"Te Possuirei na Escuridão"
O Som dos Mortos
Autor
Bom, Nessa história vamos ter um BL na pegada terror.
Autor
Que pega MUITO no psicológico.
Autor
Tudo de Ruim que existe vai cair por aqui, então estejam avisados.
A chuva caía pesada, cortando a madrugada como navalhas geladas. Ethan corria pela estrada de terra com a respiração descompassada, os tênis encharcados afundando no barro a cada passo.
Ele não sabia exatamente de quem — ou do quê — estava fugindo. Apenas sabia que não podia parar.
O coração pulsava como se fosse explodir. O vento gelado castigava seu rosto e a escuridão parecia fechar-se ao redor.
De repente, algo rompeu as nuvens: uma estrutura enorme surgiu à sua frente. Um prédio antigo, quase em ruínas, com janelas quebradas como bocas abertas.
Um sanatório… ou o que restava de um.
Havia lendas sobre aquele lugar, Ethan lembrava vagamente.
Gente que dizia ter ouvido gritos ao passar por ali, vultos nas janelas.
Mas, naquele momento, qualquer abrigo parecia melhor do que a mata escura atrás dele.
Quando alcançou os portões enferrujados, ouviu um clique. Luz. Uma câmera.
Ethan
— Quem está aí?! — Ethan gritou, a voz falhando pelo frio.
Um vulto surgiu debaixo da marquise.
Um garoto, talvez da mesma idade que ele.
Pele clara refletindo a luz da câmera, cabelos claros colados ao rosto pela chuva. Ele ergueu a lente em direção a Ethan novamente, clicando outra foto.
Noah
— Relaxa, eu não sou assombração — disse o estranho, com um meio sorriso que não combinava com o lugar. — Só estou fotografando.
Ethan avançou dois passos, hesitante.
Ethan
— Fotografando? Aqui? Às duas da manhã? Você é maluco?
O garoto deu de ombros, segurando firme a câmera.
Noah
— Maluco ou curioso. Esse lugar é famoso… dizem que ninguém sai daqui se entrar à noite. — Ele fez uma pausa, o olhar percorrendo Ethan de cima a baixo. — E você? Está fugindo de quê?
Ethan abriu a boca para responder, mas um barulho interrompeu.
Um rastejar pesado veio de dentro do prédio, como se algo arranhasse o chão.
Eles se entreolharam, e o silêncio seguinte foi sufocante.
Ethan
— Deve ser um animal — disse Ethan, mais para si mesmo do que para o outro.
Noah
— Ou não — o garoto respondeu, a voz baixa. Ele guardou a câmera no pescoço e estendeu a mão. — Noah. E você?
Ethan hesitou antes de apertar a mão dele, mas algo nos olhos de Noah o prendeu por um instante.
Eram intensos… como se observassem mais do que mostrassem.
Um trovão fez a terra tremer. As portas do sanatório se abriram com um rangido longo, embora nenhum deles tivesse tocado nelas.
Corrente que as prendia estava caída no chão, como se tivesse sido cortada.
Ethan
— Isso não é um bom sinal — Ethan murmurou
Noah sorriu, um sorriso quase… excitado.
Antes que Ethan pudesse protestar, Noah atravessou o portão e entrou no prédio.
Ethan respirou fundo, amaldiçoando-se em silêncio, e seguiu atrás.
O interior do sanatório estava apodrecido.
O cheiro de mofo e ferrugem era tão forte que chegava a arder na garganta.
Paredes descascadas, portas pendendo das dobradiças, sombras longas que se moviam com cada raio de luz que atravessava as janelas quebradas.
Eles andavam lado a lado, Noah com a câmera pendurada no peito, Ethan segurando firme uma barra de ferro que encontrou no chão.
Ethan
— Você parece à vontade demais — Ethan comentou, a voz baixa.
Noah
— Lugares assim me fascinam — Noah respondeu. Ele olhou para Ethan e sorriu de um jeito lento, como se gostasse de provocá-lo. — E você… parece que viu um fantasma.
Ethan
— Não vi fantasma nenhum.
Uma risada ecoou. Não deles. Não vinha de lugar nenhum específico. Apenas… estava ali.
Ethan congelou, o coração batendo no ouvido.
Noah girou devagar, a câmera em mãos, e clicou uma foto na direção do corredor escuro.
