...“Ele me fez atravessar o inferno... e eu ainda desejei que fosse o céu.”...
...⚜️ SINOPSE ⚜️...
Eva Duarte, uma arquiteta brasileira talentosa, vê sua carreira estagnar após o fim de um relacionamento que também afetou sua reputação profissional. Prestes a desistir de tudo, ela recebe um e-mail misterioso com uma proposta irrecusável: um contrato milionário para redesenhar uma biblioteca em uma empresa internacional em Al-Hazan que fica no oriente médio.
Ao chegar ao país, Eva descobre que o projeto é comandado diretamente por Zayed Al-Nur — príncipe herdeiro, sheik e CEO da poderosa holding Al-Nur Enterprises. Ele é belo, perigoso e extremamente controlador — e quer aprovar cada detalhe do projeto pessoalmente.
A relação profissional entre os dois se transforma numa batalha de vontades, marcada por tensões, provocações e uma atração irresistível.
...⚜️ PERSONAGENS ⚜️...
...ZAYED AL-NUR...
...EVA DUARTE...
Meu nome é Eva Duarte. Tenho trinta e dois anos, sou arquiteta há quase uma década, e pela primeira vez na vida, me sinto cansada. Não aquele cansaço físico, que um banho quente resolve. Mas aquele cansaço que gruda na alma, que pesa no peito mesmo quando o corpo está parado. Sabe aquele momento em que você se olha no espelho e mal reconhece quem está lá? É onde estou agora.
Sempre fui obstinada. Desde pequena, queria transformar espaços, desenhar o que ainda não existia. Enquanto outras crianças brincavam com bonecas, eu criava casas de papelão e empilhava blocos de madeira tentando fazer "meu prédio dos sonhos". Era o tipo de menina que preferia uma trena a uma Barbie. Quando entrei na faculdade de Arquitetura, sabia que estava exatamente onde deveria estar.
Me formei com louvor, fui contratada por um dos maiores escritórios de São Paulo e, dois anos depois, abri minha própria empresa. Era pequena, mas era minha. Passei madrugadas acordada ajustando projetos, discutindo detalhes técnicos com clientes difíceis, conciliando planilhas, obras e criatividade. E no meio de tudo isso, me apaixonei.
Damien era engenheiro. Inteligente, carismático, e, claro, mais velho. Começamos a trabalhar juntos, nos envolver, até que ele se tornou parte da minha vida — da minha cama, do meu coração e, infelizmente, da minha empresa. O que eu não sabia era que, enquanto eu criava projetos arquitetônicos, ele construía mentiras.
Descobri da pior maneira que ele me traía. E não só com outra mulher, mas com uma das minhas sócias e melhor amiga Emma. Perdi o relacionamento, a confiança e, em questão de meses, a empresa foi à falência. Ele desviou dinheiro, roubou clientes e me deixou com dívidas que ainda estou pagando. Que ironia: uma arquiteta que sabia projetar tudo, menos as intenções de quem amava.
Desde então, minha vida virou um ciclo de freelas mal pagos, noites mal dormidas e orgulho ferido. Voltei a morar num apartamento alugado, que fica em cima de uma padaria. O cheiro constante de pão fresco é quase reconfortante, mas até isso me lembra que minha cozinha não é minha.
Foi numa dessas manhãs de segunda-feira, enquanto eu estava de moletom velho, cabelo preso num coque bagunçado e tomando café solúvel na caneca trincada, que recebi o e-mail que mudou tudo.
O remetente? Al-Nur Enterprises.
Assunto: Proposta internacional de consultoria – URGENTE.
Quase deletei na hora, achando que era golpe. Afinal, quem no Oriente Médio estaria interessado em uma arquiteta brasileira falida? Mas a curiosidade venceu. Abri.
📮 Prezada Sra. Eva Duarte,
Seu portfólio chegou ao nosso comitê de seleção por meio de uma rede de recomendações profissionais. O CEO da Al-Nur Enterprises, Sua Alteza Zayed Al-Nur, solicitou a contratação de uma arquiteta com especialização em design contemporâneo ocidental para desenvolver o projeto de uma biblioteca executiva na sede da empresa, em Al-Hazan.
