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O Amor de um Mostro

1

O silêncio da mansão foi quebrado pelo tilintar metálico da corrente do portão sendo aberta à força. Antes que André ou sua esposa, Laura, pudessem reagir, a porta da sala de estar se abriu.

Arthur estava lá. Seu vestido negro, simples e elegante, contrastava com o sorriso frio que estampava seu rosto. Nos olhos, uma frieza que confirmava a velha máxima que André sempre repetia, mas nunca levara a sério o suficiente.

"Finalmente achei onde vocês mora," disse Arthur, sua voz um fio sedoso e perigoso.

André se ergueu, colocando-se instintivamente à frente da cadeira de rodas de Laura. "Arthur oque você quer aqui. Como descobriu nos tava aqui

"Vim conversar com você, senhor André." Ela deu um passo para dentro da sala, fechando a porta suavemente.

"O que você quer?" rosnou André, os nós dos dedos brancos de tanto apertar os punhos.

Arthur riu baixo, um som sem qualquer vestígio de alegria. "Relaxa o tom... você sabe o que eu quero."

"Ele não!" a voz de Laura saiu como um suspiro agonizante.

"Hum." Arthur fez um clique de desaprovação com a língua. "Toda vez é a mesma coisa. Isso me irrita profundamente, sabia? Bom, agora meu pai morreu. Eu tenho todos os documentos. Eu quero o dele... e principalmente o documento." Ela encarou André, sem piscar. "Quando o lindo filho de vocês completasse 19 aninhos, ele iria casar comigo. Eu quero o garoto você sabe

"Arthur," suplicou Laura, as lágrimas rolando livremente por seu rosto pálido. "Tem piedade."

"Você sabe que eu não tenho." A resposta foi imediata e cortante como uma lâmina. "Sabe o quanto eu estava esperando por isso. Há muito tempo. Você próprio sabe. Eu vou ser legal. Vou fazer uma proposta."

André engoliu seco. "Fale."

"A máfia de vocês não tá caindo. A polícia tá na cola. Não é? Então, se me derem o garoto, eu ajudo vocês com a máfia."

"E a minha mulher?" perguntou André, sua voz falhando ao pensar no filho.

"Olha, vocês sabem. Eu vou ter o garoto... vocês querendo ou não. Vai. Eu estou ajudando ainda. Se não, vocês morrem na mão da polícia. Isso já tá para acontecer." Ela endireitou a barra do vestido. "Ele vem comigo do jeito legal, ou eu arruíno tudo. O que vocês acham?"

André trocou um olhar aterrorizado com Laura. A impotência era um gosto amargo em sua boca. "Precisamos de um tempo para preparar meu filho ele ainda não sabe"

"Já dei tempo o suficiente para vocês, não acham . O Garoto teve 19 anos para se preparar e vocês para conta .

"Uma semana," implorou André. "Apenas uma semana para colocar tudo no lugar por favor André

Arthur observou-os por um longo momento, calculando. "Tudo bem. Eu vou dar uma semana. Contada, nem mais nem menos." Ela se virou para sair, mas parou na porta, lançando a sentença final sobre os ombros, sem nem olhar para trás. "E outra coisa... se tentarem mandar o garoto para outro país, será pior. Muito pior."

2

O motor do carro esporte de Arthur roncou suavemente, um contraste gritante com a tempestade que ela havia deixado para trás na mansão dos Almeida. A calma com que ela colocou o veículo em movimento era assustadora. Foi então que o viva-voz do carro acendeu, projetando o nome "Miguel" no painel.

Com um toque no volante, ela atendeu. A voz descontraída de Miguel preencheu o interior do carro.

"Então, o que deu?"

Arthur manteve os olhos fixos na estrada, seu rosto um modelo de frieza. "Dei uma semana para eles."

Miguel deu uma risada baixa. "Uma semana? Eles vão sumir com o muleque, Arthur. Vão despachá-lo para algum buraco na Europa antes que você possa piscar."

O perigo sibilou na voz de Arthur, baixo e preciso. "Eu vou achar ele nem que seja no inferno. O tempo deles tá acabando... junto com aquela máfia de merda."

A risada de Miguel era mais nervosa agora. "Mas e aí, tem mais informações sobre ele?"

"Tenho o básico. Nome, idade... o que ele mais gosta de fazer." Um sorriso quase imperceptível tocou os lábios de Arthur.

