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A COMPANHEIRA DO SUPREMO ALPHA

####Prólogo Como Tudo Começou

A noite tinha gosto de sangue e aurora quebrada.

As copas ancestrais da floresta de Lórandhriel choravam em silêncio, seus galhos tremendo como harpas em lamento. O véu da magia que protegia o reino élfico havia sido rasgado com brutalidade, e a luz etérea das folhas sagradas agora ardia em tons rubros — como se o céu tivesse cuspido a própria ira sobre aquele solo.

No meio da devastação, entre os sussurros da floresta ferida, corria uma figura feminina, cambaleante, banhada em prata e dor: Ilunara, princesa da Corte da Luz.

Nos braços, ela carregava seu tesouro mais precioso — uma bebê recém-nascida, envolta em panos encantados, ainda com a fragrância da magia e do ventre. O pequeno corpo dormia em paz, alheio ao caos, mas o coração da mãe queimava em desespero.

— Cálix, por favor aguente, — sussurrou ela, num fio de voz sufocado por soluços e raízes que se entrelaçam em seus pés.

Atrás dela, o passado sangrava.

Cálix, o Supremo Alpha das Montanhas do Norte, jazia à beira do portal feérico. A espada cravada em seu peito pulsava como uma maldição viva, o sangue escorrendo como oferenda impura. Ele, um lobo branco forjado na guerra, havia desafiado os reinos por amor. Mas o preço da desobediência foi alto demais.

Não por mãos inimigas.

Mas pelo punho cruel do Rei Priel, pai de Ilunara, que preferiu o orgulho ao perdão.

Ela não teve tempo de chorar. Nem de gritar. O último olhar de Cálix a perfurou com ternura e comando.

— Não olhe para trás. Vá! Transmute-se! Proteja nossa filha! — ele murmurou, entre o gosto do próprio sangue e a eternidade que o aguardava.

O feitiço queimou a carne dela como brasas vivas.

As asas de cristal desapareceram em cinzas. Os olhos, antes azuis como as manhãs feéricas, tornaram-se castanhos humanos. A pele, dourada pela luz dos Deuses Antigos, agora era comum. Ilunara se desfez para salvar sua filha.

E assim, tocou o mundo dos homens.

O ar era seco, áspero. O cheiro da floresta humana era de terra molhada, de folhas mortas e chuva prestes a cair. Nada havia ali da música das estrelas. Nada da leveza das nuvens de Lórandhriel.

Mas ela sabia onde ir.

Guiada por promessas antigas, correu pelas trilhas ocultas até chegar às Florestas Sagradas do Clã Ravika, onde vivia uma loba de dons antigos: Maebh O’Faoláin, curandeira respeitada, esposa de Dorian, o lobo que abdicara da liderança por lealdade à alma e à floresta.

Ilunara depositou a criança com cuidado na soleira da cabana. A luz da lua beijou os cabelos prateados da menina como uma bênção. Ao lado dela, uma carta escrita com tinta de lua, e um colar lunar que brilhava com um suave pulsar — como se a própria Lua tivesse deixado ali seu coração.

Ela ajoelhou-se. Chorou em silêncio. O ventre ainda doía do parto recente. Mas o coração o coração dela já estava morto com Cálix.

Ela acariciou o rosto da filha e sussurrou:

— Seja a Lua onde só há trevas. Que seu nome ecoe entre as matas e a eternidade. Que você um dia compreenda o que sua mãe teve que sacrificar.

A floresta estremeceu. Ele veio atrás dela.

O Rei Priel atravessou o véu entre os mundos como um relâmpago de ira. As árvores se afastaram em reverência temerosa. As raízes se curvaram. E Ilunara, desfeita em forma e coroa, enfrentou o próprio pai com os olhos secos e o espírito ferido.

— Ela não é mais sua. Ela pertence ao destino. — sua voz ecoou como uma maldição sagrada.

O Rei não respondeu. Apenas a envolveu em correntes de prata vivas, selando seu corpo e sua magia. Levou-a consigo, prisioneira entre os espelhos das Montanhas Cristalinas, onde os ecos dos seus gritos jamais seriam ouvidos. Lá, ela foi condenada a observar o céu por toda a eternidade e a ausência da filha que jamais veria crescer.

Mas a criança foi encontrada.

