Livro 1- Lua Nova Portas Que Não Se Fecham

🎵 Trilha Sonora:It’s Always Been You — Phil Wickham

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O som das batidas de Theo na porta já não parecia humano. Era persistente, pontual, como se cada golpe quisesse arrebentar não apenas a madeira, mas também o que restava da minha sanidade.

Do outro lado, ele pedia para conversar. Mas a cada súplica, tudo dentro de mim gritava não.

As lágrimas escorriam silenciosas, caindo sobre o porta-retrato em minhas mãos. O vidro estava morno, como se tivesse absorvido o calor da minha angústia. A imagem congelada de uma outra vida — uma criança sorridente, cercada de rostos que eu deveria conhecer. Mas não conhecia. Aquilo me dilacerava.

Era uma dor dupla: por não lembrar quem fui, e por perceber que todos ao meu redor fizeram questão de manter assim.

— Por favor, me deixa entrar, Diana. Vamos conversar… — Theo insistia do outro lado, a voz abafada e tensa.

— Deixe-a em paz, Theo. Já fez estrago o suficiente. — A voz do meu pai ecoou pelo corredor com rigidez, mas me soou vazia. Conveniente.

— Eu fiz o que todos vocês deviam ter feito há muito tempo.

Engoli em seco. Uma parte de mim queria gritar com ele, outra queria abraçá-lo até que tudo fizesse sentido. Mas nenhuma das duas venceu. Fui até a janela, sentindo as pernas pesarem.

Ao longe, o som familiar de um motor rompeu o silêncio. A única coisa naquele dia que me soou sincera.

Minha moto. Ou, melhor, ele.

— Alec. — O nome escapou como um sussurro, mas dentro de mim soou como um trovão.

Corri. Não por impulso — mas porque não aguentava mais estar parada no meio de mentiras. Abri a porta com força, apenas para dar de cara com Theo e meu pai.

— Diana… — A voz de Theo era baixa, arrependida. Mas eu não suportava olhar para ele. Havia algo de desleal em seu silêncio até ali. Passei por ele como uma brisa de inverno: fria, silenciosa, e carregada de dor.

Desci as escadas como se a casa estivesse me sufocando. E, talvez, estivesse. O ar parecia denso demais para os pulmões que restavam em mim. Quando abri a porta da frente, Alec estava prestes a tocar a campainha. Ele congelou ao me ver.

Seu sorriso veio fácil. Como se não precisasse de permissão para existir.

— Oi. — sorri, mordendo o lábio, tentando conter o caos dentro de mim.

— Oi. — respondeu, com a mesma simplicidade que só alguém que já enfrentou demônios pode ter.

Mas a paz durou um segundo.

— Nem pense em convidá-lo a entrar, Diana. — A voz da minha mãe veio de cima, afiada como uma lâmina embebida em gelo.

Alec ergueu uma sobrancelha, impassível.

— Boa tarde, Melissa. — disse ele, carregando um sarcasmo elegante, provocativo.

Aquelas três palavras bateram fundo em mim.

— Esse é o seu nome verdadeiro, mãe? Ou mais uma mentira para a coleção? — perguntei, sem tirar os olhos dela.

Ela me fitou em silêncio, como quem procura a melhor forma de maquiar a verdade. Mas Alec não esperou.

— Você nunca desiste, não é? Sempre pronta pra afastar todo mundo que ela poderia confiar.

— Você só aparece para arruinar nossas vidas. — retrucou Melissa, impassível.

— Prometi a Sophie que protegeria ela e Ivy. Não vou descumprir. — Alec rebateu, firme como um juramento.

— Alec, não… — tentei intervir, mas ela me cortou com um gesto.

— Ele não é bem-vindo nesta casa. E não vai ser convidado a entrar.

Tudo em mim fervia. Meu coração batia tão alto que ofuscava os sons ao redor. Eu não era mais uma peça muda no jogo deles.

— O que veio fazer aqui, Alec? — Azrael perguntou, como se fosse dono da minha porta, do meu tempo, da minha dor.

Alec não hesitou.

— Cumprir minha promessa.

A raiva tomou forma dentro de mim. Como se de repente todas as peças quebradas começassem a se alinhar.

— Se ele não pode entrar, então eu saio. — declarei, com a voz grave de quem não estava mais pedindo permissão. Melissa e Azrael me olharam como se eu tivesse cuspido blasfêmias.