Caso tenha interesse, gostaríamos de agendar uma videoconferência para alinhamento de expectativas e proposta contratual.
Atenciosamente,
Leilah Mansur – Diretora de Operações Internacionais
Fiquei paralisada.
Recomendações Profissionais? Eu nem sabia que meu nome ainda circulava em redes profissionais. Será que algum ex-cliente me indicou? Ou foi pura sorte? Não fazia ideia. Mas aquele nome — Zayed Al-Nur — me soou familiar. Fiz uma rápida pesquisa.
Zayed era nada menos que o príncipe herdeiro de Al-Hazan, um país pequeno, mas extremamente rico, conhecido por seu petróleo, arquitetura exuberante e regras rígidas. Além disso, era CEO de um dos maiores conglomerados empresariais do Oriente Médio, com investimentos em tecnologia, construção civil, energia e turismo.
Era como se eu tivesse sido convidada para trabalhar no topo do mundo — por um rei que ainda não usava coroa.
A proposta parecia boa demais para ser verdade. Fiquei dividida. Aceitar significava abandonar tudo aqui — minha zona de conforto, minha língua, minha cultura — para mergulhar num mundo de tradições que eu não compreendia. Mas recusar significava continuar estagnada. Vivendo com medo. Apagada.
Aceitei a videochamada no dia seguinte. Fui orientada a não me maquiar muito, a usar roupas neutras e a não revelar muito do corpo. Um choque para alguém como eu, que sempre teve um estilo ousado. Mas adaptei.
Durante a reunião, uma mulher chamada Leilah me explicou os detalhes do projeto com calma e formalidade. Disse que minha criatividade, aliada ao senso estético moderno, chamou atenção de Sua Alteza. Que ele queria algo “ocidental, ousado, mas com sobriedade e elegância.” Palavras dele.
A proposta financeira era absurda. Cinco vezes o que eu ganhava em um ano. Passagens, hospedagem, seguro, tudo pago. E o prazo? Três meses.
Aceitei.
Sem hesitar, sem consultar ninguém, sem dar satisfações. Pela primeira vez em anos, senti que era hora de pensar só em mim. Em me permitir recomeçar — de verdade. E se a vida estava me dando essa chance, eu não ia desperdiçar.
Três semanas depois, lá estava eu: com uma mala de 32kg, outra de mão lotada de cadernos de rascunho, vestido num conjunto social discreto, dentro de um avião com destino a um lugar do qual eu só ouvira falar em documentários. Rumo a um mundo onde as regras eram outras, os olhares mais profundos e o homem que me contratou era alguém que eu ainda não sabia se devia temer, respeitar ou evitar.
Tudo o que eu sabia era que esse projeto podia mudar minha vida. Para melhor, claro.
Assim que desembarquei em Al-Hazan, a primeira coisa que senti foi o calor. Um calor seco, denso, que parecia envolver cada centímetro do meu corpo. O ar tinha um cheiro diferente, uma mistura de especiarias, poeira fina e algo levemente adocicado que eu não soube identificar. Era como se o próprio país exalasse tradição.
Um motorista vestido com roupas tradicionais me aguardava com uma placa com meu nome. Ele foi educado, silencioso, e falava um inglês com sotaque carregado. Me levou até um carro preto elegante, com vidros escuros e bancos de couro. A viagem até meu novo apartamento levou pouco mais de quarenta minutos. A cidade era um contraste de opulência e areia. Prédios espelhados tocavam o céu enquanto pessoas caminhavam pelas ruas com vestes longas e coloridas.
O apartamento reservado para mim era mais bonito do que eu esperava. Ocupava um andar inteiro em um edifício moderno, com vista para o mar e para as dunas douradas ao longe. O hall de entrada era amplo, com piso de mármore branco e paredes em tom areia, decoradas com quadros de arte local. Havia um aroma sutil de jasmim, como se o lugar tivesse sido preparado cuidadosamente para me receber.
