NovelToon NovelToon

The Sound Between

Capítulo 1 — Primeiro encontro, silêncio quebrado

O elevador subia devagar, como se a arrastasse para dentro de uma decisão sem volta. Lily apertava a alça da mala com força. Mudar-se para Seul era mais do que uma troca de cidade — era um corte. Com o passado, com o controle sufocante da mãe, com a rotina confortável e surda da cidade pequena onde todos a tratavam como se fosse feita de vidro.

Agora, sozinha em um prédio desconhecido, tudo o que ela queria era o que nunca teve: espaço. Silêncio. Recomeço.

O elevador parou no sétimo andar. O andar dele.

Ela puxou a mala para fora, o som abafado das rodinhas ecoando pelo corredor estreito. Uma única porta aberta no fim do corredor deixava escapar uma luz baixa, dourada e morna. Lily hesitou. Respirou fundo. Caminhou.

Antes que ela pudesse bater, a porta se abriu por completo. E ali estava ele.

Kai Park.

A foto de perfil no aplicativo de aluguel compartilhado não fazia justiça. Ao vivo, ele parecia maior. Mais real. Usava uma regata preta que deixava à mostra braços musculosos e cobertos por tatuagens que pareciam dançar sob a pele. O cabelo preto, num mullet desgrenhado, caía levemente sobre os olhos — olhos escuros e fundos que a prenderam no mesmo instante.

Ele a observou por um momento longo demais, depois arqueou uma sobrancelha e falou — a voz grave, baixa, com um arrasto quase preguiçoso.

— Você deve ser Lily.

Ela apenas assentiu, engolindo em seco. Quis responder, mas as palavras travaram na garganta. Então fez o que sempre fazia quando precisava evitar explicações constrangedoras: ergueu discretamente a mão e mostrou o aparelho auditivo encaixado atrás da orelha.

Kai ficou em silêncio.

Por um segundo, pensou que ele recuaria, que mudaria de tom, como tantos já tinham feito antes. Mas ele apenas inclinou levemente a cabeça, como se processasse a informação... e aceitasse. Sem drama. Sem pena.

— Bem-vinda. — Sua voz continuava baixa, mas não fria. — Quer ajuda com a mala?

Ela negou com um gesto, tentando controlar a respiração. O apartamento atrás dele era espaçoso, com uma estética caótica: violões, cabos, caixas de som e pôsteres colados diretamente na parede. A luz âmbar que vinha de uma luminária antiga dava ao lugar um clima quase íntimo.

Lily entrou, puxando a mala. Sentiu o olhar dele ainda sobre ela, queimando suas costas. Aquilo a deixava nervosa. Mas, ao mesmo tempo... viva.

— O quarto da esquerda tem mais luz — ele disse, indicando com a cabeça. — Se quiser, é seu.

Ela agradeceu com um leve aceno. De relance, viu a tatuagem que subia do antebraço dele até o ombro, um desenho em traços finos que parecia um campo sonoro — ou uma onda de ruído.

Kai cruzou os braços, encostando-se no batente da porta com um ar pensativo, como se tentasse decifrá-la.

— Não fala muito, né? — Ele sorriu de canto, quase provocando.

Lily o encarou por um segundo. Depois andou até a bancada da cozinha, pegou uma caneta e um post-it, escreveu algo rápido e colou na porta da geladeira.

“Falo. Só do meu jeito.”

Quando ele leu, riu de verdade pela primeira vez. E nesse som — rouco, abafado, real — havia uma promessa não dita. Como se, naquele instante, os dois entendessem que o silêncio entre eles não era uma barreira.

Era o começo.

Capítulo 2 — A primeira noite

A noite caiu rápida sobre Seul, tingindo o céu com um azul profundo, quase negro. Dentro do apartamento, a luz quente das lâmpadas não disfarçava a sensação de estranhamento que ainda pairava entre os dois. Era o tipo de silêncio carregado — não de constrangimento, mas de expectativa.

Lily largou a mala no quarto, arrumou rapidamente as roupas no armário e depois sentou-se na beira da cama, tentando processar tudo. O som da cidade era abafado pelas janelas, mas mesmo em silêncio, o apartamento vibrava. Talvez fosse a presença dele. Ou a dela.

Quando voltou à sala, Kai estava sentado no chão da sala, com as costas encostadas no sofá e o celular nas mãos. A luz azulada da tela iluminava os traços do seu rosto: as sobrancelhas levemente franzidas, o queixo quadrado, a boca entreaberta. Lily demorou um pouco mais do que gostaria observando-o.

Ele ergueu o olhar, como se sentisse os olhos dela sobre si. Sorriu de canto e ergueu o celular.

— Pizza? — perguntou, levantando uma sobrancelha.

Lily assentiu. Ele virou o celular para ela, mostrando as opções. Ela aproximou-se, apontou uma com frango, queijo e batata-doce. Kai fez um som de aprovação com a garganta, como se dissesse “boa escolha”.

Enquanto esperavam, ele colocou um disco para tocar em um aparelho de vinil antigo. A música era lenta, melódica, com uma guitarra arranhando notas em tom melancólico. Lily reconheceu a banda — uma das faixas mais obscuras de Chase Atlantic.

Ela foi até a cozinha, abriu um armário, pegou dois copos. Kai observava cada movimento com atenção quase devota, como se a estudasse em silêncio. Não era o olhar invasivo que ela tanto odiava. Era curioso. Cauteloso.

— Você sempre foi assim? — ele perguntou de repente. A voz era baixa, carregada de algo que Lily não soube decifrar.