Quando o flash iluminou o lugar, Ethan jura ter visto uma figura atrás deles. Alta, magra demais, de cabeça inclinada. Mas, quando a luz apagou, não havia nada.
Ethan
— Você viu? — Ethan sussurrou.
Noah não respondeu. Aproximou-se dele, o rosto muito perto, os olhos negros brilhando como se sentisse prazer naquilo.
Noah
— Quero ver de novo — disse, quase num sussurro.
Ethan recuou um passo, mas Noah segurou seu pulso com força surpreendente.
O toque foi firme, quente, e fez Ethan estremecer de uma forma que não tinha nada a ver com o frio.
Ethan
— Me solta — disse, tentando parecer firme.
Noah
— Se eu soltar, você vai embora. E eu não quero ficar sozinho — Noah respondeu, a voz baixa, quase rouca. — Aqui dentro, a gente precisa um do outro.
Um som metálico ecoou, como correntes arrastadas pelo chão.
A temperatura pareceu despencar.
Ethan olhou para trás e, por um instante, jurou ver algo rastejando no teto, observando-os com olhos brancos e vazios.
Ethan
— Temos que sair daqui — disse Ethan, mas sabia que a porta pela qual entraram não estava mais ali. Havia apenas uma parede.
Noah sorriu de novo, sem nenhum traço de medo. Ele puxou Ethan pela mão, mais próximo, os lábios quase tocando sua orelha quando falou:
Noah
— Agora não tem saída, Ethan.
E, por um instante, Ethan sentiu que o verdadeiro perigo podia não estar apenas nas sombras do sanatório… mas na pessoa que estava ao seu lado.
Ethan (22 anos) – Um rapaz introspectivo, cético e traumatizado por um passado violento com a família. Ele não acredita em nada sobrenatural, mas carrega cicatrizes psicológicas profundas. É inteligente, mas frio e desconfiado.
Noah (20 anos) – Carismático, mas cheio de segredos. Trabalha como fotógrafo e é obcecado por lugares amaldiçoados. Parece corajoso, mas esconde um lado sombrio que o torna imprevisível.
O Homem de Preto
O corredor parecia não ter fim. O ar estava tão denso que Ethan sentia dificuldade para respirar.
Cada passo que dava ecoava como um trovão no vazio, e as sombras nas paredes pareciam se mover sozinhas. Ele apertava a barra de ferro com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.
Ethan
— Não faz sentido — sussurrou, a voz rouca.
Ethan
— A saída estava ali… eu vi a maldita porta!
Noah, caminhando um passo à frente, olhou por cima do ombro com uma calma que beirava o irritante.
Noah
— É o lugar, Ethan. Ele se dobra sobre si mesmo. — Seu tom era quase… interessado. — Como se não quisesse que a gente saísse.
Ethan parou de repente, uma tontura forte subindo por sua cabeça.
O ar parecia se fechar em volta dele. Imagens começaram a vir, rápidas demais: o rosto do pai gritando, a mãe caída no chão, sangue na parede. Ele apertou os olhos e se curvou, o estômago se contraindo violentamente. Vomitou no canto, os soluços misturados ao gosto ácido na boca.
Ethan
— Merda… — sussurrou, tremendo.
Noah parou ao lado dele, agachando-se devagar. Seus dedos frios tocaram a nuca de Ethan num gesto quase íntimo, forçando-o a levantar a cabeça. O olhar de Noah era sereno, quase hipnotizante.
Noah
— Respira. — A voz dele era baixa, firme. — Isso tudo quer quebrar você. Não deixa.
Ethan afastou a mão dele com um tapa fraco.
Ethan
— Como você consegue ficar tão calmo? — gritou, o peito arfando. — Isso não é normal!
Noah apenas sorriu, um sorriso lento e perturbador.
Noah
— Quem disse que eu sou normal?
Antes que Ethan pudesse responder, um barulho pesado ecoou atrás deles. Passos. Arrastados, firmes. Algo grande vinha se aproximando.
Noah
— Corre — Noah disse, com uma tranquilidade absurda, e então o puxou pelo braço.
Eles correram pelo corredor estreito, desviando de portas caídas e pedaços de madeira podre.
Ethan olhou para trás por um segundo… e quase tropeçou.
