Capítulo Um – Rebeldia.
Ecos de gritos reverberavam pelos corredores do antigo castelo branco. O sol sequer ousava se impor entre as sombras densas da floresta de Rize e na cozinha da alcateia principal, duas figuras se enfrentavam com uma fúria contida – mãe e filha, tão iguais em espírito quanto diferentes em postura.
— Eu já disse que não vou ficar mais aqui! Eu odeio este lugar, mãe! — bradou Analice, com os olhos em chamas e os punhos cerrados sobre a borda da mesa redonda.
Anastácia, a matriarca da casa, mantinha-se em movimento, contornando a mesa como uma predadora à espreita de sua presa. Os cabelos prateados dançavam com o ritmo dos passos firmes e a sua presença era como uma tempestade prestes a explodir.
— Você não decide isso, mocinha! Sabe o quanto eu sofri neste lugar? E nem por isso saí por aí me queixando como uma criança mimada. Eu te dei demais e veja no que se tornou. — vociferou, com a voz fria e cortante.
Analice correu, tentando evitar o toque da mãe, enquanto esta levantava a mão, pronta para lançar um feitiço de contenção.
— Venha aqui agora! — ameaçou Anastácia, com o olhar de uma deusa em fúria.
— Não! — respondeu a jovem, o medo evidente em sua expressão, já prevendo o que aconteceria caso o pai aparecesse.
E como se o destino tivesse sido invocado...
— O que está acontecendo aqui? — perguntou Kaleu, surgindo à porta como um general em meio ao campo de batalha.
Anastácia sequer desviou o olhar da filha:
— Você. Fique aí mesmo! Se tentar intervir, não responderei por mim.
— Papai! — clamou Analice, em busca da única figura que ainda podia salvá-la.
Mas Kaleu apenas suspirou, derrotado:
— Sinto muito, filha... A sua mãe é perigosa demais para mim.
E recuou discretamente, sumindo no corredor.
— Papai, seu covarde! — gritou Analice, poucos segundos antes de ser capturada.
Com um estalo de dedos, Anastácia a paralisou no ato. Sem controle pleno de seus poderes, Analice sucumbiu facilmente à magia ancestral da mãe.
— Agora me diga, mocinha... O que exatamente pretendia fazer com o meu medalhão? — perguntou Anastácia com uma calma assustadora, os olhos cravados nos da filha.
Vendo-se encurralada, Analice bufou e falou com a franqueza de quem já não tinha mais para onde correr:
— Eu queria atravessar a barreira sem passar pelo pedágio. Só isso!
Anastácia cruzou os braços, desapontada.
— Roubando artefatos da própria mãe... Que belo exemplo de princesa... E o que mais, Analice? Vai me dizer que foi ideia dos seus irmãos também?
— Não! Eu descobri o cofre sozinha!
— E onde está o medalhão? — perguntou com um tom mais baixo e perigoso.
Analice hesitou por um segundo.
— Mãe, por favor... Eu só queria conhecer o mundo humano. Nunca fui lá! Queria apenas ver se era melhor que essa prisão...
Anastácia cerrou os olhos e a decepção dançou em suas pupilas douradas.
— Nem comece com essa carinha. Pode até funcionar com o seu pai, mas comigo, não. Suba, pegue o medalhão e traga para mim. Ou seu castigo será digno das eras antigas.
Sem outra escolha, a filha obedeceu em silêncio.
[...]
Sobre Kaleu e Anastácia:
Ambos renasceram das cinzas de uma história marcada por guerras e maldições. Anastácia, marcada pelo sofrimento desde a infância, reencontrou-se com o seu destino ao lado de Kaleu — o alfa que, antes corrompido por um feitiço, redescobriu o amor e a honra quando finalmente quebrou as correntes da escuridão.
Anastácia é filha da deusa Selene com o deus Hades, já Kaleu, é filho de Afrodite e Hefesto — almas eternas que reencarnaram para escrever um novo legado. Anastácia, a loba que um dia fora dragão! Kaleu, o alfa que ascendeu ao poder. Juntos, agora protegiam os seus filhos sob a luz e as sombras da alcateia Rize.
