Deserto carrega um ar sombrio, misterioso e com muito potencial dramático — perfeito para um faroeste com toques sobrenaturais, ou até um thriller psicológico no estilo western crepuscular, ambientado no fim do século XIX, quando o velho oeste já virou memória… mas ainda respira em lugares esquecidos.
No coração do Velho Oeste americano, uma história extraordinária se desenrola em Refúgio, uma cidade que guarda um segredo celestial.
Quando o jovem Sonny se une à infame gangue de Blackjack Britton, ele não imagina que um simples assalto o levará a descobrir um lugar onde a redenção e a condenação caminham lado a lado.
Em Refúgio, onde o xerife não porta armas e a serenidade dos moradores desafia a lógica, reside uma verdade surpreendente: a cidade é, na verdade, o Purgatório. Seus habitantes - lendários foras-da-lei como Wild Bill Hickok, Billy the Kid, Jesse James e Doc Holliday - receberam uma segunda chance divina.
A regra é simples, mas desafiadora: dez anos de paz absoluta garantem a entrada no Paraíso; um único ato de violência significa condenação eterna.
Mas quando Blackjack Britton e sua gangue ameaçam destruir essa frágil harmonia, os residentes enfrentam um dilema moral devastador: manter seu voto de paz e enfrentar a destruição, ou defender-se e condenar suas almas ao Inferno.
Em Refúgio, onde antigas lendas do Oeste buscam redenção, a linha entre salvação e condenação nunca foi tão tênue.
A Mas o quebra-cabeça é muito bem montado até. Sim, claro: Refúgio, é o Purgatório. Ali estão conhecidos nomes do Oeste, pistoleiros, bandidos, jogadores, prostitutas, gente que pecou muito, mas que tinha alguma qualidade, e não merecia ir diretamente para o Inferno.
“Na terra sem lei, até o silêncio carrega pólvora.”
“Eles carregavam duas coisas na cintura: o revólver e o passado.”
Entre duelos ao pôr do sol, segredos enterrados e alianças quebradas, a única certeza é que nem todos sairão vivos quando as cinzas do deserto voltarem a soprar.
Do lado de fora, o céu sangrava tons alaranjados. E o Oeste, pela primeira vez em anos, amanheceria sem medo.
Nomes reais: "Wild Bill Hickock, Billy The Kid, Jesse James, Doc Holliday"
"NÃO É UM MALDITO WESTERN COMUM"
Os maiores pistoleiros do Ocidente têm uma última chance de imortalidade.
PARA OS BANDIDOS, a única coisa pior do que ser mau é pensar a eternidade sendo bom.
✯Bem, deixemos de conversa e vamos a galope! Boa leitura!✯𓃗
"Agarra você pelo pescoço desde a primeira página e continua a todo vapor até o fim da linha."
© 2025
★E em um lugar chamado Purgatório, ninguém escapa sem deixar algo para trás!!!
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Antes do roubo à diligência, começo apresentando o jovem Sonny, um pistoleiro novato que recentemente se juntou à gangue de um grande bando, de uns 20 homens, avançando a cavalo no meio de uma planície que parece não acabar nunca.
É o bando de um tal Blackjack Britton.
Sonny é inexperiente e carrega consigo uma visão romântica e idealizada da vida fora-da-lei, típica de jovens que cresceram ouvindo histórias grandiosas sobre duelos ao pôr do sol e façanhas heroicas.
Ele observa com admiração quase infantil os criminosos veteranos do grupo, estudando cada movimento deles e sonhando acordado com o dia em que seu nome será sussurrado com temor e respeito pelos saloons do Velho Oeste.
Em sua inexperiência, ainda não compreende totalmente a brutal realidade que se esconde por trás dessas fantasias de glória e aventura, vendo apenas o brilho sedutor das armas polidas e o charme rústico dos fora-da-lei experientes.
A gangue está reunida em um esconderijo, planejando seu próximo grande golpe.
Entre os membros estão homens brutais e experientes, acostumados à violência e ao caos. Britton, o líder, é carismático, mas cruel e implacável, exigindo lealdade total de seus homens.
Ele detalha o plano para assaltar uma diligência que transporta uma grande quantia em dinheiro.
Enquanto os criminosos preparam suas armas e discutem estratégias, Sonny observa tudo com um misto de empolgação e apreensão.