"O que ele gosta de fazer?" perguntou Miguel, sua curiosidade parecendo uma isca.

"Ele gosta de desenhar. Fez um curso de desenho." A voz de Arthur era suave, quase carinhosa ao falar disso, e o tom não passou despercebido.

Miguel ficou em silêncio por um segundo. "Arthur... você tá falando dele com um tom. Eu não tô gostando."

"Ah, o que foi?" ela respondeu, com uma inocência falsa que pingava veneno. "Eu apenas fiz uma coisa para nos aproximarmos dele."

A voz de Miguel ficou séria, alerta. "O que você fez, Arthur?"

A simplicidade com que ela disse foi a parte mais aterrorizante. "Eu comprei o prédio onde ele faz o curso."

"Arthur!" A voz de Miguel era um misto de incredulidade e alarme. "Você tá louca? Por aquele garoto?"

"Por ele, sim," ela confirmou, sem uma centelha de dúvida ou emoção. "Mas eu não vou mudar nada no curso. Vou deixar como está. Só que amanhã... vão me apresentar como a nova proprietária. Vou estar lá. Vou vê-lo."

"Arthur, Arthur... cuidado." A advertência de Miguel era genuína. Ele conhecia a tempestade que era aquela mulher.

O aviso fez Arthur rir. Era um som seco, oco e sem humor. "Cuidado? Miguel, eu não tenho medo de ninguém. Se tivesse, não teria feito metade das coisas que fiz." Ela fez uma curva fechada, acelerando. "O medo é uma corda que enforca os fracos. Eu cortei a minha há muito tempo."

"Mas isso é diferente... isso é... pessoal."

"Tudo é pessoal," ela retrucou, a máscara de frieza caindo por um segundo para revelar a obsessão pura por trás dela. "Eles pensam que podem quebrar uma promessa feita comigo? O próprio André assinou aquele documento. Ele me deu o garoto. Eles criaram ele, sim, mas ele sempre foi meu. Desde o dia em que nasceu."

"E se ele não quiser? Ele é quase um adulto, Arthur. Tem vontade própria."

A pergunta foi tão ingênua que Arthur quase sentiu pena da estupidez de Miguel. Quase.

"Querer?" ela repetiu, como se provasse uma palavra nova e sem sabor. "O que ele quer é irrelevante. O que qualquer um de nós quer é irrelevante. Existe o Poder. E existe a Obediência. Eu tenho o primeiro, e ele aprenderá o segundo. Eles todos vão."

"E a Laura? O André? Você vai...?"

"Eles tiveram dezenove anos com ele. Dezenove anos que me foram roubados. Eles o criaram para ser fraco, sensível... um artista." Ela cuspiu a palavra. "Agora, é a minha vez. E eu vou refazê-lo. Vou quebrar cada pedaço de personalidade que eles colocaram nele e vou montar de novo, do meu jeito. E se a polícia fizer o trabalho sujo por mim e se livrar deles no caminho, melhor ainda."

Do outro lado da linha, Miguel ficou em silêncio. Ele podia quase sentir o gelo da respiração de Arthur através do telefone.

"Uma semana," Arthur sussurrou, mais para si mesma do que para Miguel. "Eles podem ter essa semana para se despedir. É mais misericórdia do que eles merecem. E quando o tempo acabar... eu não vou apenas coletar o que é meu. Vou demolir tudo o que eles têm, tudo o que eles são, e vou usar os tijolos para construir o lugar dele ao meu lado."

Ela desligou a chamada com outro toque no volante. A estrada à sua frente estava escura e vazia.

3

A manhã seguinte raiou sobre a casa dos Almeida com um peso invisível. Enquanto o sol entrava pela janela da cozinha, Ravi desceu os degraus com um salto leve, um sorriso despreocupado estampado no rosto.

— Bom dia! — cumprimentou, dirigindo-se à mesa.

Seu pai, André, mal conseguiu erguer os olhos do café. Seu rosto estava marcado por rugas de preocupação e noites mal dormidas.

— Tá tudo bem, pai? — perguntou Ravi, puxando uma cadeira.

Foi Laura, sua mãe, quem respondeu, a voz um pouco mais aguda que o normal, forçando uma naturalidade que não existia. — Tá sim, meu filho. Seu pai é que está com muito trabalho. Muito mesmo.

— Tá bom... mas se precisar de ajuda com qualquer coisa, é só falar — Ravi insistiu, mergulhando a colher em sua tigela de salada de frutas.

