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Voto de Ódio

O Peso do Nome Garibalde

Lorenzo Garibalde era um homem visto como frio, calculista e sem coração. Sua presença impunha respeito e silêncio por onde passava. Discreto, jamais se envolvia em escândalos, apesar de ser intensamente desejado pelas mulheres da alta sociedade — aquelas que o viam como um mistério a ser desvendado, um desafio a ser conquistado. Mas Lorenzo nunca havia firmado compromisso com nenhuma.

Sabia que, em breve, sua família — especialmente seu avô e seu pai — o envolveria em algum tipo de acordo matrimonial. Um casamento arranjado, como mandava a tradição dos Garibalde, uma das famílias mais poderosas da máfia italiana. Era o destino de todos os filhos homens. Assim havia sido com seu irmão mais velho, Matteo, morto há um ano ao lado da esposa em um ataque planejado por rivais. Assim havia sido também com sua irmã, Vitória, entregue em matrimônio para selar uma aliança entre famílias.

Lorenzo, porém, sempre se manteve à parte.

Não era apegado a nada além da própria família e ao código de honra que regia seu sangue. Nenhuma mulher havia sido capaz de tocar seu coração... Nenhuma, exceto uma.

Isabella Montreaux.

Ela fora seu primeiro e único amor — a filha de um embaixador francês, linda, inteligente e completamente proibida para ele. Os dois viveram um amor intenso, clandestino e perigoso. Mas, ao descobrirem a relação, os pais dela a enviaram para longe, temendo que o envolvimento com um Garibalde manchasse o nome da família.

Lorenzo nunca mais a viu.

Naquela noite, ao vê-la partir sem poder fazer nada, ele jurou que jamais permitiria que o amor o tornasse vulnerável outra vez. Desde então, o coração de Lorenzo Garibalde tornou-se tão impenetrável quanto o império que ele ajudava a comandar.

Lorenzo não conseguiu aceitar o destino que lhe era imposto.

Ignorando os riscos e os avisos do pai, ele foi atrás de Isabella. A chuva caía forte sobre as ruas de Milão, e os faróis do carro cortavam a escuridão como lâminas. Ele sabia exatamente para onde ir — a mansão dos Montreaux, onde ela se preparava para partir na manhã seguinte.

Quando a encontrou, ela estava na varanda, vestida com um casaco claro e os olhos marejados. O som da chuva se misturava ao tremor em sua voz.

— Lorenzo… Você não devia estar aqui. — disse ela, dando um passo para trás, como se a presença dele a queimasse.

Ele se aproximou, molhado, o olhar firme e desesperado.

— Você vai mesmo me deixar assim? Sem lutar por nós?

Isabella desviou o olhar. Uma lágrima escapou, deslizando pela pele pálida.

— Eu lutei, Lorenzo. Mais do que você imagina. Mas essa luta é suja... É feita de sangue e mentiras. Eu não pertenço a esse mundo.

Ele segurou o rosto dela com força, como se pudesse fazê-la ficar apenas com o toque.

— Eu posso mudar por você. — murmurou, a voz rouca de dor.

Mas ela balançou a cabeça, os olhos cheios de tristeza.

— Você não pode mudar o que carrega no sangue. — respondeu. — A máfia não perdoa fraquezas, e o amor… o amor é a maior delas.

Essas palavras o atingiram como um golpe certeiro.

Ela o beijou uma última vez, um beijo breve e amargo, que tinha gosto de despedida.

Depois, virou-se e entrou na casa, sem olhar para trás.

Lorenzo ficou ali, parado, com o coração em pedaços e a alma em silêncio. Naquele instante, algo dentro dele morreu.

A partir daquela noite, ele jurou que jamais permitiria que ninguém o ferisse de novo. Isabella Montreaux se tornou a cicatriz mais profunda de sua vida — a lembrança que o transformou no homem frio, impenetrável e perigoso que o mundo passaria a temer.

Naquela manhã, Lorenzo Garibalde renasceu.

O homem que havia saído sob a chuva na noite anterior, desesperado pelo amor de Isabella, ficou para trás. O que emergiu em seu lugar foi alguém novo — frio, determinado e impenetrável.

A dor se transformou em combustível.

