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O Segredo de Bluberry

Capítulo 01."Primavera no Coração de Bluberry."

Era o primeiro dia de primavera, e Fiama acordou antes mesmo que o sol se erguesse no horizonte. O quarto, ainda envolto em sombras suaves, tinha aquele perfume fresco de flores silvestres que o vento trazia pela janela entreaberta. Ao abrir os olhos, seu coração pulsou com uma ansiedade doce e vibrante: finalmente havia chegado o dia da reinauguração do Bluberry Hotel — o lugar onde tantas memórias estavam guardadas, onde o passado de sua família se misturava ao seu próprio destino.

Fiama sentou-se na cama, respirando fundo, como se quisesse absorver cada som e cada sensação daquele amanhecer especial. Do lado de fora, os primeiros raios de sol tingiam o céu de tons dourados e rosados, iluminando a silhueta imponente da montanha que se erguia ao fundo, coroada por florestas verdejantes. Uma neblina suave dançava sobre as copas das árvores, como se a natureza estivesse saudando o início de uma nova estação. Era primavera — e não apenas no calendário, mas no coração de Fiama.

Durante meses, ela havia trabalhado incansavelmente para que aquele dia chegasse. Cada detalhe do hotel, cada peça de mobiliário, cada quadro pendurado nas paredes carregava um pedaço da sua alma. Desde a morte de seu pai, Eduardo, aquele lugar se tornara ainda mais especial. O Bluberry não era apenas um hotel; era o legado da família, a herança que pulsava viva nas paredes de pedra e madeira, no aroma de café fresco, no calor das lareiras acesas durante as noites frias.

Fiama se levantou devagar, caminhou até a janela e abriu as cortinas. A vista era arrebatadora. O céu, límpido e salpicado de nuvens delicadas, contrastava com o verde exuberante da montanha.

Lá em cima, no topo já era possível ver alguns movimentos: trabalhadores ajustando os últimos detalhes da reinauguração do teleférico, que seria reativado naquela manhã. Fiama sorriu. O teleférico, com seus cabos reluzentes e cabines modernas, era um dos maiores atrativos da cidade, subindo 1.700 metros até o ponto mais alto da montanha. Dali, a vista panorâmica era simplesmente de tirar o fôlego — uma pintura viva de campos floridos, do rio serpenteando pelas margens e das casas com telhados coloridos.

Além do hotel e do teleférico, a prefeitura havia preparado uma celebração para toda a cidade. Uma nova rampa de paragliding seria inaugurada, e já estava programado um passeio de balões que coloririam o céu com tons vibrantes de vermelho, amarelo e azul. Haveria também a inauguração do “Café das Alturas”, um espaço aconchegante no topo da montanha, construído com vidro e madeira rústica, de onde se poderia saborear um bom café enquanto se contemplava a imensidão da paisagem. Fiama suspirou, sentindo que aquele dia seria memorável.

Enquanto se vestia, Fiama sentiu um nó na garganta. Não havia como não lembrar do pai. Eduardo sempre sonhara em ver o Bluberry renovado, cheio de hóspedes e vida. Ele costumava dizer que cada detalhe daquele hotel era uma forma de abraçar os visitantes, de fazê-los sentir-se em casa. Fiama herdara dele a paixão por cuidar das pessoas, por transformar cada estadia em uma experiência única.

Desde a morte dele, haviam sido anos de luta. Houve dias em que ela pensou em desistir, e começar uma nova vida em outro lugar. Mas, no fundo, a voz do pai sempre ecoava em sua mente, dizendo para persistir. “Bluberry é um sonho que deve continuar”, ele dizia. E Fiama decidiu que seria ela a responsável por manter esse sonho vivo.

Hoje, ao ver as reservas já feitas para o dia da reinauguração, Fiama sentiu um orgulho indescritível. Casais haviam escolhido passar o fim de semana no hotel, famílias inteiras reservaram quartos para aproveitar as novidades, e até turistas de outras cidades vinham exclusivamente para conhecer o novo teleférico e os passeios de balão.