No instante em que o choro atravessou a madrugada, Maebh saiu com os olhos arregalados. O colar pulsava como uma estrela. A carta se desdobrava sozinha, como encantada. Palavras escritas em runas arcaicas revelavam verdades que calaram mil guerras.

Dorian, recém-transformado, aproximou-se em silêncio.

— É uma criança da Lua. — murmurou ele.

Maebh tocou os cabelos prateados da bebê, e sentiu a magia adormecida vibrar sob seus dedos. Sabia que aquela criança não era comum. Ela era herança de reinos destruídos. Era faísca de uma profecia esquecida.

— A partir de hoje, será nossa filha. Seu nome será. A Lua de Prata.

O vento soprou como bênção. As folhas dançaram. E por um breve segundo, a floresta pareceu sorrir.

Ali, nas sombras do sacrifício, nasceu a esperança.

A PROFECIA ANTIGA

“No vigésimo segundo ciclo de luz,

Sob o véu da lua prateada,

A Filha do Vento e da Névoa despertará.”

“Se seu coração tocar o de um lobo puro —

Um que carregue força, honra e a marca do domínio —

Então a centelha do sangue antigo acenderá.”

“Não é qualquer lobo,

É aquele forjado no ventre da guerra,

Moldado pelas sombras e silencioso como a noite,

Destinado a liderar não por medo, mas por destino:

o Supremo Alpha.”

“E no acasalamento sagrado, quando alma e instinto se fundirem,

Os dons adormecidos da Lua de Prata emergiram.

A magia se quebrará.

A linhagem se revelará.

E o clã que a tiver como fêmea alfa será imbatível entre todos os reinos.”

“Mas cuidado.

Onde há luz, há sombra.

Onde há profecia, há olhos que desejam.

Inveja se oculta em beijos.

E a traição veste máscaras de devoção.”

"Se seu coração tocar o de um lobo puro —

um que carregue força, honra e a marca do domínio —

então a centelha do sangue antigo acenderá."

"Não é qualquer lobo.

É aquele que foi forjado no ventre da guerra,

moldado em silêncio pelas sombras,

e destinado a governar não por medo, mas por destino:

o Supremo Alpha."

"E no acasalamento sagrado, quando alma e instinto se fundirem,

os dons adormecidos da Lua de Prata emergiram.

A magia se quebrará.

A linhagem revelará.

E o clã que a tiver como fêmea alfa, será imbatível entre todos os reinos."

"Mas cuidado...

Pois onde há poder, há inveja.

Onde há profecia, há olhos que desejam."

✨📖 Novo Lançamento! 📖✨

Hoje lanço minha mais nova novela, uma obra diferente das minhas histórias de romance.

Desta vez, mergulho no universo do BDSM e do sadomasoquismo, não para romantizar, mas para provocar reflexão.

Este livro não é romance: é novela de realidade, trazendo à tona a degradação, a submissão e o poder — e como isso reflete na alma humana.

Quero que cada leitora leia, reflita e compartilhe comigo: o que vocês pensam sobre esse tema? Como enxergam essa forma de viver?

Convido todas vocês a iniciarem a leitura e a me darem as suas opiniões.

Este é mais um trabalho feito com verdade, coragem e amor pela escrita. 🩶

INICIANDO A REVISÃO DESTA NOVELA.

#####UMA LOBAS NÃO É ESCOLHIDA PELO MEDO

O aroma das folhas de lavanda misturava-se ao de raiz de valeriana recém-amassada, criando um bálsamo que preenchia o chalé com paz. Arianwen adorava aquele momento. Suas mãos se moviam com naturalidade, delicadas como as pétalas secas entre os potes de cerâmica. A luz tênue que entrava pelas janelas de madeira acariciava seus cabelos prateados, fazendo-os parecer uma extensão do luar.

— Você tem um dom, filha. Essas ervas florescem nas tuas mãos como se te reconhecessem — disse Maebh com um sorriso doce, os olhos cheios de orgulho.

— Acho que elas têm pena de mim, mamãe. Sabem que eu não sou tão boa assim com lutas, como a Eira. Então me escolhem para cuidar delas — respondeu Arianwen, fingindo graça, mas escondendo certa insegurança.

Maebh se aproximou e tocou a testa da filha com a dela, em um gesto silencioso de afeto.

— Cura é luta também. É muito mais rara.

Antes que Arianwen pudesse responder, a porta da frente se abriu com força e a voz grave de Dorian preencheu o espaço.

— Estou em casa.