O vazio que Isabella deixara, ele preencheu com poder, trabalho e sangue.

Após a morte de Matteo, o irmão mais velho, Lorenzo foi chamado pelo pai, Don Enrico Garibalde, para assumir não apenas parte das operações da família na máfia, mas também o comando da empresa legítima que servia de fachada para o império: Garibalde Enterprises, uma multinacional que dominava o mercado de transporte e exportações, conhecida oficialmente como uma das maiores empresas de táxi e logística da Europa.

O que poucos sabiam é que por trás dos contratos milionários e das ações na bolsa, havia rotas clandestinas, carregamentos de armas e acordos com homens que governavam o submundo.

Lorenzo, porém, fez o impossível: transformou o império criminoso em um império respeitado — e temido — nos negócios.

Aos trinta e dois anos, ele era o CEO mais cobiçado da Itália, conhecido por sua inteligência fria e estratégias impecáveis. Jornais o chamavam de “o homem de gelo dos negócios”, um símbolo de poder e elegância.

Respeitado no mundo corporativo, temido nas sombras da máfia.

Nenhum escândalo, nenhuma fraqueza.

Os aliados o admiravam, os inimigos o temiam, e as mulheres o desejavam — mas Lorenzo Garibalde não se permitia sentir nada.

O amor havia se tornado para ele um luxo perigoso, um erro que ele jurou nunca mais cometer.

Enquanto todos o viam como o homem que conquistara o impossível, dentro dele ainda havia um silêncio que nem todo o sucesso conseguia preencher.

Às vezes, quando o escritório já estava vazio e as luzes da cidade refletiam no vidro da cobertura, Lorenzo olhava para o horizonte e lembrava dela.

Isabella Montreaux.

A mulher que o havia deixado antes que ele pudesse oferecer o mundo.

A única que o fez sentir vivo — e a única que o destruiu.

O que Lorenzo ainda não sabia era que Isabella tinha seus próprios planos.

Ela caminhava pelos corredores da mansão Montreaux com passos firmes, a mente calculando cada movimento. Por anos, aprendera que sentimentos eram um luxo perigoso — algo que Lorenzo, mesmo com todo o charme e poder que um dia tivera, não poderia oferecer naquele momento. Ele não era o grande CEO que se tornaria anos depois; era apenas o jovem herdeiro de uma família poderosa, envolto em mistérios e riscos que Isabella não estava disposta a enfrentar.

Quando Henri Montreaux sugeriu um casamento vantajoso, com um homem rico, respeitado e de boa reputação, Isabella percebeu a oportunidade de garantir não apenas a segurança financeira da família, mas também sua própria paz. Ela sabia que amava Lorenzo, que o desejo e a lembrança daquele amor ainda viviam em seu peito. Mas ela também sabia que não poderia compartilhar uma vida ao lado de um homem ligado à máfia, cercado de sangue e intrigas.

— Pai — disse ela em uma noite, diante da lareira, com a voz firme — sei que Lorenzo ainda existe no meu coração. Mas não podemos correr riscos. Aceitarei um casamento que seja seguro para a família… E para mim.

Henri suspirou, sabendo que a filha havia amadurecido rápido demais.

— Entendo, Isabella… Mas cuidado com os sentimentos. Eles sempre encontram uma forma de voltar.

Isabella sorriu, fria, mas confiante.

— Eu sei o que faço, pai. Ele pode ser tudo o que ele é… mas o mundo não é para nós dois, pelo menos não agora.

E assim, com o coração apertado, Isabella começou a traçar o caminho que a levaria a um homem com nome e fortuna, deixando Lorenzo sem saber que, enquanto ele crescia e lutava para se tornar o império que conhecemos hoje, ela também tomava decisões que moldariam seus destinos de forma irrevogável.

Juramento de Sangue

A dor ainda estava viva, mas Lorenzo Garibalde aprendeu a transformá-la em algo útil: raiva, determinação e foco absoluto. A morte de Matteo não era apenas uma perda pessoal; era uma ferida aberta no império Garibalde, e, para Lorenzo, a justiça não poderia esperar.