Vestindo um vestido leve, cor de creme, com delicadas flores bordadas — uma peça que sua mãe, Daiana, ajudou a escolher —, Fiama prendeu os cabelos num coque baixo, deixando algumas mechas soltas emoldurarem o rosto. Olhou-se no espelho e sorriu. Havia algo de radiante em seu olhar, algo que não se via há muito tempo. Era como se todo o esforço finalmente tivesse valido a pena.

A cidade de Star Blue estava em festa. Desde cedo, as ruas encheram-se de moradores e turistas. As lojas decoraram as suas ‘vitrines’ com flores da estação, e as padarias espalhavam pelo ar o aroma irresistível de pães recém-assados. Crianças corriam pelas praças, segurando balões coloridos, enquanto os músicos locais afinavam os seus instrumentos para a apresentação especial no final da tarde.

Era como se a reinauguração do Bluberry não fosse apenas um evento do hotel, mas algo que representasse um renascimento para toda a cidade. O turismo traria novas oportunidades, e muitos comerciantes já comentavam sobre o impacto positivo que isso teria nos negócios locais.

Fiama parou por um instante para admirar a fachada. O Bluberry, construído com pedras claras e detalhes em madeira escura, parecia mais imponente do que nunca. As janelas reluziam ao sol, e a varanda principal estava decorada com flores brancas e lavandas, exalando um perfume delicado. Uma placa elegante, com letras douradas, trazia o nome do hotel renovado: “Bluberry Hotel .

Dentro do hotel, a equipe estava em plena atividade.

— Está tudo perfeito, Fiama — disse entregando-lhe uma pasta com as reservas. — Os primeiros hóspedes chegam em menos de uma hora.

Fiama sorriu, sentindo a pressão aumentar no peito, mas também uma felicidade tranquila. Caminhou pelos corredores, observando os quadros que retratavam paisagens da cidade e os móveis que haviam sido restaurados com tanto cuidado. Cada canto do hotel parecia respirar uma nova vida.

Ao meio-dia, a cidade já estava voltada para os eventos na montanha. Fiama decidiu subir até o topo para prestigiar a inauguração do teleférico e o lançamento dos balões. O trajeto poderia ser feito de carro, por uma estrada sinuosa e cercada por pinheiros, ou pela trilha da floresta, que oferecia uma caminhada de cerca de quarenta minutos. Ela escolheu o carro, pois ainda tinha muito a organizar no hotel.

Quando chegou ao topo, o cenário a deixou sem palavras. O teleférico, com suas cabines modernas e vidros panorâmicos, brilhava ao sol. O novo Café das Alturas estava lotado de curiosos que experimentavam cafés artesanais e doces preparados especialmente para o dia. E, no céu, os primeiros balões já começavam a se erguer, deslizando suavemente com o vento.

Fiama fechou os olhos por um instante, sentindo o vento frio da montanha tocar seu rosto. Lá de cima, a cidade parecia um presépio, com casas coloridas e ruas estreitas serpenteando entre campos e bosques. A visão do Bluberry , um pouco abaixo na encosta, a encheu de orgulho.

Ao voltar para o hotel, Fiama foi recebida pelos primeiros hóspedes. Um casal jovem, vindo da capital, elogiou o charme e a elegância do lugar. Uma família com duas crianças estava empolgada com o passeio de balão programado para o dia seguinte. Fiama conversava com todos, sorrindo, oferecendo indicações sobre as atrações da região, sentindo-se finalmente em seu elemento.

Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de laranja e dourado, Fiama se permitiu um momento de pausa. Sentou-se na varanda do hotel, observando a movimentação da cidade lá embaixo. O ar estava impregnado de vida, de sonhos, de recomeços.

E, enquanto as luzes do Bluberry se acendiam, dando ao hotel um brilho mágico sob o céu da primavera, Fiama entendeu algo profundo: aquele dia não era apenas a reinauguração de um hotel. Era a reinauguração de sua própria história, o início de um novo capítulo, onde passado e futuro se encontravam em harmonia.

Capítulo 2. "As Primeiras Colheitas de Bluberry."

A manhã nas montanhas de Bluberry tinha um brilho diferente. O orvalho cintilava sobre as folhas, e o ar fresco trazia o perfume adocicado das flores silvestres que se misturavam às lavandas e mirtilos. Fiama acordou cedo, como sempre fazia, quando os primeiros raios de sol ainda lutavam para atravessar as janelas de madeira da nova casa da família.

