CATARINA/NINA 25 anos solteira, fora dos padrões da sociedade.
Capítulo Um – Eu Voltei. Mas Não Pra Me Curvar.
Narrado por Nina
Eu não queria voltar.
Juro por tudo que me restou nesse mundo — e não foi muito — que eu nunca quis botar os pés aqui de novo. O morro do Alemão me engoliu uma vez, e quando consegui cuspir minha alma pra fora dele, prometi que nunca mais olharia pra trás. Mas promessa, às vezes, é só esperança disfarçada.
Minha tia, minha última referência de lar, tá morrendo aos poucos. Um câncer que ninguém quis cuidar, numa casa esquecida por Deus e pelos homens. Cheguei debaixo de chuva, com a mochila encharcada e os pés mergulhados na lama.
O portão nem fecha mais. A porta de madeira, comida por cupim, range como se chorasse também. Lá dentro?
Um quarto escuro. Um corpo magro na cama. E contas.
Contas coladas nas paredes como avisos de morte: água, luz, aluguel... E um bilhete rabiscado com garranchos dizendo “segunda é o último prazo”.
— Tia Márcia? — minha voz saiu baixa, mas rasgou tudo por dentro.
— Nina... — ela sorriu. Um sorriso doído, de quem achou que eu nunca mais ia aparecer. — Meu anjo voltou?
Abracei ela como se abraçasse a mim mesma. Como se ainda existisse algo em mim que não estivesse quebrado.
Fiquei a madrugada inteira limpando a casa, lavando roupa, acendendo vela, tentando fingir que aquilo era vida. Mas o morro não deixa ninguém esquecer quem manda.
O barulho dos passos pesados subindo a escada foi como o som de uma sentença. Um dos soldados do WL, o GV, bateu com força.
— Ô, tia! — ele gritou. — Tem recado do patrão, tá ligado? Já deu o prazo. Se não pagar, já sabe, né?
Abri a porta com a cara seca. Sem choro, sem tremedeira.
— Sou a sobrinha da Márcia. Voltei pra resolver.
Ele me olhou de cima a baixo. Riu de lado.
— Ih... a novinha voltou armada na marra? Tá achando que aqui é zona livre, é? Tua tia tá devendo pesado. Tu tem dinheiro?
— Tenho dignidade. E vou dar um jeito — respondi, olhando no olho. Errado. Nunca se encara uma cobra de frente.
GV chegou mais perto, o hálito de catuaba e maconha quase me fazendo vomitar.
— Olha, dignidade não paga dívida não, princesa. Mas se quiser resolver na moral... tem um jeitinho. — ele sussurrou, com nojo na boca e malícia nos olhos. — O patrão tá preso, mas ainda manda. Tá ligado que rola visitinha íntima. Tu vai lá, dá uma brincada com ele e a dívida evapora.
Meu estômago revirou.
— Tá achando que eu sou o quê?
— Tô achando que tu quer salvar tua tia, ué. Vai dizer que é difícil dar umazinha? Faz tua parte. O patrão é exigente, mas tu tem cara de novinha virgem... essas ele curte.
GV passou a língua nos dentes. — Vai dizer que não sonhava em ser mulher do WL? Já foi amiga dele, né? Eu lembro de tu "NiNa"
Fiquei muda. Cada palavra dele era uma lembrança enfiada na carne. E Gustavo sabia bem fazer isso nunca nos demos bem no passado então não seria agora.
Sim. Fui a melhor amiga do Wesley. Vi ele crescer no tráfico. Me apaixonei calada, chorei em silêncio quando ele escolheu a Letícia. E chorei mais ainda quando ela o traiu, entregando ele pros canas.
Agora ele tá preso. E eu tô aqui. E a vida, filha da puta que é, resolveu nos colocar de novo no mesmo caminho.
Engoli o orgulho. A vontade de socar a cara daquele verme.
— Tá. Eu vou. Pela minha tia. Só pela minha tia.
GV riu alto.
— Aí sim, novinha. Agora sim. WL vai adorar. Tendeu? Avisa tua tia que tá tudo certo. E prepara essa tua cara de cu pra sorrir lá na cadeia, hein?
Ele desceu rindo, debochado.
Fechei a porta com a mão trêmula. Minha tia, fraca, me olhava do quarto. Não disse nada. Talvez soubesse. Talvez não. Talvez só tivesse cansado demais pra perguntar.
Fui pro banheiro e vomitei tudo.
Mas jurei que, se entrasse naquele lugar, não ia chorar.
Não ia abaixar a cabeça.
Nem pro WL.
Nem pro passado.
Nem pro amor que ainda me sangra por dentro.
Eu voltei, sim.
Mas não pra me curvar.
