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O Despertar da Loba - Destinada ao Alfa

Capítulo 1 — A Lua Acima do Silêncio

Ela não sabia, mas seu destino já estava traçado muito antes da primeira batida acelerada do coração.

Elena vivia numa cidadezinha escondida entre montanhas e florestas densas, onde o tempo parecia andar mais devagar. Era o tipo de lugar onde as mesmas pessoas caminhavam pelas mesmas ruas todos os dias, e os segredos se enterravam sob raízes grossas e antigas.

Ela era uma garota simples. De cabelos castanhos longos, levemente ondulados, pele clara salpicada de sardas, e olhos que pareciam captar a luz de formas diferentes — ora mel, ora dourados, como se refletissem o céu antes da tempestade. Sua beleza não era feita de esforço, maquiagem ou poses ensaiadas. Era algo natural. Intocável. O tipo de beleza que você só percebe de verdade quando já está preso nela.

Tímida e introspectiva, Elena preferia a companhia das árvores aos burburinhos da cidade. Tinha o hábito de fugir para as trilhas da floresta sempre que o mundo humano ficava alto demais. Trabalhava na pequena livraria de sua tia desde os dezesseis anos, e era ali, entre capas empoeiradas e histórias encantadas, que se sentia mais viva. Lendo sobre outros mundos, outros tempos, outras mulheres que, assim como ela, sentiam que não pertenciam a lugar nenhum.

Mas havia algo que nem os livros conseguiam explicar: o vazio que carregava no peito. Uma sensação constante de ausência. Como se parte de si estivesse perdida em algum lugar. Às vezes ela sonhava com lobos. Com olhos prateados. Com uivos cortando o céu noturno. E, ao acordar, sentia como se tivesse corrido por horas, como se ainda houvesse terra sob suas unhas.

O que ela não sabia era que aquilo não era imaginação. Era o sangue dentro dela. O passado chamando por entre séculos de silêncio.

Do outro lado da floresta, longe da cidade, morava Liam Donovan.

Trinta e dois anos. Alto, ombros largos, porte másculo e uma expressão sempre entre o controle e a fúria. Os cabelos escuros cortados rente, a barba por fazer e o maxilar definido completavam a imagem de um homem que parecia esculpido à parte da humanidade. Tinha olhos cinzentos como a névoa das manhãs de inverno — e olhar de predador. Não daqueles que assustam. Mas dos que observam. Que sabem. Que esperam.

Na cidade, diziam que ele era recluso. Um homem frio, sempre de poucos sorrisos, que não se misturava com ninguém. Dono de uma madeireira importante para a economia local, Liam aparecia em reuniões breves, tratava de negócios e desaparecia novamente. Vivendo isolado numa casa nos limites da floresta, era alvo de boatos: alguns diziam que escondia um trauma, outros juravam que ele fazia parte de alguma seita. Mas ninguém realmente sabia. Nem ousava perguntar.

Porque a verdade era muito mais antiga e mais selvagem do que qualquer um poderia imaginar.

Liam não era apenas um homem.

Ele era o Alfa de uma antiga alcateia. Guardião de um legado nascido com o sangue e selado pela lua. Um líder respeitado e temido entre os seus, carregando a responsabilidade de proteger, de comandar, de manter as leis dos lobos vivos — mesmo quando o mundo humano tentava apagá-los.

Por anos, sentiu o vazio que só os de sua espécie entendiam: a ausência da sua companheira. Aquela que o destino designava, que os instintos reconheciam, que o vínculo eterno uniria em alma e corpo. Algumas alcateias passavam décadas sem ver um elo se formar. Mas Liam... Liam esperava. Sabia que ela existia. Sabia que, um dia, a sentiria.

Ele só não sabia que ela já estava ali. Tão próxima.

Tão perto de despertar.

Naquela noite, a lua subiria cheia no céu. E com ela, algo dentro de Elena começaria a mudar. Aos olhos humanos, ela ainda seria só uma garota. Mas dentro da pele, no fundo da alma, um lobo já se erguia. Preparando-se para nascer.

O tempo estava correndo.

E a lua... a lua estava prestes a chamar.

