Os Estranhos Sonhos De Maggie Stevens
No decorrer da minha caminhada ao lado do gato, eu pude perceber pequenas diferenças entre os seres, haviam alguns que tinham asas ao redor dos olhos e outros estavam travestidos com uma espécie de manto negro, ao mesmo tempo em que sua maioria parecia cochichar. Eu poderia interpretar isso como óbvio afinal eles tem boca, mas ao mesmo tempo me sentia meio estranha vendo aquilo, diria que não era algo cotidiano. Não lembro nem um pouco de procurar por respostas ou soluções que pudessem explicar aquilo, entretanto eu poderia dizer sim, que achava estranho o fato de está sendo ignorada. Se estava achando isso ruim? Não, claro que não. Estava até mesmo agradecida por isso, mas é bom lembrar que ainda sou uma humana e mesmo que não estivesse entre eles na marcha, estava sim indiretamente os seguindo. Então como não repararam em mim, um ser que nem mesmo pertencia a sua espécie? achava aquilo suspeito, sentia dentro de mim a sensação de que a qualquer momento poderia ser ataca, por isso me mantive alerta.
A medida em que caminhavámos, deparei-me com um certo local estranho. Tudo parecia rabiscos, rabiscos muito bem feitos. Eram árvores com seus galhos exagerados e sem folhas, gramas pontiagudas que não machucavam e um breu ao entorno do céu. Não tinha sol, tão pouco lua, não tinha ar, mas ainda me era permitido respirar. Eu poderia dizer que eram rabiscos feitos em uma folha, com a diferença de que a folha em si havia sido tomada por aquelas cores mortas. Eu não sei, eu realmente não sei. Mas eu estava aflita, nervosa, estava com o coração apertado e sentido um calafrio, eu queria sair dali mas olhando para o gato ele me parecia tão tranquilo. Foi quando de uma hora para outra eles pararam, se havia som se propagando então já não mais existia. O gato parou e eu fiz o mesmo, quando pensei ter estado aflita tudo só pirou quando ouvi o que parecia ser uma sirene ao longe. Isso me casou lembranças horrorosas sobre minha vida, lembrei-me mesmo que por alguns segundos de vizualizar minha mãe, ela estava gritando desesperada enquanto esticava a mão para me pegar, mas eu não a ouvia mesmo se quisesse.
Quando voltei a mim, vi ao longe um grande farol também tomado pelo breu entrando sua luz amarelada se destacava, não sabia o que deveria fazer mas pude perceber que ele além de iluminar o ambiente também dava cor aos rabiscos. Notei também que aquelas coisas tinham medo dessa mesma luz pois pareciam aflitos. Foi então que o maior pesadelo de minha vida aconteceu, no momento em que sentir a luz tocar em mim, ela parou, ela parou e a sirene berrou mais alto. Eu nada podia ver até então já que a luz estava limitando minha visão, mas quando olhei para o lado eu ouvi aqueles mesmos seres também berrando, um berro alto misturado entre o grosso, o roco, o fino e o suave. Vinham em minha direção, todos eles. Então corri, corri tão rápido que não sabia para onde ir, não me parecia limitado até onde poderia chegar, estava tomada pelo maior dos desesperos, imagine centenas, não milhares dessas coisas vindo em sua direção, todos eles pareciam furiosos, eu podia perceber pela retina de seus olhos o que pareciam ser linhas bem grossas, enquanto suas pupilas pareciam distantes.
Me engalfinhando naquela floresta não só rasguei meus vestido como também deixei para trás sombrinha e chapéu, estava toda machucada também, braços, mãos, pernas, pés e etc. Só ali eu percebi que estava correndo num amontoado de espinhos afiadíssimos, estava doendo em cada parte do meu corpo em que os espinhos tocaram, eles não apenas rasgavam minha roupa mas também rasgavam minha pele. Mas estava tomada pela adrenalina e pelo instinto de sobrevivência que em minhas veias corriam, então mesmo que eu sentisse a dor ainda sim não queria parar. Finalmente eu sair daquela floresta, estava em um campo aberto ou era o que parecia ser, tinham enormes pedras com pontas bem afiadas e o chão estava tomado pelo preto, até que para meu azar, dei-me a "sorte" de está diante de uma ribanceira, era tão alta que não podia enxergar o fundo e acho mesmo que fosse possível enxergar ainda sim não me parecia convidativo. Olhando para trás me vi cercada, pareciam lobos, leões, qualquer predador possível, estavam parados diante de mim enquanto eu mesma estava na ponta da ribanceira.
"Por favor não me machuquem eu não fiz nada, eu juro que não fiz nada, eu só estava acompanhando vocês!" suplicava.
Mas eles não pareciam me entender, "Gatinho me ajude" eu gritei. Mas para minha surpresa ou talvez não, ele nada fez. Na verdade ele nem mesmo estava lá pois nem sequer podia enxerga-lo, mas podia sim, enxergar aquelas aberrações vindo com tudo para cima de mim, sem dó e tão pouco piedade. "Não, não, por favor não, não façam isso, me desculpem eu não farei mais isso." Eu gritava desesperada. Por alguma razão isso também lembrava minha mãe, mas eu não sabia o por que e nem mesmo tive tempo. Vi aqueles olhos com boca voando em cima de mim, sentia seus dentes se afundando na carne de meus braços, rasgando-os e me desmembrado, eu gritava, gritava muito, gritava tanto, berrava tanto, chorava tão alto, mas ninguém, absolutamente ninguém aparecia para me ajudar.
Eu não queria morrer de novo, eu não queria mesmo morrer de novo. Aos poucos mais e mais deles foram chegando, mastigando minhas pernas, arrancando meu quadril, estilhaçando meus ossos e esfolando minha carne. Eles mastigavam cada parte do meu corpo sem deixar nada para trás, e a pior parte disso tudo é que eu ainda podia senti-los, cada mordida, cada pele e carne arrancada, cada parte do meu corpo sendo tirada de mim, tudo, eu sentia tudo. "Por favor, se for para me matar se apressem, façam isso logo" suplicava em meus pensamentos. Até finalmente ver a boca de um deles se abrindo e comendo o que restou de mim, a única parte do meu corpo ainda intacta. Minha cabeça.