Eu me chamo Isaque e, para ser sincero, minha vida era bem comum e monótona. Aos 14 anos, não havia nada de especial nos meus dias. Eu ia para a escola todas as manhãs, caminhando sempre pelo mesmo caminho, cumprimentando as mesmas pessoas. Era uma rotina que se repetia, e eu já conhecia todos os horários dos meus professores e colegas de classe.
As aulas eram uma sucessão de matérias que não me empolgavam muito. Matemática, Português, História... todas tinham seus momentos interessantes, mas, na maioria das vezes, parecia que eu só estava cumprindo uma tarefa obrigatória. No intervalo, eu me reunia com meus amigos para conversar sobre os jogos de videogame que estávamos jogando ou sobre os vídeos engraçados que tínhamos visto na internet.
Quando voltava para casa, o ritual era praticamente o mesmo todos os dias: almoçava com minha mãe, depois fazia as lições de casa, assistia a séries na TV ou jogava no computador. Aos finais de semana, era mais do mesmo: talvez um passeio ao shopping com meus pais ou uma ida ao parque para andar de skate com os amigos.
Apesar de tudo, eu não tinha muito do que reclamar. Minha vida era pacata e segura, mas também um pouco entediante. Eu me perguntava se algum dia algo de realmente emocionante iria acontecer para quebrar essa rotina. Talvez o futuro me reservasse alguma surpresa, mas, por enquanto, eu continuava vivendo meus dias previsíveis de garoto de 14 anos.
A tarde estava tranquila, e eu estava sentado à mesa da cozinha, mexendo no meu livro de matemática, quando minha mãe entrou na sala com um olhar animado. Ela sabia que eu tinha uma prova importante de matemática no dia seguinte e queria me ajudar a estudar.
"Isaque, vamos ver como você está indo com a matemática para a prova de amanhã," ela disse com um sorriso, sentando-se ao meu lado.
"Claro, mãe," respondi, tentando esconder o fato de que eu não estava muito empolgado com a ideia de estudar ainda mais.
"Ótimo! Vamos começar com algumas perguntas," ela disse, abrindo o livro em uma página de exercícios. "Primeira questão: uma empresa produz 200 unidades de um produto em 5 dias. Quantas unidades ela produz por dia?"
"Quarenta," respondi rapidamente, sem hesitar. Já tinha visto aquela questão antes.
"Isso mesmo! E agora, outra: se o raio de um círculo é 7 cm, qual é a área dele?"
"Fácil. A área é igual a pi vezes o raio ao quadrado, então... 3,14 vezes 49. O resultado é 153,86 centímetros quadrados."
"Perfeito, Isaque! Agora, uma questão de álgebra: resolva a equação 3x + 7 = 16."
"Simples, mãe. É só subtrair 7 dos dois lados e depois dividir por 3. x é igual a 3."
"Correto novamente! Você está acertando tudo, Isaque," ela disse, orgulhosa.
Apesar de eu estar acertando todas as perguntas, senti uma pequena pontada de tristeza. Por mais que minha mãe estivesse feliz com meu desempenho, parecia que ela esperava sempre mais de mim, e eu não sabia se seria capaz de atender a todas as suas expectativas.
"Você está indo muito bem, filho. Tenho certeza de que vai arrasar na prova," ela disse com uma expressão confiante.
Tentei retribuir seu sorriso, mas por dentro, eu só queria que ela percebesse que, embora eu estivesse acertando tudo, eu me sentia pressionado e queria que ela entendesse que estava tudo bem eu não ser perfeito.
A escola era um lugar onde eu conseguia me encaixar um pouco. Tinha meus amigos e conversávamos sobre tudo: jogos, filmes, séries. No entanto, quando o sinal de saída tocava, era como se eu pudesse ser realmente eu mesmo apenas depois de atravessar as portas de casa.
Fora da escola, não era tão fácil socializar. Eu preferia ficar em casa, sozinho, ouvindo música no meu quarto. Perdia-me nos sons, imaginando cenas elaboradas como se estivesse em um clipe musical, onde eu era o protagonista de uma história emocionante e intensa. Nessas horas, sentia tudo com mais profundidade, e às vezes até chorava no travesseiro enquanto as letras das músicas me tocavam.
Minha mãe sempre se esforçava para me animar e me tirar do quarto. Ela dizia que eu deveria aproveitar mais a vida, brincar, correr, socializar, como ela costumava fazer quando era jovem. Mas eu não conseguia me sentir bem com isso. Por mais que eu gostasse de minha mãe e apreciasse suas tentativas de me envolver em atividades diferentes, eu não me via em nenhum desses cenários.
Minha mãe era a melhor, sempre atenciosa e carinhosa comigo. Mas, às vezes, suas tentativas de me encorajar a sair da minha zona de conforto me deixavam um pouco desconfortável. Eu sabia que ela queria o meu melhor, mas nem sempre conseguia compartilhar do mesmo entusiasmo.
Enquanto ela me via como um jovem cheio de potencial, tentando me empurrar para experiências que ela achava que eu deveria aproveitar, eu me sentia mais confortável na solidão do meu quarto, ouvindo música e explorando meu próprio mundo interior. Era um equilíbrio delicado entre ser quem ela queria que eu fosse e quem eu realmente era.