\_Analice\_
Desde que nasci, a minha vida tem sido definida por títulos e expectativas. Princesa da alcateia Rize... Filha dos lendários! Aclamada por todos, desejada por muitos e no entanto, nada disso importa quando tudo o que você deseja é ser livre.
Meu nome é Analice e eu tenho 18 anos. Cabelos tão brancos quanto a neve, uma linhagem poderosa, mas uma alma inquieta...
Eles dizem que sou a mais linda, a mais poderosa, a herdeira digna de minha mãe, mas ninguém vê o fardo.
As garotas me odeiam por simplesmente existir já os rapazes me enxergam como um atalho ao poder. Meu irmão gêmeo Kastiel, o meu único porto seguro, é quem me protege desses abutres — embora ele mesmo seja alvo de uma verdadeira tempestade hormonal feminina.
Aos dezesseis, completei a minha transformação e foi simplesmente espetacular, muitos aclamaram a minha loba, já outros ficaram com uma nítida inveja e desconforto... Como toda loba, era o momento de encontrar o meu companheiro, mas nenhum vínculo se formou! Para o meu total alívio.
Não desejo seguir o caminho que esperam de mim. Quero descobrir o que há além das muralhas, além da barreira! O mundo humano me chama... Desejo viver entre os que não conhecem a minha linhagem, entre os que não esperam nada de mim.
Stella – minha prima, é a lealdade Silenciosa com um toque irritante de sinceridade.
— Você precisa ouvir mais a sua mãe. — disse Stella, a minha prima, enquanto caminhávamos rumo à escola Clarke — um verdadeiro zoológico disfarçado.
— Preferia estar na parede, como você diz. — resmunguei, odiando cada segundo naquele lugar.
— Promete que não vai tentar mais nada maluco? — perguntou, esperançosa.
Respondi com um sorriso travesso, e o silêncio falou por mim.
Assim que cheguei ao colégio, uma avalanche de garotas me cercou, como hienas sedentas por uma migalha do meu irmão. Revirei os olhos, buscando Stella, que rapidamente correu para chamar Kastiel — meu salvador recorrente.
— Por favor, princesa, só entregue o meu número a ele!
— Diga que aceito passar a bruma com ele!
Tais barbaridades eram ditas sem pudor, enquanto eu tentava escapar daquele inferno aromático.
— Meninas, por favor... Eu preciso ir para a aula! — pedi.
E foi então que Kastiel, com a sua típica bravura teatral, surgiu:
— Vão sufocar a minha irmã! Querem ser banidas por matarem a princesa?!
Funcionou. Elas recuaram, mas foi a vez dele de correr — com uma multidão atrás.
— Você nem ajudou o seu irmão... — comentou Stella, entre risos.
— Eu mal conseguia me ajudar! — retruquei arrumando a roupa.
Fomos até a sala e lá... era o verdadeiro inferno.
Entramos na sala e bastou um passo para o veneno começar a pingar.
— Ora, ora... se não é a princesinha do castelo de gelo. — zombou Savannah, recostada em sua carteira como uma cobra preguiçosa ao sol.
Fingi que não ouvi, mas ela insistiu.
— Chegando atrasada... Aposto que estava muito ocupada admirando o próprio reflexo no espelho. Ou será que fugiu de novo atrás de atenção?
Olhei de canto, mas ela continuou:
— Você sabe que ninguém aqui te respeita de verdade, não sabe? Todo mundo só te atura porque tem medo da sua mamãezinha e do seu nome, mas você? Você não é nada além de um título vazio.
Os risos disfarçados que ecoaram pelas fileiras de carteiras foram como facas afiadas. Vi rostos virando-se em expectativa, esperando a minha resposta — ou a minha humilhação.
Apertei os dentes. Se ela queria sangue, é sangue que ela vai ter...
— Você terminou? — perguntei, encarando-a com frieza.
— Nem comecei. — respondeu com um sorriso torto. — Afinal, estou curiosa... Deve ser difícil ser tão adorada e tão... inútil ao mesmo tempo. Você tem poder, Analice, mas não tem pulso, nem coragem e se acha que alguém aqui teme você, está mais iludida do que aparenta.