Arianwen sentiu um arrepio subir pela espinha. Algo na voz do pai estava diferente. Ele não costumava entrar com tanta urgência, nem em dias de Conselho.

Maebh enxugou as mãos no avental e se adiantou.

— Já voltou? Não era pra ficar até o nascer da lua?

Dorian não respondeu. Seu olhar percorreu a sala até pousar sobre Arianwen, que ainda segurava um punhado de folhas de artemísia nas mãos.

— Precisamos conversar. Todos.

Nesse instante, a porta se abriu novamente.

— O que aconteceu? O que ele disse no Conselho? — Eira entrou ofegante, com os cabelos negros desgrenhados pelo vento e o olhar inquieto, como se sentisse no ar o que estava prestes a ser dito.

Logo atrás dela, veio Tariki, o irmão mais velho, com os ombros largos, o semblante tenso, como se já soubesse o que estava por vir.

— Papai? — Arianwen falou, a voz trêmula.

Dorian respirou fundo, e então falou com a firmeza de um lobo, mas o coração de um pai.

— Arianwen e Eira, vocês chegaram à idade do acasalamento. O Alpha tomou sua decisão, e vocês duas foram prometidas.

O silêncio que se seguiu foi quase sagrado. Como se o próprio tempo tivesse prendido a respiração.

Arianwen largou as ervas. O cheiro de cura deu lugar a algo mais ácido, o pavor.

— Prometidas? — ela sussurrou.

— Para quem? — Eira perguntou com os olhos faiscando, o corpo inteiro em alerta.

— Arianwen será unida a Raffi Kunda, o primeiro batedor do Alpha. Eira, você foi destinado a Darios Fiachra, o segundo batedor.

Eira empalideceu.

— Isso é impossível, ele... — ela parou, mordeu os lábios. — Ele não é minha alma gêmea. Eu não sou a companheira dele. Nem por

Eira ergueu o queixo, os olhos faiscando como lâminas.

— Eu não aceito isso, pai! — sua voz saiu cortante, firme como aço. — Não é justo que decidam por mim algo tão sagrado. O vínculo não é escolha do Alpha, é escolha da Lua.

Dorian manteve o semblante duro, mas o peso em seus olhos o denunciava.

— Não é sobre o que aceitamos, filha. É a decisão do Alpha, e como irmão dele, eu devo respeitar.

Maebh deu um passo à frente, a voz carregada de um temor antigo.

— Decisão do Alpha? Não, isso não soa como Thioran. Eu conheço meu cunhado. — seus olhos se estreitaram. — Isso traz o perfume venenoso de Sorcha. Ela está manipulando Thioran, tenho certeza.

O nome da tia fez o ar pesar no chalé. Arianwen sentiu a espinha arrepiar; a lembrança daquelas mãos frias sobre o altar ainda a assombrava.

— Sorsha sempre soube — continuou Maebh, firme — que nossos costumes não se quebram. Esperamos o vínculo, não um acasalamento por conveniência. Ela sabe que, se isso acontecer, os filhotes nascerão fracos. E mesmo assim, insiste.

Tarik, que até então ouvia em silêncio, avançou com os punhos cerrados.

— Eu concordo com a mamãe. — Seu tom era de guerra. — Pai, o senhor precisa falar com o Alpha. Chame-o em particular, faça-o ouvir. Porque, se não fizer, eu mesmo ajudarei minhas irmãs a fugir.

Dorian virou-se para ele, o peso da liderança e da paternidade dividido em seu semblante.— Tarik!

— Não, pai! — o jovem o interrompeu, o sangue fervendo. — Não aceito que minhas irmãs sejam entregues como moedas. Esses dois batedores do tio Thioran não gostam delas. Não confiam, não respeitam, e ainda assim as querem forçadas em vínculo? Isso não é escolha, é uma sentença.

Eira girou o rosto para o irmão, o coração batendo acelerado.

— Você acha que ele não é mesmo meu companheiro de alma?

Tarik respirou fundo.

— Se fosse, Eira, você já teria sentido o calor. Teria dado sinais, e até agora não houve nenhum. Isso pode ser um feitiço, uma ilusão plantada por Sorcha para te enganar.

As palavras dele pairaram como uma lâmina suspensa.

Maebh aproximou-se e segurou a mão da filha.

— Escute seu irmão, minha menina. Ele não é seu companheiro. Você acredita que é, mas está iludida. Sorcha sempre teve esse poder de manipulação, de distorcer o que o coração enxerga.

