Ela nasceu para ter tudo.
Uma vida confortável, festas exclusivas, roupas caras e a certeza de que o mundo sempre daria certo pra ela. Mas quando decidiu fugir da rotina perfeita para viver o proibido no baile do Complexo do Alemão, não imaginava encontrar o único homem capaz de destruir toda sua zona de conforto.
Ele é o dono do morro.
Perigoso. Respeitado. Temido por muitos… e amado por ninguém. A vida lhe ensinou que sentir é fraqueza — até ela aparecer iluminando o lugar mais escuro que ele já conheceu.
Um olhar foi suficiente.
Uma escolha errada, um beijo imprudente… e agora ela está presa a um mundo onde paixão e perigo caminham lado a lado. Entre tiros, alianças e segredos, os dois vão descobrir que o amor pode ferir mais do que qualquer bala perdida.
Ela é o céu do asfalto.
Ele é o abismo do morro.
E quando esses dois mundos se chocam, alguém sempre sai marcado.
Ou morto.
⚠️ Aviso de Conteúdo + Classificação 18+
Esta obra é uma ficção de dark romance e contém linguagem de baixo calão, violência, uso de drogas e álcool, armas, situações de risco, além de cenas de sexo intensidade.
Certos comportamentos retratados aqui — como posse, obsessão e relações tóxicas — não são representações de amor saudável, mas parte da narrativa sombria dos personagens.
Leitura não recomendada para menores de 18 anos ou pessoas sensíveis a esses temas.
Continue por sua conta e risco.
Porque, no morro, ninguém sai ileso.
📌 Protagonistas
Ayla Duarte
• 19 anos
• Patricinha, debochada, afrontosa
• Inteligente, mas impulsiva
• Busca adrenalina e liberdade
• Não leva desaforo pra casa
• Nunca baixou a cabeça pra ninguém
Ela acha que conhece o mundo… até conhecer o morro.
Gustavo Valença ( vulgo GV)
• 26 anos
• Líder do morro / traficante
• Frio, calculista, extremamente respeitado
• Quem cruza o caminho dele, pensa duas vezes antes de respirar
• O tipo que manda com o olhar
O morro é o reino dele. E ele não aceita ser desafiado.
POV AYLA
Acordei cedo em plena sexta-feira.
Ninguém precisa, mas eu gosto de começar o dia me sentindo poderosa.
Tomei meu banho premium — daqueles que dá até vontade de aplaudir o próprio reflexo no espelho — vesti um look casual chique e fui direto pro salão. Unhas impecáveis, cílios gigantes, sobrancelha no ponto. Meu básico.
Depois, o shopping me chamou.
Comprei algumas coisinhas que eu não precisava, mas quis. E quando eu quero… eu compro.
Voltei pra casa já era quase 11h da manhã e fiz um almocinho.
Sim, sou patricinha.
Mas sei me virar. E muito bem.
Sou dona de mim, e gosto assim.
Sempre foi assim desde o dia em que meus pais decidiram ir embora do Brasil.
O sonho da vida deles sempre foi morar fora e o meu não — então advinha quem ficou? Eu.
Meu pai é dono de uma empresa milionária de carros. Muito ocupado para se preocupar com a filha única vivendo “sozinha em um país perigoso”, como ele gosta de dizer. Então o que ele fez?
Me bancou num apartamento luxuoso no melhor prédio de Ipanema.
Vista pro mar. Portaria 24h. Piscina, academia e até sauna no prédio.
Tudo do bom e do melhor.
Eu sei:
isso soa como o paraíso perfeito.
Mas morar no paraíso pode ser bem entediante.
E eu detesto tédio.
Eu queria… mais.
Mais adrenalina, mais bagunça, mais vida.
Talvez seja por isso que, quando a minha amiga disse:
“Hoje tem baile no Complexo do Alemão.
Bora viver um pouco?”
Eu nem pensei duas vezes.
Arrumei meu cabelo, passei o batom mais provocante que eu tinha
e escolhi o salto que grita “ninguém manda em mim”.
Porque todo mundo acha que eu sou só mais uma menininha rica e intocável.
Mas eu?
Eu não tenho medo do perigo.
…
Eu só ainda não sabia
que o perigo estava prontinho
me esperando lá em cima do morro.
E que ele tinha nome.