No escritório da sede da Garibalde Enterprises, Lorenzo caminhava de um lado para o outro, o olhar sombrio fixo na parede adornada com mapas e fotos de aliados e inimigos. Cada detalhe da noite em que Matteo e sua esposa foram assassinados tinha sido registrado, analisado e arquivado, mas algo ainda escapava.

— Quero que cada detalhe seja reezaminado. — disse ele, com a voz baixa, firme, carregada de autoridade. — Cada informante, cada câmera, cada passo dado naquela noite. Quero nomes. Quero rostos. Quero o assassino do meu irmão.

Seus subordinados não ousaram questionar. Sabiam que, quando Lorenzo decidia buscar algo, não descansaria até encontrar.

— Sim, senhor. — respondeu Ricardo, o braço direito de Lorenzo, já acionando a equipe de inteligência e os homens de confiança para vasculhar cada pista.

Lorenzo aproximou-se do vidro da janela que mostrava a cidade de Paris iluminada à noite. O reflexo dele próprio parecia mais duro, mais perigoso do que nunca.

— Matteo pagou com a vida… e eu vou fazer com que ninguém esqueça o preço que se paga quando toca nos Garibalde. — murmurou para si mesmo, quase inaudível.

Os dias se transformaram em noites sem fim, cheias de telefonemas secretos, contatos com informantes e investigação minuciosa. Cada pista era analisada, cada suspeito interrogado, cada ligação rastreada.

Mas Lorenzo sabia que não seria fácil. O mundo em que sua família estava inserida era cheio de sombras, traições e homens que não hesitavam em matar para proteger seus interesses.

— Encontraremos quem fez isso, senhor. — disse Ricardo em uma manhã fria, ao entregar um relatório com possíveis suspeitos.

Lorenzo pegou o papel, examinando os nomes, os históricos e os vínculos. Seus dedos tamborilavam na mesa, o olhar gélido.

— Isso é apenas o começo. Cada um deles pagará… um por um.

No coração de Lorenzo, a dor e a raiva se fundiam, transformando o homem que já fora amado e ferido pelo passado em uma máquina de vingança e justiça.

O assassino de Matteo não teria chance.

E, enquanto Paris dormia, Lorenzo Garibalde já planejava o próximo movimento, silencioso, calculista e mortal como sempre fora.

♥︎♡♥︎♡♥︎♡♥︎

Enzo bateu à porta do gabinete antes de entrar, como sempre fizera — com a familiaridade de quem crescera ao lado de Lorenzo desde os primeiros passos no clã. O relógio na parede marcava horas tardias; a luz do abajur desenhava sombras duras no rosto de Lorenzo, acentuando a dureza daquela fisionomia que o tempo e a dor tinham esculpido.

— Você pediu para me ver — disse Enzo, aproximando-se da mesa. Havia um misto de preocupação e curiosidade na voz dele.

Ao lado de Lorenzo, encostado na poltrona, estava Ricardo — braço direito e homem de confiança naquilo que não podia ser discutido em público. Ricardo cruzou os braços com a calma de quem já vira centenas de planos nascerem ali.

— Enzo. — Lorenzo não levantou os olhos de um relatório aberto sobre a mesa. — Bom que veio.

Enzo observou a sala, o ar pesado, o copo de uísque à mão de Lorenzo. Havia algo diferente: um brilho contido nos olhos do chefe, que não era raiva crua, mas sim a calma perigosa de quem planeja. Enzo sentiu um arrepio.

— Ouvi dizer… — começou Enzo, hesitante — que você encontrou alguma pista sobre Matteo.

Lorenzo finalmente olhou para ele. O olhar era tranquilo; mas naquela tranquilidade havia ferro.

— Encontrei. — respondeu seco. — Encontrei quem mandou matar Matteo.

— Foi Alessandro Romano.

Enzo ficou em silêncio por um segundo, a face mudando de expressão quando ouviu o nome.

— Alessandro Romano? — repetiu, como se provasse o gosto amargo da palavra. — Você tem certeza, L?

Lorenzo assentiu, sem vacilar.

— Sim. Tudo aponta para ele.