Uma figura enorme vinha atrás deles. Um homem muito alto, vestido dos pés à cabeça de preto, com um capuz cobrindo o rosto. Ele não corria. Ele caminhava. Mas a cada passo, parecia encurtar a distância entre eles.
Ethan
— Que porra é essa?! — Ethan gritou.
Noah
— Alguma coisa que não quer que a gente saia daqui — Noah respondeu, virando por um corredor lateral.
Os dois entraram em uma ala cheia de quartos antigos. As camas enferrujadas estavam cobertas por lençóis mofados.
Ethan ouviu algo cair atrás deles, um estrondo como se o homem tivesse destruído uma porta com o próprio corpo.
Ethan
— Não vamos conseguir escapar! — Ethan se apoiou na parede, o peito subindo e descendo rápido.
Noah caminhou até ele, aproximando o rosto devagar. Mesmo com o barulho da perseguição, sua voz era um sussurro:
Noah
— Vamos. Mas você precisa confiar em mim.
Antes que Ethan pudesse protestar, Noah puxou-o de novo e apontou para uma parede rachada no fim do corredor.
Ethan
— É concreto, idiota! — Ethan gritou.
Noah
— Acha que eu me importo? Arromba. Agora!
Eles começaram a golpear a parede com a barra de ferro e tudo que tinham em mãos.
Cada pancada parecia ecoar pelo prédio inteiro. O homem de preto se aproximava. Já podiam ouvir sua respiração — pesada, gutural.
Ethan olhou para trás e viu a mão enorme se estendendo em direção a eles.
Noah
— Mais forte! — Noah gritou.
Com um último golpe desesperado, a parede cedeu. Um buraco estreito se abriu.
Noah empurrou Ethan primeiro e, em seguida, passou por ele. O ar frio da noite os atingiu como uma lâmina.
Quando se viraram, o homem de preto estava parado do outro lado da parede, imóvel. Ele apenas os observava, o rosto oculto, como se estivesse esperando.
Ethan caiu de joelhos na grama molhada, tremendo. Noah ficou ao lado dele, ofegante, mas ainda com aquele sorriso estranho.
Ethan
— Você… você viu aquilo? — Ethan perguntou, a voz fraca.
Noah olhou para o buraco na parede, depois para Ethan.
Ajoelhou-se ao seu lado e aproximou o rosto, tão perto que Ethan pôde sentir sua respiração quente.
Noah
— Vi. E vou te contar um segredo… — Noah roçou os lábios no ouvido dele. — …eu gostei.
Ethan o empurrou, o coração disparado. Mas parte dele… parte dele sentiu que Noah não estava falando só do lugar.
Gotas grossas batiam no rosto de Ethan como pequenas agulhas. Ele se levantou com dificuldade, sentindo o corpo inteiro tremer – parte pelo frio, parte pelo que acabou de viver.
Ethan
— A gente precisa sair daqui agora — disse Ethan, a voz rouca. — Antes que… que aquela coisa apareça de novo.
Noah, ainda ajoelhado na grama molhada, ergueu os olhos para ele. Por um instante, parecia estar considerando ficar ali.
Mas então, com um aceno lento, levantou-se e passou a mão molhada pelos cabelos.
Ethan não esperou mais nada. Começou a correr pela mata, sentindo os galhos e folhas encharcadas arranharem seus braços.
Noah o seguia, passos leves, como se estivesse mais curioso do que assustado.
O som da chuva abafava tudo – o vento, os trovões, até os próprios pensamentos.
O tempo parecia distorcido, mas finalmente a vegetação começou a rarear. As luzes de um posto de gasolina brilharam ao longe como um farol. Ethan sentiu um nó na garganta.
Ethan
— Ali! — gritou, puxando Noah pelo braço.
Eles atravessaram a estrada e invadiram o posto, ensopados, cobertos de lama e arranhões.
Dois atendentes estavam ali, um rapaz mais velho e uma mulher com expressão cansada. Ambos olharam para eles com espanto.
Atendente
— Pelo amor de Deus, vocês tão bem? — a mulher perguntou, já pegando algumas toalhas do balcão.
Ethan
— A gente… a gente precisa ligar pra alguém nos buscar — disse Ethan, tentando recuperar o fôlego. — Por favor.
O atendente mais velho fez que sim, apontando para um telefone atrás do balcão.
Atendente
— Claro. Podem usar. E toma… — ele entregou uma toalha para Ethan e outra para Noah. — Vocês parecem ter passado por um inferno.