— Não precisa, meu filho, não se preocupa com isso — disse André, a voz rouca.

Ravi encolheu os ombros, aceitando a resposta. — Tá bom, então. Eu vou indo. Te amo, mãe! Te amo, pai!

Ele pegou sua mochila de artes e saiu pela porta dos fundos, o assobio ecoando pelo corredor. O som da porta se fechando foi como um golpe.

Mal o ruído do carro de Ravi se dissipou na rua, Laura se desmanchou. — Quando vamos contar para ele, André? — sua voz era um fio de angústia.

André esfregou o rosto, exausto. — No último dia. Só no último dia.

— Fazer aquele contrato foi a pior coisa que eu fiz na minha vida! — Laura chorou, as lágrimas finalmente rompendo o dique. — A pior!

— Eu sei que erramos, Laura! Eu sei! — ele explodiu, batendo a mão aberta na mesa. O silêncio que se seguiu foi mais denso. — Mas agora... vamos entregar nosso filho a um monstro. Ele não é um humano, você já viu as coisas que ele faz, André? — ela sussurrou, aterrorizada. — Nem os melhores policiais conseguiram pegá-lo.

— Não temos o que fazer, Laura! — a voz de André era um misto de raiva e desespero. — Ele vai pegar o nosso filho de qualquer jeito! Foi o que ele disse! De qualquer jeito!

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Enquanto isso, Ravi estacionava sua moto em frente ao prédio do curso de arte. O clima pesado de casa ficou para trás, substituído pela familiaridade do lugar.

— Oi, Ravi! — chamou Caio, seu melhor amigo, encostado na porta.

— Finalmente chegou no horário, Caio? — Ravi brincou, dando um tapinha nas costas do amigo.

— Hummm, saí mais cedo de casa hoje. A propósito, você ficou sabendo? Alguém comprou o prédio.

— Sério? — Ravi franziu a testa, olhando para a fachada. — Será que vão construir outra coisa?

— Acho que não — Caio respondeu. — Ouvi que vão nos apresentar o novo dono hoje.

— É? — Ravi levantou uma sobrancelha. — Bom, parece que não vamos ser despejados. E diferente de você, eu não gosto de chegar atrasado. Vamos.

Os dois subiram para a sala de aula e se sentaram um ao lado do outro, jogando as mochilas no chão ao pé das mesas. A conversa rolando solta sobre os últimos projetos de desenho.

A aula estava prestes a começar quando a porta se abriu. O professor entrou, seguido pela diretora do curso e... um homem.

Ele era alto, imponente, de cabelos pretos bem cortados e um terno branco imaculado que destacava sua musculatura. Sua presença preencheu a sala instantaneamente, silenciando todos os sussurros.

— Alunos — a diretora começou, com um sorriso tenso. — Antes de começarmos, eu gostaria que todos conhecessem o novo proprietário do nosso prédio.

Ravi sentiu um frio na nuca. O homem, o tal de Arthur, não tirava os olhos dele. Era um olhar fixo, intenso, como um colecionador examinando uma peça rara que finalmente havia adquirido.

— É um prazer conhecê-los — disse Arthur, e sua voz era suave, mas carregada de uma autoridade inquestionável. O sorriso que esticou seus lábios não chegou aos olhos. Era um sorriso de vitória, carregado de uma malícia sutil que fez Ravi se encolher inconscientemente.

— É um trazer conhecê-los! — disse o representante de turma, tentando ser descontraído, mas sua voz soou fraca diante da aura do homem.

Arthur desviou o olhar de Ravi por um segundo, percorrendo a sala. — O prazer é todo meu. Prometo manter este centro cultural funcionando como sempre. A arte... é uma das minhas maiores paixões. — Seus olhos voltaram a pousar sobre Ravi. — Especialmente o talento jovem e promissor.

Ravi sentiu um calafrio.

— Bom — a diretora interveio rapidamente, sentindo o desconforto no ar. — Vamos deixar você continuar com a aula, professor. Obrigada, senhor Arthur.

Arthur acenou com a cabeça, seu sorriso profissional ainda no lugar. — Claro. Não quero atrapalhar. — Ele deu mais um passo para dentro da sala, seu olhar perfurante fixo em Ravi. — E você, jovem. Ravi, não é? Seu portfólio chamou a atenção da diretoria. Gostaria de vê-lo no meu escritório, ao final da sua aula. Temos muito o que conversar sobre... o seu futuro.

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