O corredor da memória se abriu para Enzo. Seus olhos buscavam nos cantos do escritório as peças de um tabuleiro que agora se tornavam perigosamente reais. Ele conhecia Alessandro — não apenas como um nome nos relatórios, mas como o Don de outra família. Romano não era um capanga qualquer: era o homem que governava parte do território ao sul, com influência em portos e contratos que cruzavam fronteiras. Respeitado e temido. Um Don à moda antiga.

— Esse… Esse é problema grande, Lorenzo. — Enzo murmurou, a preocupação entornando palavras. — Alessandro Romano é chefe. Ele não manda em segredo, ele governa. Se souberem que estamos atrás dele, não será só uma guerra entre famílias — será uma guerra por tudo que cada lado controla.

Ricardo baixou a cabeça por um momento, calculando as consequências.

— Ele tem olho em rotas, em políticos, em bancos. Atacar diretamente seria abrir um front que pode nos consumir. — disse, com a seriedade de sempre.

Lorenzo inclinou-se para frente, as mãos cruzadas como quem segura um punho invisível.

— Por isso mesmo não vou atacá-lo de frente. — respondeu com calma cortante. — Vou entrar por dentro. Casar com uma filha. Ganhar acesso. Respirar o ar da casa dele sem que ele perceba a arma que eu carrego sob a roupa.

Enzo respirou fundo, lembrando-se das festas, das negociações veladas, dos jantares em que Don Romano falara alto e fazia o salão inteiro se calar.

— Você está disposto a se atar por lei a uma família que tem sangue do sru irmão nas mãos? Alessandro não brinca com honra ou traição. Se descobrir, não haverá volta. Ele não perdoa.

— Eu já perdi o que tinha de perdoável. — Lorenzo respondeu, frio. — Essa é a única forma de virar o mundo dele contra ele sem chamar atenção. Ele acha que ganha aliados; eu entro como herdeiro legítimo de um acordo. Depois, desmantelo por dentro.

Enzo sacudiu a cabeça, meio incrédulo, meio admirado pela audácia.

— E se uma das filhas desconfiar? E se o próprio Alessandro desconfiar?

— Controlaremos as filhas. Controlaremos os laços. — Ricardo interveio, firme. — Rumores bem colocados, negociações públicas, alianças cuidadosamente montadas. Nada que pareça forçado. Eles virão até nós pedindo a união — e nesse pedido estará a porta que eu quero atravessar.

Enzo apoiou a mão no ombro de Lorenzo, num gesto que misturava lealdade e temor.

— Então faça isso com os olhos abertos, amigo. Alessandro Romano é um Don que move exércitos de verdade. Se errarmos, não será só Matteo que não descansará — será toda a casa Garibalde que pagará.

Lorenzo olhou pela janela, vendo a cidade vibrar indiferente. A firmeza em sua voz não vacilou.

— Eu sei o que estou fazendo. Não por orgulho — por justiça. E se for preciso, queimarei cada ponte. Mas antes, entrarei sorrateiramente na casa dele. De dentro, eu derrubo o trono.

Enzo suspirou, sabendo que não havia mais como mudar os planos do amigo.

— Então me diga o que quer que eu faça. Vou preparar as pontes, acalmar vozes, plantar sementes.

Ricardo pegou uma pasta e ficou de pé.

— Começaremos por mapear as filhas: alianças, interesses, possíveis casamentos. Vamos fabricar o cenário para que o pedido venha deles. E quando vier, ninguém levantará suspeita.

Lorenzo fechou os olhos por um instante, depois abriu com a determinação de sempre.

— Faça isso. E mantenham os ouvidos abertos: Alessandro Romano é astuto, mas também orgulhoso. Todo orgulhoso tem um ponto cego. Encontraremos esse ponto.

A fumaça do charuto subiu, lenta e pesada. Fora do gabinete, o mundo seguia seu curso. Dentro dele, um plano que tocava a casa de um Don se formava — audacioso, perigoso, e com um preço que todos já sabiam ser alto. Enzo sabia disso melhor que ninguém, mas a lealdade falou mais alto.

— Por Matteo — disse Lorenzo, seco.

— Por Matteo — repetiram Enzo e Ricardo, firmes.