RECEBI A MENSAGEM DE UM VAPOR, PARA TA DE PÉ AS 4:00 DA MANHÃ, CALÇA LEGGING PRETA BLUSA BRANCA, E CHINELO HAVAIANAS, E FAZER UMA MARMITA DE RANGO COM UMA SOBREMESA.
Bandido folgado do caralho wl já não era muito simpático aquela época, agora deve ter piorado.
Capítulo 2 — Onde morre a menina e nasce a mulher**
*(Narrado por Nina)*
Ele me mandou subir sem olhar pra trás.
E eu obedeci.
Meus pés tremiam enquanto cruzavam aquele corredor estreito, cheiro de mofo e suor se misturando com o medo que eu tentava engolir seco. O presídio improvisado era uma coisa de filme de terror. Um barracão com grades, concreto trincado e almas podres rondando as paredes.
E lá dentro, no fim daquele corredor escuro, estava ele.
**Wesley. WL. O dono de tudo. O homem que eu amei em silêncio. O mesmo que agora me olhava como se eu fosse só mais uma qualquer.**
A cela dele era separada, especial. Tinha cama de verdade, lençol limpo, uma TV minúscula num canto. Mas o que mais me incomodava era ele, de pé, encostado na parede, braços cruzados, sem dizer uma palavra.
Os olhos dele... Deus. Aquele olhar me despia, me julgava, me odiava.
— Tira essa roupa. — a voz dele veio firme, fria.
Engoli em seco. Olhei pra ele, sem mover um músculo.
— Tá esperando o quê, Nina? A visita não é pra bater papo. — ele cuspiu meu nome como quem cospe veneno.
— Eu não sou só isso... — sussurrei, mais pra mim do que pra ele.
— Não é, né? Mas tá aqui, pronta pra abrir as pernas pra pagar dívida. Isso tem nome. — ele se aproximou devagar, como um predador.
Meus olhos encheram d’água, mas não deixei uma lágrima cair. Eu não ia dar esse gosto pra ele.
tirei a blusa com dedos trêmulos. Tirei devagar, sentindo a pele queimar de vergonha e ódio. A calça veio em seguida. Fiquei só de calcinha e sutiã.
Ele me olhou dos pés à cabeça e soltou uma risada curta e cruel.
— Tá mais cheinha... Que que houve? Comeu a cidade inteira antes de voltar? —
— Vai se foder, WL. —
— É o que você vai fazer agora. — ele tirou a camisa e veio na minha direção.
Meu coração disparou. Eu devia estar com medo. Eu devia fugir. Mas minha pele ardia, latejava. A raiva que ele me fazia sentir se misturava com aquele desejo maldito que eu nunca consegui matar.
Ele segurou meu rosto com força, os dedos apertando minha mandíbula.
— Você sumiu, desgraçada. Quando eu mais precisei... tu fugiu. Me deixou aqui, sozinho, traído, minha irmãzinha foi embora.
— Eu...
— Cala a boca. Agora é tarde pra explicação. Agora você vai pagar.
Ele me empurrou pra cama. Meu corpo bateu no colchão, a coluna arqueou com o impacto. Antes que eu pudesse reagir, ele já estava por cima. A boca dele grudou na minha como um ataque. Nada de carinho, nada de romantismo. Só raiva e saliva e dentes batendo.
Eu gemi contra a vontade. Senti o gosto dele, senti meu peito doer. E ainda assim, meu corpo respondia.
As mãos dele rasgaram meu sutiã. Quando viu meus seios, riu de canto.
— Ainda tem cara de virgem.
— Eu sou.
Ele parou. Me olhou nos olhos.
— Tu é o quê?
— Nunca deixei ninguém me tocar.
Silêncio.
Por um momento, vi algo no rosto dele que não era raiva. Talvez surpresa. Talvez dúvida. Mas durou pouco.
Ele se levantou, pegou a carteira ao lado da cama e tirou um preservativo. Rasgou com os dentes.
— Vai perder agora. — ele disse, seco.
— Faz logo. — eu respondi.
Ele ajoelhou entre minhas pernas e puxou minha calcinha de uma vez. O ar frio bateu entre minhas coxas e me fez arrepiar.
E então ele me olhou de novo. Não com desprezo, não com pena.
Mas com fome.
Desceu a boca como um animal. Eu dei um pulo quando senti a língua dele me tocando. Ele me abriu com os dedos, me explorou como se me conhecesse por dentro.
Meu corpo tremia. Meus olhos reviraram. E então... gozei. Forte. Pela primeira vez. Gemi alto, sem vergonha.
Ele subiu e me olhou de cima.
— Nunca ninguém te fez gozar, né?
— Nunca deixei.
— Agora já era.
