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Filha do Caos, Companheira do Lobo.

capítulo 1

Houve uma guerra.

Não uma daquelas que os humanos contam em livros de história.

Essa foi a que apagou a memória do mundo.

Uma carnificina tão brutal que ninguém mais lembra como era a vida antes dela.

De um dia pro outro, o mundo virou um campo de batalha entre duas raças ancestrais: Lycans e Vampiros.

Poder. Vingança. Ódio milenar.

E os humanos?

Peças descartáveis nesse jogo de monstros.

Chamados de efeito colateral.

Os mais fracos foram os primeiros a cair.

Cidades inteiras sumiram da noite pro dia, queimadas ou devoradas pelo medo.

Os vampiros juraram que os humanos estavam do lado dos Lycans.

Não perdoaram.

Os que não mataram... fizeram escravos de sangue.

Mas o tempo, ah... o tempo trouxe verdades.

Provas.

A humanidade era inocente.

Então os vampiros deram uma escolha amarga:

Fiquem sob nossa proteção... ou sumam.

Alguns, quebrados, aceitaram.

Outros, com fogo no peito e dor nos olhos, partiram.

Cruzaram as ruínas do velho mundo, fundaram pequenos povoados com as próprias mãos sujas de terra e sangue.

Com o tempo, esses refúgios viraram vilarejos.

Frágeis, sim... mas livres.

Ou pelo menos, acreditavam que eram.

“A Filha do Eclipse”

No meio do caos, entre escombros e sangue seco, surgiu algo que jamais deveria existir.

Maysa.

Metade vampira.

Metade Lycan.

Inteiramente maldita aos olhos do mundo.

A mãe?

Uma Lycan de sangue puro, feroz e indomável.

Pele alva como a neve, cabelos tão negros quanto a noite que os monstros caçam.

O pai?

Um vampiro jovem.

Príncipe por direito, devasso por escolha.

Gostava de provar fêmeas como vinho...

Não importava a espécie, só o gosto do perigo.

Só que aquela Lycan não foi só mais uma.

Foi a fêmea que incendiou a alma dele.

O que era pra ser prazer virou paixão.

O que era pra ser uma fuga, virou vínculo.

Escolheram um ao outro. Contra tudo.

Contra todos.

E do amor deles — ou do erro, como o mundo chamaria — nasceu Maysa.

Branca demais.

Cabelos escuros demais.

E os olhos... meu Deus, os olhos.

Nem de monstro, nem de homem.

Azul quase prateado como o luar — cruzado por veios vermelhos como trovões.

Olhos que pareciam guardar tempestades.

Quando ela nasceu, o mundo mudou.

Os pais sabiam:

Se descobrissem o que ela era, seria caçada.

Temida.

Ou usada.

Maysa não podia apenas viver.

Ela teria que sobreviver.

Eles esconderam Maysa o quanto puderam.

Uma cabana nas montanhas, longe dos olhos do mundo.

Ainda não havia guerra, só tensão — aquele tipo de paz que range os dentes.

O pai, Kael, mantinha o controle com sua frieza vampírica.

A mãe, Ravena, selvagem e feroz, cuidava da filha com o instinto de uma loba protegendo sua cria.

E Maysa… pequena, com olhos que pareciam ver o que nem existia ainda.

Mas a sorte deles tinha prazo.

Sempre teve.

E o fim começou com Thoran, um dos alfas do território norte.

Ele desconfiava da ausência constante de Ravena.

Sentia o cheiro de algo... errado.

Um dia, resolveu seguir a fêmea.

Silencioso como um predador, a viu entrar numa cabana isolada.

Esperou.

E quando se aproximou da janela, o que viu congelou seu sangue:

Ravena sorria para uma criança de olhos impossíveis.

Ao lado dela… um vampiro.

Um Lycan. Um vampiro. E uma criança que não deveria existir.

Ele queria fugir. Gritar. Vomitar.

Mas ficou.

Observou.

Estudou.

E o mais assustador: entendeu.

Eles eram uma família.

Uma aberração.

Mas uma família real. Verdadeira.

Ele levou o relato direto ao alfa do território.

Mas o velho lobo… ambicioso demais, faminto por conflito, viu nisso uma desculpa perfeita.

Só que o alfa não levou a denúncia ao Rei dos Lycans.

Não.

Quis agir por conta própria.

Traçou um plano sujo, silencioso, fatal.

E naquela noite em que tudo parecia calmo demais...

O plano começou.

E o mundo de Maysa — e o destino das raças — mudou pra sempre.

capítulo 2

“O Dia em que a Luz se Apagou”

Kael voltava com o peito leve.