“Mal sabe ele”, pensou Ethan, enxugando o rosto rapidamente antes de discar o número.
O som do telefone chamando pareceu durar uma eternidade, até que uma voz conhecida atendeu.
Ethan
— Luck? — Ethan respirou fundo. — Sou eu. Eu preciso que você venha me buscar agora. É sério.
Do outro lado da linha, a voz de Luck ficou tensa.
Luck
— O que aconteceu? Onde você está?
Ethan olhou em volta, tentando encontrar algum nome ou referência.
Ethan
— Um posto de gasolina na rodovia velha, depois da curva da serra. Você vai ver o letreiro, é o único lugar aberto por aqui.
Luck
— Ethan… você tá bem?
Ele olhou para Noah, que estava sentado em uma das cadeiras do posto, a toalha largada no colo enquanto mexia calmamente na câmera.
Ethan
— Eu… tô vivo. É o que importa. Consegue vir?
Luck
— Já estou a caminho. Aguenta firme.
Ethan fechou os olhos por um instante, sentindo um alívio que quase doía.
Ethan
— Obrigado, Luck. — E desligou.
Quando se virou, encontrou Noah do mesmo jeito: relaxado, como se estivesse em uma cafeteria e não num posto de gasolina no meio da madrugada, depois de quase morrer.
Ele olhava para as fotos que tinha tirado dentro do sanatório, e um grande sorriso crescia em seu rosto.
Ethan se aproximou devagar, a toalha apertada entre as mãos.
Ethan
— Você tá sorrindo? — perguntou, quase sem acreditar.
Noah levantou os olhos, os cantos da boca ainda erguidos de forma perturbadora.
Noah
— Olha isso, Ethan… — Ele virou a tela da câmera. As imagens estavam distorcidas, cheias de vultos que não haviam visto no momento. Rostos embaçados, sombras grotescas próximas demais. — É lindo.
Ethan sentiu um arrepio subir pela espinha.
Ethan
— Lindo? Você tá brincando comigo, né?
Noah riu baixo, fechando a câmera e encarando Ethan com aquele olhar intenso que sempre parecia atravessá-lo.
Noah
— Talvez eu só veja beleza em coisas que te assustam.
Ethan desviou o olhar, sentindo a respiração pesar. Do lado de fora, a chuva parecia cair ainda mais forte.
Sinais na Carne
A chuva diminuiu, mas o céu ainda estava coberto por nuvens densas e escuras quando o carro preto de Luck encostou no posto.
Ethan saiu correndo em direção ao veículo assim que o viu, com um alívio genuíno estampado no rosto pela primeira vez em horas.
Luck saiu do carro imediatamente, o rosto tenso
Era mais velho, mais forte, com um olhar firme e protetor que sempre carregava desde que conheceu Ethan.
Luck
— Você tá bem?! — ele segurou o rosto de Ethan com as duas mãos, avaliando os machucados, os olhos fundos, o cansaço. — Que porra aconteceu com você, moleque?!
Ethan
— Longa história… — Ethan respondeu, tentando sorrir, mas era um sorriso pálido. — Tô vivo. É o que importa.
Luck olhou por cima do ombro de Ethan, notando Noah pela primeira vez.
Noah estava parado perto da entrada do posto, encostado na parede com a câmera pendurada no pescoço, o cabelo molhado colado na testa, e um sorriso enigmático nos lábios.
Luck o encarou com um olhar instintivamente protetor, como se algo naquele garoto acendesse um alarme silencioso dentro dele. Ainda assim, tentou ser cordial.
Luck
— Você é o… amigo que estava com ele?
Noah
— Noah — ele respondeu, sem se mover.
Luck
— Valeu por ajudar meu irmãozinho. Quer uma carona também?
Noah inclinou levemente a cabeça.
Noah
— Não costumo aceitar caronas de estranhos.
Luck
— Então somos dois — disse Luck, sem esconder o tom direto.
Mas antes que a tensão aumentasse, Ethan interveio:
Ethan
— Anda logo, Noah. Vai chover de novo. Aceita.
Noah olhou para Ethan, e por um momento seus olhos pareciam queimar em silêncio. Então assentiu com lentidão.
O carro seguiu pela estrada sinuosa, os pneus cortando a água acumulada.