— Você não vai a lugar algum, Diana.

— Isso é ela quem decide. — rebateu Alec, e seu olhar tocou o meu como um lembrete de liberdade.

— Se esse for mesmo meu nome, não é, mãe? — cuspi, envenenada de verdade. — Porque até agora, tudo o que vocês fizeram foi mentir. E Alec… — virei-me para ele. — Ele é o único que teve a decência de me contar ao menos parte da verdade. Por isso, sim, eu vou com ele.

Cruzei os braços, o queixo erguido como uma flecha antes do disparo.

— A menos que comecem a falar.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Mas eu não precisava mais das palavras deles. Pela primeira vez, eu era minha.

E aquela porta? Aquela casa?

Não me pertenciam mais.

O ar daquela casa sempre me pareceu pesado, mas nunca havia sentido o peso recair tão diretamente sobre mim quanto agora. O que antes era apenas desconfiança difusa, agora arde em minha pele como uma certeza: a verdade está ali, atrás daqueles olhos — e ela nunca foi gentil.

— Quando foi que a garota doce ficou tão abusada? — A voz dele carrega sarcasmo, mas também um traço de dor que ele tenta esconder.

— Quando ela percebeu estar sendo enganada. Se é que vocês sejam mesmo meus pais…

O silêncio que se segue corta como uma navalha. E, por mais que eu sinta a lâmina também me atingir, não recuo. Não posso. Não depois de tudo.

Melissa desvia o olhar. Theo apenas me encara, como se fosse uma parede. Mas até as paredes racham.

— Tudo bem, Diana — ela finalmente diz, com um suspiro que parece pesar séculos. — Vamos nos sentar e conversar.

— Com uma única condição. — Aponto em direção à porta. — Alec entra comigo.

A expressão deles muda como se eu tivesse cuspido fogo. Melissa arregala os olhos. Theo franze a testa como se meu pedido fosse uma ofensa pessoal.

— Se ele entrar, não tem mais volta — avisa ela, com voz tensa.

— Ou ele entra… ou eu saio. Vocês escolhem.

Por um momento, achei que me expulsariam sem cerimônia. Mas então Melissa respira fundo, pesada como quem aceita a própria derrota.

— Está bem. Você venceu. — Ela vira-se para Alec. — Pode entrar.

Alec sorri com aquela expressão irritante de quem sempre soube que venceria. Ele pisa na casa como se estivesse entrando num trono roubado.

— Você não imagina o prazer que tenho em estar aqui — diz ele, com uma reverência cínica.

Azrael o fuzila com o olhar. Eu quase consigo ouvir seus pensamentos gritarem por sangue.

— E você não imagina o quanto eu desejei te matar — murmura Azrael.

— Isso não faz diferença nenhuma pra mim — Alec responde, com a calma de quem já morreu por dentro.

Não consigo evitar: agarro a mão de Alec. Está fria, como sempre. Mas agora, ela me aquece por dentro. Puxo-o comigo até a sala de estar. Sento-me no sofá com os nervos em chamas, enquanto Alec se encosta casualmente na lareira. Melissa e Azrael se sentam à minha frente. Theo continua de pé, os braços cruzados e os olhos cravados em Alec como se o corpo dele escondesse todos os segredos do inferno.

E talvez esconda mesmo.

— Estou pronta pra ouvir — minha voz sai firme, embora tudo dentro de mim esteja tremendo.

Melissa respira fundo. Ela parece envelhecer diante de mim.

— Antes de qualquer coisa… quero que saiba que tudo o que fizemos foi por sua segurança.

— Só não mintam mais, por favor.

Um silêncio. Longo. Incômodo.

— Nem sei por onde começar — ela sussurra.

— Comece pela parte em que não são meus pais — Alec dispara antes que ela pense em alguma desculpa. O deboche dele é uma faca suja — e necessária.

Melissa fecha os olhos. Azrael baixa a cabeça.

— Eu sabia — digo. A garganta arde. — A mulher da foto… ela é minha mãe, não é?

— Sim — Melissa responde, com uma delicadeza que beira o arrependimento. — O nome dela era Sophie.

E o mundo para.

Um nome tão simples. Tão suave. E, ainda assim, ecoa dentro de mim como um trovão ancestral.

— A casa onde encontrou a foto era onde morávamos. Eu, Azrael… e Alec. — Ela olha para ele, que sorri, agora com doçura. — Saímos de MistFalls após uma série de ataques. Sua mãe queria que você tivesse uma vida diferente da dela. Uma vida longe da dor.