A sala de estar era decorada com sofás em linho bege, almofadas bordadas e uma mesa de centro de madeira escura. A cozinha era moderna, com eletrodomésticos embutidos e bancadas de granito. Meu quarto tinha uma cama king-size com cabeceira de veludo azul-marinho, cortinas translúcidas e uma varanda encantadora. Tudo impecável, luxuoso, mas também acolhedor.
Uma jovem chamada Safiyah, que falava inglês fluentemente, me aguardava no apartamento. Ela se apresentou como funcionária da empresa encarregada de me auxiliar com tudo que eu precisasse nos primeiros dias. Tinha um sorriso gentil, movimentos calmos e um ar de quem já sabia tudo sobre como lidar com estrangeiros assustados.
— Se precisar de algo, estarei por aqui durante esta semana, senhorita Eva. A Alteza Zayed deseja que esteja confortável e bem instalada.
— Thanks ( Obrigada) — Agradeci.
Fiquei surpresa com a atenção aos detalhes. Ela me mostrou cada cômodo com paciência, explicando o funcionamento dos dispositivos eletrônicos, as peculiaridades do chuveiro, a forma correta de usar o ar-condicionado — que ali, era uma questão de sobrevivência — e como solicitar serviços ou comida, caso eu não quisesse cozinhar.
Depois de me despedir dela, por ora, resolvi desfazer as malas. Abri o espaçoso closet que ficava ao lado do quarto principal e comecei a organizar minhas roupas. Havia divisões suficientes para tudo: vestidos, ternos, sapatos, bolsas, e ainda sobrou espaço. Arrumei cada peça com cuidado, como se quisesse colocar minha vida em ordem junto com os tecidos. Era terapêutico.
Em seguida, abri as janelas da varanda para deixar o ar circular entrar. A vista era inacreditável. As águas do mar pareciam um espelho turquesa, enquanto o sol dourava as dunas ao longe. Sentei-me por alguns minutos, apenas para absorver aquele lugar. Era tudo novo, imenso, intimidante.
Voltei para dentro e fui até a cozinha. Ainda com fome, apesar do lanche do avião, resolvi preparar algo simples. Havia uma pequena cesta com alimentos frescos deixada ali: ovos, legumes, pães, queijos e alguns temperos locais. Preparei ovos mexidos com ervas, fatiei um pão macio e servi com um suco de romã. Me sentei sozinha à mesa, sentindo a solidão bater pela primeira vez desde que saí do Brasil. Não uma solidão ruim. Era mais como um espaço vazio pronto para ser preenchido.
Após comer, lavei os pratos por instinto e aproveitei para tomar um banho longo. A água quente, as essências naturais dos produtos de banho que deixaram para mim, e o silêncio absoluto do apartamento foram reconfortantes. Saí do banheiro com um roupão felpudo branco, sentindo minha mente começar a descansar.
Vesti um pijama leve, amarrei o cabelo e sentei no sofá da sala. Peguei meu caderno de ideias e comecei a rabiscar. Linhas soltas, esquemas de cores, memórias de projetos passados. Estava começando a sentir aquela chama reacender dentro de mim. Talvez esse trabalho fosse mesmo minha chance de recomeçar.
Recebi uma mensagem de Safiyah informando que minha apresentação na Al-Nur Enterprises seria na manhã seguinte, às nove. Ela viria me buscar com o carro da empresa.
Depois disso, fui para a cama. O colchão parecia me abraçar, e os lençóis cheiravam a lavanda. Deitei de lado, observando as luzes da cidade pela varanda, com o som distante do vento soprando pelas dunas.
Fechei os olhos com uma sensação estranha de gratidão.
Mesmo com todas as cicatrizes, eu estava ali. Tinha atravessado o mundo. Tinha uma nova chance. E no fundo do meu coração, mesmo que eu não dissesse em voz alta, eu queria fazer isso dar certo.
Na manhã seguinte, eu encontraria o homem por trás de tudo: o sheik, o CEO, o líder. Mas por enquanto, eu só precisava dormir.
E foi exatamente o que fiz depois de uma viagem longa e exaustiva. Dormi.
