capítulo 2

ELISA SANTIAGO

Acabei de despertar em um ambiente totalmente iluminado e

estou deitada sobre uma enorme cama de casal, a qual parece ser

maior do que todo o barraco onde moro. Minha cabeça está doendo

e eu me sinto cansada, sonolenta. Há um lençol sobre o meu corpo

para me aquecer e o ar-condicionado do lugar deixa o clima muito

frio.

Observo cada detalhe do vasto quarto de luxo em que estou e

minha mente começa a recobrar tudo que aconteceu antes que eu

pudesse desmaiar. Lembro-me da chuva e de estar voltando da

faculdade, quando fui abordada por um homem que usava roupas

pretas. Será que fui sequestrada? Meu pensamento questiona essa

possibilidade. Mas se foi realmente um sequestro, que diabos estou

fazendo neste quarto que mais parece um palácio, de tão luxuoso?

Tento me levantar da cama, mas é em vão. Levo as mãos à

cabeça e noto que tudo dentro dela está girando igual a um

carrossel sem freio. Fecho os olhos, tentando controlar a tontura.

Minha mãe me ensinou que nunca devemos nos entregar aos

nossos problemas.

Pouco tempo depois, felizmente, consigo me sentir melhor e

posso me levantar. Noto que estou usando uma linda camisola de

seda da cor rosé, muito macia. Eu nunca tinha sentido nada assim

antes. Ela vai até a altura dos joelhos e tem um pequeno decote e

alças finas. Definitivamente, não é minha. Nada aqui é meu.

Caminho em direção à porta e vejo que, pelo menos, ela não está trancada. Passo as mãos nos meus cabelos, que não estão mais molhados da chuva e parecem ter sido hidratados como nunca

antes. Os fios cacheados estão controlados nos seus devidos

lugares e a maciez se faz presente neles.

Não posso deixar de perceber que, no quarto, há algumas

roupas para que eu me troque, certamente. Acabo ignorando tudo

isso, a fim de tentar encontrar alguém que possa me dizer alguma

coisa.

Será que estou na casa da patroa da minha mãe? Aqueles

homens que me abordaram podem ter sido os seguranças

particulares da senhora Vilar. Se foram eles, logo encontrarei

mamãe. Tento não ficar nervosa, pois não sou mais uma garotinha

para não encarar a realidade.

Que tipo de pessoa precisa lhe dopar para que você a

acompanhe até algum lugar? Criminosos fazem isso, pessoas de

bem não.

Fecho a porta do quarto e começo a caminhar por um corredor,

onde há quadros pendurados nas paredes escuras. Percebo que

estou com os pés descalços, pisando sobre um longo tapete

vermelho que parece ir até o fim do corredor. O lugar é muito

elegante.

Este não é um sequestro normal, porque não fui raptada para

morrer rapidamente e meus órgãos ainda estão devidamente nos

seus lugares. Pelo menos é isso que penso. Toco em mim mesma,

um pouco assustada, e, enfim, sei que nada de ruim me aconteceu

até agora. Está tudo em seu lugar. Então percebo uma pequena

cicatriz no meu antebraço. Ela é tão minúscula, que há apenas um

único ponto.

Assustada, passo as pontas de alguns dedos sobre o local e o

sinto doer um pouco, como se a ferida tivesse sido aberta há poucas

horas. Posso sentir que há algo pequeno dentro de mim, durinho, de

uma textura sólida e resistente. O que é isso? Por Deus!

Corro até uma porta rapidamente e tento abri-la, mas não encontro o trinco. Ela pode ser aberta apenas com um escaneamento ou um cartão.

Estou presa. Alguém quer me manter aqui dentro. Mas quem

seria tão cruel a esse ponto? Tento me lembrar de alguém que

poderia me fazer algum mal, então constato que não tenho

inimizades, nem mesmo com o dono do Morro. Os chefes e

bandidos da favela sempre me respeitaram e os vapores nunca

tocaram um dedo sequer em mim. Não faço ideia de quem está por

trás de tudo isso.

Começo a chorar, apavorada. Por que a porta não abre? Tento

colocar minha impressão digital, só que é em vão, e bato várias

vezes contra ela. Penso até em gritar, mas sei que seria perda de

tempo, já que ninguém me ouviria.