Meus olhos ardem. Mas não choro. Ainda não.

— Que ataques? Quem eram eles?

— Isso talvez vá soar como loucura, Diana… mas nenhum de nós aqui é humano comum.

Ela hesita. Eu apenas assinto.

— Eu sou uma espécie de anjo. Azrael, um demônio. E Alec…

— Eu sou um vampiro — ele diz, com um sorriso de canto e um brilho travesso nos olhos. Mas há dor por trás daquele charme — sempre houve.

E o mais estranho?

Eu acredito. Com uma clareza absurda. Como se minha alma já soubesse.

— E você, Theo? — viro para ele. — O que é?

Ele demora. Mas, por fim, fala:

— Um demônio. Eu sou um demônio.

Respiro fundo. E deixo que o silêncio me invada. Dentro de mim, algo se parte. Algo antigo. Algo que esperou muito tempo por respostas.

— Sua mãe… era mestiça. Metade anjo. Metade bruxa — completa Melissa, quase num sussurro.

— E meu pai? Por que ele não aparece na fotografia?

Os olhares se entrelaçam. Um segredo ainda paira no ar.

Há dores que o corpo ignora, mas a alma jamais esquece.

Eu ainda sentia o gosto amargo da verdade na boca quando ouvi Alec pronunciar aquelas palavras como uma sentença:

— Como disse, fomos atacados por caçadores. Seu pai... infelizmente foi capturado e morto.

A frase caiu como um trovão surdo. Senti a pulsação falhar por um instante, como se meu próprio coração hesitasse em aceitar. Era aquilo. A confirmação que eu não queria. Meu pai estava morto. Meu chão rachava em silêncio sob os pés.

— Sentimos muito, querida — disse alguém, cuja voz flutuou pelo ar como uma brisa que tenta consolar o incêndio. — Ele era um homem incrível.

Eu me limitei a assentir, ou fingir que fiz isso. A cabeça latejava. O peito pesava.

— Só... me dá um minuto.

Levantei-me sem pensar. Meus pés me guiaram até a cozinha, onde o silêncio parecia mais denso, mais íntimo. Peguei um copo, enchi com água trêmula e levei aos lábios, sem realmente beber. Era só uma tentativa falha de acalmar o caos dentro de mim.

Theo veio logo atrás, sua presença carregava um tipo diferente de peso — uma culpa que ele não sabia esconder.

— Está se sentindo bem?

Balancei a cabeça. Não era um "sim" nem um "não". Era só um reflexo da confusão.

— Não sei. Mas quero ir até o fim com isso.

Ele hesitou, seus olhos mergulhados em algo mais profundo do que simples preocupação.

— Tem certeza?

— Absoluta. — E então, como se aquilo também fizesse parte do quebra-cabeça, perguntei: — Theo é mesmo seu nome?

Ele sorriu de lado, melancólico.

— Theodor. Mas você sempre me chamou de Theo.

Voltei para a sala, sentindo o sangue bater nas têmporas. Ainda doía respirar. Ainda doía existir.

— O que meu pai era? Um bruxo? Feiticeiro? Ou algo do tipo?

— Não — Alec respondeu, com uma firmeza que gelou a espinha. — Seu pai era um lobisomem.

Pisquei, tentando absorver a palavra. Lobisomem. Tantas vezes ouvida em lendas, mitos e histórias contadas à beira da lareira. Nunca pensei que teria de absorvê-la como herança.

— Lobisomem? Então... o que eu sou, afinal?

O silêncio que se seguiu foi a antecipação de algo terrível.

— Não temos cem por cento de certeza — disse Theo. — Mas, segundo as pesquisas que fiz, você é um Anjo Negro. Porém... em seu DNA há vestígios de lobisomem e também de vampiro.

Alec, ao lado, olhou para Azrael com confusão.

— Então... ela absorveu todo o sangue consumido por Sophie durante a gestação?

— Foi o que concluímos. Sophie e Trevor não tinham genes vampíricos. A única explicação plausível é o sangue. O meu sangue.

A cabeça girou. A realidade parecia escorrer pelos cantos do entendimento. Eu me sentia dilacerada, feita de fragmentos de verdades que não me pertenciam, mas me moldavam.

— Estou completamente confusa agora.