POV AYLA
As luzes piscavam como se o céu tivesse descido até o Complexo do Alemão naquela noite. O funk estourava nas caixas e o chão vibrava junto com os passos da multidão.
Ayla sorriu, sentindo o coração bater no ritmo da música. Não era o mundo dela, mas era exatamente isso que tornava tudo mais interessante.
— Se minha mãe soubesse onde eu tô… — riu, ajeitando o cabelo.
Ayla foi entrando na quadra do baile, começou a dançar com a amiga quando sentiu algo a observar.
E foi quando ela a viu.
POV GV
A noite ainda tava só começando quando eu cheguei no baile. O som batendo forte no peito, a favela inteira vibrando. Soldado meu espalhado, olhares atentos pra qualquer movimento errado. Complexo do Alemão sob controle. Meu controle.
E então ela aparece.
A patricinha linda e cheia de pose no meio da favela, como se nada nem ninguém pudesse encostar nela. Roupa cara, perfume importado, sorriso debochado. Totalmente fora daquele mundo… e ainda assim, parecia dominar ele.
Do tipo que acha que tem o mundo na mão.
Do tipo que dá vontade de colocar no lugar.
Ela passa por mim sem nem olhar direito, como se eu fosse só mais um cara no meio da multidão. Ri com a amiga, rebola no meu ritmo, como se tivesse provocando sem fazer esforço.
É… ela chamou a minha atenção.
Quando um cara tenta se aproximar demais dela, já chego pegando na mão dela com firmeza, puxando sem pedir permissão.
Ela arqueou a sobrancelha, desafiando.
— Ei! — ela reclamou, tentando soltar — Tá achando que faz o que quer?
— Eu não acho, princesa — ele respondeu sem parar de andar — Eu faço.
Ele a arrastou pelo meio da multidão como se fosse dona dela. Os seguranças dele abriram espaço e, em poucos passos, ela já estava diante de um grupo de homens armados, todos observando com atenção.
O primeiro sinal do perigo brilhou no metal frio das armas que eles carregavam.
Ayla engoliu seco por dois segundos… só dois.
Depois, voltou a erguer o queixo.
— Quem é você pra me puxar assim? — ela rebateu.
Gv inclinou o rosto devagar… como quem avalia se ela tá tirando onda ou é só louca mesmo.
— Você não sabe quem eu sou? — a voz rouca, um sorriso torto surgindo.
Ela cruzou os braços.
— E eu deveria saber?
Gv deu um passo maio pra perto ficando a centímetros.
— O morro todo sabe quem eu sou — ele murmurou, encarando a boca dela sem disfarçar.
— Que bom — Ayla sorriu torto — Eu adoro colecionar histórias pra contar.
— Isso aqui não é história pra patricinha viver… muito menos pra contar — ele avisou.
Ela deu de ombros.
— Então talvez eu seja a exceção.
O sorriso dele surgiu — lento, perigoso, e estranho demais pra um homem como ele.
— Você não tem medo, né?
Ayla mordeu o lábio, provocando.
— Deveria?
Gv inclinou o rosto, chegando perto o suficiente pra que ela sentisse seu perfume e o peso daquela presença.
— De mim, sim.
Mas eu gosto disso.
Os homens ao redor se entreolharam, tensos com a afronta.
Gv riu. Não era uma risada leve. Era uma risada de deboche, de quem se diverte com o perigo.
— Não tenho medo de dublê de bandidinho.
— Bandidinho?— ele repetiu, achando graça. — Quem te disse isso?
Ayla olhou ele de cima a baixo: a corrente grossa, o corte de cabelo na régua, o relógio caro… e, principalmente o fuzil enorme nas costas, os caras armados atrás dele.
Levantou uma sobrancelha.
— Precisa alguém me dizer?
Gv deu mais um passo. Agora, o corpo dele quase encostava no dela.
— Eu não sou bandido. — ele afirmou, firme, sem perder o sorriso de canto.
Ela soltou uma risadinha descrente.
— Ah não? Então tá — provocou.
Ele chegou perto do ouvido dela, a voz baixa, quente e perigosa:
— Eu sou o dono da porra toda.
Ayla piscou devagar.
— Nossa, parabéns. Quer um troféu? — respondeu debochada.
Um dos seguranças quase engasgou com o choque. Ela não tinha filtro. Nenhum.