Silêncio...
Eu me aproximei lentamente, cada passo reverberando no chão de mármore. Savannah manteve o sorriso, até que parei diante dela com um olhar calculista...
— Você fala demais, Savannah. — a minha voz saiu baixa, mas carregada de promessas futuramente cumpridas. — E se há algo que herdei da minha mãe, além do poder, é o hábito de não tolerar impertinência... nem insolência barata. — completei tocando numa mecha do seu cabelo com uma ameaça velada.
Ela se levantou, desafiadora, mas antes que pudesse abrir a boca, ergui a minha mão. Um círculo de energia começou a se formar no ar, dançando em espirais pálidas e prateadas ao redor de mim...
— Não estou aqui para brincar de realeza. Estou aqui porque permiti estar e se quiser provar o contrário... venha. — a minha aura se expandiu, pressionando o ambiente, fazendo o chão vibrar levemente.
Savannah cambaleou um passo para trás, pálida. A sua sombra tremeu antes dela...
— Achei que fosse corajosa... — provoquei, com um sussurro gélido.
— Isso é abuso de poder. — sibilou ela, com a voz falha...
— Não. Isso é a hierarquia se impondo! — declarei, desfazendo o círculo de magia com um estalar de dedos...
O silêncio reinou e o respeito, ainda que forçado, voltou a pairar no ar como uma névoa espessa. Savannah se encolheu finalmente entendendo mesmo que momentâneamente a sua própria insignificância.
Eu caminhei até a minha carteira, sentando-me como se nada tivesse acontecido. Porque, para mim, aquilo não era nada! Era só o início do caos que eu pretendia fazer com ela se me provocasse novamente...
.
.
.
Essa está sendo mais uma trajetória minha aqui nessa plataforma, gostaria que vocês comentassem bastante e curtissem para me ajudar nessa nova jornada🩵✨
.
.
.
Continua...
\_Stella\_
Desde que me lembro, a minha casa sempre transbordou afeto. Mamãe e meu pai são inseparáveis – não por acaso, os guardiões comentam que, se algum dia se afastassem por mais de uma hora, o mundo entraria em colapso – ou, ao menos, os nossos nervos. Tenho dezoito anos, uma rotina tranquila, mas também um segredo: a minha loba interior ainda dorme...
Só os meus pais e os meus tios sabem. Segundo a minha mãe, foi justamente o anúncio da minha chegada que atiçou a fúria de Lúcifer – o meu "avô" segundo os meus pais, ele foi pai do meu pai numa vida passada. No dia em que nasci, abriu-se uma fenda perto da Barreira... Então o alfa e o supremo ergueram uma ponte de contenção. Nada como nascer sob efeitos especiais dos deuses!
Apesar do sangue incomum que corre nas veias, a minha grande paixão não envolve espadas nem luas vermelhas, mas placas de vídeo e campeonatos on-line. Quero ser jogadora profissional, daquelas que ganham troféus e patrocínio… enquanto comem pipoca na frente do monitor.
Rize é um lugar agradável, se ignorarmos a minoria que acha graça em atormentar quem carrega um sobrenome importante. Savannah, por exemplo, adora transformar o corredor da escola num ringue pessoal. Felizmente, a minha prima Analice – carisma de tempestade e punho de trovão – costuma resolver essas situações antes que eu precise abrir a boca...
Hoje ela quase colocou a filha de um ancião no bolso. Resultado: castigo imediato decretado por tia Anastácia. Enquanto eu me despedida na saída, tia Ana soltou um suspiro teatral:
— Esta sua prima ainda vai me levar à loucura, Stella… — Falou ela olhando com um olhar aguçado para o portão da escola...
— Mamãe mandou dizer que espera a senhora hoje à noite, tia.
Analice entrou no carro com a expressão de quem acabou de engolir um limão inteiro e tia Ana logo ergueu as sobrancelhas.
— Avise a sua mãe que passo amanhã cedinho. Tenho uma conferência com algumas… entidades inquietas.
