João cantava na frente do cemitério, entoando músicas que traziam conforto às pessoas desamparadas. Com sua voz suave, ele falava palavras de Deus, muitas vezes conseguindo acalmar os corações daqueles que saíam do seminário chorando. Era um ritual de amor e esperança, uma maneira de lembrar que, mesmo na dor da perda, havia espaço para a memória e o carinho.
Ana era uma mulher que todos os anos, no dia 4 de junho, levava um buquê de flores rosas ao cemitério. Elas eram as preferidas de sua mãe, e Ana sempre se sentava perto da cova, onde conversava com ela como se estivesse ali, ouvindo tudo. Contava sobre seu dia, suas conquistas e suas derrotas. Era um momento íntimo e sagrado; Ana havia perdido sua mãe há 18 anos, quando tinha apenas 8 anos. Naquele dia fatídico, ela se despediu com lágrimas nos olhos e seguiu até a capela para encontrar Max.
Max era um homem gentil que sempre oferecia um abraço caloroso a Ana quando ela se sentia triste. "Bom dia, Max", disse Ana, acenando para seu amigo. Eles se tornaram próximos ao longo dos anos e sempre reservavam uma hora para conversar. Hoje, Ana trouxe pastel de frango e torta de maracujá para o pai dele. "Muito obrigado", disse Max com gratidão. "Mas não precisa."
"Claro que sim", respondeu Ana com um sorriso. "Espero o ano todo para conversar com você; me faz sentir bem."
"Que bom saber disso", disse Max, retribuindo o sorriso. "Estou aqui para ajudar." Depois de um tempo conversando sobre a vida e as memórias que compartilhavam, Ana se despediu e começou a ir embora.
"Até ano que vem!", gritou Ana enquanto descia o caminho do cemitério. Antes de sair completamente, passou por João, que estava cantando animadamente. Ele sempre trazia música ao ambiente pesado do cemitério, fazendo as pessoas sorrirem mesmo em meio à dor.
Max olhou para o céu nublado e previu: "Hoje vai chover." Pegou sua vassoura velha e começou a varrer as flores que as pessoas deixaram cair quando o caixão passava pelo local. Era uma tarefa solene, mas necessária; ele sabia que cada flor representava amor e saudade.
Enquanto arrumava o espaço ao redor das sepulturas, viu um garotinho de 8 anos se aproximar dele. O menino tinha os olhos cheios de lágrimas e parecia perdido em seus pensamentos. Num impulso, ele abraçou Max apertado. Surpreso pela atitude do garoto, Max retribuiu o abraço com carinho e deu tapinhas nas costas dele.
"Vai ficar tudo bem", disse Max com uma voz suave e encorajadora.
O menino se afastou um pouco, enxugando as lágrimas com a mão pequena e suja: "Meu papai morreu."
Max sentiu seu coração apertar ao ouvir aquelas palavras. "Eu sei que é difícil", respondeu ele calmamente. "Mas você é forte." Pegou a mão do menino e levou-o até o caixão do pai dele. Ali, falou algumas palavras bonitas sobre amor eterno e saudade antes de entregar o garoto à mãe dele.
O momento foi tocante; Max abraçou a mãe do menino também, desejando-lhe força nesse momento doloroso antes de se afastar.
Quando estava prestes a sair do cemitério, o garotinho voltou correndo até ele segurando um girassol em suas mãos pequenas. "Para você", disse ele com a voz ainda embargada.
"Obrigado por me dar isso", respondeu Max com um sorriso genuíno enquanto recebia a flor amarela vibrante. "E obrigado por me abraçar mais cedo."
"Não há de quê", disse Max enquanto envolvia o menino em outro abraço acolhedor antes de se despedir dele.
Com o lindo girassol em mãos, Max saiu do cemitério refletindo sobre como pequenos gestos podiam fazer uma grande diferença na vida das pessoas. Ao chegar em casa, encontrou seu pai sentado na poltrona da sala lendo um livro.
"Já voltou, meu filho?", perguntou seu pai sem levantar os olhos da página.
"Sim, papai", respondeu Max enquanto colocava o girassol numa jarra na mesa da sala. "E você já tomou seu remédio?"
"Sim", confirmou seu pai com um sorriso cansado.
Max se aproximou dele e deu um abraço apertado no homem que sempre fora seu suporte nos momentos difíceis da vida. A conexão entre eles era forte; Max sabia que cada dia era uma bênção.
Após esse momento caloroso com seu pai, Max foi para seu quarto e preparou-se para dormir. Olhou pela janela para as nuvens escuras que começavam a cobrir o céu enquanto orava silenciosamente: agradeceu por mais um dia vivido e pelas lições aprendidas no cemitério — onde amor e dor coexistiam em harmonia.
Naquela noite tranquila, enquanto as primeiras gotas de chuva começavam a cair lá fora, Max adormeceu sonhando com flores girassóis dançando sob a luz do sol — simbolizando esperança mesmo nos dias mais sombrios.