Desde que haviam se mudado para aquela casa modesta, ao lado do hotel, tudo parecia ter mudado. O antigo lar, onde os dias corriam tranquilos, ficara para trás, junto com as lembranças de um tempo em que não precisavam contar cada moeda. Agora, a família depositava toda a esperança naquele hotel — o Bluberry — que havia sido reformado com tanto esforço, mas ainda carregava os fantasmas das dívidas e do passado.

Fiama espreguiçou-se, deixando que os primeiros feixes de luz dourada tocassem seu rosto. Era uma jovem de beleza singela, dessas que não chamam atenção pela extravagância, mas pela delicadeza dos gestos e o olhar sereno, quase poético. Acordou com a sensação de que aquele dia traria algo novo, embora não soubesse exatamente o quê.

Na cozinha, Daiana, sua mãe, já estava de avental, aquecendo água para o café e assando pães que enchiam a casa com um aroma reconfortante. Daiana era uma mulher de força silenciosa, com cabelos escuros sempre presos em um coque apressado e mãos calejadas pelo trabalho duro. Ao lado dela, David, o padrasto de Fiama, fazia as contas em um velho caderno de capa gasta. Ele não era um homem de muitas palavras, mas seu olhar sempre carregava uma mistura de preocupação e determinação.

— Fiama, acorde o Nick — pediu Daiana, sem tirar os olhos do pão no forno. — Hoje será um dia longo, temos muito o que preparar.

Fiama acenou e subiu a pequena escada de madeira que levava ao quarto do irmão mais novo. Nick, um garoto de apenas 7 anos, dormia profundamente, abraçado a um velho urso de pelúcia. Fiama sorriu, lembrando-se dos tempos em que tudo parecia mais simples, antes das dificuldades financeiras e da pressão para fazer o hotel dar certo.

— Nick... acorda, preguiçoso — disse, balançando-o de leve.

Ele abriu os olhos devagar e sorriu ao ver a irmã. — Já tem pão pronto?

— Quase — respondeu Fiama. — Vai lavar o rosto, vou ajudar mamãe na cozinha.

Foi nesse momento que um som inesperado interrompeu a rotina tranquila da manhã: toc-toc-toc. Alguém batia à porta.

David se levantou, mas Daiana foi mais rápida. Ao abrir, deparou-se com um dos funcionários do hotel, um homem alto, de roupas simples, que sempre ajudava na manutenção e na colheita dos mirtilos.

— Dona Daiana, bom dia! — disse ele, tirando o chapéu em sinal de respeito. — Vim avisar que a colheita dos bluberries começa hoje. Esse ano amadureceu mais cedo, e não podemos perder tempo.

— Já? — Daiana arqueou as sobrancelhas. — Pensei que teríamos mais algumas semanas...

— Pois é, mas o clima ajudou. Temos que aproveitar — respondeu ele, sorrindo com simpatia.

Enquanto conversavam, o homem olhou para a casa e, com um ar de quem refletia sobre algo, comentou:

— Sabe, Dona Daiana, eu sempre achei que um hotel como o Bluberry tem potencial pra muito mais. Café da manhã é bom, mas vocês deviam abrir pro almoço, pro jantar também. A cidade tá crescendo, os turistas adoram esse lugar.

Daiana, ficou suurpresa com a sugestão. — Humm... nunca pensamos nisso.

— Pensem sim. Dá pra ganhar um bom dinheiro com isso. O povo gosta de comida caseira, ainda mais num lugar tão bonito.

Daiana agradeceu a dica e despediu-se do funcionário, que voltou para a trilha que levava aos campos de bluberry. Quando entrou na casa, encontrou David sentado, ainda com a caneta na mão e o caderno aberto.

— O que houve? — perguntou ele, percebendo o semblante pensativo da esposa.

— O João falou sobre abrir o hotel também pra almoço e jantar. Disse que os turistas adorariam.

David coçou o queixo, pensativo. — Não é má ideia. Mas, Daiana, nós mal conseguimos pagar as parcelas da reforma. Pra abrir pra almoço e jantar, precisamos contratar mais gente, comprar mais mantimentos...