Eira apertou os olhos, como se lutasse contra algo invisível dentro dela. O silêncio no chalé foi denso, carregado do peso de uma verdade que ninguém queria admitir, mas todos sentiam crescer.

Dorian sustentou o olhar da filha, o peito pesado como se carregasse pedras. Sua postura era a de um lobo endurecido por batalhas, mas seus olhos denunciavam o conflito do pai.

— Eira… — ele começou, mas a filha ergueu a mão, cortando-o.

— Não! — gritou ela, com uma força que parecia vir das entranhas. — Não vou aceitar um batedor que sequer olha para mim com respeito, muito menos com amor.

Maebh deu um passo à frente, sua expressão carregada de algo mais profundo que simples indignação. Seus olhos cintilaram, refletindo a luz da lareira como se guardassem segredos antigos.

— Escutem-me — disse ela, a voz calma mas firme, como quem anuncia uma verdade inevitável. — Vocês sabem que antes de eu ser curandeira, eu sou sacerdotisa. E como sacerdotisa, eu tenho visão.

Eira piscou, confusa, mas curiosa.

— Visão? O que quer dizer, mamãe?

Maebh ergueu o queixo, os cabelos caindo em ondas sobre os ombros.

— Quero dizer que o companheiro predestinado de vocês não está neste clã. — Ela deixou as palavras caírem como martelo sobre pedra. — Nem o da Lua de Prata, nem o seu, Eira.

As duas irmãs se entreolharam, atordoadas. Arianwen sentiu o estômago se revirar, um calor subindo pelo corpo como uma chama tímida, mas impossível de ignorar.

— Como, a senhora sabe que eu tenho sonhado com um lobo? — Arianwen sussurrou, a voz embargada.

Maebh esboçou um sorriso triste, carregado de ternura e resignação.

— Como eu sei, minha filha? Acabei de falar para sua irmã. A visão e os sonhos são sinais do mesmo destino.

O coração de Arianwen disparou, as mãos tremendo contra o avental. Não era apenas imaginação, não eram devaneios de uma jovem solitária. Eram sinais. Reais. A confirmação de que aquele lobo misterioso que surgia em suas noites pertencia a ela.

Eira apertou o braço da irmã, a determinação queimando em seu olhar.

— Então é isso. Se o papai não falar com o Alpha, eu vou rejeitar. E você também vai rejeitar, Lua. Não podemos nos submeter a esse jogo envenenado.

— Mas eu, — Arianwen hesitou, a voz embargada. — Eu não posso rejeitar. Você sabe que eu não sou filha de sangue. Fui aceita porque o pai e a mãe me adotaram. Se eu desafiar o Alpha, ele pode me expulsar.

Nesse instante, Dorian ergueu a voz, firme como um trovão que corta a noite.

— Não! — disse ele, aproximando-se e pondo as mãos fortes sobre os ombros da filha. — Você é minha filha, Arianwen se você rejeitar, eu as apoiarei.

Os olhos dele queimavam com um misto de dor e decisão.

— Eu vou contra o meu Alpha, contra o meu irmão, se for preciso. Mas não vou permitir que a vontade da Lua seja distorcida pela feitiçaria de Sorcha.

Tarik, que até então ouvia em silêncio, avançou dois passos, a voz carregada de raiva e lealdade.

— Pai, o senhor deve falar com ele. Chame-o em particular, diga-lhe o que acreditamos. Se ele não ouvir, saiba que eu ficarei ao lado das minhas irmãs. Lutarei contra quem for.

Arianwen o olhou com os olhos marejados, sentindo que, pela primeira vez, o clã podia se dividir entre trevas e luz.

Maebh ergueu a voz novamente, serena como o vento que anuncia presságios.

— Sorcha sabe o que faz. Ela conhece os rituais, ela conhece os segredos antigos. Se permitir que Thioran decida em nome da alcateia, ela terá quebrado o pacto da Lua.

Eira inspirou fundo, a raiva se transformando em fogo puro.

— Então eu rejeitarei. Mesmo que isso me custe a vida.

— E eu também — disse Arianwen, a voz ainda frágil, mas agora firme como uma promessa.

Dorian fechou os olhos por um instante, como quem ergue uma prece silenciosa aos ancestrais. Depois, abriu-os, e neles brilhava a fúria calma de quem estava disposto a desafiar tudo.

