O relógio quebrado não é o único guardião deste lugar. Há algo mais, algo que se esconde nas sombras, esperando pacientemente. Nas noites de lua cheia, quando o vento sussurra segredos antigos, o eco das lágrimas de Isadora ressoa pelos corredores.
Dizem que ela ainda vaga por aqui, sua figura pálida e etérea. Seus cabelos escuros caem sobre o rosto, ocultando os olhos que viram tanto sofrimento. Ela busca algo, algo que foi perdido naquele dia fatídico. Seu vestido branco arrasta pelo chão empoeirado, como se ela estivesse presa entre dois mundos.
Os moradores da cidade evitam o casarão, mas alguns ousados se aventuram a entrar. Eles relatam sons estranhos: passos que não são seus, sussurros que não têm origem visível. As velas tremeluzem, como se Isadora tentasse se comunicar através delas. Mas suas palavras são indecifráveis, um idioma que só os mortos entendem.
Em uma noite de tempestade, um jovem corajoso entrou no casarão. Ele viu Isadora no salão principal, parada diante do piano empoeirado. Suas mãos fantasmagóricas tocaram as teclas, e uma melodia triste encheu o ar. O jovem sentiu o coração apertar, como se a própria tristeza da mulher o envolvesse.
“Por que você espera?” ele perguntou, sua voz ecoando pelas paredes. Isadora olhou para ele, seus olhos vazios encontrando os dele. “Ele prometeu voltar”, ela sussurrou. “Eu o espero desde então. O relógio quebrado é minha testemunha silenciosa.”
O jovem sentiu um arrepio na espinha. Ele sabia que Isadora estava além da salvação, presa em sua própria angústia. Mas algo o impeliu a ajudá-la. Ele pegou as engrenagens do relógio, as peças enferrujadas quebradas, e as colocou de volta no lugar.
O relógio tremeu, como se ganhasse vida novamente. O tic-tac recomeçou, mas desta vez, era diferente. Era uma canção de esperança, uma promessa de que o tempo poderia ser reescrito. Isadora sorriu, seus olhos brilhando por um breve momento.
“Ele voltará”, ela disse, antes de desaparecer nas sombras. O jovem ficou ali, olhando para o relógio quebrado, imaginando se a promessa de Isadora se cumpriria. Talvez, em algum momento, o marinheiro retornasse, e o relógio voltasse a marcar os dias com precisão.
E assim, o casarão permanece, um portal entre o presente e o passado. Os ventos continuam a uivar, e a chuva continua a cair, lavando as memórias desvanecidas. O jovem, agora parte dessa história, espera, como Isadora, por um milagre que possa trazer redenção e paz às almas perdidas.