Ele quer provar seu valor, mas também começa a perceber o lado sombrio da vida de fora-da-lei.
Com o plano definido, a gangue parte para a emboscada, montando um bloqueio na estrada.
Assim que a diligência se aproxima, eles se preparam para o ataque - e é nesse momento que o verdadeiro conflito da história começa a se desenrolar.
A emboscada à diligência acontece em uma estrada deserta, cercada por colinas e arbustos secos. A gangue de Blackjack Britton se esconde estrategicamente, esperando o momento certo para atacar.
Sonny, nervoso, mantém as mãos no revólver, observando seus companheiros com atenção, tentando agir como um verdadeiro fora-da-lei.
Quando a diligência se aproxima, Britton dá o sinal, e os bandidos saem do esconderijo, disparando tiros para assustar os condutores e forçar a parada.
Os cavalos relincham e a carruagem se detém bruscamente. Um dos homens do grupo, Cyrus "Scout" Parker, atira no ar e grita para que os ocupantes saiam sem resistência.
Os guardas armados dentro da diligência tentam reagir, mas Britton e seus homens são mais rápidos, matando-os sem hesitação.
Sonny assiste a tudo com olhos arregalados-este não era um duelo heroico como nos contos que ele admirava, mas sim uma execução brutal. Ele sente um aperto no peito, mas não quer demonstrar fraqueza.
Com a situação sob controle, a gangue abre a diligência e encontra o cofre recheado de dinheiro. Britton sorri satisfeito, enquanto seus homens comemoram.
No entanto, antes que possam fugir, um dos passageiros escondidos na carruagem tenta sacar uma arma. Sem pensar duas vezes, Britton atira nele, matando-o instantaneamente.
Esse momento choca Sonny ainda mais.
O homem não parecia ser uma ameaça real, e Britton o executou sem piedade. Sonny percebe que a realidade da vida de fora-da-lei é bem diferente do que imaginava.
Após o assalto à diligência, a gangue de Blackjack Britton decide que precisa de mais dinheiro antes de fugir para o México.
Eles escolhem um pequeno banco em uma cidade próxima como seu próximo alvo. O plano é simples: entrar rápido, pegar o dinheiro e sair antes que alguém possa reagir.
A gangue chega à cidade pouco antes do meio-dia, misturando-se aos habitantes locais. Sonny, ainda lidando com o que viu durante o assalto à diligência, sente uma inquietação crescente. Ele percebe que Britton e os outros não demonstram nenhum remorso pelas mortes que causaram.
Blackjack Britton já tinha feito de tudo no Velho Oeste-roubo de trem, assalto a diligências, duelos contra caçadores de recompensa. Mas agora ele queria algo maior. Algo lendário.
Foi então que ouviu falar do Banco de
Tombstone, um dos mais bem guardados do Arizona.
Diziam que o cofre abrigava uma fortuna em barras de ouro, prontas para serem enviadas ao leste. Os donos do banco confiaram a segurança a pistoleiros contratados e até mesmo ao xerife local, um homem duro chamado Eli "Olhos de Gelo" McGraw.
Dois dos seus homens entrariam no banco disfarçados de fazendeiros, observando os guardas e as rotas de fuga.
Britton divide o grupo em dois: metade entrará no banco para roubar o dinheiro, e ouro, enquanto os outros ficarão do lado de fora, prontos para impedir qualquer interferência.
Sonny, ansioso para provar seu valor, insiste em participar do roubo dentro do banco. Britton permite, mas deixa claro que ele não pode hesitar caso algo dê errado.
Blackjack Britton apertou a fivela da sela e deu um tapa firme no lombo do cavalo, testando a estabilidade antes de montar.
Seus olhos escuros voltaram para Sonny e os garotos, que tentavam imitar os movimentos do jovem pistoleiro.
— Cavin você não tinha me dito que seu sobrinho servia para alguma coisa? Blackjack lançou um olhar avaliador para ele, sem pressa.
— Pés firmes, cotovelo relaxado... Isso, garoto! —Sonny elogiou um dos meninos, que segurava o revólver com as duas mãos, tentando manter a mira firme. —No cobre, a diferença entre viver e morrer é a velocidade e a precisão.
Cavin, sempre observador, cuspiu o fumo que mascava e se aproximou de Blackjack.
— O garoto leva jeito. Tem a paciência do pai. Vou dar um jeito nele.
