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Meu Vizinho

AVISO DE CONTEÚDO +18

⚠️ AVISO DE CONTEÚDO +18

Este livro é indicado exclusivamente para maiores de 18 anos.

Contém cenas de sexo explícito, conflitos familiares, violência emocional, e relacionamentos complexos — incluindo a temática de meio-irmãos.

É uma história que transita entre o desejo e a dor, o proibido e o inevitável.

Se você não se sente confortável com esse tipo de conteúdo, talvez essa não seja a leitura ideal para você neste momento.

Lembre-se: esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas, nomes, situações ou locais reais é mera coincidência.

capítulo 01-

A minha história nunca foi simples. Crescer em uma casa comandada por uma mulher como minha mãe, Lorena Ross, é como caminhar todos os dias sobre um campo minado — cheio de regras, expectativas e silêncios cuidadosamente escolhidos.

Lorena é uma mulher de presença marcante, daquelas que não precisam levantar a voz para conquistar uma sala inteira. Seus cabelos ruivos perfeitamente alinhados, a postura ereta e as roupas impecáveis sempre a faziam parecer intocável. Trabalha para o governo em assuntos que, para mim, sempre pareceram confidenciais demais. Uma mulher sofisticada, fria para quem não a conhece, mas que carrega uma força capaz de sustentar o mundo com as próprias mãos.

E, bom, talvez eu seja como ela, no fundo. Embora eu lute contra isso.

Me chamo Nina Ross, tenho 21 anos e sou a filha mais velha dessa casa silenciosa demais. O tipo de casa em que as paredes sabem mais do que as pessoas. Eu deveria estar na faculdade agora, talvez construindo algo pra mim, mas a vida não me deu essa chance no tempo que eu esperava. Quando minha mãe decidiu se casar novamente, tudo mudou.

O noivo dela? Leonardo Albuquerque. Um homem influente, com negócios pesados, também ligado ao governo. Alguém que, aos olhos do mundo, parece perfeito para ela. Eu finjo aceitar. Fingir virou um talento meu. A adaptação nunca foi uma opção, foi uma necessidade.

E no meio de tudo isso, existe Isadora. A pequena Isadora, com seus cinco anos e os mesmos cabelos ruivos que parecem carregar o selo da nossa família. Ela é diferente de mim. Ela é a luz, a leveza que ainda sobra nesse lugar. Isadora é espontânea, carinhosa, uma criança que não entende a complexidade que nos cerca. Talvez ela nunca entenda. Talvez, no fundo, eu nem queira que ela entenda.

Nosso passado não é algo que eu possa contar em uma tarde qualquer. Ele é tecido em camadas de decisões, de perdas e de segredos que ainda me assombram. Meu pai não está mais presente, e sobre isso minha mãe raramente fala. As memórias que eu tenho dele são como fitas antigas: borradas, frágeis e incompletas. Mas, de alguma forma, ele ainda pesa aqui. Em mim.

E foi nesse cenário — uma mãe sofisticada demais, uma irmã pequena demais e uma casa grande demais — que eu fui jogada.

Não sei se sou forte como a Lorena, nem se sou doce como a Isadora. O que sei é que estou presa entre as duas. E talvez... talvez seja nesse espaço que eu vá me perder. Ou me encontrar.

É assim que começa.

– A Mudança

O relógio da sala marcava quase cinco da tarde quando Lorena chegou. Como sempre, os saltos ecoaram pelo mármore antes mesmo da porta se abrir. O som dela chegando sempre foi como um alerta natural, um aviso de que a casa estava prestes a se recompor, a se alinhar diante da presença dela.

Isadora estava esparramada no sofá, as bochechas coradas de tanto brincar, os cachinhos ruivos grudados na testa de tanto correr. Eu a observava enquanto ela ria alto, brincando com as mãos pequenas da babá que cuidava dela quando minha mãe se atrasava. A babá era gentil, paciente. Era uma das poucas que Isadora gostava de verdade.

— Mãe! — Isa gritou, pulando no sofá ao ouvir o barulho da chave na porta.

Lorena entrou como quem carrega o mundo nos ombros, mas ainda assim, com a elegância de sempre. O blazer bege marcava sua cintura fina, os cabelos ruivos estavam presos num coque baixo, sem um fio fora do lugar. Ela parecia cansada, mas sorriu assim que Isadora correu em sua direção.

— Oi, meu amor. — Ela a pegou no colo com um suspiro leve e a abraçou com força. — Estava com saudades.

— Você demorou hoje. — A Isa fez bico, brincando com o colar delicado que Lorena usava.

— É, o trabalho foi puxado. — Ela olhou pra mim por cima do ombro da Isa. — Oi, Nina.

— Oi. — Respondi seca, ainda sentada no tapete, fechando a tampa de um quebra-cabeça que nem era meu, mas que me distraía.

