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FÚRIA E DESEJO

Apresentação - Sou Santiago Ravelli

Sou Santiago Ravelli. Tenho 26 anos e nasci em Porto di Mare, uma cidade costeira na Itália que vive entre o perfume do luxo e o cheiro do medo. Sou filho de Castelli Ravelli — o homem por trás de um império construído com contratos sujos, silêncios comprados e lealdades forjadas a sangue. Minha mãe, Ângela, foi beleza e silêncio na mesma medida. Sempre presente, mas sempre distante.

Nunca me faltou nada. Roupas de grife antes de aprender a amarrar o próprio sapato. Coleções de carros quando a maioria dos meninos colecionava figurinhas. Mas me faltou o essencial: afeto. Amor. Fui criado entre jantares frios e reuniões clandestinas. Vi mais armas do que abraços. Aprendi cedo que demonstrar fraqueza é convite pra morrer — e sentir, pra mim, sempre pareceu um risco desnecessário.

Estudei nas melhores escolas da Europa. Disfarces de normalidade. Hoje curso o último ano da Faculdade de Direito na Università degli Studi di Roma, mas nunca tive tempo pra acreditar em justiça. O verdadeiro poder não está nos tribunais… está nas mãos de quem sabe usá-lo sem deixar vestígios.

Sou o herdeiro de tudo. Do império, das mentiras, dos ossos enterrados sob o nome Ravelli. E não, eu não sou herói. Nunca fui.

Nasci cercado por luxo e silêncio. Enquanto outras crianças ouviam canções de ninar, eu ouvia o tilintar de taças em jantares silenciosos, onde sorrisos eram máscaras e os olhares diziam mais que as palavras. Aos cinco anos, ganhei meu primeiro terno. Aos sete, fui apresentado à mesa de negociações — não para participar, mas para observar. Meu pai dizia que poder se aprende com o tempo... e com o medo dos outros.

Na escola, nunca fui só mais um. Me destacava, não pelos amigos que não tinha, mas pelo nome que carregava — Ravelli. Professores me tratavam com uma mistura de reverência e receio. E os colegas... bom, ou me seguiam, ou me evitavam. Aprendi cedo a dominar um ambiente com o olhar. E a confiar em ninguém.

Aos onze anos vi, pela primeira vez, alguém morrer por causa do nosso nome. Naquele dia, deixei de ser criança. Não chorei — Castelli Ravelli não teria suportado ver o filho fraco. Ao contrário, ele me deu um relógio de bolso naquela noite, e disse: “Agora você entende o que custa manter o tempo a nosso favor.”

Aos quinze, já frequentava reuniões com homens que tinham o sangue de inimigos sob as unhas, mas me beijavam a mão como se eu fosse rei. E talvez, de certo modo, eu fosse.

Minha adolescência foi solitária, controlada. Viajei pela Europa com guarda-costas e livros de estratégia. Tive amantes — nunca amores. Descobri o prazer, mas nunca o consolo. Aos vinte, assumi partes do negócio. Dinheiro, armas, acordos... Tudo passava por mim antes de chegar ao nome do meu pai.

Agora, aos 26, carrego o peso de um império que me foi dado antes que eu tivesse tempo de desejar outra coisa. Me tornei o homem que esperavam — calculista, frio, implacável.

Mas então... ela apareceu.

Com olhos fibrantes que não tinham medo dos meus.

Com a inocência que eu perdi — ou roubei de alguém — há muito tempo.

Ela é tudo que eu não entendo. E por isso... talvez seja o único perigo real que já enfrentei.

Apresentação - Sou Bianca Sintra

Sou Bianca Sintra. Completei 18 anos há duas semanas, mas me sinto mais velha do que deveria. Não no corpo — no coração. Desde que minha mãe morreu, há cinco meses, o mundo perdeu uma parte das cores que eu ainda tentava enxergar. Agora moro com meu pai, um homem que eu tento lembrar quem foi antes das dívidas, antes da garrafa, antes dos olhos perdidos.

Nasci em Santa Teresa, um bairro simples e bonito do Rio de Janeiro, onde os dias começam com cheiro de café preto e os vizinhos ainda conversam da calçada. Cresci com o barulho dos bondinhos e o som da minha mãe cantarolando enquanto passava a roupa. Ela sonhava por mim — dizia que eu era forte, que minha mente me levaria onde o bolso não podia levar.

Estou no terceiro ano do ensino médio. Estudo de manhã e trabalho à tarde numa papelaria. Guardo cada trocado num envelope escondido no fundo da gaveta — não é muito, mas é o meu plano de fuga: cursar Letras, quem sabe dar aulas, escrever livros... escapar dessa rotina que pesa como cimento fresco nos meus ombros.

Meus olhos — herança da minha mãe. Meus cabelos são cacheados e escuros — herança da terra, da alma nordestina dela. Vivo com um caderno na mochila onde escrevo sonhos, promessas, às vezes desabafos.

Minha infância foi simples.

E, por algum tempo, feliz.