Blackjack não respondeu de imediato. Em vez disso, puxou as rédeas de seu cavalo e olhou para o horizonte poeirento. Ele sempre fora um homem de poucas palavras, mas quando falava, suas palavras carregavam peso.
— Paciência não ganha duelo. Bala certeira, sim. Cavin sorriu de lado.
— Justo. Mas não se ganha um duelo se entrar nele sem pensar.
Blackjack bufou, mas não discordou. Sabia que Cavin estava certo. Em um tiroteio, a pressa matava tantos quanto a hesitação.
Sonny terminou sua lição e se virou para os dois homens.
Cavin se aproximou de Sonny, segurou Sonny pelo colarinho e o puxou para perto, seus olhos duros como pedra.
— Escuta bem, garoto — rosnou, você não veio aqui para bancar o bonzinho tá? Eu me responsabilizei por você então não me decepciona. Apertando o tecido da camisa de Sonny. — Não basta puxar um gatilho rápido. Você precisa saber quando atirar... e quando segurar a mão.
Sonny engoliu em seco, mas não desviou o olhar. Ele já tinha visto aquele brilho nos olhos do seu tio Cavin antes, o de um homem que conhecia a morte tão bem quanto conhecia as próprias armas.
— Eu sei o que estou fazendo — respondeu Sonny, tentando manter a voz firme.
Cavin soltou uma risada baixa e sem humor antes de empurrá-lo levemente para trás e soltar sua camisa.
— É mesmo? Pois, quando as balas começarem a voar, eu espero que você saiba. Porque se errar, não vai ter segunda chance.
Cavin, que assistia à cena de braços cruzados, deu um passo adiante e bateu no ombro do sobrinho.
— Não se preocupe, Sonny. Blackjack gosta de bancar o durão, mas se achasse que você não tinha valor, já teria te mandado voltar pra casa.
Blackjack virou o rosto, olhando para o céu escuro que começava a engolir as últimas faixas de luz do dia.
Sem dizer mais nada, ele se afastou, deixando Sonny e Cavin para trás. O jovem pistoleiro sentiu o peso da responsabilidade sobre os ombros, mas não recuaria.
Ao meio-dia em ponto, Britton, Cavin e dois outros membros da gangue entram no banco.
—Agora. — Em voz baixa, Britton.
— Vamos fazer isso direito.- Cavin fala sevirando para o grupo, seus olhos escuros refletindo uma sombra que parece ir além da simples escuridão ao redor. "Vamos fazer isso direito."
Britton olha fixamente para Cavin, os olhos estreitos, como se estivesse avaliando cada movimento.
O silêncio entre os dois é denso, carregado de uma tensão que quase pode ser tocada.
— Ao trabalho.
O local é pequeno, com poucos clientes e apenas dois funcionários atrás do balcão.
Britton saca sua arma e grita:
— Isso é um assalto! — Trovejou Britton, sua voz cortando o ar como uma lâmina. — Todo mundo no chão, agora!
O pânico explodiu como pólvora. Clientes se atiraram ao chão em desespero, alguns sufocando gritos. Atrás do balcão, os funcionários ergueram as mãos trêmulas no ar, seus rostos pálidos como papel.
Um dos bandidos, "Big Nose" Ketchum, salta sobre o balcão e começa a encher um saco com as notas e moedas do caixa.
O silêncio que pairava sobre o banco era tão denso que parecia sufocar.
O único som que ousava quebrar aquela quietude mortal era o ocasional tilintar metálico, ecoando como sinos sombrios pelas paredes do estabelecimento.
Cavin permanecia imóvel, sua figura projetando uma sombra ameaçadora sobre os presentes.
Seus olhos, frios como aço, varreram o ambiente com uma calma calculada antes que, num movimento tão rápido quanto uma cobra dando o bote, ele erguesse seu revólver.
A reação foi instantânea - como um rebanho de ovelhas diante do lobo, os clientes e funcionários se jogaram ao chão em desespero, seus corpos tremendo de medo enquanto seus rostos se pressionavam contra o assoalho empoeirado do banco, como se tentassem se fundir com a própria madeira para escapar daquele pesadelo.
Cavin girou lentamente, seu olhar cortante percorrendo cada rosto no banco.
A luz que entrava pelas janelas empoeiradas realçava o brilho perturbador em seus olhos, um misto de frieza calculada e uma pitada de insanidade que fazia os reféns estremecerem.