...✧ ✧ ✧ ✧ ✧ ✧...
Na manhã seguinte, acordei cedo. Tomei banho, fiz todas as minhas higiene matinal. Estava nervosa, como se fosse meu primeiro emprego. Escolhi com cuidado cada peça de roupa: uma saia social preta, justa, mas que cobria os joelhos perfeitamente. Uma blusa azul-clara de manga três quartos, com um leve brilho acetinado, salto escarpin preto e cabelos presos num rabo de cavalo baixo. Brincos discretos, um colar fino com um pequeno pingente da sorte — presente da minha mãe — completavam o visual. Profissional, elegante e respeitoso. Estava pronta.
Como Safiyah havia dito, ela veio me pegar e me levou até a empresa. Ao chegar, fui mais uma vez surpreendida. A empresa da Al-Nur em Al-Hazan era um verdadeiro palácio moderno. O prédio se erguia como uma obra de arte no centro da cidade. Os jardins eram meticulosamente cuidados, com fontes que jorravam água cristalina, e esculturas que mesclavam modernidade com elementos da cultura tradicional.
Dentro do edifício, o hall de entrada tinha um pé-direito altíssimo, paredes em ônix branco e um lustre de cristal gigantesco que parecia mais um céu estrelado. Fui recebida por uma funcionária vestida com roupas tradicionais, mas com um crachá moderno e um sorriso cordial. Me conduziu até uma sala de espera privada, onde eu aguardaria o momento da reunião com o próprio senhor Zayed.
Sentei-me numa poltrona de couro marrom, larga, de encosto alto e incrivelmente confortável. Havia uma mesa de centro em vidro fosco à minha frente, com uma bandeja contendo pequenas taças de café árabe — forte, aromático, servido em porções pequenas e acompanhado de tâmaras. Descobri que, sim, eles tomam café. Mas é um café diferente do nosso — sem a doçura automática, com notas de especiarias como cardamomo.
Peguei uma das pequenas xícaras e a levei aos lábios. O sabor era intenso, marcante, mas curiosamente reconfortante. Enquanto tomava, tentei controlar a ansiedade. Era minha primeira reunião formal em solo estrangeiro, em uma empresa que mais parecia uma instituição de elite.
Terminei o café e depositei a xícara vazia sobre a mesa. Ao lado dela, repousava uma pilha de revistas empresariais e de arquitetura. Peguei uma delas e comecei a folhear mecanicamente. Minhas mãos tremiam um pouco, então mantive o foco nas imagens de projetos ousados, linhas modernas, materiais exóticos.
Foi então que meus olhos pararam em uma página. Havia uma matéria extensa sobre ele: Sua Alteza Zayed Al-Nur.
"O homem mais rico e cobiçado do Oriente Médio." Era o título.
A reportagem falava sobre sua visão empresarial, sua liderança firme e sua dedicação ao povo. Mencionava que sua família governava Al-Hazan há mais de um século e que ele era considerado um líder justo, querido pela população, mas também notoriamente tradicional. Um homem que prezava pela ordem, disciplina e pelas leis de seus ancestrais.
Fechei a revista e soltei um suspiro que nem percebi que estava prendendo. Minha mente girava com perguntas.
Será que eu seria capaz de me encaixar nas restrições de uma cultura tão diferente da minha? Será que conseguiria lidar com um líder tão tradicionalista e exigente?
Passei as mãos nos cabelos, ajeitando o rabo de cavalo com nervosismo. Olhei em volta, tentando focar em outra coisa. Mas era difícil. A estrutura da empresa era magnífica, organizada, limpa e silenciosa. Havia um respeito silencioso em cada canto.
— Arquitetura linda... — murmurei para mim mesma, admirando os detalhes.
A mistura de vidro, madeira trabalhada à mão e a luz natural filtrada por painéis artísticos formava um ambiente quase espiritual. Mexer em uma estrutura como aquela, em pleno Oriente Médio, e ainda por cima pertencente a Zayed, era um sonho. Um privilégio. Algo que qualquer arquiteto aspiraria com todas as forças.
