ARÁBIA SAUDITA.
Pov’s Layla.
O chamado da oração ecoa sobre Meca, enchendo o ar com uma solenidade que me aperta o peito.
Nunca imaginei que ouviria aquele som em meio a um silêncio tão devastador dentro de casa.
O corpo de Muhammad está diante de nós, envolto em panos brancos. Suas esposas — nós quatro — choramos ao redor.
Aisha segura meu braço com força, os olhos ainda marejados, enquanto Khadija soluça baixinho, encostada ao ombro de Samira.
— Ele se foi — murmuro, com a voz embargada. — Habibi se foi pra sempre.
A morte foi repentina. Um infarto o levou durante a madrugada. Tão rápido, tão cruel. Ele que aprendeu a amar tarde demais, faleceu deixando as suas quatros esposas.
Meus olhos buscam o irmão dele, Farid, parado um pouco mais atrás, olhando para o caixão.
É estranho encarar aquele rosto tão parecido. Mas ao contrário do meu habibi, há algo obscuro na sua presença, como se carregasse um peso que ainda não conseguia demonstrar.
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Pov’s Farid
Meu irmão descansa. Aquele que sempre foi líder, marido, pai. E agora todos os olhares recaem sobre mim.
Eu não pedi por isso, mas sei que a tradição, os costumes e até mesmo o coração dessas mulheres esperam que eu dê continuidade.
Não apenas por lealdade, mas porque Muhammad me fez jurar, em seus últimos suspiros, que cuidaria de todas elas.
— Eu cumprirei o que me pediste, irmão — penso, em silêncio. — Honrarei o teu nome, e tomarei essas mulheres como minhas esposas.
Me aproximo das quatros muçulmanas. Enxergo os seus rostos que estão marcados pela dor do luto.
— De hoje em diante, vocês não estarão sozinhas — minha voz dura quebra o silêncio. — Eu serei o guardião desta família. Não quero que pensem em mim como o substituto de Muhammad… porque ninguém substitui um homem como ele. Mas juro diante de Allah que cuidarei de cada uma de vocês, e de todos os filhos que ele deixou.
Layla ergue o olhar, surpresa. Avisto a dor, mas também uma repulsa vindo por parte da primeira esposa do meu irmão.
Aisha por sua vez apenas fecha os olhos, deixando uma lágrima escapar. E as outras duas me encaram fixamente, como se buscassem entender até onde vai minha promessa.
No fundo, sei que esse é apenas o início de outra história. Uma história em que meu destino se entrelaça ao delas, não por escolha, mas por legado.
Meu querido irmão partiu, mas o peso do seu posto agora repousa sobre mim.
E eu não sei se serei forte o bastante para carregar esse fardo.
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Layla
Aisha
Samira
Khadija
Farid.
O que acharam? Deixem opinião de vocês, espero que gostem. É costumes Árabes, lá é totalmente diferente.
O que acharam? Deixem opinião de vocês.
O que acharam? Deixem opinião de vocês.
O que acharam?
Será que Farid irá gostar das quatros?
O que acharam?
O que acharam?
O que acharam?
O que acharam? Deixem opinião de vocês.
O que acharam? Deixem opinião de vocês.
O que acharam? Deixem opinião de vocês.
Uma semana depois...
ARÁBIA SAUDITA.
Pov’s Layla.
Derrubo na pia, toda bandeja do café da manhã que Aisha preparou para levar pro novo dono da casa.
— Ele não é habibi.— a digo indignada, e a segunda esposa me encara de relance.
— Layla, não podemos rejeitá-lo.— ela argumenta.— Esse homem está nos salvando de sermos jogadas ao vento.
— Salvando o quê?— gesticulo os braços, enquanto me movimento de um lado pro outro na cozinha.— Roubando o lugar de Muhammad!
— Nosso marido está morto, Layla.— a terceira esposa se manifesta.— Você precisa superar isso.
— Nunca. Lá.— nego, sentindo os meus olhos se encherem de lágrimas.
— Farid está apenas seguindo os costumes.— a quarta esposa Samira alega.— Temos que aceitá-lo.
— Aceitá-lo?— as olho, horrorizada.— Esse homem está dormindo na cama que era de habibi.— falo em alto bom tom.
— Eu não escolhi isso.— a voz masculina emite no ambiente.
O silêncio ensurdecedor alastra no ar. As outras três abaixam a cabeça submissas, e eu me viro, lançando lhe um olhar de desprezo.
O muçulmano circula os olhos atentamente para minha postura.
— Por que está de niqab dentro de casa?— ele me questiona; vendo apenas os meus olhos e nada mais.
— Porque há estranhos aqui.— jogo a indireta. — Devo me mostrar apenas pro meu marido, como ele está morto, eu também morri com ele naquele caixão.
— Layla!
Aisha me repreende.
— Não estou levantado nenhum haram.
— Eu sei que a minha presença não agrada vocês.— o próprio afirma.— Mas quero que possamos ter um lar harmonioso. Não estou aqui, para tomar o lugar de ninguém, e muito menos de Muhammad.
As demais acreditam nas palavras verbalizadas pelo muçulmano.
Decido me retirar da cozinha. Apenas paro, para dizer....
— Terá que repudiar uma de nós, não é?— o relembro, fazendo-o mudar a feição.— Já que é casado com Hadassa. O Alcorão permite que o homem possa casar quatro vezes, e não cinco vezes, terá que devolver uma de nós.
Deixo no ar, fazendo as outras morrerem de medo.
Subo às escadas às pressas, me trancando no quarto que era de habibi.