Capítulo 2 — O Instinto Desperta

O céu estava tingido de âmbar e cinza quando Elena resolveu seguir a trilha que cortava a floresta atrás da cidade. Ela caminhava como quem tentava fugir de algo — embora nem ela mesma soubesse o quê. Nos últimos dias, algo dentro dela parecia fora do lugar. Os sonhos estavam mais vívidos. As emoções, mais intensas. E os sons... os sons vinham como ecos distantes que ela conseguia ouvir claramente, mesmo quando ninguém mais parecia perceber.

Ela tentava ignorar.

Tentava fingir que estava tudo bem, que era apenas imaginação. Mas seu corpo sabia. Sua pele formigava com o toque do vento, seu coração batia com força ao menor estresse, e uma sensação incômoda a acompanhava desde que acordara naquele dia — como se estivesse sendo observada.

E estava.

Liam a viu primeiro, a distância. Estava ali por acaso — ou talvez não fosse acaso algum. Seu lobo sentira a aproximação. Um cheiro diferente, quente, adocicado. Familiar e ao mesmo tempo novo. Ele parou de andar no mesmo instante em que o vento soprou na direção certa.

O cheiro dela.

Seu corpo inteiro reagiu.

Liam ficou imóvel, os músculos tensos, os sentidos aguçados como se estivesse prestes a entrar numa luta. Mas não era medo. Era o instinto mais antigo de todos, aquele que sua espécie carregava há séculos: a presença da companheira.

Ele a observou caminhar entre as árvores, distraída, com os cabelos soltos voando suavemente ao redor do rosto. Usava um vestido simples, sandálias presas com tiras finas, e segurava um livro contra o peito. A luz do entardecer tocava sua pele com delicadeza, e Liam sentiu algo que não sentia havia anos: paz.

E um desejo feroz de protegê-la.

Ela não percebeu a presença dele de imediato, até se virar em um ponto da trilha e dar de cara com a figura parada a poucos metros à frente. Elena estacou. O ar lhe fugiu dos pulmões por um instante. Não era comum encontrar alguém ali. Muito menos um homem como aquele.

Ele era enorme. Forte. Vestia roupas simples — jeans, camiseta escura, botas sujas de barro. Mas não era isso que chamava atenção. Era o olhar. Olhos cinzentos que pareciam vê-la inteira. Não por fora, mas por dentro.

— Me desculpe — ela disse, tentando disfarçar o susto. — Não esperava ver ninguém aqui.

— Nem eu — respondeu ele, a voz rouca, grave, e surpreendentemente tranquila. — Mas... que bom que nos encontramos.

Ela o olhou, desconfiada e curiosa. O tom era estranho. Como se ele estivesse falando de outra coisa. De algo mais profundo do que um simples “olá”.

— Eu sou Liam — ele se apresentou, dando um passo à frente, mas respeitando a distância.

— Elena.

Ele sorriu. Um sorriso pequeno, contido. Mas seus olhos diziam outra coisa. Algo mais intenso. Ele sabia. Ela ainda não, mas ele sabia. O vínculo começava a pulsar como uma corda invisível entre os dois.

Elena sentiu algo dentro de si se agitar. O estômago revirar. Um calor subir pela nuca. Era como se já o conhecesse. Como se aquela presença despertasse algo antigo nela.

— Você vem sempre aqui? — ela perguntou, querendo quebrar o silêncio que se tornava denso demais.

— Às vezes. O silêncio ajuda a... pensar. — Ele hesitou, olhando para os olhos dela como se procurasse algo. — E você? Também busca respostas?

Elena sentiu um arrepio. Como ele sabia?

Ela não respondeu. Apenas assentiu, apertando o livro contra o peito.

Ele então disse baixinho, mais para si do que para ela:

— Em breve, tudo vai fazer sentido.

Antes que ela pudesse perguntar o que ele queria dizer com aquilo, Liam sorriu de novo, deu meia-volta e desapareceu entre as árvores, deixando para trás apenas o som das folhas e um cheiro no ar que faria o coração dela disparar por dias.

Capítulo 3 — Sob a Pele, a Fera

Elena acordou com um sobressalto, o peito arfando e o corpo coberto de suor. A respiração era pesada, como se tivesse corrido uma maratona enquanto dormia. Jogou os lençóis para o lado e se sentou na cama, tentando recuperar o fôlego. O quarto estava escuro, exceto pela luz prateada da lua cheia que entrava pela janela e pintava o chão de branco pálido.