Daiana sentou-se ao lado dele, com o rosto preocupado. — Eu sei, mas não podemos continuar só com o café da manhã. As contas estão pesadas demais.

David suspirou e passou os dedos pelos cabelos, visivelmente preocupado. — Vamos ver as contas outra vez.

Os dois começaram a folhear o caderno. As páginas estavam cheias de números rabiscados, cálculos refeitos várias vezes, e anotações sobre as parcelas da reforma. O hotel Bluberry tinha sido um sonho caro, e agora eles precisavam transformá-lo em um negócio próspero.

Fiama, que escutava tudo em silêncio, sentiu um aperto no peito. Ela amava aquele hotel. Para ela, o Bluberry não era apenas um empreendimento, mas uma extensão de sua infância, das memórias com seu pai — antes da morte repentina dele, anos atrás.

Enquanto Daiana e David faziam contas, Fiama saiu para o quintal. De lá, conseguia ver os campos de bluberry, uma imensidão azulada que brilhava sob o sol nascente. O vento suave balançava as plantas, e ela sentiu uma força estranha dentro de si, como se o destino estivesse prestes a mudar.

— Fiama! — a voz de Daiana a chamou de volta. — Vamos colher alguns cestos antes do almoço. Quanto mais cedo começarmos, melhor.

Fiama correu para dentro, amarrou os cabelos em um coque e vestiu suas luvas de trabalho. Nick insistiu em ir junto, apesar de ainda parecer sonolento.

Enquanto caminhavam para os campos, David continuava pensativo. Ele sabia que a única forma de pagar as dívidas era trabalhar mais, expandir o hotel e talvez, quem sabe, buscar um sócio — ideia que, até então, ele não queria aceitar.

Mais tarde, na cozinha do hotel

Daiana preparava um bolo de bluberry para os hóspedes. Ela sabia que pequenos detalhes faziam toda a diferença: o aroma de bolo fresco, o pão quentinho, a manteiga caseira. Mas, para manter tudo isso, era preciso mais investimento.

— Precisamos de ajuda, David — disse ela, quebrando o silêncio. — O João tem razão. Se não abrirmos para almoço e jantar, nunca vamos conseguir pagar as parcelas.

David olhou para ela, como se uma ideia perigosa tivesse acabado de surgir. — E se buscássemos um sócio?

— Um sócio? — Daiana arregalou os olhos. — Você acha que alguém iria querer investir nesse hotel?

— Se mostrar potencial, sim. — Ele respirou fundo. — Eu ouvi falar de um investidor, um homem chamado Mario. Ele anda comprando partes de negócios locais. Talvez seja arriscado, mas...

Daiana ficou calada, tentando processar aquela ideia.

Fiama, que escutava escondida atrás da porta, sentiu o coração acelerar. Um sócio significaria mudanças, talvez até perder o controle sobre o hotel. E ela não gostava dessa ideia.

Mas o destino, como sempre, estava prestes a surpreender a todos.

capítulo 3." O Encontro Inesperado."

Naquela tarde, quando o sol já descia preguiçoso atrás das colinas, Fiama decidiu fazer algo que lhe aquietava o coração: observar os balões subindo e descendo no horizonte. Era um espetáculo silencioso, quase poético, que sempre a fazia sonhar. As cores vibrantes das cestas e dos tecidos inflados dançavam no céu como se fossem pinceladas vivas de uma aquarela, e cada um deles levava um grupo de visitantes encantados com a paisagem .

Fiama se sentou na cerca de madeira, que cercava o pomar de amoras e blueberries, e ficou ali, com o rosto levemente inclinado para cima, acompanhando o vai e vem dos balões. Era como se cada um deles carregasse promessas de novas histórias, de encontros e despedidas, de sorrisos e olhares trocados lá de cima, onde o mundo parecia tão pequeno.

Seus pensamentos vagavam. Pensava na vida que levava, nos desafios que ainda estavam por vir e nos sonhos que, por vezes, pareciam distantes. Tinha apenas vinte e dois anos, mas já sabia o que era lutar por algo maior do que si mesma. Desde a morte de seu pai, Eduardo, a responsabilidade de manter o hotel da família em pé havia se tornado uma espécie de missão silenciosa.

