SEUL, COREIA DO SUL – 18:45h
O céu tingido de tons alaranjados parecia zombar da confusão dentro de Emily Carter. Ela segurava o envelope dourado com mãos trêmulas, os olhos percorrendo as linhas do contrato como se estivesse lendo sua própria sentença.
EMILY — Isso é uma piada, né? — murmurou, largando os papéis sobre a mesa de mogno com um baque seco.
Do outro lado, o olhar frio de Alexander Hayes não vacilava. Ele estava impecável em um terno preto, postura ereta, mandíbula cerrada. Um homem que exalava poder — e zero paciência para dramas.
ALEX— É um contrato. Não uma piada. — respondeu ele, seco. — Seu pai tem mais de três milhões de dólares em dívidas. Posso pagar tudo. Mas quero garantias.
Emily se levantou de súbito, o sangue fervendo de indignação.
EMILY — E essa garantia sou eu?!
ALEX — Sim.
Silêncio.
Ela se virou de costas, tentando controlar o turbilhão em sua mente. Aos 22 anos, nunca pensou que sua vida seria usada como moeda de troca.
Seu pai, James Carter, ex-empresário americano falido, estava prestes a ser preso por fraudes financeiras. A única salvação: Alexander Hayes, CEO bilionário, herdeiro de um conglomerado sul-coreano.
E a condição?
Casamento. Com contrato. Até o último centavo ser quitado.
EMILY — Por que eu? Você pode ter qualquer mulher… — ela sussurrou, sentindo o orgulho se esfarelar.
ALEX — Justamente por isso. Eu não quero qualquer mulher. Quero alguém sem laços aqui. Alguém que não me complique. Você é conveniente. Jovem, bonita, obediente... ou quase. E, principalmente, calada.
Emily se virou com raiva nos olhos.
EMILY — Eu não sou obediente. Nem calada.
Alex sorriu de canto.
Frio. Provocador.
ALEX — Vai aprender.
Ela sentiu o estômago revirar. Cada célula do seu corpo gritava para fugir, mas a imagem do pai algemado a impedia. Se ela recusasse, ele seria preso naquela semana. Perderiam tudo. A dignidade. A vida que ainda restava.
Ela olhou novamente para o contrato.
Cláusulas específicas:
Duração: até o pagamento total das dívidas.
Regras de convivência: respeito mútuo, presença em eventos sociais, lealdade e discrição.
Relações físicas: com consentimento, porém esperadas.
Término: liberação de Emily mediante quitação dos débitos.
EMILY — E se eu quebrar as regras? — perguntou, encarando-o.
ALEX — Você paga tudo. Ou… seu pai paga com a liberdade.
A garganta apertou. Alex não era apenas um homem poderoso. Ele era perigoso.
Charmoso e cruel na medida certa para destruir uma garota como ela.
ALEX — O casamento será registrado amanhã. — ele disse, levantando-se. — O motorista te buscará às oito. Você terá a noite para pensar. Ou assina… ou assiste seu pai ser levado.
Emily ficou ali, sozinha, sentindo o mundo ruir sob seus pés.
Ela não queria se casar. Não com um estranho. Não com aquele homem de olhos gelados.
Mas entre a liberdade e o pai, entre o orgulho e o dever, ela sabia o que escolheria.
E quando assinou o contrato naquela madrugada, lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto, sentiu o gosto amargo do que viria.
Não era amor.
Era um contrato.
Mas o desejo…
Esse, ela não sabia controlar.
--- Fim Do Capítulo 1
SEUL – 9:02h
A limusine preta estacionou em frente ao cartório central. Emily desceu com passos hesitantes, os olhos fugindo da multidão. Apesar da simplicidade da cerimônia, fotógrafos já estavam posicionados — o nome “Alexander Hayes” atraía atenção como fogo em palha seca.
Ela usava um vestido branco elegante, sem renda, sem véu. Nada de romantismo. Apenas formalidade.
— Está atrasada. — Alex murmurou ao encontrá-la, analisando-a de cima a baixo.
— Estou aqui, não estou? — ela respondeu, mantendo o queixo erguido, mesmo que o coração batesse forte demais.
Ele não respondeu. Apenas estendeu o braço. Ela o aceitou, relutante.
Foram conduzidos para uma sala privativa. Os papéis foram apresentados. O contrato lido novamente. Emily assinou com dedos frios. Alex assinou com firmeza.
— Estão oficialmente casados. — disse o oficial, sorrindo como se aquilo fosse uma celebração de amor.
Mas o silêncio entre os dois era ensurdecedor.
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11:45h – Residência Hayes
A mansão ficava nos arredores de Seul, cercada por muros altos, jardins meticulosamente podados e uma entrada imponente. Emily desceu do carro e ficou encarando o lugar que agora seria sua “casa”.
— Você tem um quarto no terceiro andar. — Alex informou, já caminhando para dentro. — Meu quarto é no segundo. E antes que pergunte, não divido cama com quem assina contrato.
A maneira como ele dizia essas palavras… como se ela fosse só mais um item no inventário dele…
Emily apertou os punhos.
— Ótimo. Também não divido cama com homens que tratam pessoas como objetos.
Alex parou no topo da escada. Olhou para ela por cima do ombro, e um leve sorriso torto surgiu.
— Vamos ver quanto tempo dura esse discurso.
Emily subiu, sentindo o sangue ferver.
O quarto era enorme, luxuoso, com vista para o jardim e móveis dignos de realeza. Mas ela se sentia aprisionada. Uma boneca de luxo em uma vitrine sem saída.
Tirou os sapatos, jogou-os no canto. Encostou a porta. Respirou fundo.
E desabou.
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18:20h – Sala de jantar
Emily foi chamada para o jantar. Estava vestida de forma discreta, mas ainda elegante. Encontrou Alex já à mesa, mexendo no celular.