Gv sorriu mais largo… e aquilo era pior do que quando ele estava sério.
— Você me chama de bandido como se fosse me ofender — ele comentou — mas eu ainda não decidi se você tá brincando comigo ou me pedindo pra te mostrar do que eu sou capaz.
Ela o encarou sem medo.
— Pra mim, você é bandido no máximo — ela enfatizou — e eu não tô pedindo nada. Muito menos pra você.
Gv inclinou a cabeça, o olhar escurecendo.
— Uma hora você vai pedir — prometeu.
Ayla sentiu um arrepio.
Não era medo.
Era a adrenalina do perigo chegando perto demais.
E foi ali que ela percebeu:
estar naquele baile já não era só diversão.
Ela tinha chamado a atenção do homem mais perigoso do morro.
E ele não estava nem um pouco disposto a deixá-la ir embora.
Pov Ayla
Antes que eu pudesse retrucar, um estrondo cortou a música.
PAH! PAH! PAH!
Tiros.
Gritos se espalharam rápido. O DJ desligou o som e a batida morreu como se nunca tivesse existido.
O peito apertou.
Não de medo… mas de realidade.
O brilho do baile virou caos.
O brilho das armas virou regra.
Mãos me empurraram por todos os lados. Todo mundo queria escapar. Eu só queria entender.
— O que tá acontecendo? — perguntei, mesmo sabendo que a resposta era óbvia.
Foi quando senti:
As mãos dele agarraram minha cintura e me puxaram de volta para o peito dele.
— Fica atrás de mim — o homem ordenou.
— Eu sei andar sozinha — tentei recuar.
Ele virou o rosto pra mim, os olhos escurecidos, sem nenhuma paciência:
— Não aqui.
Não agora.
⸻
POV GUSTAVO
O primeiro tiro eu já sabia de onde vinha.
O segundo confirmou que não era barulho de comemoração.
Facção rival.
Filhos da puta acharam que hoje era dia de arrumar confusão no meu território.
A patricinha ainda tenta fingir coragem, mas o jeito como a respiração dela falha me entrega que ela entendeu:
Isso aqui é guerra.
E guerra não é lugar pra patricinha nenhuma.
— Me solta — ela insiste, empurrando meu peito.
Deus, essa menina vai me matar.
Pego a mão dela de novo e aperto firme.
— Cê acha que eu vou te largar no meio disso? — rosno — Você tá ficando maluca?
Ela abre a boca pra retrucar, mas outro disparo corta o ar e eu empurro ela contra a parede, protegendo com meu corpo.
Ela olha pra mim com indignação.
Eu olho pra ela com raiva.
Mas é raiva do medo que ela me faz sentir.
— Você tá com medo? — ela provoca, como se fosse engraçado.
Eu solto um riso curto, sem humor.
— Eu tô com raiva de já ter me importado com você.
Ela pisca.
E nesse microsegundo, tudo muda.
Eu senti quando alguém apontou pra ela.
POV AYLA
Vi a arma apontada na minha direção, o dedo no gatilho e só consegui pensar em como eu fui me meter em um lugar desses. E ainda por cima um homem totalmente desconhecido que por sinal é um gostoso servindo de escudo pra mim.
O som veio direto pelo meu corpo, como se alguém tivesse quebrado vidro dentro do meu peito. A pressão dos dedos do homem na minha cintura aumentou — firme, urgente. Senti o calor do corpo dele como escudo; o cheiro de suor e pólvora me acordou de vez.
— Sai daqui! — ele berrou no meu ouvido, e eu só consegui pensar: como assim sair? A pista estava lotada, não dava pra atravessar a plateia sem virar alvo.
A luz do palco oscilou. Um corpo caiu mais à frente. Gritos cortaram tudo de novo — agora misturados com passos, corridas, alguém chorando alto demais. Meu mundo encolheu até caber só entre as costas do homem e o concreto da parede.
Quando consegui puxar o fôlego, vi a expressão dele. Não era só raiva ou proteção — tinha cálculo lá, nervo exposto. Homem analisava a saída, os corredores, os seguranças que sem querer pareciam estar do lado errado.
— Tem uma saída de serviço ali — murmurou, apontando com o queixo para um corredor estreito iluminado por uma lâmpada falhando. — Me segue e fica colada em mim. Sem drama.