— Prestem muita atenção. - Sua voz saiu baixa e controlada, mas carregada de ameaça. - Se alguém aqui tiver a brilhante ideia de bancar o herói... — Ele fez uma pausa deliberada, girando o revólver entre os dedos com uma familiaridade assustadora. — Bem, digamos que eu tenho seis argumentos muito convincentes aqui no meu revólver, e não hesitarei em usar cada um deles. Nada, absolutamente nada, vai dar errado hoje.
— Abre o cofre! — A voz de Britton ecoou pelo banco. Seus olhos, frios como gelo, fixaram-se no banqueiro trêmulo enquanto ele apertava com mais força o cabo de seu revólver. — Não me faça repetir. Você tem dez segundos pra começar a girar essa merda de combinação, ou vou redecorar essas paredes com seus miolos.
— Eu não sei a combinação. — O banqueiro gaguejou, seu rosto pálido brilhando de suor. Suas mãos tremiam tanto que mal conseguia mantê-las erguidas.
O ar ficou denso, sufocante. Cada respiração pesada ecoava nas paredes do banco enquanto todos os olhos se voltavam para o cofre de aço. Aquela caixa forte não era mais apenas um objeto - era uma sentença de morte em potencial.
Britton apertou o cabo do revólver com tanta força que seus dedos embranqueceram. Seus olhos, agora duas fendas escuras, fixaram-se no banqueiro como um predador prestes a dar o bote.
— Cavin! Esses homens da cidade... — Sua voz saiu como um rosnado baixo, perigoso, enquanto seus dedos tamborilavam lentamente no cabo do revólver. —Sempre os mesmos, com seus ternos engomados e suas caras de santo. Acham que podem nos enrolar, nos fazer de idiotas. Mas sabe de uma coisa? — Britton se inclinou para mais perto do banqueiro, seu hálito quente fazendo o homem se encolher ainda mais. — Eu já matei gente por muito menos que uma mentira mal contada.
Britton arrastou violentamente a mão do banqueiro sobre a mesa de madeira, pressionando-a com força contra a superfície.
Com um movimento fluido, sacou sua faca da bainha, a lâmina brilhando ameaçadoramente sob a luz fraca do banco.
— Que tal fazermos um acordo? — sussurrou ele, sua voz gelada cortando o silêncio da sala enquanto pressionava delicadamente o metal frio contra a base do dedo mindinho do homem. O brilho tênue da lâmina refletia nas gotas de suor que escorriam pela testa de sua vítima.
— Você começa me dizendo a combinação do cofre, — continuou, observando atentamente cada tremor involuntário que percorria o corpo do homem amarrado à cadeira — e eu, muito generosamente, permito que você mantenha todos os seus dedos exatamente onde estão. —Um sorriso cruel se formou em seus lábios enquanto ele fazia a lâmina dançar suavemente sobre a pele exposta.
— A cada mentira... — ele aumentou gradualmente a pressão da lâmina, fazendo o homem estremecer e soltar um gemido abafado — bem, — pausou dramaticamente, inclinando-se mais perto do ouvido de sua vítima. —acho que sua imaginação pode pintar um quadro bastante vívido do que acontecerá.
O banqueiro, finalmente quebrando sob a pressão, começou a gaguejar os números da combinação entre soluços desesperados. Seus dedos, ainda tremendo violentamente, apontavam para o disco do cofre enquanto ele lutava para formar palavras coerentes. Britton manteve a faca firme contra a pele do homem, seus olhos nunca deixando o rosto aterrorizado de sua vítima enquanto memorizava cada número murmurado.
Sonny, o membro mais jovem e inexperiente do bando, mantém sua posição de vigilância junto aos cavalos inquietos, enquanto aproximadamente oito homens, com passos determinados e expressões tensas, adentram o banco. O sol forte da manhã projeta suas sombras alongadas no chão empoeirado da rua principal.
Não é por acaso que Sonny está ali. Como sobrinho do temido braço direito de Blackjack, um dos mais notórios fora-da-lei do território, o jovem carrega em seus ombros o peso de um legado criminoso. Seu tio, vendo nele a mesma fagulha de ousadia que caracteriza a família, decidiu introduzi-lo no mundo do crime, acreditando que o rapaz tem o potencial necessário para perpetuar a infame tradição familiar na senda da marginalidade.