Ele se posicionou, me encarou por um segundo, e entrou. Devagar, mas fundo. Rasgando, queimando. Eu mordi o lábio, as lágrimas escorrendo.
Ele segurou meus pulsos acima da cabeça e começou a se mover.
Rápido. Firme. Brutal.
— Isso é o que você merece, Nina. Me deixar naquela época foi covardia.
— Cala a boca... — eu chorava e gemia ao mesmo tempo.
— Eu te amava, sua idiota. Você era minha amiga, minha confidente... Minha irmãzinha caralho e do nada sumiu. Aquele dia você deixou de ser a minha irmãzinha a minha amiga sua filha da puta.
Cada estocada parecia um castigo. Mas também era um grito de saudade. Uma ferida aberta.
Ele gozou com um gemido rouco, tremendo por cima de mim. Depois se deitou ao lado, virando o rosto.
Eu me levantei em silêncio, peguei minha calcinha e minha calça, tentando me vestir rápido.
Ele me puxou de volta pra cama com tanta força que quase tropecei nos próprios pés
— Tá indo aonde novinha
A voz dele veio cheia de escárnio
Ardida
Cruel
Era como se ele tivesse o prazer de me ver humilhada
Mas eu juro por tudo
Não ia chorar na frente dele
Não mais
Não depois do que ele já arrancou de mim naquela cela de concreto fedendo a ferrugem e testosterona
— Já deu Wesley
Deixa eu ir embora
Não quero que o guarda me veja assim
— Assim como novinha
Com essa carinha de quem foi comida pela primeira vez
Com a bucetinha latejando ainda do jeito que eu deixei
Fica tranquila
Visita íntima aqui só termina amanhã de manhã
Eu que mando aqui.
Ele levantou da cama com o corpo nu iluminado apenas pela luz fraca que vinha do corredor
E então eu vi o que tinha mudado nele
Não era só o físico
Era o olhar
Frio
Amargo
Com ódio de mim
Mas ainda me desejando
Era isso que me deixava louca
O jeito que ele me olhava como se me odiasse
Mas mesmo assim me queria mais do que tudo
— Você se acha demais né
Fingiu que me considerava né e no fim não se despediu.
E agora volta assim
Cheinha
Com cara de quem não vale mais nada
E ainda por cima virgem
Ele cuspiu as palavras como veneno
Mas cada sílaba era como um tapa no meu ego
Mesmo assim eu fiquei de pé
Nuinha
Com meu corpo cheio de marcas do que ele tinha feito comigo
Eu encarei
— Pode me odiar à vontade Wesley
Mas você gozou como se tivesse me esperando por anos, nem parece que fui a sua "irmãzinha"
Ele gargalhou
O som ecoou nas paredes e me arrepiou inteira
Ele caminhou até mim
Sem vergonha nenhuma da própria nudez
E me pegou pelos cabelos
— Gozar foi fácil
Qualquer novinha sabe abrir as pernas
Mas você Nina
Você foi minha porra da melhor amiga
E me abandonou
Sem uma explicação
Sem uma palavra
E agora volta oferecendo a buceta como se isso fosse resolver alguma coisa
— Eu não te devo explicação nenhuma
Fiz o que precisei pra sobreviver
Você tava se afundando com a Letícia e eu cansei de ver você destruindo sua vida
— Então foda-se
Já que você quer pagar com o corpo
Vamos ver quanto vale essa buceta de ex amiga
Ele me jogou de novo na cama
Me virou de bruços e mordeu minha nuca
Fez questão de me marcar
Como se eu fosse propriedade dele
Como se ele tivesse direito de me punir por ter sumido
Por ter voltado
Por ter ainda efeito sobre ele
— Wesley
— Cala a boca novinha
Agora eu que falo
Você que ouve
E se treme
Ele desceu com os dedos e enfiou dois de uma vez
Minha carne já estava sensível
Mas molhada
Molhada por causa dele
Por causa do gosto da violência nas palavras
Do toque bruto
Do cheiro do sexo e da prisão
Ele me penetrou de novo
Mais forte do que antes
Me fez gritar
Me fez gozar de novo
E depois me virou pra frente
Me chupou como se tivesse fome
Como se fosse me devorar por dentro
Quando ele terminou
Se jogou ao meu lado e puxou o lençol
— Dorme aí novinha
Porque amanhã a gente continua
Você ainda tem muito pra pagar
E eu tô com tempo
Eu virei de costas pra ele
Mas meus olhos ficaram abertos a noite toda
A cabeça fervendo
A alma em conflito
Eu odiei ele por tudo
Mas odiei mais ainda o quanto meu corpo o desejava
O quanto meu coração ainda doía por ele
E o pior
Era saber que aquela era só a primeira visita
O começo de um acordo sujo
De uma dívida que eu aceitei pagar
Com minha carne
Com meu orgulho
Com meu passado
Mas talvez
No meio disso tudo
Eu pudesse recuperar o que perdi
Ou destruir o pouco que restava entre nós
**Capítulo 3 – Irmã, amiga, esquecida (Nina)**
Desde pequena, aprendi que o abandono dói mais do que qualquer tapa.
