Desde que o mundo dos lobos foi abençoado pela deusa da Lua, Selene, havia uma tradição imutável: cada lobo, ao nascer, já tinha um companheiro(a) destinado(a), escolhido por ela. Era uma conexão profunda, feita através de um vínculo sagrado que se manifestava ao completar dezoito anos, caso os companheiros estivessem próximos. Era impossível ignorar o cheiro, o magnetismo, a força que os unia. Mas, para Maya, isso nunca soou como um presente.
Ela era sonhadora. E, ao contrário das outras jovens da alcateia, Maya questionava esse destino imposto. Por que alguém deveria amar sem escolher? Por que confiar cegamente numa ligação criada por uma deusa, mesmo que fosse Selene? E se o companheiro destinado fosse alguém de caráter duvidoso? Claro, havia a possibilidade da rejeição, mas isso também era cruel. Para um lobo, ser rejeitado era como ter um pedaço de si arrancado. A dor era dilacerante, e muitos não suportavam.
Ainda assim, uma vez rejeitado, o lobo poderia se apaixonar livremente. Poderia, enfim, viver o amor verdadeiro. No entanto, esse caminho também era incerto: e se se apaixonasse por alguém que ainda não havia encontrado seu par destinado? E, quando esse dia chegasse, fosse deixado para trás? Maya considerava tudo isso uma grande injustiça. Por que não podiam apenas escolher por si mesmos, amar com liberdade?
Faltavam poucos dias para seu aniversário de dezoito anos. E, embora sua ansiedade crescesse, ela não estava empolgada para encontrar seu companheiro. O que mais desejava era finalmente se transformar. Ver sua loba. Conhecê-la. Ouvir sua voz interior, saber seu nome, descobrir se possuía algum dom especial. Aquilo sim a fazia sonhar acordada.
O tempo parecia zombar dela, passando lentamente, arrastando os minutos. O dia tão aguardado se aproximava, mas, ao mesmo tempo, parecia cada vez mais distante. Maya tentava se distrair, revivendo memórias felizes, como a do dia em que seu irmão encontrou sua companheira.
Ela sorriu só de lembrar. Josh havia sido abençoado com um destino gentil. Encontrou Ava, uma jovem da matilha do Sul, durante a Festa da Lua Cheia – o grande encontro anual das alcateias. O salão estava cheio, iluminado por tochas e pela própria lua que pairava imponente no céu. Maya ainda se lembrava de cada detalhe.
Josh começou a farejar o ar, inquieto. Algo o chamava.
— Josh, o que está acontecendo? Para onde está indo? — perguntou ela, tentando acompanhá-lo.
— Esse cheiro...
— Pela deusa! É a sua...
Antes que ela terminasse a frase, ele parou de súbito. Ava estava ali, de frente para ele. Seus longos cabelos loiros balançavam suavemente com a brisa noturna. Seus olhos azuis refletiam a luz da lua. Ambos se encararam por alguns segundos eternos, cheios de admiração e desejo. E então, ao mesmo tempo, as palavras mágicas foram pronunciadas.
— Companheiro!
— Minha!
O coração de Maya se aqueceu. Josh, mesmo tomado pelo instinto, manteve a compostura. Abraçou Ava com carinho e respeito, decidindo esperar, domando seu lado animal. Tratou-a com delicadeza, como quem sabe que o amor também é feito de paciência.
Naquele instante, Maya se pegou imaginando quem seria seu companheiro. Será que seria bonito? Gentil? Teria valores que ela admirasse? Ou seria alguém rude, convencido, daqueles que acham que a ligação do destino dá direito a tudo? Maya estremeceu. Sabia que não aceitaria qualquer coisa. Se não fosse como esperava, ela o rejeitaria. Porque ela tinha amor-próprio. E esse amor não se vendia por um vínculo sagrado.