A manhã transcorre preguiçosamente na pequena cidade fronteiriça quando, por entre a densa cortina de poeira que paira sobre a estrada principal, emerge uma figura feminina cuja beleza extraordinária parece deslocada naquele cenário rústico. Seus movimentos graciosos contrastam com a rudeza do ambiente ao seu redor.
Ela se move com uma elegância natural e discreta, como uma dama da alta sociedade que se perdeu em meio ao território selvagem. Sua presença não passa despercebida aos olhos atentos e curiosos de Sonny, que, mesmo concentrado em sua função de vigia, não consegue evitar que seu olhar seja repetidamente atraído pela misteriosa mulher.
À medida que ela se aproxima, Sonny sente uma crescente inquietação. Algo naquela mulher desperta em sua memória fragmentos de histórias e imagens que ele não consegue organizar completamente.
A sensação de familiaridade o consome, como se estivesse diante de alguém que conhece intimamente, embora jamais tenha encontrado pessoalmente.
Dominado pela impulsividade característica de sua juventude e ignorando momentaneamente suas responsabilidades como sentinela, Sonny abandona sua posição estratégica e se aproxima da mulher com passos hesitantes mas decididos.
— A senhorita... — ele começa, sua voz tremendo ligeiramente com uma mistura de admiração e incredulidade — Por acaso é Dolly Sloan?
A reação da mulher é instantânea e reveladora. Ela para abruptamente, como se tivesse sido atingida por um raio. Seus olhos, grandes e expressivos, se arregalam em uma súbita demonstração de pânico que, apesar de seu esforço visível, ela não consegue disfarçar completamente.
— Como é que um garoto pode saber uma coisa dessa? — ela questiona, tentando manter a compostura. — Não, está enganado — acrescenta com firmeza estudada, mas seu olhar inquieto e o leve tremor em sua voz contradizem suas palavras de negação.
Com uma confiança que beira a temeridade, Sonny faz uma declaração que soa simultaneamente como uma ameaça velada e uma confissão de admiração: — Eu sei tudo sobre você.
Para provar sua afirmação, Sonny se dirige com passos rápidos até seu cavalo, que permanece atado próximo dali. De uma das bolsas de couro desgastado que pendem da sela, ele retira uma pequena coleção de folhetins de literatura popular, publicações baratas mas muito procuradas nas cidades do Oeste. Com um movimento decidido, volta-se para a mulher e estende um dos exemplares em sua direção.
Na capa do folhetim, apesar da impressão de qualidade questionável e das cores exageradas, um desenho reproduz inequivocamente os traços delicados e marcantes da mulher que está diante dele. A semelhança é inegável, mesmo considerando as limitações artísticas da ilustração.
Em letras grandes e chamativas, um título sensacionalista atravessa a capa: "Dolly Sloan – Harlot with a Heart" (A Meretriz com Coração). Esta é apenas uma das muitas histórias romanescas que circulam pelas cidades e vilarejos do Oeste americano, narrando as supostas aventuras de uma cortesã extraordinária. Segundo os relatos, apesar de sua profissão controversa, Dolly possui uma nobreza de espírito rara, frequentemente colocando-se em risco para ajudar os necessitados e defender os oprimidos. Suas ações altruístas e sua personalidade complexa a transformaram em uma espécie de heroína improvável, admirada secretamente por muitos e publicamente condenada por outros tantos.
— Acredite em mim, quem passou por aquela situação foi eu. — disse Dolly, com um suspiro profundo e cansado enquanto ajustava nervosamente a alça da bolsa no ombro, seus dedos delicados tremendo levemente com o movimento. — Não é algo que eu inventaria apenas para impressionar. Minha vida já tem histórias suficientes sem precisar criar outras.
O rosto da mulher empalidece gradualmente ao ver a evidência de sua identidade exposta tão claramente, a cor abandonando suas faces como a maré baixa deixando a praia. Seus lábios carmim tremem ligeiramente enquanto ela tenta, sem sucesso, formular uma resposta convincente. O precioso segredo que ela guardava com tanto zelo – sua verdadeira identidade – acaba de ser revelado pelo mais improvável dos admiradores: um jovem bandido em seu primeiro assalto, cujos olhos brilham com uma mistura de admiração e incredulidade.
Este encontro inesperado entre Sonny e Dolly Sloan seria apenas o início de uma conexão profunda que mudaria inexoravelmente o destino de ambos, entrelaçando suas vidas de maneiras que nenhum dos dois poderia prever naquele momento tenso em frente ao banco, onde o ar parecia pesado com o peso dos segredos revelados.