Casamento como Arma

A fazenda Romano se estendia por hectares de verde, cercada por colinas suaves e bosques que sussurravam ao vento. Ali, o mundo parecia distante do concreto, dos negócios da máfia, da política e até das intrigas familiares. Para Bianca Romano, a filha mais nova de Alessandro Romano, aquele era o seu refúgio, o único lugar onde podia ser simplesmente ela mesma.

Desde cedo, Bianca desenvolveu um amor profundo pela natureza. Ela gostava de cavalgar pelo campo, sentir o vento bater no rosto e ouvir o som dos pássaros ecoando pelos galhos das árvores. Cada visita à fazenda era um mergulho na liberdade, onde ninguém a cobrava por sua postura, suas notas ou sua aparência. Ali, ela podia rir, correr e se perder entre flores e pastagens sem medo.

Bianca havia escolhido ser veterinária ainda menina, fascinada pelos animais e pelo cuidado que eles exigiam. Com apoio total do pai, estudou intensamente, sacrificando festas e passeios, até conquistar o sonho que nutria desde sempre: cuidar de animais, entender seus sinais e aliviar suas dores. Era uma paixão que ela levava como missão, não apenas profissão.

Naquela manhã, o sol ainda pintava o céu com tons de ouro quando um empregado correu até ela, um pouco ofegante:

— Senhorita Bianca! Lua está dando à luz! — anunciou, apontando para o estábulo.

O coração de Bianca disparou. Lua era sua égua favorita, um presente do pai quando ela completou dez anos. Era mais que um animal; era sua amiga, confidente e parceira de cavalgadas silenciosas pelo campo.

— Vamos, rápido! — respondeu ela, puxando suas botas de couro e ajustando o chapéu. Cada passo em direção ao estábulo aumentava a mistura de ansiedade e excitação em seu peito.

Ao entrar, o cheiro de feno e cavalos a envolveu, mas sua atenção estava inteiramente em Lua, que respirava pesadamente, os olhos arregalados, os músculos tensos. Bianca ajoelhou-se ao lado da égua, sentindo a energia da vida prestes a surgir.

— Calma, Lua… eu estou aqui. — murmurou, acariciando o pescoço da égua, transmitindo segurança. — Você consegue. Estamos juntas.

Cada contração parecia sincronizada com os batimentos do coração de Bianca. Ela lembrava de cada aula, de cada estágio, de cada livro que estudou para estar preparada para momentos como aquele. A experiência se misturava com instinto; cada gesto seu tinha precisão, mas também ternura.

Após minutos que pareceram horas, finalmente o pequeno potro surgiu, chorando baixo e trêmulo. Bianca sentiu lágrimas quentes escorrerem pelo rosto ao ver a nova vida diante de si.

— Está tudo bem, Lua… você foi maravilhosa! — disse, aliviada, acariciando a égua que agora ofegava mais suavemente. O potro tropeçava nas patas ainda desajeitadas, mas estava vivo, respirando e forte.

O empregado sorriu, emocionado:

— Senhorita Bianca, você é incrível.

Ela apenas sorriu, a sensação de missão cumprida envolvendo seu peito. A fazenda, o campo e os animais eram seu verdadeiro lar, seu espaço seguro, seu mundo de felicidade e coragem. Ali, entre feno, cavalos e liberdade, ela não precisava de máscaras — era apenas Bianca Romano, apaixonada, dedicada e viva.

O vento entrou pelo celeiro, trazendo o cheiro de terra molhada e a promessa de novos dias. Bianca olhou para Lua e o potro recém-nascido, sentindo que cada escolha feita desde a infância, cada hora de estudo, cada sacrifício, havia valido a pena.

Ela estava exatamente onde deveria estar: com aqueles que amava, cuidando da vida e da natureza, em paz consigo mesma.

♡♥︎♡♥︎♡♥︎♡

Mais tarde, naquele dia, o salão principal da mansão Romano estava silencioso, exceto pelo som pesado das botas de Alessandro Romano ecoando no mármore. Ele encarava suas filhas com o olhar gélido, os punhos cerrados. O assunto que trazia tensão ao ar era sério: uma aliança com os Garibalde, e o casamento de uma de suas filhas era a peça central.

— O conselho da máfia propôs uma união com os Garibalde — começou Alessandro, a voz firme e grave —. Eles querem que Valentina se case com Lorenzo Garibalde. É uma aliança estratégica que trará poder, dinheiro e aliados contra nossos inimigos.

