Enquanto Ninguém Vê
Capítulo 1: Volte logo
O brilho da tela do celular era a única luz no quarto.
Com os olhos vidrados na postagem fixada no topo da página.
Os dedos de Haru tremeram levemente.
Ele releu as diversas vezes, como se pudesse mudar o conteúdo se lesse o suficiente.
A respiração saiu entrecortada, mas ele não chorou.
Orion não tinha rosto, não tinha nome real, não tinha localização.
Mas para Haru, ele era mais real do que muita gente com RG e CPF.
Ele suspeitava que fosse algo relacionado ao crescente hate que ele levou alguns meses atrás.
Seus quadros estavam sendo criticados por serem sombrios, outros eram considerados "fantasiosos demais".
Mas para seu fã eram cartas abertas, sinceras de quem ele era, e de certa forma ele se encontrava naqueles traços.
Aquela foi a mensagem que ele enviou antes de deslizar o celular sobre o criado-mudo e virar-se observando o teto.
O vazio no peito pesava mais que o travesseiro sob a cabeça.
Capítulo 2: Intercanbista.
Ao abrir os olhos outra vez alguém bate na porta.
Era a voz da síndica, velha como a madeira da escada.
Síndica
Seu novo colega acabou de chegar!
Haru
Que colega? *resmunga*
Demorou alguns segundos até lembrar: o quarto vago do pequeno apartamento finalmente fora alugado.
Haru achava que teria mais tempo até a chegada do novo morador, mas não.
A vida tinha pressa. E nenhum respeito pelo luto silencioso de um fã que acaba de perder seu ídolo.
Vestiu a primeira camisa limpa que achou, colocou seus óculos e saiu do quarto.
Foi como bater em uma parede de áurea brilhante e incrivelmente atraente.
Na sala, de pé ao lado do sofá velho, estava um homem que parecia pertencer a outra realidade.
Alto, pele escura, olhos claro e marcantes, as ondas do seu cabelo eram rebeldes e desciam até seus ombros.
Havia algo de selvagem e sofisticado nele ao mesmo tempo — como um urso vestindo-se como um humano.
Haru
(Por que ele é tão alto?)
Ele perguntou, com voz rouca e sotaque estrangeiro tirando Haru de seus pensamentos.
Ele estendeu a mão. Haru hesitou, mas apertou.
A mão era quente, firme e não muito macia, parecia um pouco áspera.
Haru
Então... você está fazendo intercâmbio?
Chase passou os olhos pela sala, e esboçou um sorriso simpático.
Depois de observar, deixou a mochila no canto, sentou no sofá e abriu um caderno de anotações com desenhos à caneta.
Haru
(Ele não é muito de falar né? Espera... o que ele está desenhando?)
Havia ali traços familiares. Linhas grosseiras que sobrepunham linhas suaves.
Sombras, formas, silhuetas, mundos inteiros rabiscados naquele pequeno caderno.
Um rascunho semelhante a tantos outros que Haru tanto admirou.
Haru
(Não pode ser... será que...)
Chase ergueu os olhos, fechou o caderno e o encarou.
Chase
(Qual o problema dele? Por que está me encarando?)
Chase
Vai ficar me encarando?
Haru havia sido pego no flagra, o que o deixou sem graça.
Haru
(Qual é Haru?! Vai acabar assustando ele se ficar encarando demais.)
Ele aponta para o corredor sem dizer mais nenhuma uma palavra.
Apesar de não conseguir olhar em seus olhos, Haru podia sentir uma certa frieza vinda dele.
E de fato ele não havia deixado uma boa impressão.
Capítulo 3: Atrito
Era impressionante como o som da chaleira podia ser tão irritante às sete da manhã.
Haru franzia a testa enquanto esperava a água ferver, tentando ignorar a presença de Chase no cômodo.
Chase apoiava o cotovelo na mesa, pernas esticadas, com um livro aberto que parecia mais acessório do que leitura.
Estava descalço, usando uma camiseta preta folgada e o cabelo preso com um elástico improvisado.
Uma imagem relaxada demais para alguém que acordava cedo por vontade própria.
Chase
Você vai tomar chá ou hipnotizar a chaleira até ela desistir?
Perrguntou, sem tirar os olhos do livro.
Haru não respondeu de imediato. Pegou a água, derramou no copo com o sachê e bufou.
Haru
(Fala sério... como ele consegue ser tão irritante logo pela manhã?)
Haru
Você acorda todo dia falando, ou só quer me irritar?
Chase
Acho que um pouco dos dois.
Chase ergueu os olhos com um meio sorriso.
Desde que Chase se instalara ali, a paz de Haru tinha desaparecido.
O novo colega era espaçoso, falante, e parecia sempre ter a última palavra.
Era confiante de um jeito que beirava a arrogância.
Haru bebeu um pouco do seu chá e voltou-se para o livro que Chase tanto parecia ler havidamente.
Haru
(Não sabia que ele gostava de ler esses livros.)
Haru
Moby-Dick? É um bom livro...
Chase interrompe fechando o livro o deixando de lado.
Chase
Não acho, é uma leitura densa e cansativa demais.
Haru
(Porra então porque raios ele tem esse livro?!)
Hari pergunta entre dentes.
Haru
Então por que está lendo?
Ele bebe um pouco do seu chá. Com um sorriso sarcástico Chase responde.
Chase
Por que moramos juntos?
Haru se calou Irritado demais para lhe dar uma resposta.
Estava claro que eles não se davam bem, e precisavam aprender a lidar um com o outro.
Haru
(Como eu pude um dia imaginar que esse arrogante era parecido com o Orion? Nunca!)
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