— Então que assim seja. Eu falarei com Thioran. E se meu irmão estiver cego pelo feitiço de Sorcha, eu serei seus olhos.

####O Encontro dos Irmãos e a decisão

Dorian caminhou até a cabana principal, onde o Alpha se encontrava. O ar parecia mais pesado naquela noite, como se a própria Lua de Sangue espreitasse os lobos para julgar suas decisões. Thioran estava sentado em sua cadeira de carvalho, a postura altiva de sempre, mas havia algo nos olhos dele — uma sombra que não era dele.

— Irmão — começou Dorian, com voz firme. — Preciso falar com você em particular. Longe dos anciões. Longe da sua companheira. Apenas nós dois. Não como Beta e Alpha, mas como dois irmãos.

Thioran arqueou a sobrancelha, intrigado, mas fez um gesto para que os guardas se retirassem.

— Então fale.

Dorian respirou fundo, como quem carrega o peso de um clã inteiro nos ombros.

— Eu levei a notícia às minhas filhas. E quero que você saiba: elas se recusam a aceitar o acasalamento com os dois batedores.

Os olhos de Thioran faiscaram, mas Dorian não lhe deu tempo de interromper.

— Principalmente Eira. Você sabe quem ela é, Thior. Ela não é uma Ômega. Ela é uma Alpha. Não aceitará ser rebaixada. E a Lua de Prata, apesar de parecer uma Ômega, ela não é. — O olhar dele endureceu. — Ela é uma Suprema. Se você impuser esse destino, elas vão se rebelar.

Thioran inclinou-se para frente, a voz grave.

— E se se rebelarem?

— Então você terá que castigá-las. — Dorian respondeu, firme. — Mas castigá-las e por quê? Por reivindicarem o direito de esperar o vínculo? Isso não seria justiça, irmão, seria tirania.

Um silêncio pesado caiu entre eles. A respiração dos dois irmãos parecia o único som, além do estalar distante da madeira no fogo.

Dorian então estreitou os olhos.

— Maebh acredita que Sorcha influenciou você nessa decisão.

O rosto de Thioran se contraiu.

— Como ela poderia saber disso?

Dorian cruzou os braços.

— Está vendo? Essa sua reação é a prova. Você mesmo entregou.

O Alpha fechou os punhos, mas não retrucou. Dorian aproveitou o momento.

— Então eu lhe proponho algo. Seja justo. Pergunte a elas se aceitam acasalar com os batedores. Se disserem não, dê-lhes duas luas cheias para encontrarem seus companheiros predestinados. Se não encontrarem, então que se unam aos que você escolheu. Assim, você será visto como um Alpha justo, e não como um tirano.

Thioran ficou em silêncio, as engrenagens de sua mente girando.

— Elas já se rebelaram? — perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.

Dorian ergueu o queixo.

— Sim.

O Alpha apertou os olhos. Havia mais do que irritação ali; havia dúvida.

Foi quando Dorian se inclinou um pouco mais, a voz carregada de um veneno frio.

— E diga-me, irmão, por que você ainda não teve nenhum filho com Sorcha?

Thioran o encarou, surpreso.

— O que quer insinuar?

— Pense. — Dorian rebateu, sem hesitar. — Por que será que ela insiste tanto para que duas Alphas se unam a simples batedores? Rebaixar o sangue da nossa linhagem? Por que será?

O silêncio do Alpha foi sua primeira resposta. Dorian continuou:

— Você sabe tão bem quanto eu: Sorcha não é Alpha. Não é Beta. Não é nada. É apenas uma loba qualquer. A diferença dela para Maebh é que minha companheira é sacerdotisa, é curandeira, tem visões. E Sorcha? Sorcha é uma bruxa.

As palavras ecoaram como uma lança cravada na carne.

— Já parou para pensar que ela pode estar usando magia em cima de você? — Dorian perguntou, firme. — Que suas decisões não são só suas?

Thioran desviou o olhar, como se encarasse algo invisível à frente. Seus punhos se abriram devagar.

— Eu vou começar a observar… — murmurou, hesitante.

Dorian então se ergueu, sua presença se tornando ainda mais imponente.

— E eu também vou começar a observar a sua companheira.

Os olhos dos irmãos se encontraram, e naquele instante a tensão era tão densa que parecia que a sala inteira podia ruir.

— Então você vai fazer como lhe pedi? — Dorian pressionou.

Thioran respirou fundo, os olhos carregados de uma luta interna.