Suspirou fundo, sentindo a brisa fresca que carregava o cheiro adocicado das frutas maduras e o aroma amadeirado das árvores que rodeavam o hotel. Quando se levantou para voltar, não imaginava que aquela tarde mudaria algo dentro dela.

Ao retornar para o Bluberry Hotel ,Fiama avistou um carro estacionado próximo à entrada. Nele, desciam quatro homens. Entre eles, um chamou sua atenção de forma imediata — e quase inquietante.

Ele tinha cerca de 1,80m de altura, corpo forte, como quem estava acostumado a esportes e aventuras ao ar livre. Cabelos pretos, levemente bagunçados, pele bronzeada pelo sol e olhos cor de mel, com um brilho tão hipnotizante que Fiama sentiu algo inexplicável no peito, como se uma corrente elétrica lhe percorresse a espinha. Era um olhar que parecia sorrir antes mesmo que os lábios o fizessem, carregando uma energia contagiante e, ao mesmo tempo, uma serenidade desarmante.

Por um instante, Fiama esqueceu de respirar. Sentiu o rosto esquentar, as mãos ficarem inquietas. Não sabia o porquê daquela sensação, mas tinha a impressão de que algo profundo acabava de ser despertado dentro dela.

Ele estava acompanhado de três amigos, igualmente animados, com roupas esportivas e bicicletas potentes, projetadas para aventuras extremas pelas trilhas da região. Conversavam entre si, rindo, como se o dia tivesse sido todo deles — e talvez tivesse mesmo.

Fiama os observou discretamente, escondida atrás da porta do hotel, enquanto eles conversavam com seu padrasto. David, com seu jeito acolhedor e direto, ofereceu para que deixassem as bicicletas na casa ao lado, onde seria mais seguro do que no estacionamento aberto. Eles agradeceram com um entusiasmo sincero, e o homem dos olhos de mel, aquele que já havia capturado a mente de Fiama, trocou um aperto de mão firme com David.

Por um momento, Fiama se perguntou quem ele era. E, principalmente, por que bastava olhá-lo para sentir o coração bater mais rápido, como se estivesse prestes a correr uma maratona.

Mais tarde, enquanto o grupo seguia para seus quartos, Fiama desviou o olhar, tentando disfarçar o rubor que ainda insistia em colorir suas bochechas. Ela não sabia explicar, mas aquele homem tinha algo diferente. Um magnetismo natural. Um encanto silencioso, como se carregasse segredos e aventuras guardados em algum canto da alma.

Enquanto arrumava as mesas do café do hotel, sua mente não conseguia se desligar dele. O seu coração parecia pulsar mais forte a cada lembrança dos olhos cor de mel e do sorriso fácil que havia visto de relance.

Quando o grupo saiu novamente, para explorar a cidade, Fiama os observou da janela do hotel.

Procurava apenas por um rosto e quando o encontrou, o peito se apertou. Ele parecia tão à vontade, tão confiante. Era o tipo de homem que, apenas ao caminhar, parecia ter o mundo ao seu redor sob controle.

Fiama suspirou, apoiando-se no parapeito da janela. Talvez estivesse apenas cansada, sensível demais depois de um longo dia de trabalho. Talvez fosse apenas uma tolice passageira. Afinal, quantas pessoas passavam pelo hotel todos os meses? Visitantes vinham e iam, cada um com seus destinos, e ela permanecia ali, firme como as colinas que cercavam Bluberry.

Mas, dessa vez, sentia algo diferente.

Enquanto eles saíam para se divertir na cidade — provavelmente em algum restaurante com música ao vivo ou uma cervejaria local, onde os turistas sempre gostavam de ir —, Fiama se voltou para sua última tarefa do dia: preparar as geleias de blueberry que seriam servidas no café da manhã dos hóspedes.

Na cozinha, o ambiente era silencioso, quebrado apenas pelo som do borbulhar lento da fruta na panela. O aroma doce e levemente ácido das blueberries cozidas preenchia todo o espaço, envolvendo-a como uma espécie de abraço invisível. Para Fiama, preparar geleia era quase um ritual. Desde pequena, ajudava a mãe a escolher as melhores frutas, lavar cada uma com cuidado e, depois, acompanhar pacientemente o processo até que a mistura alcançasse o ponto ideal.