Fez-me um rápido carinho e partiu em direção ao castelo. Peguei o caminho de casa imaginando se, um dia, conseguiria a metade da firmeza daquela mulher... Tia Anastácia era admirável, tanto em força, quanto em convicção.
[...]
Momentos depois...
Empurrei a porta e quase escorreguei na cena de sempre: papai e mamãe trocando beijos de cinema bem no centro da sala.
— Por favor, vocês dois — murmurei, depositando a mochila no sofá.
— Mocinha, mochila no quarto! Agora — replicou minha mãe, Amara, erguendo um dedo impetuoso. — Depois sou eu quem arrumo esta bagunça.
Meu pai – Alec, o mesmo que já moveu montanhas ao simples estalar de pensamentos – contornou-a e a abraçou pela cintura:
— Calma, minha loba estelar. Não transforme a menina em pó cósmico...
Revirei os olhos, mas obedeci, antes de lembrar o recado:
— Tia Ana avisou que não pode vir hoje. Compromisso urgente...
Mamãe suspirou fundo, mas não perdeu o humor:
— Eis o pagamento por ficar nesta alcateia – uma irmã que me troca por papéis burocráticos... Eu devia ter seguido o meu plano inicial.
Papai inclinou a cabeça e perguntou curioso:
— Plano?
— Raptar você para o outro lado do mundo numa caixa de madeira. Se fosse obediente, eu acrescentaria furos de ar na caixa e agradeça, pois eu estaria sendo piedosa.
Ele se afastou um passo, teatralmente alarmado e falou galanteador:
— Já disse que o seu espírito diplomático me encanta?
— Encanta ou apavora?
— Um pouco dos dois — respondeu ele, arrancando-lhe uma gargalhada.
—A mim só apavora! — Reverberei fazendo com que minha mãe me olhasse feio.
— A sua mãe não tem um pingo de dó de mim, filha. Ontem ela apareceu com um saco de cimento e disse: “Amarra isso na cintura e passa o dia inteiro com ele, só assim vai entender o que é gerar uma criança!” — meu pai então fez uma pausa dramática. — Quase chamei reforço do clã achando que era um ritual antigo de tortura!
A cena que eu imaginei me fez sorrir. Pouca gente imagina que esse casal poderia, num surto conjunto, evaporar metade do planeta. Ela, última das lobas milenares criadas do choque de estrelas; ele, herdeiro do poder do Leviatã e – dizem – ex filho favorito de Lúcifer.
[...]
No meu quarto...
Guardei a mochila, liguei o PC e entrei no meu universo de pixels.
Meu nick: Ravena_xt5. O dele: Exterminador_xt7. Ele nunca me contou o nome verdadeiro; então sigo a regra. Disse que moro no Texas, informação que obtive em uma busca rápida no mapa humano mais conhecido como Google maps.
Exterminador era o nick do cara que eu conversava pelo jogo, ele era simpático, engraçado e muitas vezes um calmante no final do meu dia turbulento.
Ele sabia sobre o bullying que eu sofria na escola (Só não falei o motivo real) pois não queria assustar o meu único amigo humano. Mas nós conversávamos sobre tudo!
Ele me contava as constantes cobranças que sofre do pai, a comparação com o seu irmão mais velho e eu como uma boa colega tento fazer ele se sentir melhor com comentários leves nas horas das partidas.
No início eu achei o seu Nick engraçado demais, porém quem sou eu pra julgar né?
Mais sério, Exterminador?
Hoje nós vamos jogar squad com uns amigos do Exterminador. Junto dele estavam Erick_cx e Ellie_§. Apertei o fone; a voz dele sempre soava como café quente em noite fria...
— Galera, esta é a Ravena — anunciou. — A melhor jogadora que conheço.
— Assim vai magoar a Nanda, hein — provocou Erick.
— Meu ego sobrevive — respondeu Ellie, sorrindo.
O nome dela deve ser Fernanda, ou Ellie Fernanda... Eu não soube sibilar.
Erick insistiu:
— Ravena, diz aí o seu nome verdadeiro.