Do lado de fora, os outros membros da gangue percebem que a situação ficou tensa, trocando olhares preocupados entre si. Um jovem xerife adjunto, com sua estrela reluzente sob o sol da manhã, caminha em direção ao banco com passos cautelosos e determinados, sua mão repousando instintivamente sobre o coldre da arma.
Nesse exato momento, como se o destino tivesse orquestrado precisamente aquela cena, um grupo de homens da Cavalaria surge na rua, o som ritmado dos cascos de seus cavalos ecoando como trovões distantes no chão de terra batida, levantando pequenas nuvens de poeira dourada sob a luz do sol. Dolly, percebendo a oportunidade que se apresenta, lança um último olhar enigmático para o garoto - um olhar carregado de significados não ditos - antes de se afastar com passos decididos em direção ao pelotão.
Os uniformes azuis da Cavalaria reluzem majestosamente sob o sol inclemente do meio-dia, criando um espetáculo quase hipnótico de luz e movimento enquanto ela se aproxima com seu característico caminhar sedutor, cada passo calculado para maximizar o efeito de sua presença.
Sonny, por sua vez, sente o sangue gelar nas veias como um rio congelado no inverno. Seu coração jovem dispara em um ritmo frenético e descompassado enquanto sua mente, ainda inexperiente nas artes do crime, tenta processar desesperadamente o perigo iminente que os cerca, como um animal selvagem farejando a aproximação de um predador.
Como avisar o tio e os outros homens do bando sobre a chegada repentina da Cavalaria? Suas mãos tremem ligeiramente enquanto gotas de suor frio escorrem por sua testa, traçando caminhos sinuosos pela pele empoeirada. Seu coração dispara no peito como um cavalo em disparada, e sua garganta se fecha com o peso da responsabilidade.
O tempo parece desacelerar até quase parar, cada segundo se estendendo como uma eternidade enquanto ele pondera suas opções. A vida de seus companheiros - incluindo seu próprio tio - pende por um fio tão delicado quanto uma teia de aranha ao vento. Cada momento de hesitação pode ser o último grão de areia na ampulheta de suas vidas ou liberdades.
Dentro do banco, completamente alheios ao perigo iminente que se aproxima pela rua poeirenta, os assaltantes finalizam seu trabalho com a meticulosidade de artesãos. Seus movimentos são precisos e calculados, resultado de semanas de planejamento cuidadoso e observação paciente.
Quando finalmente emergem pela porta principal, seus rostos mal conseguem conter as expressões de triunfo. O peso das bolsas de couro escuro em seus ombros é como uma confirmação tangível de seu sucesso - cada uma delas estufada com notas que representam não apenas dinheiro, mas também sonhos, ambições e a promessa de uma vida melhor longe dali.
O ar da manhã, até então pesado com tensão e expectativa, é subitamente rasgado pelo estampido ensurdecedor de um tiro. O som ecoa pelas paredes dos edifícios como um trovão inesperado em dia claro. Em questão de segundos, a rua principal da pacata cidade fronteiriça se transforma em uma arena caótica de violência e desespero.
O tiroteio se intensifica, transformando o cenário em um inferno de pólvora e gritos.
É neste momento de caos absoluto que o destino decide jogar sua carta mais cruel. Uma bala perdida - uma entre centenas que cruzam o ar como vespas enfurecidas - encontra seu caminho até Dolly. O impacto é devastador em sua precisão impiedosa, atingindo-a com força suficiente para arrancar dela um último suspiro surpreso.
O mundo ao redor de Sonny parece desaparecer completamente quando ele vê o corpo dela cambalear. Seus olhos, antes tão vivos e misteriosos, agora se arregalam em uma expressão de surpresa e dor que paralisa seu coração. Sem pensar nas consequências, ignorando o perigo mortal das balas que zunem ao seu redor como abelhas furiosas, ele corre em sua direção com a determinação cega de quem não tem nada a perder.
Seus braços a alcançam antes que ela toque o chão empoeirado, segurando-a com uma força nascida do desespero e da negação. O corpo dela, ainda quente mas já perdendo sua vitalidade, pesa em seus braços como uma âncora puxando-o para uma realidade que ele se recusa a aceitar.
