Viviane
Meu pai sempre dizia isso. Engraçado como a frase dele agora ecoa na minha cabeça, como uma profecia maldita.
Depois que ele morreu naquele acidente de carro há dois anos, tudo desmoronou. Minha mãe ficou irreconhecível. Frágil. Antes, a gente morava num apartamento enorme na Zona Sul, vista pro mar, vida de comercial de margarina.
Agora… agora a vista da minha janela é outra. E não tem nada de comercial nisso.
O Vidigal tem seus encantos, mas quando você cresce no asfalto, o morro assusta. Não é só pela violência, é pela vida dura mesmo. A gente desceu muitos degraus... no sentido literal e figurado.
Eu odeio dizer isso, mas as dívidas engoliram a gente. Tivemos que vender tudo. Minha mãe fez o impossível pra pagar as contas, mas no final, a única solução foi aceitar um aluguel pequeno aqui no morro.
Foi aqui que eu conheci ele. Fernando. Ou melhor... Nando. O dono do morro.
Não é só uma expressão, ele é de fato o dono. Todo mundo aqui fala o nome dele com respeito… ou com medo.
Nando não é de sorrisos fáceis. Eu lembro do primeiro dia que vi ele passando pela viela perto de casa… olhar firme, postura de quem carrega o mundo nas costas, cigarro na mão e a barba mal feita que dava um ar de perigo.
Eu deveria manter distância. Todo mundo diz isso.
Mas tem alguma coisa nele que me puxa.
Talvez seja o jeito como ele protege a irmã… Bruna.
Talvez seja o fato de que, por trás daquele olhar gelado… tem alguém que também perdeu muito.
Viviane
Capítulo 2 – Fernando (Nando)
> "No morro, ou você aprende a ser frio… ou vira estatística."
Meu pai me ensinou isso desde cedo. Só que nem ele conseguiu escapar.
Mataram ele numa emboscada, bem na minha frente. Eu tinha 19 anos.
Naquele dia, o moleque que eu era morreu junto.
Eu virei o que tinha que virar.
Hoje o Vidigal é meu. Quem manda aqui sou eu. E quem mexe com o que é meu… paga caro.
Minha mãe? Sumiu. Foi embora depois que meu pai morreu. Não aguentou a vida daqui.
Sobrou eu e a Bruna. Ela tinha só 10 anos quando tudo aconteceu. Eu fui pai, mãe, irmão… tudo ao mesmo tempo.
A Bruna é minha fraqueza. Ela acha que eu não vejo, mas eu sei que ela tá de gracinha com o Grego… meu melhor amigo, meu braço direito. Se ele faz alguma coisa errada com ela… eu mato. Sem pensar duas vezes.
E agora tem essa menina nova… Viviane.
Filhinha de papai que caiu de paraquedas no morro.
Eu achei que ela ia durar uma semana aqui… mas ela é mais resistente do que parece.
O problema é que… eu tô começando a olhar pra ela de um jeito que não devia.
E isso… pode ser perigoso. Pra ela.
Pra mim.
Pra todo mundo.
Fernando vulgo (Nando)
Espero que estejam gostando da história, será que Viviane vai conseguir mexe mesmo com o coraçao do Nando?
Capítulo 3 – Bruna
Todo mundo aqui me chama de "a irmã do Nando". Como se eu não tivesse nome, vida, vontade.
O Nando fez tudo por mim, eu sei. Me criou quando a nossa mãe fugiu. Me protegeu de tudo e de todos.
Só que essa proteção virou uma jaula.
Ele não sabe, mas eu cresci. Tenho 18 anos, corpo de mulher, cabeça de mulher… e desejos de mulher.
E é aí que entra o Grego.
Cristiano, vulgo Grego, é o braço direito do meu irmão. Sempre foi.
Ele é lindo… do jeito perigoso que faz a gente perder o juízo. Moreno, tatuado, olhar de quem já viu mais morte do que devia… mas com um sorriso torto que me desmonta.
A gente se envolve escondido. Nos becos, nos cantos, nas madrugadas.
Se o Nando descobre... meu Deus… o Grego tá morto.
Mas eu não consigo parar.
E agora, com a chegada da Vivi… eu tô vendo que meu irmão anda mais estranho ainda.
Ele tá diferente. Mais quieto… mais no mundo dele.
Parece que o gelo que ele tem no peito tá começando a rachar.
E eu sei exatamente o motivo.
Capítulo 4 – Cristiano (Grego)
> "Lealdade tem limite. O meu... tá começando a rachar."
Fernando me tirou da lama. Literalmente.
Eu era só mais um moleque sem futuro, metido com coisa errada, até ele me puxar pra perto. Me deu respeito, lugar, nome.
Hoje, no morro, quem fala de mim fala com cuidado. Porque todo mundo sabe: onde o Nando vai… eu tô junto.
Só que ninguém sabe o que eu faço quando o Nando não tá vendo.
Bruna.
A irmãzinha dele. A garota que eu vi crescer. A menina que virou mulher… linda, forte, teimosa… e completamente proibida pra mim.
Mas o desejo… é foda.
A gente se esconde, se pega como se fosse a última noite, como se a qualquer momento o mundo fosse acabar.
E pode acabar mesmo… se o Nando descobre.
Agora tem essa tal de Viviane rondando o morro…
Eu vejo como o Nando olha pra ela. Tentando disfarçar… mas eu conheço ele. Melhor do que ninguém.
Ele tá mexido.
E quando o dono do morro perde o foco… todo mundo fica vulnerável.