— E é compreensível — disse Theo. — Estaríamos preocupados se você não estivesse.

Tentei puxar o ar. Sentia que, a qualquer momento, minhas asas — essas que eu ainda nem sabia se existiam de fato — poderiam se partir.

— E onde minha mãe está agora?

A tensão se instalou no rosto de Alec. Ele se ajeitou na cadeira, como quem se prepara para sangrar.

— Isso... é algo que só eu posso te contar.

As palavras vinham carregadas de passado.

— Depois de sete anos escondidos em Hallstatt, Arthur — um amigo de Azrael — veio nos alertar. Disse que os arcanjos estavam cada vez mais perto de encontrar vocês duas. Sua mãe então entrou em contato com Sarah, pedindo ajuda. Logo depois, fomos até Salém, onde Sarah vivia.

As lembranças vinham como uma correnteza, e eu mal podia acompanhar.

— Antes de ir — continuou Alec —, ela nos pediu para protegê-la a qualquer custo. Em Salém, Sophie pediu que Sarah criasse uma duplicata sua. E, para ela, isso não foi difícil. Sarah estava poderosa. A duplicata ficou idêntica. Até o cheiro era o mesmo.

Ele engoliu seco, os olhos marejados.

— Sophie sabia que eu jamais deixaria vocês duas. Então, ela me pediu para ficar com você. Uma semana depois, estávamos numa cidadezinha da Croácia. Sophie insistiu para ficarmos ali, até que eles nos encontrassem.

Uma pausa. Uma ferida.

— E encontraram. Uma noite, dois arcanjos surgiram. Foi tudo rápido. Eu não pude fazer nada. Eles levaram Sophie bem diante dos meus olhos... e eu... eu não pude fazer nada.

As lágrimas caíram dos olhos de Alec, silenciosas, como se até elas carregassem vergonha por escorrer.

Eu me mantive quieta. O coração, porém, gritava. As respostas vinham com dor, como se cada uma abrisse uma nova cicatriz — em vez de curar, desvelavam. Descobrir a verdade não era como abrir um baú cheio de ouro. Era mais como abrir uma cripta onde eu mesma estava enterrada viva.

Minha mãe. Meu pai. Meu sangue.

Quem eu era?

Quem esperavam que eu fosse?

A única certeza que restava era a fúria que começava a crescer por trás do luto.

E isso... era só o começo.

O silêncio entre as palavras sempre foi mais cruel que qualquer verdade.

— Eles a levaram? — pergunto, sem conseguir controlar o tremor na minha voz.

Alec fecha os olhos devagar, como se aquilo ainda doesse ao ser lembrado. Ele apenas concorda com a cabeça, emudecido.

— Eu preciso tomar um ar. — sussurra, antes de desaparecer diante dos meus olhos. Uma ausência súbita, como tudo que envolve minha história.

Fico ali, parada, até Melissa romper o silêncio.

— Depois de um mês sem notícias da Sophie, Azrael e eu tomamos uma decisão. Procuramos Ágata, sua tia... — ela pausa, como se ainda pesasse suas escolhas. — Ela nos ajudou. Apagou suas lembranças, ergueu uma barreira e nos ensinou a preparar os comprimidos que você toma até hoje. Mudamos seu nome... e os nossos também, abreviando-os. Era a única forma de te manter conectada, mesmo sem saber.

A informação cai sobre mim como um véu encharcado: pesado, gelado, irreal.

— Então... vocês não sabem se minha mãe está viva? — minha pergunta sai como um sussurro, quase infantil.

Melissa balança a cabeça, os olhos úmidos.

— Não. E sinto muito, querida.

Minha mente lateja. Uma ausência que grita dentro do peito. Eu não consigo processar tudo — não agora. Ainda assim, uma pergunta se forma antes que eu possa impedi-la:

— Por que me afastaram do Alec todos esses anos?

— Os arcanjos sabiam que ele daria a vida por você. Se soubessem que ainda estava aqui, ele seria o primeiro a correr riscos. E você era só uma criança... Precisávamos proteger vocês dois.

Fecho os olhos, tentando ordenar os pensamentos. Uma tempestade silenciosa se ergue dentro de mim.

— Qual é meu verdadeiro nome? — pergunto, embora algo em mim já soubesse.

— Ivy. Ivy Belmont.

Ouvir meu nome real é como ouvir meu próprio eco de um lugar muito distante — uma versão de mim que eu não reconheço, mas que me habita.