Seus olhares se encontram uma última vez - um momento eterno congelado no tempo. O rosto dela, mesmo marcado pela sombra da morte, mantém aquela beleza etérea e melancólica que primeiro o havia capturado. É como se toda a história deles - tão breve mas tão intensa - estivesse condensada neste único momento de conexão final.
Os lábios carmim de Dolly - aqueles mesmos lábios que haviam pronunciado palavras de negação apenas momentos antes - tremem levemente num esforço último de comunicação. Mas as palavras que ela tenta formar permanecem para sempre não ditas, levadas pelo vento junto com seu último suspiro. Ali morre não apenas Dolly Sloan, a meretriz com coração de ouro, aquela que desafiou as convenções de seu tempo para mostrar bondade quando outros só viam seu ofício, mas também uma parte da inocência de Sonny. Há uma ironia cruel no fato de que ela, que tanto desprezava a vida do crime, acaba seus dias nos braços de um jovem que está apenas começando sua jornada pelo mesmo caminho que ela tanto condenava.
O tiroteio se intensifica com violência crescente. Balas ricocheteiam nas paredes e janelas ao redor como abelhas metálicas furiosas, arrancando estilhaços de madeira e pedra que voam em todas as direções. A confusão toma conta da rua principal, transformando a pacata cidade em um cenário de guerra.
Em meio ao caos, um dos bandidos mais experientes avalia rapidamente a situação. Com um movimento calculado, ele dispara sua arma para o céu várias vezes, o som ensurdecedor provocando gritos de pânico entre os cidadãos que correm desesperadamente em busca de abrigo.
De dentro do banco, a voz rouca e autoritária de Britton ressoa: "Pegamos o que viemos buscar. Vamos sair daqui antes que isso vire um cemitério!"
Com a precisão de uma manobra bem ensaiada, os bandidos emergem do banco em formação defensiva, protegendo-se mutuamente enquanto avançam em direção aos cavalos que aguardam inquietos.
O jovem xerife adjunto, movido por um senso de dever que ultrapassa o instinto de sobrevivência, tenta heroicamente intervir. Seus dedos mal tocam o cabo de sua arma quando um tiro certeiro o atinge, silenciando permanentemente suas aspirações de justiça.
No turbilhão de violência que se segue, o ar fica denso com pólvora e gritos. Cinco ou seis membros do bando, incluindo o jovem Sonny, são atingidos pela chuva de balas que cruza o ar como um enxame mortal.
Entre os feridos, destaca-se um grito particularmente agonizante. Um dos bandidos, atingido no abdômen, contorce-se em dor lancinante, seu corpo dobrando-se como uma árvore jovem açoitada por um vendaval impiedoso.
O sangue jorra abundantemente entre seus dedos trêmulos que pressionam inutilmente o ferimento fatal, manchando sua camisa com um vermelho escuro e viscoso que se espalha como uma flor macabra.
Sonny, ignorando a dor pulsante em sua própria perna onde uma bala o atingiu de raspão, demonstra uma coragem além de seus anos. Seu rosto jovem está marcado pela determinação e pelo suor que escorre misturado com poeira.
Num ato de bravura que mistura lealdade fraternal e desespero juvenil, ele reúne forças sobre-humanas para erguer o companheiro ferido. Com músculos tremendo pelo esforço, consegue posicionar o homem sobre a garupa de seu cavalo, que protesta nervosamente sob o peso adicional.
O animal, sentindo o cheiro metálico do sangue que impregna o ar e reagindo ao caos ao seu redor, relincha e pisoteia o chão ansiosamente, suas narinas dilatadas captando o odor da morte que paira no ar como uma névoa invisível.
Anos de experiência em situações de risco extremo se manifestam quando o bando executa uma manobra de fuga perfeitamente coordenada. Como uma força da natureza implacável, eles abrem caminho através das linhas dos defensores da lei, que recuam instintivamente diante da ferocidade do avanço.
Montados em seus cavalos possantes, escolhidos especialmente por sua velocidade e resistência, os bandidos disparam pelas ruas estreitas da cidade. Seus cascos levantam nuvens de poeira dourada que dançam no ar como cortinas, oferecendo uma cobertura natural para sua fuga desesperada.
