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Minha História como Mãe Solo Dedicada À Minha Filha

diário(capítulo 1)

"Descobri que você existia num banheiro apertado, tremendo de medo."

Filha,

Você ainda era um segredo dentro de mim quando eu sentei no chão frio daquele banheiro.

Minhas mãos tremiam, meu coração batia como se quisesse sair correndo antes de mim.

Dois risquinhos.

Dois traços que mudaram tudo.

Ali, no silêncio do meu quarto escondido na casa da vovó Domingas, eu soube: você estava a caminho.

Eu não chorei de alegria.

Chorei de medo.

Chorei de não saber o que fazer, pra onde ir, o que dizer.

A primeira pessoa pra quem contei foi o espelho.

Fiquei olhando meu rosto jovem, com os olhos inchados, e repeti baixinho:

“Eu tô grávida… eu vou ser mãe…”

Mas ainda não me sentia mãe.

Me sentia só.

Me sentia culpada por algo que nem tinha nome.

Porque dentro de mim já crescia uma culpa que não era sua, era dele.

Do seu pai.

Do homem que disse que me amava e depois sumiu quando mais importava.

Eu queria te proteger de tudo.

Até de mim.

Porque eu ainda era menina e, de repente, precisava ser mulher por nós duas.

Naquela noite, me deitei e coloquei as mãos na barriga.

Não havia barriga ainda.

Mas já havia você.

E eu sussurrei:

“Fica, tá? Mesmo que eu não saiba como… só fica.”

Diário – Capítulo 2

"Quando eu te ouvi pela primeira vez, eu soube que era pra sempre."

Filha,

A primeira vez que ouvi seu coração foi dentro de um consultório branco e frio, onde ninguém me chamou de mãe…

Chamaram de “adolescente”.

A médica apertou o gel no meu ventre e disse:

“Agora vamos ver se conseguimos escutar o bebê…”

Bebê.

Você.

E então, de repente, aquele som.

Rápido.

Forte.

Como um cavalinho correndo dentro de mim.

Era o seu coração.

Tão pequenininho, mas tão determinado a bater.

A viver.

Eu chorei.

Vovó Domingas segurou minha mão com força. Ela não disse nada — só deixou que eu sentisse tudo de uma vez.

Eu não chorei de medo, como no banheiro.

Dessa vez, chorei de amor.

Ali, naquela sala, eu entendi que tudo ia mudar.

E que você era real.

Não era só enjoo, não era só segredo.

Você era vida.

Naquela noite, escrevi seu nome pela primeira vez num pedaço de papel rasgado.

Fiquei olhando ele ali, no meio da bagunça do meu caderno da escola.

Seu nome.

Minha filha.

E decidi:

Mesmo se o mundo te rejeitar, eu vou te segurar.

Mesmo se eu estiver caída, eu vou te levantar.

Mesmo que doa, eu vou te amar com tudo o que eu tiver.

Você ainda não sabia, mas aquele som…

Seu coração batendo dentro de mim…

Foi o som mais bonito que eu já ouvi na vida.

Com todo carinho e sensibilidade.

Capítulo 3 do meu diário para a minha filha — escrito numa madrugada silenciosa, quando o peso da verdade dói, mas você escolhe contá-la com amor.

Este texto é um abraço triste em forma de desabafo.

Aqui vai:

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Diário – Capítulo 3

"Você nasceu em silêncio... porque ele pediu pra te esconder."

Filha,

Você ainda não entende o mundo.

Apenas sente.

Mas eu preciso escrever isso, mesmo que só você vá ler um dia, quando for grande o bastante pra entender sem doer tanto.

Você não sabe, meu amor, mas o seu pai pediu pra esconder você.

Ele me olhou nos olhos e disse:

“Não conta pra ninguém… espera passar dos seis meses.”

Como se a sua vida fosse uma coisa pra esconder.

Como se você fosse um erro a ser guardado.

Mas você nunca foi erro.

Você foi o susto mais bonito que me aconteceu.

Ele te escondeu porque era casado.

Já tinha outra família, outro lar.

E eu, boba, me vi presa entre o que eu sentia e o que era real.

Eu guardei o enjoo, escondi a barriga, menti pra muita gente…

E chorei. Chorei sozinha por dentro.

Enquanto você crescia aqui dentro de mim, ele se afastava mais e mais.

No pré-natal, nas consultas, nas dores, nas dúvidas…

Quem esteve ao meu lado foi a vovó Domingas.

