^^^L O R E N Z O ^^^
Meu nome é Lorenzo Bianchi e, no mundo em que eu vivo, esse nome abre portas e fecha outras.
Não é só sobrenome. É uma marca, um aviso, um peso que não se escolhe carregar, mas que se aprende a sustentar. Bianchi é sangue, é história, é poder — e também maldição.
Eu nasci no sul da Itália, filho de um homem que todo mundo respeitava, ou temia. Meu pai, Salvatore Bianchi, não era apenas o chefe da família; ele era a família.
Aprendi cedo que, quando alguém mencionava nosso nome, o tom da voz mudava. Ou vinha carregado de reverência, ou de ódio.
Minha mãe, Lucia, era o oposto dele. Doce, religiosa, acreditava que poderia me criar longe desse mundo. Mas, quando se nasce com o sangue certo — ou errado, dependendo do ponto de vista —, não existe distância suficiente. Minha irmã, Aurora também era como minha mãe, doce e uma boa filha e irmã.
Eu tinha vinte e um anos quando meu pai foi morto numa emboscada. A polícia chamou de “acerto de contas entre famílias rivais”. Pra mim, foi um dia dividido em duas metades: antes e depois de entender que a paz é uma mentira. Naquela noite, enquanto velávamos meu pai, jurei a mim mesmo que nunca mais ficaria do lado de quem espera.
Desde então, deixei de ser apenas Lorenzo. Me tornei o capo da família Bianchi.
A transição não foi suave. Tive que engolir desconfianças, conquistar respeito e, às vezes, impor medo.
Negócios legítimos? Temos vários: construtoras, hotéis, empresas de exportação de vinho. Mas as raízes, essas são mais profundas.
Tráfico de armas, rotas clandestinas, lavagem de dinheiro. É assim que o poder se sustenta.
Não porque eu goste do crime, mas porque nesse mundo não existe trono vazio. Ou você senta nele ou alguém senta no seu lugar.
Hoje, anos depois, aprendi a usar ternos caros e relógios de ouro sem que isso me distraia do que realmente importa: controle.
Controle do meu território, dos meus homens, das informações que circulam, das alianças que formo e, principalmente, das que recuso.
E é exatamente isso que está acontecendo agora.
Estou sentado na ponta de uma mesa comprida, em uma sala com janelas de vidro que revelam a cidade lá fora. A noite caiu, e as luzes dos prédios competem com o brilho da lua. Ao meu redor, meus homens de confiança: Matteo, meu braço direito, meu consigliere; Enrico, especialista em finanças; e dois seguranças que raramente falam.
Na outra ponta, Alberto Russo.
Um homem gordo, sorriso fácil demais para o gosto de qualquer um que já viveu o suficiente pra saber que sorriso assim é máscara. Ele é dono de uma rede de cassinos clandestinos. Inteligente, sim. Mas traiçoeiro. O tipo de homem que aperta sua mão hoje e, amanhã, vende sua cabeça pelo melhor lance.
— Então, Lorenzo… — Alberto começa, encostando-se na cadeira. — A proposta está aí. Um negócio limpo, rápido e muito lucrativo.
Cruzo os dedos sobre a mesa e mantenho o olhar nele.
— Lucro não é tudo.
— Claro que é — ele ri, abrindo os braços como se fosse óbvio. — O que mais importa além do dinheiro?
Enrico solta um riso abafado, mas Matteo me lança um olhar rápido, esperando minha reação.
A verdade é que Alberto não entende — ou finge não entender — que dinheiro, sem poder e sem controle, é só papel. E que eu não negocio com quem já me apunhalou pelas costas no passado.
— Eu já disse que não vou entrar nisso — minha voz é firme, sem precisar aumentar o tom.
— E eu já disse que você está recusando a chance de dobrar seu patrimônio — ele se inclina para frente, o suor brilhando na testa. — Posso garantir que ninguém mais vai te oferecer algo assim.
— Está enganado — encaro-o, imóvel. — Eu não vendo minha lealdade.
O silêncio cai pesado sobre a sala. Alberto força um sorriso, mas os olhos denunciam a raiva.
Ele tenta me medir, como se ainda houvesse espaço para convencer.
— Então é por isso… — ele murmura, quase para si. — Você ainda guarda rancor pelo que aconteceu com seu pai. Para com isso, foi passado e eu mudei bastante. Aprendi com meus erros.
Minha mandíbula trava. Matteo, ao meu lado, muda de postura, pronto para agir se necessário.
Alberto está testando meus limites, cutucando feridas que não fecham.
— Não é rancor — respondo devagar, a voz baixa. — É memória. E memória é o que mantém um homem vivo nesse mundo. E depois, traidores como você, não mudam assim, tão rápido.
Ele recosta na cadeira, balança a cabeça e solta uma risada curta, sem humor.
— Sabe, Lorenzo, às vezes acho que você prefere inimigos a aliados.
— Prefiro aliados que não tentem me matar quando a maré vira — retruco, sem piscar.
O clima na sala muda.
Enrico ajeita os papéis à sua frente, como se quisesse encerrar o assunto. Matteo permanece imóvel, mas sei que está atento a cada movimento.
Alberto tenta mais uma cartada.
Abre uma pasta de couro e desliza para o meu lado da mesa um envelope grosso, pesado.
— Pense nisso como um presente de boa fé.
Olho o envelope, mas não toco nele.
— Tire isso da minha mesa.
— É só dinheiro… — ele força um tom conciliador.
— Dinheiro não compra o que eu quero — levanto-me, ajustando o paletó. — E, no seu caso, não compra minha confiança.
Matteo pega o envelope e o devolve para Alberto, que o encara por um segundo antes de guardá-lo, sem disfarçar a irritação.
Levanto-me, sinalizando que a reunião acabou.
— Se quiser continuar respirando tranquilo, mantenha-se fora dos meus negócios — falo antes de me virar para sair.
Meus homens se levantam junto, e a sala ecoa o som das cadeiras raspando no chão. Alberto permanece sentado, olhando para o vidro à sua frente, talvez calculando quanto tempo tem antes que eu decida que ele não merece mais estar vivo.
Ao sair, Matteo me acompanha pelo corredor.
— Acha que ele vai tentar alguma coisa?
— Ele sempre tenta — respondo. — A questão é quando. Vamos ficar de olho.
No elevador, a tensão se dissolve um pouco.
As portas se abrem para a garagem privativa, onde dois carros nos aguardam. Entro no meu Maserati preto, coloco o cinto e ligo o motor.
Enquanto dirijo pelas ruas iluminadas, penso no que aquela reunião realmente significou.
Não foi só uma recusa. Foi um recado.
No meu mundo, recusar uma oferta é o mesmo que declarar guerra, mesmo que ninguém use essa palavra. E eu não me importo, eu já nasci em guerra.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Sobral Joyce Sobral
autora me surpreenda 😍😍😍😍 como sempre
2023-06-15
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Maria Sena
Eu já tinha me esquecido o quanto esse rapaz era marrento, dono de si, pra falar a verdade, vou relembrar a história.
2025-08-24
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Rosilene Narciso Lourenco Lourenco
já estou vendo que vamos ter muitas batalhas.
2025-08-24
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