"Amor-próprio é quando você não precisa de ninguém para te dizer o quanto é linda e incrível. É você se olhar no espelho e se amar sem esperar que alguém te ame. É viver na sua própria companhia fazendo o que gosta de fazer, ter respeito por si sem precisar esperar que alguém te faça feliz, pois você é feliz sozinha."
Essa era sua frase preferida, de Sandrinha Marques. Estava escrita em uma folha pendurada em sua parede. Ela a lia todas as manhãs.
Maya era simples. Amava o cheiro da terra molhada, o som da chuva batendo nas folhas, as flores silvestres espalhadas pelos campos. Gostava de correr descalça, brincar com as crianças da alcateia e treinar com Josh nas clareiras. Ela era diferente das outras lobas, e isso a tornava especial. Mas havia uma dor que guardava só para si: a ausência da mãe.
Perdeu a mãe ainda filhote. A lembrança de seus olhos doces e do perfume de lavanda se tornava cada vez mais distante, mas o vazio persistia. O pai sempre foi presente, amoroso e forte, fazendo tudo o que podia para preencher o espaço que a companheira deixara. Ainda assim, havia noites em que Maya chorava em silêncio, abraçada a um cobertor, sentindo falta daquele amor único.
Mesmo com essa ferida no peito, Maya vivia intensamente. Acreditava que cada dia era um presente. Fazia tudo com dedicação e alma. O Alfa da alcateia tinha grande orgulho dela. E os demais a respeitavam e a amavam. Sua empatia era rara. Sempre disposta a ajudar, principalmente os mais jovens. Era comum vê-la distribuindo pequenos presentes feitos à mão às crianças, ou ensinando-as a correr e a cair sem medo.
Mas, por mais que vivesse em paz, algo estava prestes a mudar.
A deusa Selene já havia decidido o seu destino. O fio invisível que unia Maya a outro coração já estava se esticando. E quando o dia da transformação chegasse, quando sua loba despertasse, nada mais seria como antes.
Talvez fosse o início de um grande amor. Talvez de uma grande luta.
Seu coração batia acelerado. A ansiedade dominava cada célula do seu corpo. O dia seguinte, não era um dia qualquer. Ela completaria dezoito anos, o dia em que conheceria sua loba interior. E que, possivelmente, encontraria seu companheiro destinado.
A casa estava silenciosa, mas sua alma gritava.
Josh apareceu à porta com um sorriso orgulhoso.
— Está pronta para o amanhã?
— Acho que sim… — respondeu com um sorriso hesitante. — Ou talvez não. É estranho sentir que tudo pode mudar em questão de minutos.
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O dia amanheceu com um brilho diferente, como se até o céu compartilhasse da ansiedade que vibrava dentro de Maya. Aos dezoito anos, ela despertava para um novo ciclo — não apenas como mulher, mas como loba. A primeira transformação era um marco, um rito sagrado da Matilha do Norte, esperado com orgulho e reverência. E agora, era sua vez.
Maya se levantou com o coração acelerado. O céu ainda estava tingido de tons alaranjados, e o ar da manhã trazia o perfume fresco das flores do bosque. Após suas higienes matinais, ela vestiu um vestido leve de linho branco, com alças finas e detalhes sutis de renda que sua tia havia costurado à mão. Seu cabelo, solto e macio, descia em ondas sobre os ombros. Ela queria estar leve, simples, como a natureza que a aguardava para aquele grande momento.
Ao descer as escadas da casa da matilha, Maya foi surpreendida por uma cena que a fez parar no meio do último degrau. Ali, parados em frente à escada com um sorriso radiante, estavam Josh, Ava e seu pai, Alfa Khalif. Um lindo bolo branco, coberto por frutas silvestres e dezenas de pequenas velas acesas, brilhava como uma constelação.
— Feliz aniversário, Maya! — disseram os três em uníssono.
Maya levou as mãos à boca, os olhos se enchendo de lágrimas.
— Vocês fizeram isso pra mim?