— Eu... — levanto devagar, sentindo as pernas trêmulas — vou ver como o Alec está.

Theo me observa com um olhar que mistura culpa e impotência.

— O que você vai fazer agora?

— Eu ainda não sei. Mas preciso pensar.

Saio, guiada por algo que não sei se é coragem ou apenas necessidade de respirar.

A varanda está silenciosa, e Alec está ali, sentado nos degraus da escada, com as mãos no rosto. Quando me vê, enxuga as lágrimas com a pressa de quem ainda quer parecer forte.

— Desculpe ter saído. Eu só... não consegui. Sinto muito a falta dela.

— Imagino. — Sento ao seu lado, mantendo uma pequena distância. — Pelo jeito, vocês eram muito próximos.

— Ela... era mais do que isso. Sophie se tornou minha razão de existir.

Há tanta dor nos olhos dele que me pergunto como alguém consegue sobreviver a esse tipo de perda. Como ele conseguiu me olhar todos esses anos sem me contar?

— Eu quero me lembrar dela, Alec.

— Só Ágata pode quebrar a barreira. Se foi ela quem selou suas lembranças, só ela pode desfazer.

— Me ajudaria a encontrá-la?

— Faria qualquer coisa por você.

Um silêncio breve se instala. Então, beijo o rosto dele — um gesto suave, não por amor, mas por gratidão.

— É incrível como você se parece com ela. — Alec sorri, um sorriso pequeno, quase resignado. — A diferença é que ela era ríspida. Você... é doce.

— Talvez isso mude. — digo, sem me reconhecer.

— Você não precisa mudar para ser forte, Ivy. Só precisa permanecer você. — Azrael aparece na porta, interrompendo nosso momento. — Alec, podemos conversar em particular?

Ele assente e se levanta. Antes de sair, toca novamente meu rosto, como se me dissesse um adeus silencioso. Fico ali, observando Theo encostar-se à escada à minha frente.

— Você não vai embora com ele, vai? — ele pergunta, e sua voz carrega mais do que medo. Há desespero nela.

— Estou... anestesiada. Saber a verdade me deu estrutura, mas não me devolveu as lembranças. Tudo ainda está em pedaços.

Theo segura minha mão. O gesto é sincero. Familiar. Mas não o reconheço.

— Ivy, não vá. Fique.

A forma como ele diz meu nome quebra algo em mim. Pela primeira vez, o som não parece estranho. Ivy. Não é só um nome. É o que me restou de real.

— Ainda não sei o que vou fazer, Theo. Pensei que, ao saber da verdade, tudo voltaria... mas nada voltou. Só mais perguntas.

Ele parece querer dizer algo, mas hesita. Então arrisca:

— Posso te fazer uma pergunta?

— Claro. — respondo com um pequeno sorriso.

— Você ainda confia em mim?

Fico em silêncio por um momento. Meu coração pesa. A resposta não é simples.

— Você confiaria em alguém que mentiu por quinze anos?

— Não. — Ele abaixa a cabeça. — Mas ainda assim... me arrependo.

— Então, comece de novo. Não minta mais, Theo. Reconstrua, se quiser. Mas do zero.

Ele aperta minha mão, e eu permito. É tudo o que posso dar por agora.

Não sei quem fui. Não sei quem sou. Mas neste instante, sou a interrogação viva de uma história que precisa ser contada. E talvez, só talvez, ainda haja tempo de descobrir quem é Ivy Belmont — e quem ela deseja ser.

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Comments

Fernanda Rosa

Fernanda Rosa

autora, a personagem é simplesmente perfeita.
Ameii

2024-04-05

1

Silvia Araújo

Silvia Araújo

tamo junto

2022-11-12

2

Lucilene Palheta

Lucilene Palheta

eu ainda estou muito triste 😢 😢 com a morte do Trevor não acredito ainda que ele morreu mesmo, por favor ressuscita ele vai ,e salva o Sophia kkkk sei lá qualquer coisa para um final feliz ☺ ☺ ☺ ☺