Olho os lençóis da cama, desarrumados. E me sobe uma raiva ao saber que está sendo usado pelo impostor de Muhammad.
Resolvo retirar de cima, para tacar fogo.
Se esse Farid acha que irá mandar na casa, está enganado. Eu não irei abaixar a cabeça para ele.
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Cozinha.
Pov's Farid.
— Ela é sempre assim?— pergunto.
— Layla está se sentindo ameaçada.— a tal Aisha diz.— Está com medo de perder o posto de primeira esposa. E nós, como ficaremos?— os olhos inseguros da mulher de postura humilde, refletem em meu rosto.— Se formos devolvidas pras nossas famílias, morreremos sozinhas, porque nenhum homem irá querer casar-se conosco novamente.
— Não se preocupem, não irei devolver nenhuma de vocês.
Elas abrem um sorriso.
— Shurkran, que Allah te abençoe marido.— Khadija remete.
— Não me agradeçam. — peço, pra não se curvarem em minha frente.— Estou honrando com a promessa que fiz ao meu irmão. Em nome de Allah e do profeta.— as olhei, cada uma, com um olhar generoso.— Se Layla não se sente confortável nesta casa comigo, infelizmente terei devolvê-la pra família dela.
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Pov's Layla.
Queimo os lençóis, vendo as chamas.
Sinto uma tontura forte. Nessas últimas semanas está cada vez pior.
Acho que estou grávida.
Não deu tempo nem de contar a habibi, que teríamos o nosso primeiro bebê juntos.
Saio dos devaneios, quando Samira aparece no quarto.
— Ele vai te devolver.— ela conta.
— O quê?— arregalo os olhos.
— Você conseguiu Layla, ele não quer que você se sinta infeliz aqui.— a quarta esposa relata.
— Por Allah, não pode está acontecendo.— murmuro, passando a mão no rosto.
— Não está feliz, Layla?
— Lá.— com os olhos cheios de lágrimas, admito:— Estou grávida e o meu bebê pertence aquele homem. Se ele me devolver, eu não vou poder ver o meu bebê crescer.
ARÁBIA SAUDITA. - Meca.
Pov’s Layla.
—Terá que pedir desculpas, Layla.— Samira sugere.
— Não farei isso. Lá, lá, lá.— recuso, consecutivas vezes.— Esse muçulmano é um impostor, tomou tudo que era de Muhammad.
— Faz parte dos costumes. — escuto-a, enquanto a encaro, com os olhos lacrimejados.— Quando o marido falece, primeiro do que as esposas, os parentes próximos a ele terá que cuidar. São as tradições.
— Não aceitarei que outro homem me toque.— afirmo, com tom indignado. — Em nome de Alá e o profeta, irei embora daqui com o meu bebê.
— Layla, não faça nenhuma loucura. É haram.— a quarta esposa aconselha, soando preocupada— A obrigação é de Farid cuidar do seu bebê, você não tem direito nenhum sobre a criança. Porque é obrigação do homem: cuidar, alimentar e sustentar.
Sinto as lágrimas descerem momentaneamente pelo meu rosto.
— Mas eu sou a mãe.— minha voz sai triste.
— Não custa nada se desculpar, se quiser continuar aqui.
— Tem razão, farei isso não por aquele muçulmano, mas sim pelo meu bebê.
— Está pensando com a cabeça Layla. Yalla, vamos descer! Tire esse niqab, coloque apenas o hijab, assim é uma forma de insulta-ló menos e uma maneira de pedir desculpas.
Faço o que ela manda, apesar de eu não me sentir confortável mostrando o meu rosto.
Descemos juntas, e quando estou quase chegando no final da escada da sala de estar, ouvimos vozes.
As três esposas estão lado a lado; Aisha está com suas duas filhas, as filhas de Samira também estão presentes. Khadija não possui filhos ainda, é a única das esposas que nunca conseguiu engravidar.
Quando a minha presença é notada, todos os olhares se direcionam para mim. E o silêncio ocorre junto.
Os olhos do homem que está bem no centro me analisa minuciosamente, acabo o desafiando por meio do olhar. Ele não está sozinho, ao seu lado está a muçulmana no qual mencionei.
— Como todos ainda não conhece, essa é a minha esposa, Hadassa.
— Ela ficará com as chaves da cozinha, marido?— Aisha questiona.
Logo o clima fica mais pesado.
— Não sei, talvez.— ele dá resposta.— Hadassa que decide.
— Shurkran, habibi.— a outra se alegre.— Darei a função a cada uma das suas esposas dos afazeres domésticos.
Então retiro de dentro da minha abaya, as chaves, que sempre pertenceu a mim como primeira esposa.
— Tome. — entrego.— Pode ficar.
Naquele momento, me sinto tão humilhada. Porque para nós muçulmanas, ficar com as chaves da cozinha, significa ser a dona da casa.
O irmão do Muhammad entreolha para mim, se arrependendo. Em seguida, ele toma uma atitude inesperada de frente a todos:
— Hadassa devolva a Layla.
Ergo o rosto para cima, sem entender a postura dele.
— Por que tenho que devolver, habibi? Eu sou sua primeira esposa! Nenhuma dessas outras, foram suas escolhidas.
E não machuca só em mim, como também em Aisha, Khadija e Samira sentem o peso das palavras.
Farid rebate:
— Não importa que elas não tenham sido as minhas escolhidas, elas são as minhas esposas e as tratarei igualmente.— ele verbaliza, tomando as chaves e estendendo para mim.– Enquanto Layla permanecer nesta casa, as chaves pertencem a ela.
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