Corro até uma grande janela de vidro na sala e quase caio

para trás ao ver a vista lá fora. Não é possível! Esta cidade não é

nada parecida com o Rio de Janeiro. É incrivelmente moderna,

repleta de arranha-céus, a tecnologia se faz presente em cada parte

dela e a arquitetura é variada, demonstrando luxo e poder.

Estou em Nova Iorque. Aquele prédio à minha frente é o

Empire State Building, um dos mais famosos arranha-céus de todo o

mundo. Com fachada de calcário e colunas de aço, ele é localizado

no centro de Manhattan, na cidade de Nova Iorque, e possui 102

andares, para eu ser mais exata. A ilha é conhecida como “a cidade

dos milionários”. Como já fiz uma pesquisa sobre a cidade no tempo

de escola, posso afirmar que quem vive neste centro são pessoas

com muito dinheiro.

Minha ficha caiu por terra agora. Não estou mais no Brasil, e

sim nos Estados Unidos da América, na América do Norte. Por Deus! Como isso foi acontecer? Quem me trouxe para cá? Eu dormi por mais de 24 horas? Óbvio que sim.

A fome me fez despertar. Estou tão faminta, que juro que não

como nada há mais de um dia.

A minha mãe!

Preciso lhe avisar onde estou. Ela deve estar morrendo de

preocupação por minha causa.

Procuro algum telefone pela sala e encontro um fixo.

Rapidamente, digito o número dela, mas então percebo que a

ligação não irá se completar, pois não há nenhum tipo de sinal que

indique alguma conexão.

Preciso manter a calma, não perder o controle. Quem está por

trás de tudo isso elaborou um plano infalível, pensando até mesmo

nos mínimos detalhes, como cortar a conexão do telefone fixo.

Na cozinha deve ter algum, só preciso encontrá-lo. Há algumas

portas aqui, mas uma grande e preta é a mais chamativa. Ela é

coberta de madeira maciça e seus detalhes e símbolos de cavalos

conseguem prender minha atenção.

Será que... Não custa tentar.

Consigo abrir a porta, que estava destrancada, e a primeira

coisa que vejo é um telefone fixo branco em cima da mesa do

luxuoso escritório. O piso de madeira brilha, de tão limpo, e o

perfume do ambiente exala um cheiro amadeirado que faz com que

meu nariz arda, de tão forte que é. Ao lado do telefone, há uns

charutos com as iniciais “M. L.” Nunca nem ouvi falar dessa marca.

Ou será que já? Pelo menos não de charutos, e sim de joias.

O telefone fixo daqui também está sem conexão alguma.

Droga! E agora? O que irei fazer?

— Não é possível! Que droga! — Assusto-me comigo mesma,

já que nunca havia falado nenhuma palavra de baixo calão em toda

a minha vida. Minha mãe não permite. — Eu preciso sair daqui.

— Nem por cima do meu cadáver, isso irá acontecer, senhora Lansky.

Meus olhos fitam o homem alto de terno preto, lábios vermelhos e olhos azuis. A personificação perfeita da palavra “beleza” se enquadra nesse cara forte e másculo. É o mesmo que

me abordou quando eu estava voltando da faculdade.

Meu corpo entra em alerta com sua presença. Não sei nada

sobre ele, apenas que é o responsável por eu estar aqui neste

momento. O homem mantém um olhar gélido sobre mim. Sua pele

pálida combina perfeitamente com seus olhos claros e seu olhar é

capaz de me causar medo.

Nunca temi ninguém em toda a minha vida como temo ele.

Eu devolvo o telefone para o gancho, e o cara nem ao menos

pisca, como se tudo em mim chamasse a sua atenção. Seu olhar

penetrante faz eu me sentir completamente exposta. É como se ele

conseguisse ver todo o meu corpo nu, mesmo eu estando coberta

pela camisola. Lembro-me de que o decote dela é bem visível e,

rapidamente, cubro-me com as duas mãos, fazendo uma barreira. O

sorriso de lado em seu rosto é incrivelmente sexy.

— Acha mesmo que isso vai me impedir de fazer alguma

coisa? — Ergue uma das sobrancelhas.

O homem falou como se fosse capaz de me forçar a fazer algo.