Ela segurava minha mão quando o médico falava coisas que eu não entendia.

Ela dizia: “vai passar, minha filha… você não está sozinha.”

E ela tinha razão.

Porque você já estava comigo.

No dia que você nasceu…

Ele não apareceu.

Não ligou.

Não perguntou.

Não quis saber se foi parto normal, se você chorou, se eu estava viva.

Ele não fez questão nem de saber se você tinha nome.

Mas a vovó Domingas…

Ah, filha, essa mulher merece o mundo.

Foi ela que segurou o pano molhado na minha testa.

Foi ela que chorou comigo.

Foi ela que te deu o primeiro banho.

Foi ela que trocou sua primeira roupinha.

Enquanto eu, com os pontos ainda abertos, te olhava e pensava:

"Você não merecia começar a vida assim… sendo negada por quem devia te amar primeiro."

Eu lembro de te ouvir chorar.

Era um choro alto, forte, quase como se você dissesse:

“Eu tô aqui, mesmo que ele não queira.”

E eu te olhei.

Com o peito doendo e os olhos inchados de tanto segurar a dor.

E prometi:

"Filha, você nunca mais vai ser escondida.

Nunca mais vai ser silenciada.

Eu vou te amar por nós dois.

Eu vou lutar por você até o fim.”

Você nasceu da minha dor…

Mas também da minha força.

E mesmo que ele só te veja em obrigações,

Mesmo que ele finja que você é só um papel assinado e uma pensão paga no banco…

Aqui, dentro da nossa casa, você é o coração de todos nós.

Você é a alegria da vovó Domingas.

A luz do vovô Josimar.

A bagunça boa do titio José Eduardo.

E a razão de cada batida do meu coração.

Eu te amo, filha.

Com todo o amor que ele te negou.

Mamãe.

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Diário – Capítulo 4

"As pessoas olham pra mim como se eu tivesse feito algo errado."

Filha,

Hoje eu saí com você no colo. Pela primeira vez.

Era só pra buscar o leite, comprar fraldas, coisas simples.

Mas nada foi simples.

Você dormia tão quietinha no meu peito, embalada no pano que a vovó Domingas costurou com tanto carinho.

Eu saí com medo.

Mas com coragem também.

Porque você precisava.

E eu precisava aprender a enfrentar o mundo com você.

No começo, tudo parecia calmo…

Até os olhares começarem.

As mulheres mais velhas me olhavam com pena.

Os homens com julgamento.

As meninas da minha idade com espanto, como se dissessem com os olhos:

“Olha ali… mais uma que estragou a própria vida.”

Ninguém disse nada.

Mas disseram tudo.

Com os olhos.

Com os cochichos.

Com os sorrisos disfarçados.

Uma senhora passou por mim e murmurou algo baixo demais pra entender…

Mas alto o suficiente pra ferir.

Segurei você mais perto de mim.

Como se pudesse te proteger da maldade do mundo com um abraço.

E eu queria gritar:

“Ela não é um erro!

Ela é o amor da minha vida!”

Mas me calei.

Porque aprendi cedo demais que a gente só sobrevive quando escolhe o silêncio certo.

Na volta pra casa, meus olhos se encheram.

Não de vergonha.

Mas de revolta.

Porque ninguém sabe da luta que é acordar de madrugada com cólica e não ter pra quem ligar.

Ninguém viu quando eu lavei suas roupas com sabão de coco na mão porque a máquina quebrou.

Ninguém estava comigo nas noites em que você só dormia no meu peito enquanto eu chorava sem som.

Eles não sabem, filha.

E talvez nunca saibam.

Mas você vai crescer sabendo que sua mãe andou de cabeça erguida… mesmo quando tudo pesava demais.

Quando chegamos em casa, vovó Domingas me esperava no portão.

Me deu um sorriso e disse:

“Tá tudo bem, minha filha?”

Eu só balancei a cabeça.

E ela soube que não estava.

Mas não insistiu.

À noite, enquanto você mamava com os olhos fechados e as mãozinhas me seguravam como se eu fosse o mundo inteiro…

Eu prometi pra mim mesma:

Um dia, filha, eles vão te ver.

Vão ver sua luz, sua força, sua beleza.

E se orgulhar de você.

Como eu já me orgulho, mesmo que o mundo tente me fazer esconder.

Você é meu orgulho.

Mesmo que as pessoas olhem como se você fosse minha vergonha.

Te amo.

Pra sempre.

Mamãe.

