polícia com o objetivo de atrapalhar as buscas por você. Vê como
sua mãe está preocupada?
— Você é um monstro! Não vê que ela está sofrendo?
— Ela pode sofrer ainda mais. Isso vai depender de você.
— Não faça mal a ela, eu lhe imploro.
Ele sorri, satisfeito.
— Carlos — ele fala em um pequeno ponto que tem em uma
das suas mãos. — Toque no ombro da senhora Santiago.
Volto a olhar para a imagem na televisão. O tal Carlos faz
exatamente o que lhe foi pedido. Isso é monstruoso.
— Eu faço o que o senhor quiser, só não machuque a minha
mãe. — Não consigo controlar as lágrimas, que escorrem pelo meu
rosto.
— Boa menina. Morena, não há necessidade de chorar. Não
sou tão cruel quanto você deve estar pensando. Está colaborando
comigo. Como avisei, serei legal com você se resolver ficar ao meu
lado, sendo a minha mulher.
— Por que eu? — pergunto cabisbaixa, chorando.
O que faria um homem como ele se interessar por uma garota
sem graça como eu?
Uma mão sua toca no meu queixo, erguendo o meu rosto.
Seus olhos azuis estão repletos de luxúria.
— Porque tinha que ser você. — Solta o meu queixo. — Quero
que volte para o nosso quarto. — Arregalo os olhos. — Isso mesmo,
nosso quarto. Será nosso a partir de hoje. Irei buscar o papel que
falta para que você assine, e assim que o assinar, será minha
esposa e poderemos, finalmente, consumar a nossa união.
Engasguei-me quando ele disse que consumaríamos o
casamento, ou seja, sexo com um estranho, com alguém que eu
nunca tinha visto na vida. Acabamos de nos conhecer por meio
deste sequestro, e ele me disse que serei sua esposa. Como
assim? Estou tremendo, apavorada. O que farei para escapar desse
homem lindo e louco? Posso ver, em seus olhos azuis, que ele me
deseja ardentemente. Mas mesmo que ele seja lindo, estou assustada.
Ele é um doente, um homem sem coração, que foi capaz de
usar a minha mãe para me obrigar a casar. Por que isso está
acontecendo justamente comigo? O que ele viu em mim, que as
demais mulheres desta cidade não têm? Essa história de casamento é uma grande loucura.
— Seja bem-vinda à sua nova vida, princesa, ao lado do seu
futuro marido, Matthew Lansky. Prazer, querida esposa.
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Atualizado até capítulo 64
Comments
Marcia Zuim
Complicado isso em?
2024-12-10
0
Jeanne Christine Bispo
Também não estou entendendo nada
2024-04-16
5
Adriane Silva
e um mistério até agora não entendi nada
2024-04-06
0