Certamente, acha que possui esse poder só porque está em seu

país e, possivelmente, em uma propriedade em seu nome. Pelas

roupas que ele veste, é possível notar, de longe, que ele não é uma

pessoa como eu: pobre. Tudo nele grita “dinheiro”.

— Você fala como se fosse um doente.

Nunca fui de esconder meus pensamentos. Sempre fui uma

menina sincera, e se algo me incomoda, falo imediatamente.

— Tem a língua bastante afiada. Não será nada bom para você

continuar assim — seu tom é ameaçador.

Sua voz rouca tem um sotaque português muito diferente do meu. Logo percebo que ele não é brasileiro, como eu. Deve ser americano, já que estamos na América do Norte.

O homem me olha como se eu fosse um pedaço de carne.

Um maníaco.

Meu corpo treme só de eu pensar nessa possibilidade. Tento

não demonstrar isso, mas, como falei, sou péssima em esconder as

coisas.

— O que estou fazendo aqui? Por que me trouxe para outro

país?

— Nota-se que é muito inteligente. Não é à toa que estava

cursando Direito.

— Por que nunca responde às minhas perguntas?

— Por que sempre está fazendo perguntas?

Esse foi o estopim para acabar com toda a minha calma. Esse

homem está pensando o quê? Que é algum rei? Um presidente?

Alguém que merece respeito? O cara pode até ser rico, porém isso

não lhe dava o direito de me trazer à força para outro país. Isso é

crime. Segundo a Constituição Brasileira, ele pegaria de quatro a

dez anos de cadeia, e por me manter em cárcere privado, de cinco a

oito anos. Um bom tempo para aprender que não é o dono do

mundo.

— Tudo bem se não quiser me responder, mas fique sabendo

que eu vou te denunciar para as autoridades. A embaixada

brasileira irá tomar todas as medidas cabíveis para que você pague

pelos seus crimes. — Ele me observa tranquilamente. Nada o

abala? — Não vou ficar mais nem um segundo aqui, você não tem o

direito de me manter presa. E se tentar fazer alguma coisa contra

mim, juro que vai pagar caro por isso.

Ele continua firme, observando-me de maneira eficiente. Algo que me irrita tanto.

Caminho em direção à saída, temerosa. E o que eu temia, acontece: ele me segura pelo braço direito com muita força,fazendo-me parar de andar bruscamente. Sua mão é grande o

suficiente para me fazer querer chorar de dor. Prendo as lágrimas

que se formaram.

— Você não vai a lugar algum, Elisa.

Como ele sabe o meu nome?

Assustada, encaro os seus lindos olhos azuis sombrios. Ele

parece ser a própria morte, um enviado do demônio para me

destruir.

O homem me faz ficar de frente para o seu corpo musculoso e

forte. O meu queixo bate abaixo do seu ombro. Ele é muito alto, e

eu com meu 1,60 m pareço uma anã diante dele, que aparenta ter

quase 2 metros de altura.

— Como você sabe o meu nome?

— Eu sei tudo sobre você, morena.

Ele parece ser muito possessivo.

— O meu braço... por favor.

— Você não vai sair deste apartamento nunca. A partir de agora, será minha mulher e fará de tudo para me agradar e me obedecer fielmente. Se houver desobediência, haverá consequências: punições severas. Portanto, sugiro que seja uma boa garota e que esteja disposta a colaborar comigo. Caso seja uma boa esposa, terá seus privilégios: uma vida confortável e regalias de

princesa.

O que esse cara disse é uma loucura. Ele não pode me tomar como sua mulher. Não dessa maneira. Não sou nenhuma prostituta de luxo para que ele me possua em troca de dinheiro e de uma vida

confortável. Ele não tem o direito de fazer isso comigo.

— Só pode ser um daqueles psicopatas. Não vou ser sua mulher. — Solto-me dele. — Prefiro morrer a ter que passar uma noite com você. Quem pensa que sou, para querer me tomar como

uma vadia?

— Você... — Puxa-me pelos cabelos e me prende em seu

corpo forte. O impacto foi tão grande, que me machucou. — É muito

abusada, garota. Eu sabia que seria assim no início. Por isso, quero

que veja uma coisa. — Solta-me, fazendo com que eu tenha acesso

à saída.