— Claro que sim, maninha! — disse Josh, já se aproximando para envolvê-la num abraço apertado. — Hoje é o seu grande dia. A nossa pequena loba está virando uma guerreira.
Khalif entregou-lhe um pequeno pingente em forma de lua crescente. — Isso era da sua mãe. Ela ganhou quando completou dezoito anos. Agora é seu. Hoje você entra para a história da nossa linhagem. Eu vi você nascer. Eu senti o primeiro choro, a primeira vez que olhou para mim. Agora… agora eu verei você se tornar quem nasceu para ser.
Maya o abraçou forte. O peito dele era um porto seguro, e ali, por um instante, ela era apenas a filha dele — e não a jovem loba prestes a se transformar.
— Obrigada por tudo, papai.
— Sempre, minha filha.
O dia passou envolto em emoção e expectativa. A aldeia se enchia de movimento, com membros da matilha do Norte e convidados da matilha vizinha chegando, trazendo oferendas, tambores, flores e incensos. As crianças corriam livres, as mulheres dançavam ao som das flautas e dos cantos antigos. Mas, dentro de Maya, tudo era silêncio e tensão.
Ela se perguntava como seria sua loba interior. Seria branca como a neve ou negra como a noite? Teria olhos de âmbar ou prateados como a lua? Seria forte? E o seu companheiro… onde estaria? Teria um bom coração? A aparência era um mistério, mas o que Maya mais desejava era alguém respeitoso, gentil, alguém que visse sua alma antes de sua beleza.
E então, o céu escureceu, pintado de estrelas. A floresta silenciou. A noite havia chegado.
Josh surgiu à porta, vestindo sua túnica cerimonial, com bordados que contavam as histórias ancestrais da família. Seu olhar era protetor e orgulhoso.
— Está pronta?
Maya assentiu, segurando a respiração.
O olhar de Josh se suavizou. Ele caminhou até Maya com um sorriso orgulhoso e emoção visível nos olhos.
— Você está linda, maninha… — disse ele, num sussurro rouco. — Nem acredito que o dia chegou. Parece que foi ontem que te ensinei a subir na árvore mais alta do pátio. Agora, você vai se tornar ainda mais forte.
Ele estendeu a mão, com cuidado.
— Vamos. A lua te espera. E eu vou estar do seu lado, como sempre estive.
Eles caminharam até a clareira sagrada, onde a luz da lua cheia tocava a terra como bênção. O círculo de pedra, no centro da clareira, já estava cercado por lobos e humanos. Tambores rufavam em ritmo lento, como batidas de um coração prestes a despertar. Fogos ardiam em tochas, e o ar era tomado por incensos que dançavam no vento.
O Alfa Khalif ergueu os braços ao céu. — Hoje, sob o olhar da Lua Mãe, Maya se une ao espírito ancestral dos lobos. Que ela encontre sua essência, e que sua loba se revele com verdade e força.
O círculo silenciou. Maya adentrou o centro da clareira. Os olhos se voltaram para ela. Seu coração pulsava com força, como se quisesse escapar do peito. E então, uma dor súbita tomou seu corpo — um calor que a fez cair de joelhos.
Ela gritou, um grito que ecoou pela floresta. Ossos se contorciam, músculos estalavam, pele se alargava. Era como se cada célula estivesse renascendo. Lágrimas escorriam de seus olhos cerrados enquanto seu corpo tremia. Mas em meio à dor, algo brilhava — algo antigo, sagrado. Algo vivo.
Com um último rugido, Maya caiu sobre as patas. Não mais mãos. Não mais pernas. Agora, era uma loba.
Uma bela loba.
Seus pelos eram prateados como a luz da lua. Os olhos, de um azul profundo, cintilavam como o mar ao amanhecer. Alta, elegante, com porte nobre e selvagem.
E então, uma voz surgiu dentro de si.
