Os Estranhos Sonhos De Maggie Stevens
Vangloriando o alicerce da paisagem diante de meus olhos, pisei com meus pés descalços sobre o chão gramado da alvorada preta e branca. Enfim ali estava, diante do grande rochedo ao qual me presenteava com a uma bela vista para o oceano em estado catatônico. Era diante de mim uma extensa tristeza, não podia sentir-me mas aprofundada na imensa clareza das decepções, ao mesmo tempo que me sentia perdida. "ergue teu cajado Maggie, se abstenha de todo pensando que reges aí dentro de ti. E use teu poder para gerar diante de ti aquilo que mais deseja ter!" Proferiu o gato.
E assim vim a fazer, fechei meus olhos, estendi a mão e em meus pensamentos supliquei aos céus que me dessem luz para me sentir viva. Não abri meus olhos naquele momento mas pude sentir com muita vontade um forte vento explodindo ao meu redor enquanto podia ouvi-lo se propagar pelos arredores daquele místico lugar. Dei-me então o direito de abrir os olhos para finalmente testemunha o lindo alvorecer dos campos, digo em verdade que de belas a beldades existiam aglomerando aquele lugar. Árvores de carvalho, árvores de Ginkgo, uma grama levemente macia e pequena, poderei dizer glorificando o ambiente arborizado que se existe uma paz, seu significado estava ali diante de mim.
Corria e saltitava perante aquela protuberância expansiva, com a alegria de mil reis ao exaltar das carruagens, de mim um sorriso esbelto era presente e uma calma dentro de minha alma era recorrente. Se a mim vens tamanha graça ao envaidecer-me das sombras calmantes, sinto-me nessa vontade glorificando o veranico sol das primaveras praianas. Ao mesmo tempo em que me jogava de todo fervo dentre as flores exageradamente cheias de cores daquela beldade inóspita.
Emaranhei-me no equivocado desejo de ser criança, andei um pouco mas por aquela região bucólica atrás de respostas para minhas dúvidas, entrando a mim nada foi entregue. Me deparei então com um caminho de terra onde dos lados as árvores de Ginkgo tinham uma forte presença. Eu podia escutar barulho de água corrente dentre aquelas árvores enquanto observa o chão travestido com suas folhas vaidosamente caídas. Ao fim da curta estrada me encontrei em outro ambiente, mas ao puro céu aberto, com fortes rajadas de sol que mesmo quentes por algum motivo não atrapalhava-me ou me causava calor e agonia. Eu parecia nem mesmo senti-lo. Observei mais atentamente até conseguir reparar uma casa bem no meio daquele terreno.
Tomada por doses de curiosidade sobrepôs meu pé direito sobre a grama em direção a casa, mas me surpreendi quando por alguma razão meu corpo, especificamente meus pés, estavam colados sobre a grama, "me equivoquei?" Pensei. Não importava a força que fizesse eu não era capaz de me desgrudar da grama, olhei para o gato com um olhar de súplica e via em seus olhos normalidade. "Me ajude gatinho." Implorei, mas nada ele fez. "Por favor gatinho, Ajude-me." tornei implorar mas a mim resposta alguma era dada. Senti então, forte calor, um escaldante calor. Eu podia sentir minha pele borbulhar e derreter, ao mesmo tempo em que sentia minha carne queimar como se o sol estivesse com um gigantesco ódio de mim, estava doendo tanto, era uma dor muito insuportável, eu não tenho experiência com isso mas posso afirmar que era como ter sua pele e carne esfolados enquanto se ainda estava vivo, ao mesmo tempo em que estava sendo escaldado. A última coisa que vi, foi a imagem do gato enquanto minha visão ficava turva e eu derretia, até enfim, desfalecer.
Quando finalmente despertei estava novamente dentro daquela inóspita biblioteca, estava inteira e já não sentia mais dor. Do meu lado o gato estava parecendo dormir, então peguei-o e tomada pela frustração comecei a sacudi-lo com muita raiva , "Por que deixou isso acontecer comigo? Por que não me salvou?" Interroguei-o. Não podia simplesmente aceitar que meu único companheiro me deixara morrer, não podia acreditar que fosse tão covarde.
"Eu sou apenas teu guia, jamais me envolveria em tuas escolhas. Não cabe a mim interferir, como guia meu único trabalho e tirar tuas dúvidas quando achar que é necessário!"
"Você está mentido para mim, não posso acreditar que me deixou ter aquela experiência dolorosa apenas por não ter perguntado nada a você. Como pode?"
"Maggie, alguma vez eu disse que iria fazer algo? Este é teu mundo, teu sonho, quem manda e governa aqui é você. A mim só cabe dar-te dicas úteis quando a mim perguntares."
"Eu não quero mais voltar, não quero sentir aquela dor de novo. Eu irei ficar aqui!"
"Se não fores atrás dos mementos jamais poderá voltar para casa Maggie, é isso que desejas? Ficar presa aqui por toda tua eternidade?"
"Então diga-me o que devo fazer, como passo daquela parte sem sentir o que senti gatinho?"
"Uma sombrinha ou um chapéu ajudaria, não? Tens o poder em mãos Maggie, porém não abuse dele, usa-o com sabedoria e conseguira aquilo que desejas!" Ensinou-me o gato.
