As tábuas rangem sob meus passos, ecoando como suspiros de um passado que se recusa a ser esquecido. Este casarão, outrora grandioso, agora se encontra em ruínas, suas paredes descascadas e janelas quebradas. É como se o próprio tempo tivesse se enredado aqui, prendendo memórias e segredos em suas teias invisíveis.
As sombras dançam nas paredes, criando figuras distorcidas que parecem sussurrar histórias de tristeza e desespero. Os retratos pendurados, com suas molduras desgastadas, exibem rostos que já foram vivos, mas agora são apenas manchas de tinta e papel. Quem foram essas pessoas? O que as trouxe a este lugar abandonado?
Em um canto empoeirado, encontro um diário. Suas páginas amareladas guardam palavras escritas com tinta desbotada. As histórias ali contadas são como fios soltos, esperando serem tecidos novamente. Leio sobre amores proibidos, sonhos desfeitos e promessas quebradas. Cada palavra é um eco do passado, uma lembrança que se recusa a desvanecer.
Na lareira, restos de cartas queimadas. Amores não correspondidos, despedidas dolorosas. As palavras que foram escritas com paixão agora se transformaram em cinzas, como se o próprio fogo quisesse apagar os sentimentos que ali foram expressos.
Subo as escadas rangentes até o sótão. Caixas empoeiradas se empilham, contendo objetos esquecidos: vestidos de noiva manchados, brinquedos quebrados, fotografias desbotadas. Cada item carrega uma história não contada, um pedaço de almas que vagaram por esses corredores sombrios.
E então, na penumbra do sótão, encontro um espelho. Seu reflexo é turvo, como se o próprio vidro chorasse. Encaro meu rosto pálido e cansado. Quem sou eu neste lugar de memórias desvanecidas? O que busco? As respostas parecem escapar, como se estivessem escondidas nas sombras.
A chuva continua a cair lá fora, e o som das gotas contra o telhado é como um lamento constante. Talvez este casarão seja mais do que pedras e madeira; talvez seja um receptáculo de almas perdidas, um portal para o passado. E eu, um viajante solitário, tento decifrar os enigmas que permeiam essas paredes.
Assim, permaneço aqui, entre lembranças e esquecimentos, enquanto a noite chora conosco. E quem sabe, talvez eu também me torne parte dessa história, um fragmento de memória que se mistura ao eco das lágrimas e dos suspiros.