Lorena pousou a bolsa na poltrona e fez um gesto pra babá, que logo entendeu que podia se retirar.

— Precisamos conversar — disse, enquanto sentava-se no sofá, acomodando a Isa no colo.

Não gostei do tom. Conhecia bem aquela voz. Era o tom de quem vinha com bomba.

— O que foi agora? — Cruzei os braços, já me preparando para o impacto.

Lorena respirou fundo antes de soltar as palavras que mudariam tudo.

— Nós vamos nos mudar.

O silêncio foi imediato.

— O quê? — Minha voz saiu mais alta do que deveria. — Como assim, se mudar? Por quê?

— Recebi uma proposta de trabalho irrecusável. Vamos morar na Califórnia.

Isadora soltou um gritinho animado, batendo palmas.

— Eu vou morar na Califórnia? Aquele lugar dos filmes, né, mamãe? Eu vou ter uma casa nova? Eu vou poder surfar?

Eu não consegui sorrir. Meus olhos arderam de raiva, de indignação.

— Não! Você não pode fazer isso! — Levantei num impulso, o coração batendo forte no peito. — Eu não vou deixar minha vida aqui! Minhas amigas... a Gabi!

— A gente pode fazer chamadas de vídeo — Lorena tentou amenizar, como se fosse fácil. — Você vai poder visitá-la nas férias.

— Não é a mesma coisa! — Disparei. — Eu não quero ir. Eu não pedi pra isso.

Isadora, no colo dela, murchou um pouco ao ver minha reação. Ela estava dividida — empolgada com o novo e triste por deixar suas pequenas amizades.

— Meu trabalho exige. E você sabe, Nina, que nós precisamos dessa mudança. Não é negociável.

Eu me virei de costas, tentando controlar a respiração. Eu não queria chorar ali. Não queria dar a ela esse gosto.

— Você só pensa em você. — Sussurrei, baixo o suficiente para que talvez ela não ouvisse. Mas ela ouviu.

— Eu estou pensando no nosso futuro. — Ela respondeu firme, como sempre.

Me afundei no sofá, sentindo como se o chão estivesse escapando sob meus pés.

Isadora se aninhou no colo da minha mãe e, mesmo empolgada, murmurou:

— Eu vou sentir falta das minhas amiguinhas…

E tudo dentro de mim gritava que, no fundo, eu só queria ficar. Eu só queria a minha cidade. Eu só queria continuar ao lado da Gabi. Mas parecia que, mais uma vez, ninguém se importava com o que eu queria.

Capítulo 02

Subi as escadas com passos apressados, o peito apertado e a garganta queimando. Eu precisava sair dali. Precisava fugir do olhar calmo e frio da minha mãe, daquela decisão que parecia inquestionável. Quando fechei a porta do meu quarto, foi como se finalmente pudesse respirar, mas nem isso me trouxe alívio.

Me joguei na cama, os olhos marejados encarando o teto. O mundo inteiro parecia querer me arrancar daqui. Como se tudo o que me prendia — minha melhor amiga, meus lugares, minhas rotinas — não valesse nada.

Me encolhi, tentando não deixar o choro explodir. Mas era impossível.

Alguém bateu na porta. Eu não respondi.

A maçaneta girou devagar, e Maria apareceu no quarto. Ela sempre foi mais que uma governanta. Ela era como uma segunda mãe. Ela ouviu tudo lá de baixo, claro que ouviu. Nenhuma porta fechada naquela casa era capaz de conter um grito de desespero como o meu.

— Posso? — Ela perguntou com delicadeza.

Assenti, as lágrimas finalmente rolando pelo meu rosto.

Ela se aproximou, sentou-se ao meu lado e, sem dizer nada, abriu os braços. Eu me joguei ali, no abrigo seguro que era Maria, e chorei como se fosse uma criança de novo.

— Eu não quero ir, Maria… eu não quero deixar a Gabi… não quero deixar a minha vida aqui.

Ela afagou meus cabelos devagar, como fazia quando eu era pequena e caía de bicicleta.

— Eu sei, minha menina… eu sei que dói. — A voz dela era um sussurro quente e firme. — Mas às vezes a vida muda de caminho sem nos perguntar. Às vezes é nesses caminhos que a gente encontra o que mais precisa.

— Eu não pedi nada disso. — Sussurrei, engasgada no próprio choro. — Eu só queria ficar…

— Eu entendo. — Ela me afastou um pouco, para me olhar nos olhos. — Mas a sua mãe está tentando o melhor pra vocês. Talvez lá você encontre oportunidades que não teria aqui. Talvez seja o seu momento de crescer, Nina. Quem sabe até fazer aquela faculdade que você tanto fala?

Desviei o olhar, mordendo o lábio.