Ela franziu a testa, inclinando a cabeça em um gesto que dizia: “Assim como?”

— Quietinha. — Ele sorriu de novo. — Feita de silêncio.

Ela deu de ombros. Depois apontou para o aparelho auditivo, depois para o coração. Fez um gesto como se as duas coisas estivessem ligadas.

Kai assentiu, sério agora. Havia uma honestidade nele quando ficava em silêncio que Lily começava a entender. Talvez fosse ali que eles se encontravam: no que não precisava ser dito.

A pizza chegou. Comeram sentados no chão, em frente à mesinha de centro. Ele evitava falar muito, como se não quisesse sobrecarregá-la. Lily agradecia por isso. Conversaram com gestos, olhares, expressões. Em algum momento, ele colocou um bloco de post-its entre os dois. Ela pegou um e escreveu:

“Essa música é sua?”

Kai olhou o papel, depois para ela. Passou a mão no queixo, pensativo, antes de responder em outro post-it:

“Sim. Mas escrevi antes de saber que você existia.”

O clima mudou.

Por alguns segundos, o silêncio pareceu mais denso do que antes. Lily sentiu o estômago revirar — não pela comida, mas pela presença dele. Era desconfortável sentir-se tão visível diante de alguém que ela mal conhecia.

Mas ele a via. E isso a assustava.

Depois de comer, ela se levantou e foi até a pia lavar os copos. Ele ficou parado na sala, observando-a de novo. Ela sentiu, sem precisar olhar. Estava ficando bom nisso — em sentir Kai sem precisar ouvi-lo.

Quando se cruzaram no corredor, ele fez um gesto para ela esperar. Pegou uma caneta preta e rabiscou algo num post-it, depois colou na porta do quarto dela.

“Se precisar de qualquer coisa… até mesmo silêncio, me chama.”

Ela sorriu sozinha, já com a porta quase fechada. E soube, naquele instante, que dormir sob o mesmo teto que Kai Park seria mais complicado do que esperava.

Porque ele não fazia barulho.

Ele invadia no silêncio.

Capítulo 3 — Pulso acelerado

A madrugada chegou abafada. Lá fora, o vento quente fazia as folhas baterem nas janelas como dedos impacientes. O apartamento, no entanto, permanecia quieto. Lily rolava na cama, os lençóis embolados, o sono leve demais para levá-la.

Um som baixo, quase imperceptível, quebrou o silêncio. Algo entre um suspiro e um gemido abafado. Lily sentou-se devagar, o coração batendo mais rápido. Ajustou o aparelho auditivo e prendeu a respiração.

Havia outro som.

O som de alguém tentando respirar — falhando.

Saiu do quarto com passos leves, os pés descalços contra o chão frio. A luz da sala estava apagada, mas uma faixa fraca escapava pela porta entreaberta do quarto de Kai.

Ela empurrou devagar.

Kai estava encolhido no canto da cama, os joelhos puxados contra o peito. O rosto molhado de suor, o peito arfando como se o ar estivesse em falta. As mãos tremiam. Os olhos estavam fechados, mas se moviam sob as pálpebras, como se fugissem de algo invisível.

Lily hesitou. Depois se aproximou, ajoelhando-se ao lado da cama. Tocou o ombro dele com cuidado.

Kai se sobressaltou. Abriu os olhos, perdidos. Por um segundo, parecia não reconhecê-la. As pupilas dilatadas, a respiração descompassada. Os dedos apertando os lençóis com força.

Ela ergueu as mãos rapidamente e gesticulou com calma:

“Você está seguro.”

“Está tudo bem agora.”

Ele piscou várias vezes, como se voltasse para o presente. Os olhos, antes em frenesi, encontraram os dela. E foi ali que o medo desabou. Não o medo de algo externo. Mas o medo de ser visto.

Lily sentou-se ao lado dele, com calma, sem dizer nada. Apenas ficou ali, presente.

Kai passou as mãos no rosto, tentando conter o tremor.

— Foi só um ataque... acontece às vezes — murmurou, a voz rouca de quem quase se afogou por dentro.

Ela pegou o bloco de post-its na mesinha de cabeceira e escreveu:

“Pesadelos?”

Ele assentiu.

Depois olhou para ela como se tivesse vergonha de tê-la deixado ver aquilo. De ser frágil. Mas ela não desviou o olhar. Nem julgou. Pegou outro post-it:

“Ficar sozinho é pior.”

Ele leu. Depois esticou o braço devagar e segurou a mão dela — quente, pesada, pedindo por algo que ele não sabia nomear. E Lily não recuou.

Deitou-se ao lado dele na cama estreita. Ficaram em silêncio. Não um silêncio desconfortável. Mas um silêncio carregado de presença. De cuidado.

Kai virou-se para o lado, os olhos ainda abertos.

— Eu nunca sei como desligar... minha cabeça, minha música... tudo parece alto demais — disse, baixo, quase para ele mesmo.

Lily estendeu a mão e encostou no peito dele, acima do coração. O toque era leve, mas firme.

Ele cobriu a mão dela com a sua.

Não disseram mais nada.

Ficaram assim até o ritmo da respiração dele desacelerar. Até o peso da noite diminuir. Até, enfim, o sono vencer.

E quando o sol começou a tocar a janela com seus primeiros fios dourados, Lily ainda estava lá — os olhos abertos, o coração em alerta.

Kai dormia. Calmo.

E ela, sem perceber, também estava diferente.

Porque às vezes, o que acorda a gente... é o que o outro esconde no escuro.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!