Meus dedos congelaram, mas para a minha sorte o Exterminador interveio antes que eu tropeçasse:
— Relaxa, Erick. Nem todo mundo curte revelar identidade...
Senti um arrepio agradável.
— Pelo timbre, deve ser linda — continuou Erick.
— Próxima cantada sai do time — rosnou meu colega Exterminador.
O jogo começou, entre headshots e corridas... risadas ecoaram no chat, e no fim a vitória perfeita — nunca perco quando jogamos juntos.
Depois do game, ficamos a sós no canal.
— Você tem… que idade mesmo? — perguntou ele de repente me pegando de surpresa. Ele nunca havia perguntado nada do tipo antes...
— Dezoito e você? — perguntei um pouco nervosa...
— Dezenove— respondeu, num tom que soou um pouco casual demais para ele que até então não queria responder coisas simples, como o próprio nome.
Algo me dizia que havia mais a contar, mas não pressionei.
— Preciso dormir, amanhã acordo cedo.
— Boa noite, Cinderela… sonhe com a minha voz — arriscou, tropeçando nas próprias palavras.
Ri baixinho e respondi:
— Até mais, bobo.
Desliguei e fiquei girando na cadeira, olhando as estrelas adesivas coladas no teto, sentindo o coração bater rápido — não de medo das lendas sobre o meu sangue, mas de algo que nenhum treinamento de guerreiros ensina: a emoção simples de uma garota de dezoito anos que descobriu que tem alguém, lá fora, torcendo por ela.
.
.
.
Curtem e comentem bastante ☺️❤️
.
.
.
Continua…
_Analice_
Mamãe me deixou de castigo a noite inteira — e o pior de tudo? Nem pude assistir aos meus doramas do mundo humano! Isso é absolutamente injusto! Tenho certeza de que a Savannah não foi punida por ser arrogante, mas eu sou castigada por me defender?
Pois bem... Isso não vai ficar assim.
Vou convencer a Stella de que precisamos sair daqui. Se não tomarmos uma atitude agora, jamais seremos verdadeiramente livres! Eu me sinto como uma prisioneira — acorrentada por expectativas que não escolhi.
O dia amanheceu e embora eu não quisesse levantar da cama, como sempre, a minha mãe conseguiu me convencer.
No caminho para a escola, ela tentou conversar comigo, como quem deseja compreender o meu lado, mas no fim, sempre vem junto com o sermão carinhoso.
— Filha, eu sei que é difícil lidar com a inveja, mas você precisa aprender a se controlar. Eu e seu pai prezamos pela paz entre os membros da alcatéia, mas também não toleramos injustiças! Hoje mesmo, falarei com o pai dela sobre o que ocorreu. Você é a princesa e precisa ser respeitada como tal. No entanto, jamais aja com ignorância — isso pode ser usado contra você. Lembre-se: você será nomeada alfa desta alcatéia no futuro e precisa estar preparada.
— Tá, mãe... Eu vou tentar me controlar mais, no futuro.
Bem no futuro mesmo...
— Assim espero. Mudando de assunto... Hoje, o seu pai e eu receberemos convidados na barreira. O rei vampiro e a sua condessa estarão aqui para renovar o tratado de paz firmado há seis anos...
Revirei os olhos, como quem já sabia onde aquilo ia dar.
— Ah, mãe... pela Deusa, não me diga que ele virá também...
— Analice, vocês dois precisam, ao menos, manter uma convivência amistosa. É para o bem da alcatéia... Por favor, tente mudar os seus pensamentos em relação ao príncipe.
— Não vou poder recebê-los. Sinto muito... Tenho planos com a Stella hoje à noite e além disso, nem o conheço mais! Já se passaram seis anos desde a última vez que o vi. Talvez, no futuro — quando eu encontrar o meu companheiro e ele encontrar a condessa dele — possamos formar uma aliança pelos nossos povos, mas agora? Não quero lidar com aquele ser.
Falei com um tom entediado, virando o rosto para a janela.
— Mude esse seu linguajar, mocinha!
Observei as ruas passarem enquanto me lembrava de uma memória antiga...
— **Flashback** —
— Sua feia!
— Seu merdinha!