— Mas eu vou ficar tão longe da Gabi…

— Amizades verdadeiras resistem ao tempo e à distância, minha querida. — Ela sorriu com ternura. — E você pode visitar, ligar, mandar mensagens. O que vocês têm não vai se desfazer assim tão fácil.

O silêncio se arrastou por alguns segundos. Eu queria acreditar nisso. Queria muito. Mas ainda doía demais.

— Eu não tô pronta, Maria. Eu não sei se algum dia eu vou estar.

Ela segurou minhas mãos com força.

— Você é mais forte do que pensa, Nina. E eu estarei com você em cada passo. Sempre.

Meus olhos se encheram de lágrimas de novo, mas dessa vez não era desespero. Era um alívio estranho, como se o abraço dela tivesse sido o único lugar onde eu podia respirar sem me sentir sufocada.

A mudança era inevitável. Mas, talvez, com Maria ali, não fosse impossível.

Fiquei ali, sentada na beirada da cama, enquanto a Maria ainda me abraçava, tentando juntar as minhas forças partidas. Ela me soltou devagar, como se soubesse que eu precisava de espaço, mas ainda estivesse perto o suficiente pra me segurar, caso eu desmoronasse de novo.

— Quer que eu prepare um chá? Um chazinho de calumbila pode te acalmar, meu bem.

Eu funguei, passando o dorso da mão nos olhos molhados.

— Quero… por favor, Maria.

Ela sorriu de leve e saiu, me deixando sozinha no quarto. Sozinha com meus pensamentos, com a dor crescendo no peito e a cabeça girando com tantas perguntas sem resposta.

O som de uma batida suave na porta me tirou da imersão no próprio vazio.

— Nina, posso entrar?

Era minha mãe. Lorena.

Fiquei em silêncio por um segundo, sem saber se queria vê-la ou se preferia continuar me afundando ali, longe dela. Mas alguma coisa dentro de mim me mandou dizer sim.

— Pode.

Ela entrou com passos calmos, as mãos cruzadas à frente, o olhar firme, mas carregado de algo que eu nunca tinha visto antes: um tipo de cansaço, de saudade que ela ainda nem sentiu.

Sentou-se ao meu lado na cama, mantendo uma pequena distância. Parecia que ela queria me dar espaço. Mas ao mesmo tempo, ela estava ali.

— Eu sei que não é o que você queria ouvir hoje, filha. — A voz dela era suave, um pouco trêmula. — Mas essa mudança é necessária. Não só pra mim… pra você também. E, principalmente, pra Isa.

Eu mordi o lábio com força, tentando conter as lágrimas, mas o peso era grande demais.

— Mãe, eu não quero ir. Eu não quero deixar a Gabi. Eu não quero deixar a minha vida. — Senti minha voz falhar, o peito doer mais do que eu podia suportar.

Ela suspirou e virou-se um pouco mais pra mim.

— Nina, aquela cidade não te pertence mais. Você merece mais. O mundo é grande demais pra você ficar presa a um único lugar. — Ela colocou a mão sobre a minha. — E a Isa… ela precisa crescer em um lugar diferente. Ela precisa de outras oportunidades, outras vivências. Ela é pequena, não entende isso agora, mas um dia vai entender.

Desviei o olhar, as lágrimas escorrendo sem controle.

— Eu entendo, mas isso não quer dizer que eu queira, mãe. Eu não tô pronta…

Ela apertou minha mão, os olhos começando a brilhar com a mesma umidade que os meus.

— Eu também não tô pronta, meu amor. Eu também vou sentir falta. Eu também tô com medo. — Ela me puxou com cuidado pro abraço. — Mas a gente vai juntas. E vamos criar novas lembranças. Vamos crescer com isso.

Me permiti afundar no abraço da minha mãe, sentindo o calor dela, o cheiro suave que sempre me trouxe segurança. E quando me dei conta, ela também chorava.

Ela, a mulher forte, a empresária impecável, a mulher que parecia inabalável… chorava.

— Você é meu bem mais precioso, Nina. Eu jamais te levaria pra um lugar que não fosse te fazer bem.

Chorei mais forte, me agarrando nela como se fosse meu porto. Como se ainda fosse aquela garotinha que corria pra debaixo da saia dela quando tinha medo.

E talvez, de certo modo, eu ainda fosse.

A porta se abriu devagar e Maria apareceu, segurando a bandeja com o chá.

Ela sorriu ao ver a cena, deixando o chá sobre a cômoda em silêncio, respeitando aquele momento. E antes de sair, sussurrou:

— O chá pode esperar. O amor de vocês não.

Lorena me apertou com mais força, como se concordasse.

Talvez eu fosse mesmo forte o suficiente pra ir. Mesmo que não quisesse.

Talvez.

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