2022-06-08

5

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Capítulos
1 Livro 1 - Lua Nova : Influência da Lua
2 Livro 1- Lua Nova : Dor e Sussurro
3 Livro 1- Lua Nova : A Dor da Verdade
4 Livro 1- Lua Nova Portas Que Não Se Fecham
5 Livro 1 -Lua Nova Fragmentos de Mim
6 Livro 1- Lua Nova Coração em Conflito
7 Livro 1- Lua Nova : Instituto Fênix
8 Livro 1- Lua Nova Novo lar
9 Livro 1- Lua Nova Asas e Gelato
10 Livro 1- Lua Nova Belmont
11 Livro 1- Lua Nova O Peso da Leveza
12 Livro 1– Lua Nova Noite de Estrelas
13 Livro 1- Lua Nova Predador a Espreita
14 Livro 1-Lua Nova O Que é e o Que Será
15 Livro 1 - Lua Nova Coração Exposto
16 Livro 1 - Lua Nova: Fragmentos
17 Livro 2 - Lua Crescente: O Abismo em Mim
18 Livro 2 - Lua Crescente: Asas sobre as Cinzas
19 Livro 2 - Lua Crescente: Ao Som da Chuva
20 Livro 2- Lua Crescente : O Peso da Pele e das Palavras
21 Livro 2 -Lua Crescente: Verdades e Cinzas
22 Livro 2- Lua Crescente Entre Dois Mundos
23 Livro 2- Lua Crescente Entre Flores e Espinhos
24 Livro 2 - Lua Crescente Entre o que arde e o que acalma
25 Livro 2- Lua Crescente: Entre o Céu e o Abismo
26 Livro 2- Lua Crescente : Estilhaços de Confiança
27 Livro 2 - Lua Crescente Missão Mistfalls
28 Livro 2- Lua Crescente: Passado Presente
29 Livro 2- Lua Crescente: A Terra Chama
30 Livro 2 - Lua Crescente: Ecos de Memória
31 Livro 2 - Lua Crescente: O Doce Mel Amargo
32 Livro 2 - Lua Crescente: O Que Me Consome
33 Livro 2- Lua Crescente: A Flor da Pele
34 Livro 2 - Lua Crescente Antes da Tempestade
35 Livro 2 - Lua Crescente: Sangue, gelo e Raiva
36 Livro 2- Lua Crescente : Impecável Sedutor
37 Livro 3 - Lua Crescente: Reflexo do Abismo
38 Livro 3 - Lua Crescente: Quando o Peito Aperta
39 Livro 3 - Lua Crescente:; Segredos e Mentiras
40 Livro 3 - Lua Crescente:Entre A Graça E O Coração
41 Livro 3 - Lua Crescente: O Jogo
42 Livro 3 - Lua Crescente: Jogo do Diabo
43 livro 3-Lua Crescente : Equinócio
44 Livro 3 - Lua Crescente: Do Avesso
45 Livro 3 - Lua Crescente: Lembrança e Vazio.
46 Livro 3 — Lua Crescente: Dia Acinzentado Noite Estrelada
47 Livro 3 — Lua Crescente: Entregues ao Desejo
48 Livro 3 - Lua Crescente: Paz e Fogo
49 Livro 3 — Lua Crescente: A Voz No Abismo
50 Livro 3 - Lua Crescente : Entre a Vida e a Razão
51 Livro 3- Lua Crescente: Elfo da Tentação e a Caverna
52 Livro 3 - Lua Crescente: Abismo da Noite
53 Livro 3 - Lua Crescente: É Complicado
54 Livro 3 - Lua Crescente: Corações em Chamas
55 Livro 3 - Lua Crescente: A Sombra Que Queima