A gente vivia brigando, feito cão e gato, mas havia um motivo: ele me odiou primeiro e como a orgulhosa que sempre fui, retribuí em dobro.
— Pelo menos eu não sou um cachorro sarnento!
— Disse ele com aquela típica voz irritante de menino mimado.
— E eu não sou uma morcega raivosa cheia de doenças! — Falei fazendo o som de morcego raivoso na sua direção.
Foi aí que partimos para a briga. Ele puxou o meu cabelo e eu puxei o dele...
— Me solta, pirralha!
— Me solta você, doença!
Foi quando uma voz estrondosamente autoritária brandou:
— PAREM OS DOIS AGORA MESMO!
Minha mãe tentou nos separar, mas quanto mais ele puxava, mais eu revidava.
Não lembro exatamente como terminou — provavelmente por causa do belo porrete que levei da mamãe. Depois disso, nos evitamos ao máximo.
Eu o odiava e ele me odiava.
— **Fim do flashback** —
Peguei a minha garrafinha d’água, tentando apagar mentalmente aquela lembrança humilhante e comecei a tomar água...
— Eu nunca entendi esse ódio todo. Vocês eram crianças, não havia motivo para tanto rancor e vai que... ele é seu companheiro predestinado?
Cuspi toda a água, engasgando com a simples mensão olhando para ela indignada. Minha mãe começou a bater nas minhas costas para ajudar, mas só piorou!
— Mãe!! Por favor, retira essa ideia horrenda da sua cabeça!
— O que eu falei demais? Foi só uma suposição... Vai que...
— Mãe! A Deusa jamais seria tão cruel a ponto de me dar aquele morcego adoentado como companheiro! Isso seria uma punição, não um destino...
— Respeite sua avó, mocinha!
— Ah, é impossível conversar com você!
— Primeiro: você não pode escolher o seu futuro. Segundo: isso é drama demais para pouca coisa.
— Vamos parar de falar desse assunto antes que eu vomite... — Falei já sentindo o estômago revirar...
Ela apenas revirou os olhos e seguimos em silêncio.
Ao chegar na escola, dei um beijo rápido em sua bochecha e saltei do carro. Stella já me esperava do lado de fora...
— Pela sua cara, a bronca foi feia.
— Nem me fale... — Respondi arrastada e entediada.
Mamãe então buzinou, chamando a nossa atenção.
— Oi, linda! Sua mãe vai lá em casa hoje?
— Disse que sim, tia!
— Ótimo. Tenham uma boa aula e fique de olho nessa aí.
— Pode deixar, tia!
Bufei e segui na frente. Stella logo colou ao meu lado, cruzando os braços e encostando a cabeça no meu ombro.
— Você precisa entender mais a sua mãe. — Disse ela naquele tom que eu detestava.
— Até você, Stella?
— Eu sei que você odeia ser repreendida, mas tenta ver o lado dela. Ela está sobrecarregada e a sua coroação se aproxima... Ela precisa de apoio.
— Você devia ter nascido filha dela. Vocês são igualzinhas...
— E você puxou a minha mãe: livre, impulsiva e indomável.
Rimos juntas e seguimos para a aula.
Durante o intervalo, caminhávamos pelos corredores quando demos de cara com um grupo de... lobas.
— Olha só quem está aqui. Foi repreendida, né? Isso só prova que eu estava certa. Você não serve para ser princesa... — Disse Savannah com a sua acidez de cobra venenosa.
— Quando eu for companheira do seu irmão, serei a suprema e você vai rastejar aos meus pés. — Completou ela com aquele sorriso irritante de sinceridade forçada.
— Isso se eu não despedaçar a sua cabeça antes. Você não serve nem para ser serviçal e hoje, vamos ver quem será repreendida.
— Já correu pro colinho do seu papai? Ele que sempre limpa sua bagunça, não é? — Falou ela forçando uma voz infantilizada com aquele bico de deboche que eu adoraria arrancar com a faca.
As lobas que estavam atrás dela logo começaram a rir...
Me virei para Stella com um sorriso demoníaco de lado e perguntei:
— Stella... Criticar a sua futura alfa se enquadra como traição?