— Eu sou Lira. Sua loba. Sua essência. Sua força.
— Você é linda — pensou Maya, emocionada.
— E você é corajosa. Juntas, somos inteiras.
Elas correram juntas pela floresta, sentindo o chão, o vento, o chamado da natureza. Era liberdade. Era conexão. Era alma.
Mas então, algo mudou.
Um cheiro forte, quente, adocicado. Algo que fez o coração de Maya acelerar. O vínculo. Seu companheiro estava ali. Perto. Lira também sentiu.
— É ele. Ele está aqui.
Seguindo o cheiro, Maya se aproximou da borda da clareira onde estavam os convidados da matilha vizinha. Entre eles, um lobo de porte imponente a observava. Alto, musculoso, cabelos escuros e olhos dourados. Ele sorriu ao vê-la, com arrogância e certeza.
Kael.
Um guerreiro da matilha do Sul. Famoso por sua força em batalha, mas também por sua fama com as fêmeas — sempre pulando de cama em cama, tratando-as como troféus e não como iguais. Maya já ouvira histórias. Orgulhoso. Prepotente. Nunca respeitoso.
Kael caminhou em sua direção, confiante. Seus olhos não demonstravam surpresa ou emoção, apenas desejo de posse.
— Então é você… — ele disse, parando à frente da loba. — Minha companheira. Era de se esperar. Os deuses me dariam alguém à minha altura.
Maya recuou um passo, o coração batendo forte. Lira rosnou dentro dela.
— Não. Ele não é o que queremos.
— Não diga nada — Kael prosseguiu, aproximando-se ainda mais. — Eu irei reivindicá-la agora. Seremos um só, e você será minha fêmea. Vai se acostumar, todas se acostumam.
Maya voltou à forma humana num estalo, com o olhar em chamas.
— Você não vai me reivindicar — disse, com a voz firme, sem medo. — Não é isso que eu quero.
Kael franziu a testa, irritado. — Está rejeitando seu destino?
— Estou rejeitando você. Se o destino quis isso, ele errou.
Houve um murmúrio entre os presentes. Josh já se aproximava, pronto para protegê-la. Mas Maya ergueu a mão, mantendo todos afastados.
— Eu sonhei com esse dia a vida inteira. Não pra ser dominada por alguém que não me respeita. Quero um companheiro, não um dono. E se você não é capaz de me ver como igual, então não merece a bênção do vínculo.
Kael rangeu os dentes, ferido no ego. Mas antes que dissesse algo, o Alfa Khalif se aproximou com autoridade.
— A decisão da loba é soberana. E será respeitada.
Kael recuou, contrariando-se, e sumiu entre os convidados, sob os olhares de reprovação dos anciãos.
Maya respirou fundo. Estava tremendo. Mas sentia-se livre. Forte. Verdadeira.
Josh a abraçou por trás, sussurrando:
— Estou tão orgulhoso de você, minha irmã.
Ava chegou logo depois, com lágrimas nos olhos. — Você foi incrível, Maya. Nunca se curve por menos do que merece.
O pai a observava com reverência, como se estivesse diante de uma rainha.
Naquela noite, Maya não apenas se transformou em loba. Ela se transformou em mulher. Em guerreira. Em si mesma.
E embora seu companheiro não fosse o que esperava —, ela sabia de uma coisa:
Artemis estava com ela. E isso bastava.
Na própria matilha, muitos a apoiaram, especialmente os mais jovens e as fêmeas, que viam nela uma inspiração. Mas fora dali, em outras alcateias, começaram a surgir murmúrios. Alguns a chamavam de ingrata, outros de insolente. Para muitos, o laço com o companheiro era sagrado demais para ser negado.
Kael, por sua vez, não deixou o orgulho ferido curar com o tempo. Ele inflamou ainda mais os comentários. Contou versões distorcidas da verdade, sugerindo que Maya o havia humilhado em público, que o rejeitou por arrogância, por achar que merecia alguém “melhor”.