Diário – Capítulo 6 "O mundo não para porque eu virei mãe.

Filha,

Hoje você fez um mês.

Um mês que o mundo inteiro mudou pra mim — mas o mundo em si não mudou nada.

As contas continuam chegando.

Os vizinhos continuam falando.

A vida lá fora segue o ritmo que eu já não consigo acompanhar.

Enquanto você chorava de madrugada, eu escutava o despertador do vizinho tocar.

Ele ia trabalhar.

E eu… eu ia pra mais uma mamada, mais uma troca de fralda, mais uma tentativa de te fazer dormir.

Vovó Domingas diz que é uma fase.

Mas ninguém me explicou que fases doem tanto.

Vovô Josimar ajuda com o que pode.

Ele acorda cedo, faz café, tenta sorrir pra mim mesmo com o rosto cansado.

Titio José Eduardo chega tarde da faculdade, mas sempre entra no quarto só pra olhar você dormir.

Ele me traz chocolate às vezes, sem dizer nada.

Como se adivinhasse que é o que eu mais preciso.

Mas mesmo com eles, às vezes me sinto sozinha.

Solitária naquele tipo de silêncio que vem depois do choro, quando tudo adormece… menos a mente.

E o seu pai?

Nada.

Nenhuma mensagem. Nenhum "como ela está?".

É como se você não existisse pra ele.

Mas você existe tanto.

Você existe tanto que me dói.

Te amo até onde nem sei explicar,

Mamãe.

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Diário – Capítulo 7

"A casa virou abrigo e prisão."

Filha,

A gente quase não sai.

Só o necessário.

Às vezes, nem isso.

A casa é nosso ninho, mas também é uma gaiola.

Aqui dentro é onde te alimento, te embalo, te acolho.

Mas também é onde choro escondido, onde sinto falta de mim, onde me perco nas horas sem saber se é dia ou noite.

Hoje tentei lavar meu cabelo enquanto você dormia.

Mal consegui tirar o shampoo antes de você acordar gritando.

Saí do banho com os pés molhados, a toalha torta e o coração disparado.

A vovó Domingas disse:

"Deixa, minha filha, eu cuido dela um pouco."

Mas eu não quis.

Porque só eu sei seu choro.

Só eu sei o ritmo que acalma.

Só eu sei o peso e a leveza de te ter no colo.

Mas às vezes, filha…

Eu queria que alguém soubesse também.

Que alguém dividisse esse saber.

Esse fardo doce e pesado.

Hoje olhei no espelho e quase não me reconheci.

Cabelos presos de qualquer jeito, olheiras fundas, olhos molhados.

E pensei:

Será que um dia volto a ser quem era?

Mas aí você sorriu no meio da mamada.

Banguelinha, bochechas rosadas.

E eu pensei:

Talvez eu nunca volte a ser quem era.

Talvez eu esteja me tornando algo novo.

Talvez isso também seja bonito.

Com amor cansado,

Mamãe.

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Diário – Capítulo 8

"Você chora, eu também."

Filha,

Tem dias que a gente chora juntas.

Você porque está com cólica.

Eu porque estou exausta.

Hoje você chorou por duas horas seguidas.

Nada adiantava.

Nem peito, nem colo, nem música, nem passear pela casa.

Vovó tentou. Vovô também.

José Eduardo ficou andando com você no colo até suar.

Mas você queria a mim.

E eu queria um minuto de paz.

Mas te dei o colo mesmo assim.

No fim, a gente desabou juntas.

Você em lágrimas pequenas e soluços frágeis.

Eu num choro silencioso, com a cabeça encostada na parede do quarto.

Ninguém me disse que amar tanto assim doía.

Ninguém me contou que o coração da gente podia sangrar só de ver outro serzinho sofrendo.

Você adormeceu.

E eu fiquei ali, sentada no chão, com os olhos vazios, me perguntando se eu estou fazendo tudo certo.

Se eu sou suficiente.

Se você vai crescer sentindo falta de algo que eu não consegui dar.

O seu pai, de novo, não apareceu.

Nem uma mensagem.

Nem um sinal.

E eu me pergunto se ele dorme tranquilo.

Mas você dorme.

E isso é o que importa por hoje.

Boa noite, minha menina,

Mamãe.

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Diário – Capítulo 9 "Três meses de nós."

Filha,

Hoje você fez três meses.

Três meses de choro, de leite, de noites em claro.

Mas também de cheirinho de bebê, de pele macia, de sorrisos involuntários que me derretem.