Cresci em Santa Teresa, entre ladeiras coloridas e paredes descascadas que pareciam guardar segredos antigos. Minha mãe, Rosa, era o tipo de mulher que colocava música pra espantar a tristeza — e muitas vezes funcionava. Ela tinha mãos firmes e voz doce, e mesmo com pouco, transformava tudo em afeto. Me ensinou que dignidade não é algo que se compra, e que a gente podia ser pobre... mas nunca pequena.

Eu adorava estudar. Sempre fui a primeira da sala a entregar os trabalhos e a última a sair da biblioteca. Sonhava em ser escritora. Inventava mundos inteiros dentro de cadernos escondidos embaixo da cama. Às vezes, minha mãe lia meus rabiscos e chorava baixinho. Dizia que eu nasci com "alma grande demais pra esse mundo estreito."

Meu pai... bom, ele só voltou pra minha vida depois que ela foi embora. Antes disso, era uma lembrança distante — uma dívida emocional que nunca foi paga.

Quando minha mãe adoeceu, eu entendi o que era sentir medo de verdade. Não o medo de fantasmas ou de escuro... mas o medo do real: de não ter comida no armário, de não conseguir pagar o remédio, de perdê-la. E perdi.

Ela se foi numa manhã cinza, e junto com ela, uma parte de mim também. Desde então, fui morar com meu pai. Um homem quebrado, viciado em mais do que dívidas. Vivo contando os trocados que escondo entre os livros, dividindo o silêncio com ele e rezando pra que o amanhã traga qualquer coisa diferente.

Agora, com 18 anos recém-feitos, não tenho festa pra comemorar nem presentes na estante. Mas ainda carrego meus sonhos. Ainda tenho meus cadernos. Ainda quero escrever histórias com finais melhores do que os que a vida costuma oferecer pra meninas como eu.

E então, ele apareceu.

Tudo nele grita perigo. Tudo em mim deveria correr.

Mas alguma parte insana da minha alma... parou. E ouviu. E sentiu. Fúria e Desejo.

Capítulo 1 – O Olhar Queima

SANTIAGO

Roma não estava no meu itinerário, mas o velho Castelli sempre soube manipular meus passos. Acordei naquela manhã com a ordem já cumprida por mim — motorista pronto, terno passado, relógio marcando a hora exata em que minha liberdade seria adiada mais uma vez.

O colégio parecia pequeno demais para o nome que carregava. Um favor, ele disse. Uma visita política, ele disse. Eu, no fundo, sabia o que ele realmente queria: me manter perto. Me manter sob controle.

Meus olhos verdes percorreram o pátio como se eu fosse o dono do lugar — e talvez fosse, sem querer ser. E foi ali, no meio de adolescentes distraídos, que eu a vi pela primeira vez.

O mundo ao redor pareceu afundar em ruído branco. Ela caminhava entre as outras garotas como quem dança sem saber, com um livro contra o peito e os olhos intensos que os céus da Sicília.

Ela não me viu. Mas eu vi. E isso foi o bastante pra sentir que algo perigoso havia começado ali.

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BIANCA

Estava tarde para um dia de prova. O céu parecia prestes a desabar, e meu caderno estava cheio de anotações riscadas à pressa. Sentei-me no banco de sempre, de frente para a figueira velha que dava sombra e silêncio — dois luxos naquele colégio.

Não foi um barulho que me avisou. Foi um arrepio.

Ergui os olhos, e ele estava ali.

Alto. Impecável. Perigoso.

O terno escuro parecia desenhado para ele, como se tivesse nascido vestindo poder. Os olhos — verdes e frios — percorreram o pátio como quem escolhe o que destruir primeiro. E por um segundo, apenas um, eles pousaram em mim.

O mundo, naquele instante, parou de fazer barulho.

Era como se os meus sentidos gritassem antes da razão: corre.

Mas eu fiquei.

Fiquei olhando aquele estranho que parecia pertencer a outro universo.

Ele não era daqui. Nem deste mundo.

Ele era tempestade disfarçada de homem.

E eu... só soube sentir.

Com o maior prazer, Fernanda! Vamos continuar essa cena carregada de tensão silenciosa — onde os olhares dizem mais do que qualquer palavra. É o início da combustão entre dois mundos destinados a colidir.

Na primeira vez que nossos olhos se cruzaram, eu soube.

Não o tipo de certeza que vem da razão, mas daquela intuição quase insana que só quem sobrevive à dor entende. Havia alguma coisa nele — não era beleza (apesar de evidente), nem o terno caro. Era presença. Era a forma como o mundo ao redor parecia perder importância onde ele estava.

E por algum motivo que até agora não entendo, ele me viu.

Me viu.

— Qual é o seu nome? — a voz dele era baixa, rouca, como se não estivesse acostumada a fazer perguntas simples.

Demorei um segundo a entender que ele falava comigo.

— B-Bianca... Bianca Sintra.

Ele repetiu meu nome como se estivesse provando a textura.

E então sorriu. Mas não foi um sorriso. Foi uma ameaça discreta, vestida de charme.

— Bonito nome... — ele disse. — Ingênuo demais pra ser seu.

Eu deveria ter me ofendido. Deveria ter recuado.

Mas não consegui.

E no fundo de mim, alguma coisa — talvez tola, talvez perigosamente viva — quis descobrir por que ele achava isso.

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