O sol já se punha quando ele atravessava os vales, os dedos apertando com carinho a pequena caixinha no bolso.

Dentro, a aliança.

Simples, discreta.

Feita por mãos humanas, mas carregada de um símbolo ancestral.

Um elo. Um juramento.

Aquela seria a marca invisível do compromisso com Ravena, sua loba. Sua fêmea. Sua vida.

E ele ainda trazia enfeites pro berço…

Estava animado como nunca, imaginando o sorriso da pequena Maysa, o brilho orgulhoso nos olhos da sua companheira.

Mas quando se aproximou da cabana, o ar mudou.

Não havia o cheiro da sua família.

Só rastros estranhos.

Muitos.

O rosnado veio sem ele perceber.

Seco. Mortal.

Ele correu.

Rápido como um raio atravessando a tempestade.

A cabana estava vazia.

Destruída por dentro.

O mundo girou. O estômago virou pedra.

Ele seguiu o cheiro.

As árvores se abriram até chegar numa clareira.

E ali… o inferno.

Ravena, caída de joelhos, amarrada com cordas brutas no pescoço, os cabelos grudados de sangue e terra, o corpo coberto de feridas.

Ela havia lutado até o fim.

Sozinha.

E Maysa…

Nos braços de um Alfa.

Pequena. Tremendo. Chorando.

E Kael viu.

O desprezo no olhar daquele maldito ao segurar sua filha como se fosse lixo.

Como se ela fosse... algo a ser descartado.

O grito de Kael rasgou o céu.

Não foi humano.

Não foi vampiro.

Foi de um pai.

Ele avançou.

Com fúria, com desespero, com amor.

Mas eram muitos.

Muitos Lycans.

Caíram sobre ele como sombras famintas.

Tentou alcançar Ravena.

Tentou tocar sua filha.

Mas braços o seguraram, presas o rasgaram, força bruta o jogou ao chão.

Ravena chorava.

“Me perdoa... Kael... eu tentei...”

As palavras saíam quebradas, como vidro nas costas nuas.

Ele gritava por ela.

Por Maysa.

E dentro dele… algo morria.

O príncipe se partia.

O pai gritava.

O monstro despertava.

As garras dele coçavam.

Ele jurava que ia arrancar a cabeça daquele Alfa.

Juro de sangue.

Juro de morte.

“O Preço do Sangue e da Honra”

A clareira estava silenciosa, como se o próprio vento tivesse medo de respirar.

O Alfa Thorgan, imponente em sua arrogância, andava em círculos diante da Ravena ajoelhada, sua voz um corte a cada palavra.

— Como pôde? Uma Lycan de linhagem pura se deitar com um sugador de sangue? E ainda gerar... isso? — cuspiu olhando pra Maysa, como se o choro da criança sujasse o chão sagrado sob seus pés.

— Você é uma vergonha. Uma puta com o cio fácil. E ele... — olhou Kael com desprezo — um verme de capa nobre.

Kael se debatia, olhos em chamas, os caninos expostos.

Ele queria sangue.

Queria rasgar aquele desgraçado em dois.

Mas antes que desse o comando final, um dos guerreiros, um Lycan mais velho, se adiantou.

A voz dele saiu firme, mas cheia de tensão:

— Alfa… não podemos matá-lo.

— Por que não?! — Thorgan rosnou, os olhos quase dourados de fúria.

— Ele é um príncipe. Se o matarmos... o tratado será quebrado. O Rei Lycan terá que dar satisfações. E os vampiros... eles vão vir. A guerra vai começar.

— E daí?! — o alfa urrou, os olhos ardendo — Você acha que já não estamos em guerra?

Mas no fundo, ele sabia.

O rei jamais perdoaria uma afronta tão estúpida.

Matar um príncipe significava selar o destino de seu próprio território.

Ele rangeu os dentes, engolindo o orgulho.

Mas não desistiu da crueldade.

Caminhou até Kael, o encarou com repulsa e cuspiu no chão.

— Muito bem… já que não posso matar você…

Fez uma pausa, cruel. Um brilho perverso nos olhos.

— ...então vou te dar uma lição, princípezinho. Uma que vai te marcar mais do que qualquer garra.

Ravena gritou, se debatendo nas amarras.

Maysa chorava desesperada, os bracinhos tentando alcançar o pai.

Kael rugia, os olhos pulsando vermelho, fúria pura — impotente.

O plano de Thorgan ainda estava para ser revelado.