Você já me reconhece.

Já me procura com os olhos.

Já estica os bracinhos quando me ouve.

E isso… isso é amor puro.

Isso me dá força.

Vovó fez bolo.

Vovô trouxe balões de uma loja no caminho de casa.

Titio colou uma cartolina na parede com as palavras:

"Três meses de coragem."

E eu chorei.

Chorei porque me senti vista.

Mesmo sem palavras, eles reconhecem.

Eles sabem que não é fácil.

Mas estamos aqui. Juntos.

Como dá.

Como conseguimos.

Seu pai continua ausente.

Um homem covarde demais pra encarar a própria filha.

Mas você não precisa dele pra saber que é amada.

Porque você é.

Com tudo o que temos.

Com tudo o que falta também.

Três meses, minha pequena.

E parece que te esperei a vida inteira.

Sempre com você,

Mamãe.

 

Diário – Capítulo 10

"A gente segue."

Filha,

Tem dias que são bonitos.

Hoje o sol entrou pela janela e você riu.

Foi a primeira vez que te vi rir assim, com som, com alma.

Eu ri também.

E por um instante…

Não existia dor.

Não existia julgamento.

Não existia solidão.

Só nós duas.

E isso bastava.

Aos poucos, estou reaprendendo a viver.

Entre uma fralda e outra.

Entre o leite e o sono.

Entre o silêncio e o amor.

Vovó Domingas diz que eu sou forte.

Mas às vezes eu não quero ser forte.

Quero ser leve.

Quero poder respirar sem medo do amanhã.

Mas a força que ela vê não vem de mim.

Vem de você.

Do seu olhar que me procura.

Do seu corpo que se aninha no meu.

Do seu coração que bate perto do meu peito como se dissesse:

“Continua, mamãe. A gente tá indo bem.”

E a gente segue.

Com medo, sim.

Com cansaço, também.

Mas com amor. Muito amor.

E isso… isso ninguém pode tirar da gente.

Com você pra sempre,

Mamãe.

 

Diário – Capítulo 11

"Não é drama. É dor."

Hoje foi mais um dia daqueles em que eu me perguntei se estou ficando louca.

Tudo me parece grande demais.

O choro da minha filha, que ninguém ouve além de mim, ecoa dentro da minha cabeça como um pedido de socorro que só eu posso responder.

E eu respondo.

Com o peito. Com os braços. Com o pouco de sanidade que me resta.

Mas tem horas que não dá.

Tem horas que eu deito no chão do banheiro pra chorar escondido.

Porque eu não quero que a vovó ache que estou fraca.

Não quero que o vovô fique preocupado.

Não quero que o Zé Eduardo me veja desmoronar.

Só que dentro de mim, filha, tem um prédio inteiro desabando.

E eu tento segurar os escombros com as mãos nuas.

Tem quem ache que eu faço drama.

Mas isso aqui não é drama.

É dor.

É real.

É acordar cinco vezes numa mesma madrugada pra te alimentar, te acalmar, te embalar.

É não saber mais o que é dormir mais de duas horas seguidas.

É viver com os peitos doloridos, o corpo quebrado, a alma em frangalhos.

E mesmo assim…

Mesmo assim te amar com tanta força que parece que meu coração vai explodir.

 

diario – Capítulo 12

"Sinto falta de quem eu era. Mas não quero voltar."

Hoje eu achei uma foto antiga minha, de antes de tudo.

Cabelo solto, sorriso leve, olhar sonhador.

Fiquei olhando pra ela por uns minutos, tentando lembrar o que eu sentia naquele dia.

Será que eu sabia o quanto a vida ia mudar?

Será que, se soubesse, eu teria feito diferente?

Não sei.

Só sei que sinto falta de mim.

Da menina que dormia até tarde no domingo.

Que dançava sem medo no meio da sala.

Que sonhava em ser artista, ou jornalista, ou qualquer coisa que envolvesse escrever.

Agora eu escrevo aqui.

No silêncio da madrugada, com você no colo, tentando registrar tudo que não consigo dizer em voz alta.

E por mais que doa, por mais que eu sinta saudade da menina que fui…

Eu não quero voltar.

Porque ela nunca conheceu o que eu conheço agora.

Ela nunca sentiu o que é ter um pedacinho de si respirando fora do corpo.

Ela nunca segurou uma vida tão pequena e tão imensa ao mesmo tempo.

Ela não conhecia você.

E conhecer você mudou tudo.

Pra sempre.

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