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Ela, a Razão da Mudança

Capítulo 1 – A Oportunidade Perfeita

Quarta-feira.

Devo sair? Por que não?

Um banho rápido, barba aparada, loção pós-barba. Escolho a dedo a roupa, ajusto a gola, coloco o relógio no pulso. Quem me deu esse relógio mesmo? Ivete? Ivone? Tanto faz — presente é presente. Espelho à frente, confiro o sorriso. Falta só o perfume. O amadeirado. Esse nunca falha.

Agora, o lugar… onde? Claro: o novo PUB. Gente bonita, bebida gelada, luz baixa — terreno perfeito para pescar alguma oportunidade.

Ao chegar, o ambiente me recebe com um misto de cheiros — cerveja, madeira encerada e perfumes variados. A música não atrapalha, só embala. Vou direto ao balcão.

— Um chopp. — peço, sem demora.

Olho ao redor, e então reconheço um rosto familiar se aproximando.

— Fala, Diego! Quanto tempo! — cumprimento com um sorriso aberto.

Conheci o Diego na faculdade, quando eu ainda me dava ao trabalho de aparecer nas aulas.

— Henrique! Você voltou pra faculdade? — ele pergunta, meio irônico.

Dou uma risada curta.

— Correria demais, ainda não consegui.

— Rapaz, já faz anos que me formei… e você continua enrolando. — Diego balança a cabeça, mas logo muda de assunto. — E aí? Tá namorando? Ou melhor… quantas?

— Cansei dessa vida de pegador. — respondo com falsa seriedade. — Hoje vim em busca do amor da minha vida. Não sou mais um garotinho.

Ele me lança um olhar desconfiado.

— Amor da sua vida… ou da sua próxima patrocinadora?

Finjo não ouvir. Ataco:

— Tá sozinho, Diego?

— Não. Estou esperando uma amiga.

Meus olhos brilham.

— Amiga? Me apresenta!

— É amiga de longa data, voltou agora do exterior. Mas… não é pro seu bico.

Dou um sorriso maroto.

— Qual é, cara. Me apresenta ou você tá interessado nela?

Ele abre a boca para responder, mas não dá tempo. Ela chega.

Letícia.

O nome vem junto ao aperto de mão.

Cabelos pretos, longos e ondulados, sorriso contido mas presente. Voz firme, mas agradável. Perfume fresco que se destaca de todos os outros do PUB. Ela tem presença.

— Prazer, Henrique. — digo, segurando sua mão um segundo a mais do que o necessário.

Logo encontramos uma mesa. Diego até tenta puxar assunto, mas não demora para ficar em segundo plano. Eu conduzo a conversa, com meu charme habitual. E Letícia… ela tem de tudo: beleza marcante, inteligência afiada, carreira sólida. Trabalha em uma multinacional, cargo de confiança. Não vem de berço de ouro, mas conquistou espaço com esforço. Até ajuda financeiramente os pais.

Enquanto ela fala, penso: é isso.

A noite corre, até que ela pega a bolsa.

— Amanhã é meu primeiro dia de volta ao trabalho na matriz. Preciso ir.

— Está cedo, eu te levo em casa. — ofereço prontamente.

Ela sorri de leve, mas firme:

— Obrigada, Henrique, mas já chamei um carro. E, apesar de você ser amigo do Diego, te conheci hoje.

Fria. Direta. Intocável.

Nos despedimos. Diego se recusa a me dar o número dela. Mas, no caminho de volta para casa, o pensamento martela: Letícia.

Ela não abriu nenhuma brecha. Ou abriu? Tanto faz. Eu sei ler pessoas, e sei quando vale insistir. Letícia é diferente. Bonita, inteligente, bem-sucedida… e financeiramente estável.

Ela é tudo o que eu quero.

E eu vou conquistar.

De um jeito ou de outro.

Capítulo 2 – Entre Oportunidades e Rejeição

Manhã seguinte.

Buzinas lá fora, pássaros insistentes.