O som dos cascos contra o solo ressoa como trovões distantes, enquanto os homens se curvam instintivamente sobre suas selas, seus corpos colados aos pescoços de suas montarias. Balas continuam zunindo ao seu redor, mas agora com menos precisão, enquanto os soldados frustrados disparam contra alvos cada vez mais distantes e difusos na poeira que tudo encobre.
À medida que cavalgam para fora dos limites da cidade, conseguem gradualmente aumentar a distância entre eles e o grupo de soldados determinados que logo organizarão uma perseguição sistemática.
A paisagem árida do oeste americano se abre diante deles, oferecendo inúmeras possibilidades de rotas de fuga entre cânions, planícies e montanhas distantes.
Após cavalgar por quase uma hora em ritmo alucinante, Blackjack—o líder incontestável do grupo—ergue o braço sinalizando uma parada.
— Estão vindo. — alertou o vigia com a voz embargada pelo medo.
— Vamos continuar em frente. Não temos tempo a perder. — ordenou Blackjack, ajustando o chapéu empoeirado enquanto observava o horizonte com olhos afiados.
— E o Badger? — gritou Sonny, apontando para o homem ferido que se arrastava alguns metros atrás do grupo.
— O que tem ele? — perguntou Blackjack friamente, sem sequer virar-se para olhar.
— Ele está muito ferido e tem que descansar. A bala pegou de raspão, mas está perdendo sangue demais. — explicou Sonny, limpando o suor da testa com a manga rasgada de sua camisa.
— Por que a gente não campa aqui? Aí ele pode tirar uma boa soneca e recuperar as forças — sugeriu Blackjack com um toque de ironia na voz. — Talvez até possamos acender uma fogueira bem grande para sinalizar nossa localização.
— Ele é seu irmão, pelo amor de Deus! — exclamou Sonny, indignado com a frieza do outro.
— E daí que é meu irmão? — rebateu Blackjack, finalmente virando-se para encarar Sonny. — Tem um pelotão inteiro atrás de nós avançando com toda velocidade, loucos para nos enforcar no primeiro galho resistente que encontrarem. Você quer ser o primeiro a balançar na corda?
O silêncio pesou entre eles por alguns segundos, quebrado apenas pelo som distante de cascos de cavalos.
— Eu estou bem. — disse Badger com a voz fraca, tentando se levantar apoiado em sua espingarda. Uma mancha escura espalhava-se pelo lado de sua camisa.
— Estamos perdendo tempo, Blackjack. — interveio Cavin, o mais velho do grupo, ajustando as pistolas no coldre. — Cada minuto parados é um minuto a menos de vantagem.
— Eu posso continuar! — gritou Bedger com determinação renovada, dando alguns passos cambaleantes para demonstrar sua capacidade.
— Vamos embora. — concluiu Blackjack, virando-se e montando em seu cavalo com um movimento ágil. — Quem não conseguir acompanhar fica para trás. Não serei enforcado por ninguém.
Eles chegam a um pequeno vale protegido por formações rochosas que proporcionam tanto cobertura quanto um ponto de observação privilegiado.
É o momento para uma rápida reorganização antes de continuar a fuga.
Os homens desmontam, alguns gemendo de dor devido aos ferimentos.
O ar está pesado com o odor de suor, sangue e pólvora. Blackjack, com a frieza calculista que o caracteriza, não perde tempo com sentimentalismos.
Com ordens curtas e precisas, ele comanda que concentrem todas as bolsas com o dinheiro em um único cavalo—o mais forte e descansado do grupo.
Seus olhos frios percorrem os rostos exaustos de seus homens enquanto ele declara, sem margem para contestação, que deixará para trás qualquer um que não tenha condições de cavalgar no ritmo necessário.
—O México é nossa única chance agora—anuncia ele, apontando para o horizonte sul, onde a promessa de uma fronteira menos vigiada acena como um farol de esperança para homens procurados pela lei.— Quem não puder acompanhar, ficará para trás. Não há outra alternativa.
Sonny observa seu tio com uma mistura de admiração e repulsa, reconhecendo pela primeira vez a verdadeira natureza do homem que sempre idolatrou. O jovem sente o peso da escolha que terá que fazer: abandonar seus princípios morais e seguir o caminho cruel de Blackjack, ou arriscar tudo para salvar aqueles que, como Badger, ainda conservam um resquício de humanidade. Seus dedos apertam instintivamente as rédeas de seu cavalo enquanto sua mente trabalha furiosamente, buscando uma solução que não exija o sacrifício de mais vidas.
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