Mais um sonho.

Ou melhor, mais um fragmento do que parecia ser uma lembrança de algo que nunca viveu. Corria por entre árvores, mas não com os próprios pés. Sentia as patas afundarem no barro úmido, o vento cortando o rosto, os músculos pulsando com uma força que não era humana. E atrás dela… ou ao lado dela… havia olhos cinzentos que a seguiam. Protegiam. Chamavam.

Era sempre o mesmo sentimento. Liberdade. Poder. Medo.

Levantou-se com dificuldade, sentindo as pernas trêmulas. Caminhou até o espelho e acendeu a luz do abajur. Por um segundo, não reconheceu o reflexo. Seus olhos estavam mais claros, puxando para um dourado que cintilava sob a luz fraca. A pele parecia mais sensível, viva, como se houvesse eletricidade correndo por baixo dela.

O que estava acontecendo?

Voltou a se deitar, mas o sono não voltou. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentia medo de fechar os olhos.

Nos dias que seguiram, os sintomas aumentaram.

A audição parecia apurada demais — conseguia ouvir uma discussão entre vizinhos mesmo com a janela fechada. Cheiros familiares ficavam insuportáveis, como o perfume doce demais da tia ou o café forte da manhã. E então havia o calor. Um calor interno, nascido no peito e irradiando por todo o corpo, como se algo ali dentro estivesse se agitando, tentando emergir.

E em meio a tudo isso… a lembrança dele.

Liam.

Desde aquele breve encontro na floresta, ela não conseguia tirá-lo da cabeça. Havia algo nele que a atraía, mas de uma forma diferente de qualquer outra coisa que já havia sentido. Não era só aparência — embora ele fosse de uma beleza crua, masculina, quase primitiva. Era o jeito como a olhava. Como se soubesse.

Ela tentava racionalizar. Dizer a si mesma que estava apenas impressionada com aquele homem misterioso, que tudo o mais era estresse ou imaginação. Mas uma parte dela — a parte que sonhava com uivos e corridas noturnas — sabia que não era só isso.

Na livraria, os livros começaram a parecer diferentes também. Ela se pegava abrindo volumes antigos sobre mitologia, lendas de criaturas que mudavam de forma, histórias de lobos que caminhavam entre humanos. Lia compulsivamente, como se procurasse por si mesma dentro daquelas páginas.

E numa tarde nublada, enquanto organizava livros na sessão esquecida dos fundos, encontrou um caderno antigo, de capa de couro desgastada. Não tinha nome. Não tinha número de prateleira. Era como se estivesse ali apenas esperando por ela.

Abriu com cuidado e encontrou anotações à mão — palavras fortes e desenhos de lobos em meio à floresta. Havia símbolos, fases da lua, descrições de dores parecidas com as que ela vinha sentindo. E então, uma frase sublinhada em vermelho:

“A transformação se inicia no corpo, mas é a alma quem desperta primeiro.”

Elena sentiu o estômago virar. Tudo dentro dela gritava que aquilo não era coincidência.

Naquela noite, resolveu voltar à floresta. Não sabia o que esperava encontrar. Talvez o silêncio a ajudasse. Talvez... ele estivesse lá.

Seguiu a trilha já quase no escuro. A lua cheia nascia por entre as copas das árvores, e cada passo parecia mais pesado que o anterior. O ar cheirava diferente — mais forte, mais denso. O vento carregava um murmúrio que ela não sabia se era real ou só dentro da própria cabeça.

E então, de repente, o corpo cedeu.

Uma dor lancinante atravessou seu peito. Caiu de joelhos, arfando. As mãos tocaram a terra úmida enquanto o mundo girava. Sentia os ossos tensionarem, a pele latejar, como se quisessem se romper.

E em meio ao caos… uma voz ecoou. Firme. Familiar.

— Elena.

Ela ergueu o rosto e viu Liam emergindo das sombras. Os olhos dele brilhavam sob a luz da lua. Mas havia algo mais. Algo selvagem. Instintivo.

Ela abriu a boca para falar, mas só conseguiu dizer uma palavra:

— Me ajuda.

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