Enquanto mexia a colher de pau, seus pensamentos voltaram — inevitavelmente — para aquele homem, um turista que nunca mais veria depois daquela semana. Talvez fosse apenas isso. Mas, ainda assim, ela não conseguia ignorar a forma como sentira seu coração bater descompassado quando o viu.

— Está sonhando acordada, Fiama? — a voz suave de, sua mãe, ecoou atrás dela.

Fiama sorriu, meio envergonhada. — Só pensando na receita, mãe.

Mais tarde, quando as geleias estavam prontas e a cozinha limpa, Fiama subiu para o terraço do hotel. Gostava de ver as estrelas dali. Era como se o céu inteiro descesse para abraçar a cidade, com suas luzes piscando preguiçosas, como segredos guardados no alto.

Encostou-se na mureta e fechou os olhos por um instante, sentindo o vento frio da noite. Queria afastar os pensamentos, mas eles sempre voltavam ao mesmo ponto: os olhos de mel, o sorriso fácil, a presença marcante daquele homem.

Ela se perguntava se ele também teria notado algo nela. Talvez não. Talvez, para ele, ela fosse apenas mais uma garota do interior, com o avental sujo de geleia e as mãos marcadas pelo trabalho.

Enquanto Fiama terminava suas tarefas no hotel, o grupo de amigos atravessava as ruas iluminadas da pequena cidade de Sky Blue que ficava a baixo da.montnaha . As luzes dos postes refletiam nas fachadas de pedra das lojas e restaurantes, dando ao lugar um charme. Era sábado, e o centro estava mais vivo do que o habitual: turistas enchiam os cafés, e os músicos locais se apresentavam nas praças, tocando violão ou violino, espalhando melodias suaves que se misturavam ao burburinho das conversas.

O homem dos olhos cor de mel, cujo nome era Mario liderava o grupo com naturalidade. **Ele tinha um sorriso fácil e um jeito tranquilo de observar tudo à sua volta, como quem absorve cada detalhe do mundo.** Seus amigos riam, comentando sobre as trilhas que haviam percorrido naquele dia com as bicicletas. Haviam subido caminhos estreitos e desafiadores, e o cansaço agora dava lugar a uma fome voraz.

— Vamos para a cervejaria do centro? — sugeriu **Lucas**, um dos amigos, de barba rala e olhar brincalhão.

— Eu ouvi falar de um restaurante que serve trutas frescas da região, acompanhado de um vinho branco excelente — disse Gael, o mais reservado do grupo, olhando o celular em busca de recomendações.

— Tanto faz para mim, mas eu quero algo que combine com essa cidade. Tudo aqui parece ter saído de um filme — comentou Mario, com aquele tom de admiração que despertava curiosidade em quem o ouvia.

Eles acabaram entrando em uma pequena taverna iluminada por luzes de velas, onde um trio tocava jazz. O ambiente era acolhedor, com mesas de madeira rústica e um aroma irresistível de ervas e queijos derretidos vindo da cozinha.

— Vamos brindar — disse Lucas, erguendo o copo de cerveja artesanal. — Aos ventos de Star Blue e à nossa aventura!

Os quatro riram e bateram os copos, brindando à amizade e aos dias de liberdade que estavam vivendo. Mario, porém, parecia distraído por um instante. **Enquanto todos conversavam, ele lembrava do rosto da jovem que havia visto no hotel.

A imagem dela lhe vinha à mente como um quadro delicado: os cabelos levemente presos, o olhar curioso e, sobretudo, a serenidade com que parecia observar o mundo. Não era uma beleza gritante, mas havia algo genuíno, quase encantador, que lhe chamava atenção.

— Tá pensando em quê, Mario? — perguntou Lucas, percebendo que ele havia se perdido em pensamentos.

— Em nada… — respondeu com um meio sorriso. — Só estou aproveitando o momento.

Mas, por dentro, sabia que aquela imagem não sairia tão cedo de sua mente.

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