Maya não se preocupava com isso — ao menos não demonstrava. Mergulhou no treinamento com seu irmão. Passava horas na clareira, aperfeiçoando seus sentidos, aprendendo a controlar sua loba interior, Artemis, que se mostrava poderosa, veloz e protetora.
Em seu tempo livre, continuava a fazer o que sempre amou: passava horas com as crianças, colhia flores para os mais velhos, ajudava nos preparativos das festividades. Mas, por dentro, sentia-se isolada. Carregava um peso invisível: o de ter ido contra uma tradição antiga e poderosa.
— Eu sei que fiz o certo — disse um dia, sentada com Josh à beira do rio. — Mas às vezes me pergunto se algum dia serei aceita de novo… por completo.
— Você será — garantiu o irmão. — Talvez não por todos. Mas será amada de verdade, um dia. Por alguém que verá quem você é, não quem esperavam que fosse.
No campo, Maya mantinha o foco no treinamento. Seu corpo se movia com precisão, os golpes eram firmes, e sua loba interior, Lira, vibrava de energia, satisfeita. Mas não passou despercebida aos olhos invejosos de Nayra, uma loba da própria alcateia, que há tempos sentia-se ameaçada pela presença de Maya.
Nayra se aproximou quando o treino terminou, a voz pingando veneno.
— Você acha que porque rejeitou um companheiro está acima de todos nós, não é?
Maya limpou o suor da testa e a encarou com calma.
— Não acho nada, Nayra. Só vivo conforme acredito.
— Isso. Acredita tanto que preferiu ficar sozinha a aceitar o que Selene te deu. Sabe o que dizem sobre isso, não é? Que lobas como você terminam velhas e amargas, sem ninguém.
Josh avançou, pronto para defender a irmã, mas Maya ergueu a mão, impedindo-o.
— Melhor estar só do que ao lado de alguém sem alma.
A frase causou impacto. Nayra riu, mas por dentro ardia de ódio. Ela se afastou, deixando no ar a promessa silenciosa de que aquele conflito ainda não tinha terminado.
Naquela noite, a lua cheia surgiu com uma presença estranha. Algo parecia diferente no ar. Logo ao amanhecer, a resposta chegou.
Um uivo soou na entrada do território. Um mensageiro. Coberto com mantos escuros e acompanhado por guardas reais. Trazia um anúncio selado com o emblema da Alcateia Suprema.
O conselho se reuniu na clareira principal. Todos os membros estavam presentes. O mensageiro, com a postura imponente, abriu o pergaminho e leu em voz alta:
— “Por ordem do Alfa Supremo, Darian — soberano das Alcateias do Norte, do Leste e dos Territórios do Vale — comunica-se a todas as matilhas:
Após dois anos do falecimento da Rainha Mirca, será escolhida uma nova companheira, digna de ocupar o trono ao lado do Rei.
Todas as lobas entre dezoito e vinte e cinco anos, que possuam linhagem pura ou méritos reconhecidos pelos anciãos, poderão se apresentar para a seleção.
Será iniciado um ciclo de desafios sagrados, onde força, sabedoria e espírito serão testados. Ao final, três finalistas serão escolhidas. Dentre elas, a Pedra da Lua — relíquia sagrada da deusa Selene — revelará aquela que carrega em si a verdadeira essência da liderança, da coragem e da honra.
A eleita não será apenas Rainha — será guia, guerreira, e guardiã ao lado do Alfa Supremo.”
E então... a praça explodiu em reações.
— “Você ouviu isso?” — sussurrou uma loba loira de olhos escuros, prendendo o cabelo apressadamente como se já estivesse se preparando para os desafios.
— “A Pedra da Lua…? Isso é sério…” — murmurou um ancião, os olhos arregalados. — “Ele não escolhe desde a Rainha Elira.”