— Sim. — respondeu, finalmente.

Dorian manteve o olhar firme sobre o irmão, a voz grave como um trovão contido.

— Eu vou pedir que elas venham falar com você. — disse, medindo cada palavra. — Mas você precisa ouvi-las sozinho. Sem guardas. Sem anciões. Para que não digam que há desconfiança ou que você está as protegendo apenas porque são suas sobrinhas.

Thioran estreitou os olhos, mas nada disse.

— Você dirá a elas que essa decisão partiu de você, como Alpha. — continuou Dorian, o tom de quem instrui e alerta ao mesmo tempo. — Eu tenho certeza de que elas vão recusar. E, quando recusarem, por mais que a sua companheira esteja ao seu lado e tente impor sua vontade, lembre-se: o Alpha é você, não ela.

Thioran inspirou fundo, os dedos tamborilando no braço da cadeira de carvalho.

— Então o que sugere? — murmurou, a voz carregada de tensão.

— Dê um prazo. — Dorian respondeu, sem hesitar. — Dois meses. Duas luas cheias. Se nesse tempo elas encontrarem seus companheiros predestinados, o vínculo será selado. Se não encontrarem… então terão de aceitar a escolha que você fez. Assim, você não parecerá um tirano, mas também não terá perdido sua autoridade diante do clã.

O Alpha recostou-se lentamente, ponderando. O peso das palavras do irmão ecoava como marteladas.

— E há mais. — Dorian avançou um passo, a voz baixa mas cortante. — Você precisa mandar investigar Sorcha. Precisa de gente de confiança, lobos leais que observem por onde ela anda.

Thioran ergueu o olhar, surpreso com a frieza do irmão.

— Investigar Sorcha?

— Sim. — Dorian afirmou com firmeza. — Quantos dias ela desaparece sem dar explicações? Quantas vezes some, sem agir como deveria agir a companheira de um Alpha? Ela deveria liderar entre as mulheres do clã, orientar, ser exemplo. Mas não ela se esconde nas sombras.

O silêncio que caiu foi incômodo.

— Hoje, Maebh abriu meus olhos. — prosseguiu Dorian, a voz mais carregada. — E Maebh, sendo irmã dela, sabe reconhecer o veneno. Eu estou abrindo os seus, irmão.

Os olhos de Thioran tremeram com algo entre dúvida e raiva contida. Ele fechou os punhos sobre os braços da cadeira, e pela primeira vez, não havia resposta pronta nos lábios do Alpha.

Dorian respirou fundo, com os olhos firmes sobre o irmão.

— Você sabe, Thioran quem deveria ter sido o Alpha deste clã era eu. — disse, a voz grave, carregada de lembrança e verdade. — Nós somos gêmeos. Não se esqueça disso.

O silêncio entre eles ficou mais pesado. Thioran inclinou-se para frente, os olhos faiscando, mas não respondeu.

— Eu abri mão. — continuou Dorian, firme. — A responsabilidade era grande demais, e eu preferi ser o seu Beta. Achei que, ao seu lado, poderia proteger o clã sem carregar o peso inteiro sobre meus ombros. Mas agora eu estou lhe aconselhando não como irmão apenas, mas como Beta.

Ele se aproximou um passo, o olhar duro como pedra.

— Mantenha, quando dormir com sua companheira, um olho fechado e outro aberto.

Thioran cerrou os punhos, mas não o interrompeu.

— Eu sei que ela não o trai com outro macho, porque se ela o fizesse, você sentiria o cheiro de outro lobo nela. — disse Dorian, sem hesitação. — E vocês já teriam quebrado esse vínculo frágil. Até mesmo porque vocês não são companheiros de alma, e você sabe disso.

A respiração de Thioran acelerou.

— Mas o que me pergunto é: o que ela faz durante as semanas em que some? — Dorian avançou mais uma vez, o tom cortante. — E quando volta, nem satisfação lhe dá. Você não vê que isso não está certo?

O Alpha fechou os olhos por um instante, o maxilar travado.

— Ela é sua companheira, Thioran. — prosseguiu Dorian. — E no entanto, não lhe deu filhos, não lhe dá respostas, não lhe presta contas. Faz o que bem entende, como se fosse maior que a alcateia. E você permite. Isso tira a sua autoridade.

As últimas palavras ecoaram pelo salão como uma acusação e uma advertência ao mesmo tempo.

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