56 Livro 3- Lua Crescente: Desejo x Amor
57 Livro 3 — Lua Crescente : Dor, Medo,Caos e Tormenta.
58 Livro 3 - Lua Crescente: O Lobo Que Há em Mim
59 Livro 3- Lua Crescente: NaCova Dos Leões
60 Livro 4 - Lua Cheia: O Carcereiro
61 Livro 4 - Lua Cheia : A Verdade Em Meio A Sombra
62 Livro 4- Lua cheia: Correntes Invisíveis
63 livro 4 — Lua cheia: A História Que Meu Pai Contara - O Cervo e o Lobo
64 Livro 4- Lua cheia: Entre Estratégia e Sombras
65 Livro 4- Lua cheia: A Graça Em Mim
66 Livro 4 - Lua cheia: A Escuridão Lasciva
67 Livro 4- Lua cheia : Medo Da Traição
68 Livro 4- Lua cheia: O Demônio e Eu
69 Livro 4- Lua Cheia: Silêncio Entre as Trevas
70 Livro 4- Lua Cheia Banquete de Máscaras Despidas
71 Livro 4- Lua Cheia: Máscaras Despidas
72 Livro 4 - Lua Cheia: Lascívia e Domínio
73 Livro 4- Lua Cheia: Beijos e Cicatrizes
74 Livro 4- Lua Cheia: Confusões e Cicatrizes
75 Livro 4- Lua Cheia: Aliança Deslumbrante
76 Livro 4- Lua Cheia: Laços Silenciosos
77 Livro 4- Lua cheia Cor do Desejo e o Sabor da Guerra
78 Livro 4- Lua Cheia. O Rei de Marmaid
79 Livro 4- Lua Cheia: O Peso do Fogo
80 Livro 4- Lua cheia: A chama que dança entre o aço e o sangue
81 Livro - 4 Lua Cheia: Desafio de Sangue
82 Livro 4 - Lua Cheia: Sangue Sobre A Arena
83 Livro 4-Lua Cheia: Sob A Vigília Da Lua
84 Livro 4-Lua Cheia: Lealdade, Amor e Coragem
85 Livro 4 — Lua Cheia:Os Três Mosqueteiros
86 Livro 4- Lua Cheia: Não é Sonho... Presságio
87 Livro 4-Lua Cheia: O Olhar Do Vigilante
88 Livro 4-Lua Cheia: Beijo De Energia
89 Livro 4- Lua Cheia: A Lâmina E A Verdade
90 Livro 4 — Lua Cheia: Quando o Rato se Tornou Leão
91 Livro 5- Lua Minguante: Sangue e Ruína
92 Livro 5-Lua Minguante : Alma Partida em Dois
93 Livro 5- Lua Minguante: O Sangue de Alecsander
94 Livro 5 - Lua Minguante: Amantes de Almas
95 Livro 5- Lua Minguante: Meu alfa, Meu caos, Meu lar.
96 Livro 5 - Lua Minguante: A Dor Da Despedida
97 Livro 5- Lua Minguante: O Retorno do Príncipe
98 Livro 5 - Lua Minguante: Nosso Paraíso Particular
99 Livro 5 - Lua Minguante: O Mesmo Pesadelo
100 Livro 5- Lua Minguante: Laços que Renascem
101 Livro 6 — Crepúsculo: Sede Negra
102 Livro 6 Crepúsculo: A Segunda Estrofe
103 Livro 6- Crepúsculo: A Sombra Na Escuridão
104 Livro 6- Crepúsculo: A Queda do Rei
105 Livro 6- Crepúsculo: A Porta Para o Submundo
106 Livro 6- Alvorecer: Um Reino Entre Nós
107 Livro 6 - Alvorecer: Quem é o Vilão Dessa História
108 . *。 Epílogo . *。Findar De Um Milênio
Capítulos