Eu queria protestar. Queria dizer que não precisava dele — que desde que meus pais foram embora eu andava sozinha. Mas tudo isso era ridículo perto do som de outra arma sendo engatilhada. Então eu segui.
⸻
POV GUSTAVO
Ela me segue, grudada como uma sombra que não consegue se soltar. Bom. Melhor assim. Eu noto cada movimento das pessoas, cada cor de roupa que pode esconder um revólver. Não é a primeira briga que tem meu nome no meio — e não vai ser a última. Hoje, a diferença é que tem ela comigo. E isso complica mais do que ajuda.
Na saída de serviço, um cara alto bloqueia a passagem com o cotovelo. Reconheço o corte no rosto dele — é o Mário, um dos mais violentos da facção rival. Ele sorri quando me vê, e o sorriso dele é uma lâmina.
— Gv — chama, lindo de ódio. — Hoje não devia ter vindo pro baile, seu otário.
Eu respondo com um passo pra frente e a mão embaixo do casaco. Não tem tempo pra fala fiada. Mário dá um passo, e eu já sei que os outros dois atrás dele vão cercar a gente.
— Atrás — eu digo pra Ayla, e antes que ela possa argumentar, empurro-a com a lateral do corpo. Não brutal — só o suficiente pra colocar minha barra de corpo entre ela e o que vem.
O primeiro soco vem em mim. Recebo no braço, sinto o impacto. O segundo é um chute no estômago; mando ele pra trás com um gancho baixo. Não tenho vontade de lutar. Tenho vontade de sair. De sair dali com ela.
No entanto, quando o terceiro cara pega a arma, o tempo vira. O corpo do Mário se moveu como se quisesse atirar — e eu não pensei. Agi.
Joguei meu corpo na frente da Ayla como se fosse a última coisa que eu fosse proteger. O tiro acertou a jaqueta — senti o calor, ouvi o som seco; a arma caiu. A bala perfurou tecido, rasgou couro, e passou rente ao meu braço. Não deu tempo de sentir dor direito — só a necessidade urgente de tirar ela dali.
Puxei Ayla pelo braço, derrubando o resto pela lateral. Corremos pelo corredor de serviço, com a música distante virando um martelar surdo. Atrás de nós, o barulho aumentava — carros buzinando, pessoas correndo, talvez mais tiros.
Quando finalmente chegamos a uma porta que dava para um beco, empurrei com o ombro e puxei ela para dentro. O ar do lado de fora era frio e cheirava a chuva que não tinha vindo ainda. Eu encostei a porta para tentar ouvir: calma, respiração, nada. Só passos que sumiam na distância.
Ayla se afastou dois passos, o olhar grande demais para o meu próprio corpo.
— Você tá sangrando — ela falou baixo, e a voz dela tremia, mas não de pavor — de susto.
Olhei pra minha jaqueta rasgada, pro sangue que manchava a manga. Era só um corte, não muito profundo, mas estava ali, quente e real.
— Vai sarar — respondi, e a mentira saiu pequena. — Mas a gente tem que ir. Ainda tem gente lá.
Ela me encarou. Pela primeira vez, o brilho falso da patricinha caiu de vez — e no lugar apareceu algo menos confortável, um tipo de respeito que eu não pedi e que me deixou com vontade de rir.
— E o que você vai fazer? — perguntou ela, com uma calma que eu não esperava. — Vai me levar pra casa? Vai me largar na calçada? Vai me entregar pro próximo que aparecer?
A raiva veio de novo, dessa vez mais contida. Segurei a borda da jaqueta, o tecido molhado, e decidi pelo que sempre decido ao sentir raiva: mover.
— Vou te tirar daqui. — E eu ia fazer exatamente isso.
Quando nos viramos pra sair do beco, a sombra no fim dele se moveu com fluidez de quem já tinha feito aquilo antes. Uma figura encapuzada bloqueou a saída. Do lado esquerdo do capuz, um símbolo conhecido: as cores da facção rival. Não era só uma provocação. Era uma marca.
A adrenalina veio de novo — mais fria agora. Guardei as opções na cabeça: confronto, fuga, barganha. Não parecia hora de escolher.
— Fica atrás de mim — sussurrei, e pela primeira vez não foi ordem — foi proposta. Uma promessa.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!