— Não sei, mas se você for alfa e ela continuar aqui... pode despedaçá-la em praça pública.
Savannah empalideceu. Confesso que até eu me assustei um pouco com o tom da Stella!
— Isso é tirania! — Gritou Savannah com aquele olhar de quem já teme o futuro.
— Usurpar um lugar que não lhe pertence também é, querida. Se eu contar ao meu irmão as suas intenções... bem, ele é o futuro supremo. Eu teria medo, se fosse você! — Contra-ataquei com os braços cruzados, caminhando lentamente e olhando no fundo dos seus olhos.
As amigas de Savannah recuaram, deixando-a para trás com os punhos cerrados.
— Isso não vai ficar assim, Analice!
— É Princesa Analice pra você.
Ela saiu furiosa, já eu e a Stella surtamos de rir como duas hienas.
— Foi épico! Você é incrível.
— É assim que se vence uma guerra.
O sino tocou para o treino. Stella seguiu para ecologia, enquanto eu ia para o campo de treinamento.
— Demorou, platinada. — Falou meu irmão com aquela sua típica pose de macho alfa.
— Estava bebendo água.
— Quer ficar no meu time hoje? — perguntou ele com o seu tom convencido de sempre...
— Aí não teria graça. Você é o único que presta pra combate...
Ele riu, voltando para os amigos.
Meu irmão Kastiel é... Digamos que "o colírio para os olhos" de muitas lobas daqui (senão todas).
Muitas dizem que ele é a verdadeira encarnação da perfeição esculpida pelos deuses (que exagero)...
com 1,80 de altura o meu irmão já é um verdadeiro guerreiro nato entre os lobos mais fortes dessa alcatéia (senão de todas as outras também).
Fui me alongar e logo algumas lobas se aproximaram para entrar no meu time. Sempre escolho as mais fracas — é uma tática. Assim elas se fortalecem comigo e a alcatéia se beneficia...
Mas Savannah me encarava com fúria. Sabia que ela aprontaria algo!
Avisei mentalmente o Kastiel para ficar de olho na "cachorra" e ele só riu, confirmando com a cabeça, silenciosamente.
— Vai ser... você, você, você e você! — Falei apontando o dedo para cada uma que eu escolheria.
Uma das lobas bufou.
— Por que a princesa só escolhe as mais fracas?
Savannah, claro, aproveitou e falou com um sorriso sínico e debochado:
— É porque ela quer se exibir como a mais forte.
Então de repente uma voz colossalmente assustadora falou:
— Vocês são burras e idiotas? Até o mais burro entende o motivo para isso!!
O treinador apareceu, impondo-se com o seu corpo colossal.
— Mas ela só quer esfregar o título na nossa cara!
— Ela faz isso para inspirar os mais fracos! Por isso a qualidade do nosso treinamento subiu. Vocês querem continuar com esse pensamento de inúteis ou querem proteger a sua alcatéia? — Falou ele com um olhar mortal para todos...
Todos: — Proteger a alcatéia!
Sorri com satisfação e voltei a me alongar.
— Hoje, o treino será na mata. Cada equipe deve trazer três caças grandes! O time que trouxer primeiro, vence. — Ordenou o treinador com autoridade.
Todos nos olharam com receio. Eu e Kastiel éramos os mais fortes e ele me desafiava com o olhar, provocando o meu espírito competitivo.
— Sem frescuras. Em guerra, não há tempo para planos. Conheçam seus companheiros e lutem com coragem! — Completou o treinador — 1... 2... 3... JÁ!
Corremos mata adentro. Transformei-me em minha loba branca e esplendorosa — como a da mamãe, mas com traços únicos! Já Kastiel assumiu a sua forma negra como nosso pai...
— Concentração, pessoal! — Falei com o meu time pela ligação mental. Eles só me encaravam, abismados...
Dessa vez, Kastiel não vai ganhar.
Ou eu não me chamo Analice de Rize!
.
.
.
Curtem e comentem ✨ 🦋
.
.
.
[Continua...]
Para mais, baixe o APP de MangaToon!