Abro os olhos. 9h30. Muito cedo. Viro para o lado. Fecho os olhos.

Cinco minutos depois, desisto.

Celular na mão. Vamos ver se encontro a Letícia nas redes sociais.

Não demora. Claro que não. Temos amigos em comum.

Perfil dela: profissional até a raiz do cabelo. Viagens a trabalho, crachá, palestras, mestrado, idiomas. Nada de festas, nada de vida pessoal. Que desperdício.

Mas um detalhe me chama atenção: o crachá dela aparece numa foto. Cargo bem alto. Pesquiso rapidamente o salário médio.

— Uou… — murmuro sozinho. — É isso mesmo?

Ela realmente ganha muito. Explica porque consegue bancar os pais com folga. E, por que não, poderia bancar a mim também. Uma mesadinha não faria falta.

Sigo o perfil dela. Quando aceitar, puxo papo. Peço o número.

Barriga ronca. Geladeira vazia. Olho o saldo: cem reais. Ontem exagerei. Bom, não foi gasto… foi investimento. Conheci a Letícia.

Ainda assim, preciso comer. Melhor acionar um contato antigo. Dona Sônia sempre generosa.

— Alô, Dona Sônia? Quanto tempo! Pensei em matar a saudade… que tal um almoço? — digo, no tom doce que sei usar.

Ela suspira, satisfeita.

— Claro, Rique! Mando o motorista te buscar.

Mais tarde, saio do carro satisfeito, bolso reforçado com um PIX dela. Dona Sônia nunca decepciona. Uma pena não querer nada sério.

Mas o dia passou. Letícia ainda não aceitou minha solicitação. Diego começa a me evitar.

Droga.

Preciso de um plano B.

Dias depois, calor sufocante no parque. Reclamo mentalmente por não ter ido ao shopping quando vejo…

Ela.

Letícia.

— Oi, Letícia, lembra de mim? — pergunto, animado.

Ela sorri, educada.

— Claro que lembro, Henrique.

Conversamos um pouco. Ela explica que teve uma reunião mais cedo e aproveitou para lanchar. Eu invento qualquer desculpa para justificar minha presença ali.

O silêncio começa a pesar. Então, jogo a carta:

— Te adicionei na rede social, mas ainda não aceitou…

— É que não uso muito. — responde, sem se importar.

— Bom, deve ser destino nos encontrarmos aqui. Pode me passar seu número? — arrisco, sorriso pronto.

Ela hesita, mas anota. Vitória.

Ainda assim, percebo: ela responde, mas não dá abertura. Está sempre a um passo de distância.

— Letícia, você tem namorado? — pergunto de supetão.

— Não. — firme.

— Então está saindo com alguém?

— Não. — ainda mais seca.

Insisto com uma provocação:

— Uma mulher tão bonita, inteligente e simpática… não é possível que não tenha alguém.

Ela se levanta, séria.

— Passei dois anos fora. Tem pouco mais de uma semana que voltei. Ainda nem vi meus pais. Homens são a última coisa na minha lista.

Meu estômago revira. Ela está saindo? Não posso deixar.

— Letícia, talvez eu tenha sido intrometido…

— Foi. — corta, fria.

Mas eu não desisto fácil.

— Então vamos marcar algo um dia desses. Posso chamar o Diego também, assim não fica estranho.

Ela respira fundo.

— Combine com ele e me avise. Agora, preciso ir.

E vai embora, sem olhar para trás.

Fico parado, observando-a se afastar. Sinto a frustração queimando dentro de mim.

Mas também sinto algo mais forte. Determinação.

Letícia não vai ser fácil.

Mas eu nunca gostei de caminhos fáceis.

E quando coloco alguém na minha mira… essa pessoa não escapa.

Capítulo 3 – Sombras do Passado

O som insistente do celular ecoava pelo quarto enquanto a água ainda escorria pelo meu corpo. Saí do box envolto pela fumaça quente, enrolei a toalha na cintura e caminhei até o criado-mudo.

— Ah, oi mãe! Desculpa a demora, estava no banho! — justifiquei, ofegante.