Atualizado até capítulo 108

1
Livro 1 - Lua Nova : Influência da Lua
2
Livro 1- Lua Nova : Dor e Sussurro
3
Livro 1- Lua Nova : A Dor da Verdade
4
Livro 1- Lua Nova Portas Que Não Se Fecham
5
Livro 1 -Lua Nova Fragmentos de Mim
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Livro 1- Lua Nova Coração em Conflito
7
Livro 1- Lua Nova : Instituto Fênix
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Livro 1- Lua Nova Novo lar
9
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Livro 1- Lua Nova Belmont
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Livro 1– Lua Nova Noite de Estrelas
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Livro 2 - Lua Crescente: O Abismo em Mim
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Livro 2 - Lua Crescente: Ecos de Memória
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Livro 2 - Lua Crescente: O Que Me Consome
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Livro 2 - Lua Crescente Antes da Tempestade
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Livro 2 - Lua Crescente: Sangue, gelo e Raiva
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Livro 2- Lua Crescente : Impecável Sedutor
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Livro 3 - Lua Crescente: Reflexo do Abismo
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Livro 3 - Lua Crescente:Entre A Graça E O Coração
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Livro 3 - Lua Crescente: O Jogo
42
Livro 3 - Lua Crescente: Jogo do Diabo
43
livro 3-Lua Crescente : Equinócio
44
Livro 3 - Lua Crescente: Do Avesso
45
Livro 3 - Lua Crescente: Lembrança e Vazio.
46
Livro 3 — Lua Crescente: Dia Acinzentado Noite Estrelada
47
Livro 3 — Lua Crescente: Entregues ao Desejo
48
Livro 3 - Lua Crescente: Paz e Fogo
49
Livro 3 — Lua Crescente: A Voz No Abismo
50
Livro 3 - Lua Crescente : Entre a Vida e a Razão
51
Livro 3- Lua Crescente: Elfo da Tentação e a Caverna
52
Livro 3 - Lua Crescente: Abismo da Noite
53
Livro 3 - Lua Crescente: É Complicado
54
Livro 3 - Lua Crescente: Corações em Chamas
55
Livro 3 - Lua Crescente: A Sombra Que Queima
56
Livro 3- Lua Crescente: Desejo x Amor
57
Livro 3 — Lua Crescente : Dor, Medo,Caos e Tormenta.
58
Livro 3 - Lua Crescente: O Lobo Que Há em Mim
59
Livro 3- Lua Crescente: NaCova Dos Leões
60
Livro 4 - Lua Cheia: O Carcereiro
61
Livro 4 - Lua Cheia : A Verdade Em Meio A Sombra
62
Livro 4- Lua cheia: Correntes Invisíveis
63
livro 4 — Lua cheia: A História Que Meu Pai Contara - O Cervo e o Lobo
64
Livro 4- Lua cheia: Entre Estratégia e Sombras
65
Livro 4- Lua cheia: A Graça Em Mim
66
Livro 4 - Lua cheia: A Escuridão Lasciva
67
Livro 4- Lua cheia : Medo Da Traição
68
Livro 4- Lua cheia: O Demônio e Eu
69
Livro 4- Lua Cheia: Silêncio Entre as Trevas
70
Livro 4- Lua Cheia Banquete de Máscaras Despidas
71
Livro 4- Lua Cheia: Máscaras Despidas
72
Livro 4 - Lua Cheia: Lascívia e Domínio
73
Livro 4- Lua Cheia: Beijos e Cicatrizes
74
Livro 4- Lua Cheia: Confusões e Cicatrizes
75
Livro 4- Lua Cheia: Aliança Deslumbrante
76
Livro 4- Lua Cheia: Laços Silenciosos
77
Livro 4- Lua cheia Cor do Desejo e o Sabor da Guerra
78
Livro 4- Lua Cheia. O Rei de Marmaid
79
Livro 4- Lua Cheia: O Peso do Fogo
80
Livro 4- Lua cheia: A chama que dança entre o aço e o sangue
81
Livro - 4 Lua Cheia: Desafio de Sangue
82
Livro 4 - Lua Cheia: Sangue Sobre A Arena
83
Livro 4-Lua Cheia: Sob A Vigília Da Lua
84
Livro 4-Lua Cheia: Lealdade, Amor e Coragem
85
Livro 4 — Lua Cheia:Os Três Mosqueteiros
86
Livro 4- Lua Cheia: Não é Sonho... Presságio
87
Livro 4-Lua Cheia: O Olhar Do Vigilante
88
Livro 4-Lua Cheia: Beijo De Energia
89
Livro 4- Lua Cheia: A Lâmina E A Verdade
90
Livro 4 — Lua Cheia: Quando o Rato se Tornou Leão
91
Livro 5- Lua Minguante: Sangue e Ruína
92
Livro 5-Lua Minguante : Alma Partida em Dois
93
Livro 5- Lua Minguante: O Sangue de Alecsander
94
Livro 5 - Lua Minguante: Amantes de Almas
95
Livro 5- Lua Minguante: Meu alfa, Meu caos, Meu lar.
96
Livro 5 - Lua Minguante: A Dor Da Despedida
97
Livro 5- Lua Minguante: O Retorno do Príncipe
98
Livro 5 - Lua Minguante: Nosso Paraíso Particular
99
Livro 5 - Lua Minguante: O Mesmo Pesadelo
100
Livro 5- Lua Minguante: Laços que Renascem
101
Livro 6 — Crepúsculo: Sede Negra
102
Livro 6 Crepúsculo: A Segunda Estrofe
103
Livro 6- Crepúsculo: A Sombra Na Escuridão
104
Livro 6- Crepúsculo: A Queda do Rei
105
Livro 6- Crepúsculo: A Porta Para o Submundo
106
Livro 6- Alvorecer: Um Reino Entre Nós
107
Livro 6 - Alvorecer: Quem é o Vilão Dessa História
108
. *。 Epílogo . *。Findar De Um Milênio

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