Mas todos ali sentiram:

não haveria misericórdia.

Só dor.

E vingança no horizonte.

capítulo 03

“O Rugido que Rasgou a Noite”

A clareira virou um altar de horror.

Kael, imobilizado por correntes, urrava como uma besta ferida, os olhos presos na mulher que amava.

Ravena, de joelhos, ensanguentada, a cabeça pendendo para o lado, respirava com dificuldade, Depôs ser torturada.

Thorgan se aproximou dela devagar.

Com nojo.

Com desprezo.

— Você escolheu se deitar com a sujeira. Agora vai morrer como ela. — disse, a voz fria como lâmina.

— NÃO! FAZ COMIGO! ELA NÃO TEM CULPA! — Kael gritou, os olhos vibrando em vermelho e prata, o peito quase explodindo de desespero.

Mas Ravena virou o rosto, mesmo coberta de dor, e olhou pra ele.

— Kael… — a voz dela saiu fraca, mas cheia de verdade —

Eu te amei…

Eu amei nossa filha…

Lute por ela… nunca se arrependa do que vivemos…

E então... Thorgan se moveu.

Primeiro foi o braço esquerdo.

Um estalo.

Um rasgo.

O sangue jorrou como chuva negra.

Depois o outro.

Ravena gritou.

Mas não implorou.

Kael gritou por ela.

Implorou.

Uivou como uma criatura em pedaços.

— PÁRA! PÁRA, PELO AMOR DA NOITE!

— ELA NÃO TEM CULPA! FAZ COMIGO! COMIGO!!!

Mas Thorgan sorriu.

Cruel.

Sádico.

E com um último movimento…

Arrancou a cabeça dela.

Tudo parou.

O mundo... silenciou.

O corpo de Ravena caiu como boneca quebrada.

E o Alfa pegou a cabeça fria da loba e atirou aos pés de Kael.

Kael caiu de joelhos.

A dor travou sua garganta.

Ele esticou os dedos… como se ainda pudesse alcançar.

Mas então…

CRAC.

Thorgan pisou.

Estourou o crânio dela diante dos olhos do príncipe.

Como se fosse um lixo.

E naquele instante...

Kael rugiu.

Não foi um grito.

Não foi um som de dor qualquer.

Foi um chamado de sangue.

Um rugido tão ancestral, tão profundo, que atravessou florestas.

E os que ouviram... tremeram.

Do outro lado, vampiros próximos sentiram.

O cheiro de sangue.

O desespero de um príncipe.

E vieram.

Rápidos.

Mortalmente silenciosos.

O inferno vinha com eles.

E naquele chão encharcado de dor…

Nascia um novo Kael.

Algo que nem os vampiros... nem os Lycans… estavam prontos pra enfrentar.

“A Noite em que Tudo Morreu”

Thorgan, com o sangue de Ravena ainda nos dedos, virou os olhos animalescos para a criança.

Maysa.

Pequena, frágil… olhos de lua e trovão.

Tremia, ensopada em lágrimas.

Mas nem entendia o que perdia.

— Aberração maldita… — rosnou o alfa.

E ergueu a garra.

Kael tentou se mover. Gritou. Rasgou a garganta em desespero.

— NÃÃÃÃO!!

Mas antes que a lâmina viva descesse sobre a cabeça da criança…

Eles chegaram.

Vampiros.

Dez. Vinte.

Talvez mais.

Olhos vermelhos.

Presas à mostra.

Velocidade de sombras.

E o mundo virou uma carnificina.

As garras dos Lycans cruzaram o ar.

Os vampiros responderam com presas e magia antiga.

Cada um deles com a fúria de mil tempestades — porque viram seu príncipe de joelhos.

Derrotado.

Partido.

O sangue voava como chuva negra.

O chão virou barro de carne.

No meio do caos… Maysa desapareceu.

Ninguém viu quem a levou.

Não era Lycan.

Não era vampiro.

Só sumiu.

Como se o próprio destino a tivesse arrancado dali no último segundo.

E Kael…

Kael foi tirado à força pelos seus.

Coberto de sangue.

Olhos sem vida.

Não chorava mais.

Não gritava.

Ele só encarava o vazio onde Ravena esteve.

Onde Maysa sorriu pela última vez.

Naquela noite…

Kael perdeu tudo.

Sua fêmea.

Sua filha.

Sua alma.

E no lugar do príncipe sonhador,

nasceu uma criatura silenciosa, fria, imortal.

Um vampiro sem piedade.

Com o coração encharcado em luto.

E um único desejo gravado nas entranhas:

Vingança.

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