Valentina engoliu em seco, sentindo o peso da responsabilidade e da verdade que guardava há semanas. O olhar de Alessandro não permitia evasivas. Ela respirou fundo, segurando as mãos da irmã Bianca por um instante antes de falar:

— Pai… — começou Valentina, hesitante —, eu preciso contar a verdade. Eu… Estou grávida do filho do conselheiro Gerald, Marco DeLuca.

O ar congelou no salão. Alessandro arregalou os olhos, e a fúria subiu como um fogo incontrolável. Ele bateu a mão na mesa, fazendo os copos de cristal tremerem.

— COMO?! — rugiu Alessandro —. Você escondeu algo assim? Isso arruína a aliança! O conselho, se descobrir… Sua vida corre risco, nossa família será enfraquecida, e nossos inimigos aproveitarão!

Bianca engoliu em seco e avançou alguns passos, colocando a mão firme no braço do pai, olhando nos olhos dele.

Alessandro Romano caminhou de um lado para o outro, o rosto fechado em uma mistura de raiva e cálculo. Seus punhos cerrados batiam levemente contra o mármore enquanto encarava Valentina e Bianca.

— Valentina… — começou Alessandro, a voz firme e cortante —. A situação que você criou é… Inaceitável. O conselho da máfia não perdoará se descobrir que você está grávida fora de um casamento autorizado. Isso é visto como traição. Traição, Valentina, que pode custar a sua vida e a honra de toda nossa família!

Valentina engoliu em seco, o olhar baixo, a respiração irregular. Alessandro continuou, o tom sombrio:

— Você terá que se casar com o pai do seu filho, Marco DeLuca. — cada palavra soava como um golpe —. Terei que mentir ao conselho, dizendo que já estava prometida a ele. Caso contrário… — ele fez uma pausa, a voz baixa e mortal —, poderá ser sentenciada à morte.

Um silêncio mortal pairou no salão. Valentina mal conseguia respirar, e Bianca sentiu um frio percorrer sua espinha. Ela sabia que o pai estava certo: A máfia não perdoava fraqueza ou desobediência. Mas, ao mesmo tempo, não podia aceitar que sua irmã fosse forçada a um destino que não queria.

Bianca deu um passo à frente, firme, colocando a mão no braço de Alessandro.

— Pai… Eu assumo o lugar dela. — disse com convicção —. Eu me casarei com Lorenzo Garibalde. Se isso significa proteger Valentina, a família e a nossa honra, farei isso sem hesitar.

Alessandro a encarou, surpreso, misturando fúria e orgulho.

— Bianca… Você está disposta a se sacrificar por ela? — perguntou, a voz grave —. Você entende que será um casamento de conveniência, usado para alianças estratégicas, e que não há garantia de felicidade?

— Sim, pai. — respondeu Bianca, firme e decidida —. Não importa. Se casar com Lorenzo salva Valentina, preserva nossa família e mantém a aliança, então é o que farei. Eu assumo a responsabilidade.

Valentina, emocionada, segurou a mão da irmã.

— Obrigada, Bianca… Você está me salvando.

— Agora não pense nisso, irmã — Bianca respondeu, determinada —. Eu cuidarei de tudo. Confie em mim.

Alessandro respirou fundo, a tensão nos ombros diminuindo um pouco. Ele sabia que Bianca havia agido com coragem e inteligência. A aliança com os Garibalde ainda seria cumprida, a honra da família preservada, e Valentina protegida de um destino que poderia ter sido fatal.

— Muito bem… — disse ele finalmente, a voz firme —. Então seja assim. Você se casará com Lorenzo Garibalde. Mas lembre-se: cada passo deve ser calculado. Se o conselho descobrir qualquer falha… Não haverá perdão.

O vento soprava pelos campos da fazenda, trazendo consigo o aroma da terra molhada e uma sensação de mudança. Bianca sentiu o coração acelerar, não por medo, mas pela responsabilidade que assumia. A partir daquele momento, seu destino se ligava ao de Lorenzo, e a guerra silenciosa, entre alianças e vingança, já começava a se desenrolar.

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