E mesmo reclusa, ergui minha cabeça levantando-me, estava como no passado e meu braço esquerda ainda estava obsoleto. Tornei respirar fundo e afungentei minhas memórias hostis, afastando-me das amargas lembranças do que me houvera ocorrido. Novamente, Ergui minha mão e tornei pincelar aquele mundo sem cor, e desta vez, usei minha autoridade para trazer até mim uma linda sombrinha branca junto de um chapéu capeline de mesma cor. Sentia-me uma nuvem vagando pela grama, então caminhei novamente até a passarela das árvores de Ginkgo. Assim mas uma vez vislumbrei o sol, quente e hostil, pude ver também meu próprio corpo derretido bem na minha frente, então olhei para o gato que parecia confiante e fechei meus olhos para pisar na grama. Desta vez nada me ocorrera, estava intacta e exuberante, então confiante caminhei dentre as gramas colagenosas, e me parecia tudo bem, entretanto o gato não veio a me acompanhar eu apenas o observei na longitude.
Até que sem mesmo esperar uma mancha negra agarrou-me na perna, e antes que eu pudesse ver o que era, sentir meu corpo sendo puxado com uma força sobre humana para cima daquelas árvores. Lembro-me de só ter gritado, foi a única reação que conseguia ter naquele momento. Vislumbres de minha morte passada se concentravam e se aglomeravam em minha mente, enquanto observava o gato parado a única coisa de que me lembro foi de sentir minha cabeça sendo estourada em uma das árvores. Até que novamente, eu vim a despertar dentro da biblioteca. Observei o gato, estava parecendo me olhar com um ar debochado e me parecia não sentir amargura alguma. Tentei correr atrás dele para pegá-lo mas ele não me deixava toca-lo, ele sabia quais intenções eu tinha e não permitiria que eu as fizesse."Você é um covarde, tornou me deixar morrer! Diga-me por que não fez nada?" Berrei em cima dele. "Não se equivoque Maggie, lembro-me de dizer que jamais me envolveria em tuas escolhas." ele respondeu.
"Lembra-te, sou teu guia e a mim cabe tirar tuas dúvidas. Queria de mim que eu ajudasse-a a passar daquela zona, assim lhe dei uma dica. Perguntas e respostas são ilimitadas Maggie me pergunte o quanto quiser e eu responderei o quanto quiser, se a mim tivesse perguntado se não havia nada mais que pudesse fazer eu teria respondido."
"Então diga-me gato estúpido, o que devo fazer para passar daquele lugar sem morrer pela terceira vez?"
"Observe com teus próprios olhos Maggie, esteja atenta ao seu derredor. Observe que quando pincela o mundo, uma parte é pacífica já a outra é completamente hostil. Deves então ter o entendimento de que nem sempre o mal se esconde nas sombras ou é encontrado no escuro, o mal pode está até mesmo no lugar mais confortável possível. Atente teus olhos e limpe bem teus ouvidos. Se queres seguir adiante basta que primeiro se abstenha das cores. Tente isso."
Eu já havia chegado no ápice das minhas dúvidas, que cresciam a medida em que começava a questionar as atitudes do gato, eu haveria de ter morrido duas vezes e duas vezes nada ele fizera. Começa a questionar-me se realmente poderia confiar nele, ao mesmo tempo em que tinha medo de afugenta-lo e ficar sozinha. Eu estava tão confusa. Então eu só me deixei esvair e voltei para dentro do mundo, desta vez fiz tudo como da segundo vez mas assim que aproximei-me do beco dos Ginkgos, optei por usar minha autoridade para reinvidicar as cores, bati com o cajado no chão e num piscar de olhos as cores sucumbiram tornando tudo preto e branco novamente.
Podia mais uma vez como da última visar meu segundo cadáver, estava somente com o corpo intacto mas não tinha cabeça. Diferente do primeiro que mais parecia uma gosma. Eu ainda era rodeada por medo e relutância de pisar naquela grama, as lembranças que guardava dali não eram doces mas sim tão amargas quanto o mais puro amargo. Entretanto observei o gato que andava por lá como se não fosse nada, ele me via enquanto sorria para mim "Você não vem?" foi o que ele perguntou. Cogitei que não precisava mais da sombrinha e nem do chapéu mas não queria deixá-los para trás de maneira nenhuma.
Criei então a coragem para pisar no gramado sem cor e decidir andar sem olhar para trás, ainda temia que algo pudesse me acontecer mas por alguma razão nada ocorrera, estava tudo tão calmo e tão pacífico que nem parecia que a minha pessoa havia morrido duas vezes. Apenas andei no mesmo ritmo que o gato até chegarmos perto da casa pequena, tinha uma varanda e uma cadeira de balanço do lado de fora, e não parecia ter ninguém residindo lá. Vi então o gato pulando para cima da janela aberta e entrando na casa, ao qual acabei fazendo a mesma escolha, a diferença foi que me machuquei na hora de entrar. Tinham muitas mobílias lá, estava tudo tão organizado mas ao mesmo tempo tão sozinho. Eu não tinha e nem poderia ter ideia de quem morava ali, mas sentia que não poderia ficar muito mais tempo lá dentro.
Abrindo a porta da frente, deparei-me com um outro lugar totalmente diferente de onde estávamos, Fechei a porta e corri para a janela. Tudo estava colorido mesmo que eu tivesse tirado a cor, tornei ir para porta da frente e novamente deparei-me com aquele lugar estranho em preto e branco. Eu só poderia descrever isso como uma marcha, haviam seres que pareciam grandes olhos com grandes bocas, pequenas mãos musculosas e pequenas pernas. Haviam muitos deles, estavam em uma fila de cinco cada, estavam andando para um lugar até então desconhecido para mim. Tornei novamente olhar para o gato e espantei-me quando o vi já do lado de fora da casa, então o segui e juntos acompanhamos a marcha. Aonde isso nos levaria eu não tenho certeza, mas estava abismada com esses seres, tinha medo de que me atacassem mas nem sequer ligavam para mim, era como se eu nem mesmo existisse. E eu estava torcendo para que continuasse assim.