— Oi, meu filho, a benção! Como estão as coisas? A mãe tá com saudade... quando você vem pra casa? — a voz dela soava doce, mas carregada de nostalgia.

— Poxa, mãe... sei que não tenho ido ultimamente, mas com a faculdade e o trabalho fica difícil.

Ela não fazia ideia de que a faculdade estava trancada havia tempos. Também não sabia que o "trabalho pesado" era só um teatro.

— Tudo bem, filho. É só preocupação de mãe. Você trabalha e estuda tanto... mas eu me orgulho do esforço que tem feito.

Se ela soubesse...

Sou o caçula de três irmãos, o único homem. Sempre fui protegido demais. Tivemos uma infância tranquila numa cidade pequena, sustentada pelo comércio forte dos meus pais. Nunca me interessei pelo negócio da família. Preferia aproveitar a vida.

Na adolescência, comecei a perceber os olhares. Cresci, minha voz engrossou, e de repente eu chamava atenção por onde passava. Além disso, eu sempre fora educado, e isso só aumentava meu encanto.

Foi nessa época que conheci a primeira mulher que me mostrou como o mundo podia ser fácil. Uma amiga da minha mãe, elegante, madura... e perigosa. No início achei que queria me aproximar da filha dela. Que ingenuidade. O alvo sempre fora eu.

Presentes, convites, olhares sugestivos. Até que uma noite, cedi. Dividi a cama com ela e descobri o poder que eu tinha nas mãos. Ela me abriu as portas da luxúria, dos excessos e da extravagância.

Meus pais, quando descobriram, ficaram em choque. Tentaram proibir, impor regras. Nada funcionou. Até que tomaram a decisão que mudaria tudo:

— Henrique, você vai estudar fora!

Vitória ou castigo? Talvez os dois.

No início, a vida universitária me pareceu promissora. Mas logo percebi a realidade: trabalhos intermináveis, dinheiro contado, noites sem dormir. Aquele estilo de vida não era para mim.

Foi então que conheci uma colega que trabalhava num bar. Entrei como garçom. A rotina era pesada, mas o dinheiro... razoável. Até o dia em que uma cliente me olhou nos olhos e disse:

— Você é muito bonito para estar aqui.

Ela me entregou um cartão. “Me liga se quiser algo melhor.”

Pouco tempo depois, eu já estava em outro bar — exclusivo para mulheres. Ali, os sorrisos valiam mais que qualquer diploma. As gorjetas dobravam, os presentes choviam. Até que a dona me chamou:

— Henrique, as clientes gostam de você. Já pensou em ser acompanhante?

Arregalei os olhos, mas no fundo sabia que era inevitável.

— Eu topo — respondi, sem titubear.

E assim mergulhei de vez na vida fácil. Perfumes importados, roupas de marca, celulares novos a cada ano. Tinha tudo. Ou quase.

Enquanto eu vivia no luxo, em casa a realidade era outra. Meu pai adoeceu, e o tratamento consumiu o que restava da estabilidade da família. Ele morreu, e minha mãe jamais se recuperou — financeiramente nem emocionalmente. Tentei ajudá-la, mas ela nunca aceitou. Dizia que não era justo receber ajuda de um filho que estava "lutando" para sobreviver sozinho em outra cidade. Mal sabia ela a origem do meu dinheiro.

Quando atingi a idade limite para trabalhar no bar, precisei sair. Arrumei um emprego de escritório, mas era insuportável: chefe ranzinza, marmita fria, rotina sem brilho. Logo abandonei.

Voltei para a vida que sabia viver: noites, sorrisos, mulheres que me bancavam. Mas a juventude não dura para sempre. E, lá no fundo, eu sabia que precisava de algo mais.

Não queria amor, não queria compromisso. Queria alguém fixo. Uma mulher que pudesse me dar estabilidade, conforto e segurança, sem que eu precisasse estar constantemente procurando novas aventuras.

E foi então que a vi.

Letícia.

Meu novo objetivo.

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