Ethan sentou no banco da frente ao lado de Luck, enquanto Noah permaneceu no banco de trás, em silêncio, observando as fotos na câmera.
Luck
— Agora fala — disse Luck, lançando um olhar rápido para Ethan. — Que inferno foi esse?
Ethan
— A gente entrou num sanatório abandonado. Tinha alguma coisa lá dentro. Não sei explicar. Portas sumiam. Corredores mudavam de lugar. Um homem… de preto… perseguiu a gente.
Luck soltou uma risada curta.
Luck
— Cês tavam chapados?
Ethan
— Não, porra. Eu tô falando sério. — Ethan se virou, irritado. — Eu vomitei. Achei que ia morrer.
No banco de trás, Noah sorria. Passava calmamente as fotos uma a uma. Algumas estavam borradas. Outras mostravam Ethan em momentos que ele nem lembrava ter sido fotografado. Mas então...
A imagem era de um corredor escuro, tirada segundos antes da parede ser arrombada. No canto da foto, parcialmente oculto pela sombra, havia algo… grotesco.
Uma criança, sentada, a pele pálida e rachada, os olhos negros como buracos. Da boca escancarada, uma cobra fina e comprida saía, se arrastando pelo chão. A expressão da criança era vazia, morta.
Noah observou aquilo por longos segundos, os olhos fixos. E então, lentamente, um sorriso enorme e silencioso surgiu em seu rosto.
Ele não disse nada. Apenas apagou a imagem.
Quando chegaram na frente de uma casa antiga, com janelas cobertas por cortinas pesadas e um portão rangendo com o vento, Noah abriu a porta do carro.
Ethan
— Ei. Me avisa se precisar de algo.
Noah hesitou por um segundo.
Noah
— Me passa seu número.
Ethan o encarou. Por um instante, quase disse "não". Algo no peito o alertava.
Mas havia também uma sensação estranha… como se já estivesse preso a Noah desde o momento em que o viu.
Ethan
— Tá. — Ele passou o número.
Noah
— Obrigado pela carona. — Ele olhou para Luck com aquele mesmo sorriso carregado de algo indefinível. — E por confiar em mim.
Luck não respondeu. Apenas observou Noah entrar na casa, fechando o portão atrás de si.
No carro, o silêncio se estendeu por minutos.
Luck
— Esse cara não é normal — disse Luck, por fim.
Ethan
— Eu sei — Ethan respondeu, encarando o vazio. — Mas nada na minha vida é.
Horas depois, Ethan mergulhava o corpo na água quente da banheira, deixando os músculos afrouxarem. A luz fraca do banheiro criava sombras nas paredes, e o vapor encobria o espelho.
Ele fechou os olhos, tentando apagar as imagens. A risada no corredor. O homem de preto. As portas desaparecendo. Noah sorrindo… como se estivesse exatamente onde queria estar.
Seu peito doía. Não de medo, mas de algo mais profundo… uma sensação de que havia cruzado uma linha invisível, e que a volta não era mais possível.
Quando saiu da banheira e se jogou na cama, o corpo exausto finalmente cedeu ao sono.
Mal sabia ele… que aquela noite tinha sido apenas o primeiro passo.
Sua vida estava prestes a se tornar uma tortura lenta.
No outro dia O despertador tocou com um som seco, mas Ethan já estava acordado. Tinha os olhos abertos há minutos, encarando o teto, sentindo uma pressão incômoda no pescoço.
Ao se levantar, foi direto ao espelho do banheiro.
A primeira coisa que viu foi a pequena marca no lado do pescoço — como uma queimadura ou… uma mordida? Era quase invisível, mas estava ali, vermelha, como se tivesse sido deixada por algo quente demais.
Ele tocou com os dedos e sentiu uma leve ardência.
Em seguida, tirou a camiseta e olhou os arranhões profundos nos braços e nas costelas, ainda marcados da noite anterior. Não eram imaginários. Eles doíam.
Jogou água no rosto, respirou fundo e tentou se concentrar.
Precisava ir pra escola. Precisava agir como se a vida ainda fosse normal.
Vestiu um casaco escuro, escondendo os machucados, e saiu com passos rápidos, como se o simples ato de caminhar pudesse afastar tudo que ainda o perseguia.
O pátio da escola estava barulhento, cheio de vida e vozes.
Era como se o mundo não tivesse ideia do que acontecia. E talvez não tivesse mesmo.