Mas então, por que eu?
Com tantos profissionais pelo mundo, com currículos mais impressionantes e empresas maiores, por que eu fui escolhida? Após tudo o que vivi no Brasil, depois da falência, da traição, do fracasso. Por que logo eu?
Antes que pudesse me aprofundar nessa espiral de dúvidas, a porta se abriu. Uma outra mulher com roupas tradicionais entrou e se curvou levemente.
— A Alteza vai recebê-la agora.
Meu coração deu um salto. Levantei-me, ajustando a saia, endireitando os ombros e engolindo em seco. O momento havia chegado. E nada me prepararia para o impacto de ver Zayed Al-Nur pessoalmente.
Segui a mulher, seus passos eram firmes, como se estivesse acostumada a caminhar por aqueles corredores diariamente. Eu, por outro lado, sentia o salto bater com mais força do que o normal contra o piso de mármore. Era nervosismo, eu sabia. E não havia como esconder.
Os corredores da Al-Nur Enterprises pareciam saídos de um filme futurista, com elementos clássicos que revelavam a identidade local: paredes altas, ornamentos com arabescos dourados, luzes embutidas que criavam uma atmosfera serena e autoritária ao mesmo tempo.
Depois de alguns minutos de caminhada, ela parou diante de uma porta dupla de madeira escura. Acima da altura dos olhos, uma pequena plaquinha dourada indicava com letras elegantes: Sua Alteza Zayed Al-Nur.
Meu coração bateu mais rápido. Aquilo era real. Respirei fundo, e a mulher, em um gesto respeitoso, deu um passo para o lado, abrindo espaço para que eu tomasse a frente.
Ela empurrou a porta para mim e eu entrei.
A sala era ampla e imponente, com grandes janelas ao fundo que revelavam parte da cidade e as dunas ao longe. O teto alto era sustentado por vigas de madeira entalhada e, no centro, havia um lustre minimalista, mas sofisticado. Tapetes bordados cobriam parte do piso, e o cheiro de couro, madeira e incenso suave preenchia o ambiente.
Ainda havia uma pequena reunião acontecendo. Três homens vestidos impecavelmente com ternos escuros estavam de pé, em frente à grande mesa. Ao me verem, um a um se despediram com um leve aceno de cabeça, quase reverente. Saíram em silêncio, mas não sem antes me lançar olhares discretos, curiosos.
Apenas um homem ainda permanecia na sala, parado em frente à mesa.
— E Tarik, faça como falei a você. Caso contrário, estará demitido antes do sol nascer. — ordenou com voz firme, apontando o dedo com precisão.
— Sim, meu senhor. — respondeu o tal Tarik, curvando levemente a cabeça antes de sair apressado, fechando a porta atrás de si.
E então ficamos sós.
Eu continuei ali, parada, com as mãos entrelaçadas diante do corpo e o coração batendo tão alto que parecia ecoar na sala inteira. Ele se levantou da cadeira com calma, sem tirar os olhos de mim, como se estivesse me avaliando por completo.
E eu, bom, eu também o medi dos pés à cabeça.
Zayed Al-Nur era alto. Muito mais alto do que eu imaginava. Devia ter pelo menos um metro e noventa. Os ombros largos sustentavam um corpo atlético, moldado por disciplina e não apenas estética. Usava uma roupa de tecido fino, ajustada ao corpo, em tom azul escuro com detalhes dourados nas mangas e na gola. Era uma mistura perfeita de trajes tradicionais com um corte moderno, feito sob medida, com certeza.
Sua pele era bronzeada, os olhos de um castanho tão escuro que quase pareciam pretos. Tinham um brilho intenso, analítico, e me observavam como se pudessem atravessar qualquer fachada que eu tentasse manter. Os cabelos eram pretos, levemente ondulados e bem penteados para trás, com algumas mechas prateadas discretas nas laterais que apenas acentuavam sua elegância madura.