— A partir de agora, sua rotina muda. Você me acompanha nos eventos. Veste o que eu mandar. Sorrir é opcional, mas manter-se calada é essencial.
Emily segurou o garfo com força.
— Eu não sou sua funcionária.
— Não. — Ele ergueu os olhos. — É minha esposa contratual. Não esqueça que eu paguei muito caro por esse título.
Ela travou. O peito subia e descia com raiva contida.
— Você quer que eu me comporte como sua esposa? Então comece a agir como um homem digno de uma.
Alex soltou uma risada baixa, quase desafiadora. Ele se levantou da mesa e caminhou até ela. Parou tão perto que ela pôde sentir o perfume amadeirado.
— Dignidade não tem nada a ver com isso, Emily. Você aceitou um contrato. E eu sou um homem que cumpre sua parte.
A pergunta é… você está pronta para cumprir a sua?
O ar entre eles ficou denso. A tensão era palpável.
Emily não recuou.
— Você vai ter o que quer, Alex. Mas não vai ter minha alma.
Ele inclinou o rosto, próximo demais.
— Não preciso da sua alma, Emily…
Só do seu corpo obedecendo às regras.
Emily se afastou, furiosa, mas trêmula.
Ele era um inferno irresistível. E ela estava presa lá dentro.
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22:33h – Quarto de Emily
Ela olhava para a cidade através da janela. Luzes tremeluzindo. Pessoas vivendo amores reais.
Enquanto ela… vivia um contrato.
Mas havia algo em Alex. Algo que a desafiava, provocava, queimava sob a pele. E ela odiava… o quanto aquilo a atraía.
Emily deitou-se, decidida a não ceder.
Mas, no fundo, sabia…
O jogo apenas começara.
E nenhum dos dois sairia ileso.
--- Fim Do Capítulo 2
SEUL – 19:08h
O salão estava lotado. Homens de terno, mulheres em vestidos deslumbrantes, taças de champanhe tilintando a cada canto. A elite de Seul desfilava como se estivessem em uma passarela invisível — e Emily se sentia uma figurante deslocada naquele universo dourado.
— Endireita os ombros. — Alex murmurou ao seu lado, sorrindo para um casal que se aproximava. — Você está casada com o CEO Hayes, não com um estagiário.
Emily soltou um suspiro entredentes.
— Eu sou boa em fingir.
Ele se inclinou, o lábio quase tocando seu ouvido.
— Espero que também seja boa em obedecer. Porque a noite vai ser longa.
Emily manteve o sorriso falso, mas as mãos suavam. Estava usando um vestido vermelho escuro, justo, com uma fenda que revelava uma parte perigosa da coxa. Presente de Alex — mais um lembrete de que até sua roupa agora era escolhida por ele.
— Você está maravilhosa. — sussurrou um homem mais velho que se aproximou com um sorriso indecente. — Alexander, sua esposa é... uma obra de arte.
Emily sorriu por educação, mas sentiu o incômodo. Alex apertou levemente sua cintura com a mão firme. Olhar frio, mandíbula cerrada.
— Ela é minha. Obra de arte… exclusiva.
Emily sentiu a tensão. Ele havia marcado território.
Era cena para os outros. Mas por dentro, algo nela se acendeu com aquele toque possessivo.
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20:42h – Terraço do salão
Emily se afastou para respirar. O som da música e das conversas parecia distante ali fora. O ar noturno beijava sua pele exposta. Estava exausta de sorrisos falsos e olhares julgadores.
— Fugindo do show?
A voz veio atrás dela. Alex.
Ela se virou devagar.
— Não gosto de máscaras.
— Mas usa uma o tempo todo. — ele retrucou, parando à sua frente.
Silêncio.
— Você tem muitos inimigos aqui dentro. — ela murmurou. — E todos parecem me odiar.
— Ninguém te odeia. — Ele deu um passo à frente. — Eles apenas não te conhecem. Ainda.
Emily riu, amarga.
— Isso soa como uma ameaça.
Alex estendeu a mão e tirou uma mecha de cabelo do rosto dela com uma gentileza que destoava da sua frieza habitual.
— Não, Emily. Isso foi um aviso. Este mundo… é cruel. Se quiser sobreviver, vai precisar mais do que orgulho. Vai precisar de mim.
Ela olhou dentro dos olhos dele, sem recuar.
— E o que você ganha com isso?
— Tudo. — ele respondeu com a voz baixa e carregada de intenção.
Emily tentou responder, mas ele estava tão perto…
Quando percebeu, a mão dele já estava em sua cintura. O polegar roçava a pele nua onde o tecido do vestido não alcançava.
— Isso não estava no contrato… — ela sussurrou, quase sem fôlego.
— Algumas cláusulas são implícitas. — Alex respondeu antes de colar os lábios no pescoço dela, devagar, deixando um rastro quente até a curva da mandíbula.
Emily fechou os olhos. O corpo inteiro reagiu com arrepios.
Ela devia empurrá-lo. Mas não o fez.
— Está jogando sujo, Hayes. — disse, com a voz rouca.
Ele colou os lábios ao ouvido dela.
— Quem disse que esse jogo é limpo?
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22:14h – Carro, a caminho da mansão
O silêncio no carro era tenso. Emily olhava pela janela, ainda sentindo a pele formigar.
Alex mexia no celular, como se nada tivesse acontecido.
Ela queria odiá-lo.
Mas tudo que conseguia lembrar era do toque dele. Do cheiro. Do calor.
“Isso é só físico… só físico…”, ela repetia como mantra.
Mas já começava a desconfiar que o pior de todos os contratos…
Era o que o coração assina sem ler.
--- Fim Do Capítulo 3
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