Ethan viu Kiria primeiro: baixinha, cabelo amarrado num coque torto, óculos vermelhos e um casaco dois números maior que ela. Estava encostada na mureta comendo salgadinhos e soltando piadinhas para um grupo de calouros que passava.
Kiria
— Se vocês forem reprovados, podem repetir tudo… menos a roupa, pelo amor de Deus! — gritou, fazendo uma careta.
John apareceu em seguida, encostando ao lado dela com uma expressão cansada, segurando um café.
Jonh
— Kiria, já é 8h da manhã, pode esperar pelo menos até o segundo período pra começar a ofender as pessoas?
Kiria
— Amado, é pra isso que eu vim — respondeu ela, dando um tapa no ombro dele.
Dia chegou por último, descendo de um carro com um salto mais caro que a mensalidade da escola. Era uma patricinha com personalidade, e sabia disso. Mas por trás do gloss e da bolsa de grife, ela era mais amiga do que muita gente que se dizia “real”.
Dia
— Por que eu sinto que acordei num episódio de "American Horror Story: Ensino Médio"? — disse ela, se aproximando com os olhos semicerrados.
Jonh
— Porque a cafeteria só serve café queimado e o banheiro tem um cheiro de morte — respondeu John.
Ethan
— Ei — disse Ethan, se aproximando do grupo. — Preciso contar uma coisa.
Kiria
— Ih, lá vem fanfic — murmurou Kiria, sorrindo.
Ethan começou a contar. Tudo. A chuva, o sanatório, Noah, o homem de preto, o poste de gasolina… os arranhões.
Ethan
— Eu tô falando sério! Eu tenho marcas! — ele insistiu.
Jonh
— Cê tem certeza que não caiu da escada e sonhou isso tudo?
Dia olhou pra ele com uma expressão mais curiosa do que cética.
Dia
— Ethan… você não usou nada, né? Nenhuma substância…?
Ethan
— Eu não tava drogado, droga! — disse ele, frustrado.
Kiria mordeu o lábio, tentando segurar a risada.
Kiria
— Desculpa, mas “homem de preto” me lembrou daquele meme do Zé Gotinha.
Ethan revirou os olhos. Sabia que eles não entenderiam.
O sinal tocou. As aulas começaram. Mas Ethan não conseguia prestar atenção. A sensação de estar sendo observado persistia, cada sombra no canto da sala parecia um vulto. Até que, no intervalo, ele foi até o bebedouro.
O corredor estava… estranhamente vazio.
Não havia passos. Vozes. Nada. Apenas o som metálico do gotejar contínuo da água.
Ele se aproximou do bebedouro, apertou o botão. A água jorrou fria, normal. Mas havia algo errado. Algo no ar.
Foi quando ele parou, sentindo um calafrio subir pela espinha. Silêncio demais. Atmosfera errada.
Um grande arranhão no metal, logo atrás do bebedouro. Como se garras raspassem no ferro.
Ethan prendeu a respiração. Não olhou. Não correu. Apenas se virou e voltou lentamente pelo corredor, suando frio.
Quando entrou na sala, o barulho voltou ao normal. As vozes dos colegas, o som da lousa. Como se nada tivesse acontecido. Mas seu celular vibrou no bolso.
Noah
[NOAH] – “Você está livre hoje à noite? Quero te ver.”
Ethan ficou parado, encarando a tela.
Seu coração bateu mais rápido.
Algo dentro dele dizia pra não responder. Mas outra parte… aquela que ainda carregava a marca no pescoço… queria vê-lo de novo.
E naquele instante, sem saber o porquê, Ethan sentiu que a tortura real… estava apenas começando
Idade: 19.
Personalidade: Debochada, energética, leal.
Acredita em: Espíritos, teorias da conspiração e que o mundo é uma piada mal contada.
Idade: 20.
Personalidade: Vaidosa, direta, protetora.
Acredita em: Destino, energias e que tudo tem um preço — até o amor.
Idade: 20
Personalidade: Cético, irônico, observador.
Acredita em: Nada até que se prove. Ciência acima de tudo — exceto quando o silêncio é estranho demais.
Idade: 22
Personalidade: Protetor, sarcástico, desconfiado.
Acredita em: Que tudo tem dois lados — até as pessoas. E que confiar demais é o primeiro passo pra se ferrar.
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