"Como é frágil e o quão imunda pode ser a vida",pensou o conde Nefastho, na noite em que sua amada se perdia dentre o céu mais escuro. Com suas presas, devastou vultosas aldeias à vorazes mordidas, e com suas longas e afiadas garras castigou famílias inteiras. Todo o ódio que contemplava, porém, não traria-a de volta. De fato, não traria — "Oh, querida Jasmine..." — lamentava.
Melancólico, quebrado e acabado. O amargo sinistro vagara sem rumo dentre os confins de seu belo, terrível e aprisionante castelo. Nem mesmo todas as suas apedrejadas gárgulas, seus sofisticados móveis, suas exuberantes cortinas e seus requintados quadros poderiam compreender seu sofrimento.
Mas... Uma simplória e desajeitada criança? O que ela poderia estar fazendo na morada da, agora, mais cruel criatura? A jovem que portava lanterna: iluminara saguões inteiros; escadarias abaixo e acima; sala de jantar e até mesmo o quarto de cama de casal extravagante — alguns retratos quebrados, de um homem e uma mulher, se viam estirados em meio ao chão de tapete longo e vermelho.
Em seu trono, coroado com o exalar da morte, foi que ela o encontrou. Disse "olá"... E então a mão do vampiro rapidamente voou em seu pescoço, chorava lágrimas de sangue e também arqueava suas presas para o arrancar da carne. A jovem, em resposta:
Estendeu sua mão, trêmula e suando frio, entregando ao vampiro uma flor — de papel com pequenas manchas de sangue. E ele sabia — enquanto que seu pranto vinha a tona e seu corpo fraquejando — sabia que aquilo era tudo que não queria, sabia que era todo o sentimento que calava... Era a última lembrança de sua amada, feita por suas próprias delicadas e gentis mãos. Que fora trancafiada, em um velho baú empoeirado em um canto mais escuro em algum lugar de seu imenso castelo.
Nefastho caiu em prantos de agonia, se contorcia sobre o chão. A jovem, não se importando com as circunstâncias, agachou-se e chegou para perto do vampiro para abraçá-lo — após passar horas andando dentre as locações da sombria residência, compreendeu a história, o amor, a dor e o sofrimento. Com os dois sobre o chão, Nefastho — por breves instantes — pudera entre-olhar uma mulher vestida de branco mais adiante, na extremidade oposta do grande salão — parada em meio às portas duplas de carvalho, esboçou um sorriso acompanhado de um fino rio de lágrima, e logo, pôde se despedir. Assim, desaparecendo ao fechar das portas.