Outros começaram a cochichar entre si, com olhares ávidos e ambiciosos. Mães apertavam os braços das filhas, incentivando-nas com orgulho mal disfarçado. Algumas jovens riam nervosas, outras mantinham o queixo erguido, já se imaginando vestidas com as cores reais.
— “Será que que o Alfa Supremo vai assistir aos desafios pessoalmente?”
— “Ele nunca apareceu antes… Mas dizem que essa escolha será diferente.”
Josh sussurrou perto da irmã:
— Aposto que metade das lobas vai perder o sono com isso.
Maya, no entanto, sentiu um arrepio percorrer a espinha. Algo dentro de si reagiu àquelas palavras, como se Artemis houvesse se despertado.
Três dias se passaram. A rotina parecia inalterada, mas todos estavam atentos. Ninguém sabia quando ou onde o Alfa apareceria.
O que ninguém imaginava era que ele já estava entre eles.
Disfarçado como um dos guerreiros enviados para a matilha, representando o peso da Coria. o Alfa Supremo Darian observava em silêncio. Era alto, com cabelos negros e olhos de um cinza tão claro que pareciam feitos de gelo. Sua presença era contida, fria, quase invisível. Vestia-se de forma simples, usava o nome “Darrien” e falava pouco.
Havia algo em seus olhos que parecia sempre calcular, medir, pesar cada ação e palavra. Estava acostumado ao controle, ao comando, à obediência. E por isso mesmo, o que sentiu ao ver Maya pela primeira vez o desconcertou.
Ela estava sozinha, deitada na grama próxima ao lago, lendo um livro e rindo sozinha de algum trecho. O sol tocava sua pele dourada, e o vento bagunçava seus cabelos castanhos.
— Você parece feliz sozinha — disse ele, surgindo ao seu lado sem aviso.
Ela levantou os olhos, surpresa, mas não assustada.
— E você parece gostar de observar — retrucou, arqueando a sobrancelha.
Darian sorriu. Raro. Verdadeiro.
— Estou tentando entender algumas coisas.
— Por exemplo?
— O que faz uma loba rejeitar o companheiro escolhido pela deusa.
Ela fechou o livro.
— Ah. Então você é mais um curioso com isso.
— Talvez. Mas diferente dos outros, não acho que foi tolice. Só quero entender.
Maya olhou para o guerreiro por um momento mais longo, avaliando. Ele era bonito, isso era inegável. Mas havia algo além. Um peso nos ombros, uma dor silenciosa escondida atrás daqueles olhos frios.
— O vínculo é poderoso, mas não é absoluto. Às vezes, a deusa une caminhos para testar, não para forçar. Eu não passei no teste… Porque não aceitei o que me feria.
Darian sentiu como se algo dentro dele se partisse e se encaixasse ao mesmo tempo. Aquela loba… Era diferente de tudo o que ele conhecera. Não pela força, nem pela aparência. Mas pela alma.
— E se alguém te dissesse que você foi feita para reinar?
Ela soltou uma risada leve.
— Eu diria que essa pessoa deveria dormir menos e andar mais descalça na terra. Faz bem para voltar à realidade.
Ele riu. Pela primeira vez em anos, riu com leveza. E soube, ali, que tinha um problema.
Estava começando a sentir algo perigoso.
Não por uma loba qualquer. Mas por aquela que rejeitou o companheiro. Que desafiou tradições. Que falava com crianças e ajudava velhos. Que dançava com o vento e treinava como guerreira. Que tinha um espírito livre, indomável.
E essa loba, Maya, nem sonhava quem era o estranho guerreiro que começava a rondar sua presença com mais frequência, com perguntas sutis, elogios contidos, olhares longos.
Mas Nayra notou. E não gostou nada disso.
Ela não deixaria Maya brilhar de novo. Não quando o trono estava em jogo.
E Maya? Ainda não fazia ideia do quanto sua vida estava prestes a mudar.
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