A porta está aberta e eu posso correr neste momento. Estou

prestes a fazer isso, quando ouço uma voz vindo atrás de mim. É a

minha mãe. Fico congelada, sem mover um músculo sequer,

paralisada.

— Tem certeza de que não quer ver como sua mãe está,

morena?

Olho para trás e vejo um grande telão que não estava ali antes.

Ele, certamente, apertou algum botão e esse negócio apareceu de

repente. A imagem mostrada é da minha mãe sentada no velho sofá

da nossa pequena casinha, chorando, enquanto um homem de,

aparentemente, uns quarenta e poucos anos está conversando com

ela.

Ele implantou uma câmera lá? O quão perigoso esse homem

é? Seria mesmo capaz de fazer mal à minha mãe? Meu Deus! Ela

está correndo perigo.

— Hoje faz dois dias que minha filha não me dá notícias. Elisa não é como essas garotas que saem de casa sem avisar. A minha filha está correndo perigo e a polícia parece não querer fazer nada

para encontrá-la.

Minha mãe está usando uma calça jeans rasgada e uma blusa branca, surrada, que eu lhe dei de aniversário há dois anos e se tornou a sua favorita.

Meus olhos se enchem de lágrimas quando vejo a dor no semblante da minha rainha. Seus olhos estão vermelhos de tanto ela chorar.

— Calma, senhora. Sou um delegado de polícia e estou aqui

para a ajudar.

O homem me encara com muita satisfação no olhar. Ele sabe

que esse é o meu ponto fraco.

— Carlos é o meu homem de confiança. Ele se infiltrou na

polícia com o objetivo de atrapalhar as buscas por você. Vê como

sua mãe está preocupada?

— Você é um monstro! Não vê que ela está sofrendo?

— Ela pode sofrer ainda mais. Isso vai depender de você.

— Não faça mal a ela, eu lhe imploro.

Ele sorri, satisfeito.

— Carlos — ele fala em um pequeno ponto que tem em uma

das suas mãos. — Toque no ombro da senhora Santiago.

Volto a olhar para a imagem na televisão. O tal Carlos faz

exatamente o que lhe foi pedido. Isso é monstruoso.

— Eu faço o que o senhor quiser, só não machuque a minha

mãe. — Não consigo controlar as lágrimas, que escorrem pelo meu

rosto.

— Boa menina. Morena, não há necessidade de chorar. Não

sou tão cruel quanto você deve estar pensando. Está colaborando

comigo. Como avisei, serei legal com você se resolver ficar ao meu

lado, sendo a minha mulher.

— Por que eu? — pergunto cabisbaixa, chorando.

O que faria um homem como ele se interessar por uma garota

sem graça como eu?

Uma mão sua toca no meu queixo, erguendo o meu rosto.

Seus olhos azuis estão repletos de luxúria.

— Porque tinha que ser você. — Solta o meu queixo. — Quero

que volte para o nosso quarto. — Arregalo os olhos. — Isso mesmo,

nosso quarto. Será nosso a partir de hoje. Irei buscar o papel que

falta para que você assine, e assim que o assinar, será minha

esposa e poderemos, finalmente, consumar a nossa união.

Engasguei-me quando ele disse que consumaríamos o

casamento, ou seja, sexo com um estranho, com alguém que eu

nunca tinha visto na vida. Acabamos de nos conhecer por meio

deste sequestro, e ele me disse que serei sua esposa. Como

assim? Estou tremendo, apavorada. O que farei para escapar desse

homem lindo e louco? Posso ver, em seus olhos azuis, que ele me

deseja ardentemente. Mas mesmo que ele seja lindo, estou assustada.

Ele é um doente, um homem sem coração, que foi capaz de

usar a minha mãe para me obrigar a casar. Por que isso está

acontecendo justamente comigo? O que ele viu em mim, que as

demais mulheres desta cidade não têm? Essa história de casamento é uma grande loucura.

— Seja bem-vinda à sua nova vida, princesa, ao lado do seu

futuro marido, Matthew Lansky. Prazer, querida esposa.

Mais populares

Comments

Marcia Zuim

Marcia Zuim

Complicado isso em?

2024-12-10

0

Jeanne Christine Bispo

Jeanne Christine Bispo

Também não estou entendendo nada

2024-04-16

5

Adriane Silva

Adriane Silva

e um mistério até agora não entendi nada

2024-04-06

0

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