A barba bem aparada contornava o maxilar definido, e seus lábios estavam pressionados em uma linha séria, mas não hostil. Ele não era apenas bonito. Ele era impressionante. Como se tivesse sido moldado para ocupar exatamente aquele lugar: o centro de um reino, de uma empresa, de qualquer lugar que pisasse.
— Senhorita Duarte. — disse ele, finalmente, com a voz grave, a pronúncia precisa, e um leve acento que tornava tudo mais encantador. — Seja bem-vinda a Al-Nur Enterprises. Espero que sua viagem tenha sido tranquila.
Assenti com um sorriso profissional e dei dois passos à frente.
— Foi sim, muito obrigada, Alteza. A estrutura oferecida foi impecável.
Ele indicou uma das cadeiras diante de sua mesa, e eu me sentei cuidadosamente. A poltrona era de couro escuro, firme e confortável. Ele se sentou novamente, cruzando os dedos sobre os documentos à sua frente.
Com um gesto discreto, chamou uma assistente que apareceu quase instantaneamente com uma bandeja. Nela, havia uma pequena taça de café árabe fumegante, acompanhada de tâmaras e um copo com água gelada.
— É costume receber nossos convidados com café. — disse ele. — Aceite como um gesto de boas-vindas.
— Com prazer, Alteza. — respondi, pegando delicadamente a xícara.
— Já tive acesso ao seu portfólio. Sua abordagem é ousada. Você tem um olhar diferente da maioria dos arquitetos que já passaram por aqui.
— Fico lisonjeada, Alteza. Tento equilibrar funcionalidade com identidade. Acredito que cada espaço precisa contar uma história.
Ele arqueou uma sobrancelha, como se aquela resposta tivesse lhe agradado.
— Espero que você esteja preparada para lidar com limites. Aqui, nossa cultura valoriza o sagrado dos espaços e o respeito à tradição. Ainda que eu deseje algo moderno, não permitirei que minha identidade seja apagada por linhas ocidentais vazias.
Aquela foi uma afirmação, não uma ameaça. Mas me fez endireitar a postura e engolir em seco.
— Eu entendo. E prometo que meu projeto respeitará cada raíz, cada traço de quem vocês são. Meu papel aqui é somar, não substituir.
Ele inclinou levemente a cabeça, com um ar reflexivo.
— Alteza, porque me recrutou para esse trabalho? Acredito que já saiba que eu ..... —
ele me silenciou com um gesto de mão.
— Você se formou na USP, com mérito. Trabalhou em três grandes escritórios, abriu sua própria empresa aos vinte e oito, e perdeu tudo dois anos depois. — disse, sem mudar o tom. — Ainda assim, aqui está. Isso me diz mais sobre você do que qualquer portfólio.
Aquela observação me tirou o ar por um segundo. Ele havia feito o dever de casa.
— Investigo cada profissional que coloco dentro das minhas paredes. Mas eu sou conhecido por investir não apenas em ideias, e sim em pessoas. — Ele se inclinou para frente, os olhos fixos nos meus. — E eu gosto de investir em gente que tem garra.
Eu engoli em seco, mas mantive o olhar firme.
— Não vou decepcioná-lo.
— Veremos. Amanhã os papéis para assinatura estarão disponíveis para assinatura. E claro para o trabalho, terá acesso aos andares superiores e a uma equipe de suporte. Mas quero seus relatórios diretamente em minhas mãos, semanalmente. E qualquer mudança de conceito, deve ser discutida comigo. Somente comigo.
— Claro. Estou à disposição.
Zayed se recostou na cadeira. Pela primeira vez, um canto de seu lábio pareceu ameaçar um sorriso.
— Você tem um olhar determinado, senhorita Duarte. É algo raro e perigoso. Espero que saiba onde está se metendo.
Eu também sorri, mesmo com o coração ainda acelerado.
— Já estive em lugares muito piores, Alteza. Aqui, ao menos, as regras estão claras.
Ele me encarou mais uma vez antes de se levantar.
— Então seja bem-vinda ao deserto.
E com um aceno de cabeça, encerrou a reunião.
Mas enquanto eu saía, ainda podia sentir seus olhos me seguindo.
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