Minha mãe me deixou no portão da casa da Márcia com o cordão umbilical ainda sangrando. Nem nome me deu. Foi minha tia que me batizou de Catarina. Mas ninguém me chama assim. No morro, sou só Nina.
Márcia era a única pessoa que realmente se importava comigo. Mesmo com pouco, ela dava tudo. A gente dividia o pão, o cobertor, e o medo de morrer a qualquer instante naquele lugar tomado pelo tráfico, pelo som das rajadas à noite, e pelo silêncio pesado da manhã seguinte.
Crescer ali não foi fácil. Ainda mais sendo a menina sem mãe, filha de ninguém.
Mas aos doze anos, minha vida mudou.
Foi quando conheci Weslei.
O moleque era a sombra de Gustavo, o dono do morro. Mandava e desmandava com aquela cara de malandro precoce. Só que quando olhou pra mim pela primeira vez, não teve deboche, nem desprezo. Teve... curiosidade.
— E aí, novinha. Mora aqui?
Respondi com o que eu sabia fazer melhor: mostrando o dedo do meio.
Ele riu.
— Gostei de tu.
Daquele dia em diante, ele passou a me seguir. Eu xingava, batia, empurrava, e ele ria. Me chamava de encrenca. E de tanto brigar, viramos melhores amigos. Quase irmãos.
Mas eu nunca quis ser irmã dele.
No começo era leve. Eu ria das besteiras dele, das rimas improvisadas que fazia, dos planos de dominar o morro.
Mas com o tempo, fui sentindo outra coisa. Um calor no peito. Uma saudade mesmo quando ele estava por perto.
Era amor. Só que eu nunca disse nada.
Porque logo apareceu **Letícia**.
Ela era tudo que eu não era. Magra, ousada, bonita de um jeito que chamava atenção até no escuro.
E ele... claro, ele se encantou.
No meu aniversário de 14 anos, eu me arrumei com cuidado. Vestido azul, cabelo preso, perfume da tia.
Sonhei com um beijo. Com uma palavra diferente. Um olhar.
Mas ele me puxou pra um canto, sorriu com os olhos brilhando e disse:
— Tu é minha irmãzinha. Eu vou te proteger pra sempre.
Eu sorri. Mas por dentro, eu morri.
Pra piorar, ele ainda completou:
— Tô a fim da Letícia. Acho que gosto dela de verdade.
Eu engoli seco. E a partir dali, comecei a me treinar pra sofrer calada. Porque o meu papel era esse: ser a irmã, a amiga, a ouvinte. A mulher invisível.
Aos 17, ele e Letícia já estavam juntos.
Ela era a futura dama do morro, e eu... só a amiga gorda, que ninguém via.
Henrique, o outro do quarteto, sempre ficava de bobeira pra cima de mim. Me chamava de “doce de leite”. Mas eu sabia que era zoeira.
GV me implicava direto, mas era só jeito dele. Não era mal.
Então veio meu aniversário de 18 anos.
Preparei um bolinho simples. Convidei os três.
A gente se reuniu, riu, zoou. GV brigou comigo como sempre, Henrique ficou rindo das nossas provocações, e Weslei… não tirava a mão de Letícia.
No fim da festa, subi pra chamar os dois que tinham ido “beber algo” lá em cima.
Abri a porta. E vi.
Os dois. Nus. Transando.
Ela montada nele, rindo alto.
Ele agarrando a cintura dela como se fosse o bem mais precioso.
Fechei a porta sem fazer barulho. E ali, decidi: eu não podia mais viver na sombra.
Fui embora do morro uma semana depois.
Disse pra Márcia que precisava estudar. Que tinha uma chance em São Paulo. Mentira. Eu só queria desaparecer.
E desapareci.
Mas o tempo… ah, o tempo faz justiça.
Anos depois, voltei por causa da minha tia.
E descobri que Letícia tinha traído Weslei, o entregado, e ainda sumido com dinheiro.
Ele ficou preso. Sem ninguém.
Sem mim.
E agora, ele não consegue me olhar sem ódio.
Porque no fundo, ele sabe: eu fui a única que realmente o amou.
E fui embora.
Porque ele me quebrou primeiro.
Mas eu voltei.
E dessa vez, não sou mais a mesma menina que chorava escondido.
Sou mulher.
Sou dor e aço.
Sou a porra da Naja do Alemão.
E vou mostrar pra ele que agora… quem escolhe sou eu.
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