Inclusive eu.
cristiano!
Capítulo 5 – Viviane
> "Às vezes, no meio do caos, a gente encontra paz nas pessoas mais improváveis."
A rua tava vazia naquela manhã. O sol batia forte no asfalto rachado, e eu carregava duas sacolas do mercadinho do morro, descendo devagar pela ladeira íngreme, tentando não escorregar.
A mochila pesava mais que o meu humor.
Foi quando ouvi um assobio atrás de mim.
Me virei, já esperando algum comentário idiota — o morro pode ser bonito, mas mulher andando sozinha por aqui... é campo minado.
Mas não era um cara.
Era uma menina, uns 18 anos talvez. Short jeans, tênis gasto, top preto e uma cara de quem não leva desaforo pra casa. Ela vinha com fones de ouvido e um jeito leve de andar, como se flutuasse pela quebrada.
Parou do meu lado, me olhou dos pés à cabeça.
— Primeira semana no morro, né? — ela falou, tirando um lado do fone.
Eu ri, meio sem jeito.
— Deu pra perceber?
Ela deu de ombros e pegou uma das minhas sacolas sem pedir.
— O jeito que você anda já entrega. Cuidado com o buraco ali, se pisar torto vai parar lá embaixo.
— Valeu… — sorri, surpresa. — Eu sou a Viviane. Mas todo mundo me chama de Vivi.
— Bruna. — ela respondeu, com um sorriso sincero. — Mas não me chama de Bruninha, odeio apelido fofo.
Rimos.
Conversamos o resto do caminho. Descobri que ela morava ali desde pequena. Que tinha um irmão mais velho meio "mandão" (palavras dela), e que odiava quando diziam que ela só tinha a vida fácil porque era “irmã do chefe”.
Eu fingi que não entendi a indireta. Mas no fundo, sabia quem era o irmão dela.
Fernando. O tal Nando.
Mas naquele momento, nada disso importava. A gente falava de música, de filmes, de sonhos que pareciam distantes demais pra quem cresceu num lugar como aquele.
Chegamos na frente da minha casa e ela parou.
— Tá a fim de ir na laje mais tarde? Levo um som, refrigerante e uma vista top!
— Tô dentro.
Ela sorriu, dessa vez de verdade.
E ali, no meio do morro, em meio a todas as incertezas, eu tive certeza de uma coisa:
A Bruna ia ser mais do que uma amiga. Ia ser minha irmã de guerra.
Viviane tá no quarto, parada na frente do espelho, escolhendo a roupa. O guarda-roupa não é mais o mesmo de antes, mas ela ainda tenta caprichar.
Viviane (falando sozinha):
— Tá… nada de patricinha demais… mas também não vou de qualquer jeito.
Ela escolhe uma blusinha ciganinha branca, de tecido leve, que deixa os ombros à mostra. Um short de alfaiataria bege, meio larguinho, confortável. Nos pés, um chinelo com pedrarias que ela trouxe da antiga vida… uma mistura de luxo com simplicidade.
Viviane (dando um giro, se olhando de lado):
— Acho que tá bom… básica, mas com dignidade.
Ela prende o cabelo num coque bagunçado, passa um gloss e um pouco de rímel. Pega o celular e sobe a ladeira até a laje da Bruna, seguindo as instruções.
Lá de cima já dava pra ouvir o som de um pagodinho rolando baixo numa caixinha de som. Várias vozes conversando, rindo. Cheiro de churrasco misturado com cerveja .
Quando ela chega na laje, Bruna já tá lá, sentada num canto, com uma latinha na mão, rindo alto de alguma piada.
Bruna (gritando quando vê a Vivi):
— Olha elaaaaaa! Pensei que fosse me dar um bolo!
Viviane (chegando perto, sorrindo):
— Claro que não! Promessa é dívida.
Bruna (olhando a roupa da Vivi, fazendo sinal de aprovação com a cabeça):
— Gostei, hein… chique, mas de boa. Passou no teste.
Viviane (rindo):
— Ufa… já tava achando que ia ser zoada.
Bruna:
— Relaxa. Aqui é tudo nosso.
Bruna apresenta Vivi pra uma galera. Uns vizinhos, uns amigos de infância. Todo mundo simpático, mas com aquele jeito desconfiado típico de quem mora no morro.
Bruna:
— Gente, essa aqui é a Vivi… nova moradora.
Galera (em coro, meio zoando, mas de boa):
— Ihhh… paty! Bem-vinda ao Vidigal!
Todo mundo ri. Vivi também, já entrando no clima.
No meio da conversa, enquanto ela fala com uma menina chamada Tainá sobre as gambiarras da internet no morro, Viviane sente um olhar pesado nas costas. Quando vira… dá de cara com ele.
Nando.
Ele tá encostado na parede, de longe, segurando um copo de cerveja, camisa preta, bermuda e chinelo de dedo. O olhar dele é firme, quase de estudo. Como se ela fosse uma ameaça… ou uma novidade que ele ainda não sabe como lidar.
Viviane tenta disfarçar, mas sente o coração acelerar.
Bruna (chegando perto dela, falando baixinho, no canto da boca):
— Não repara nele, não… meu irmão tem esse jeito de psicopata mesmo. Vive com essa cara de poucos amigos.
Viviane (sussurrando de volta, rindo nervosa):
— É ele? O famoso Nando?
Bruna (fazendo sinal de silêncio com o dedo):
— Shhh… só chama de Nando… nada de "famoso", se não ele te encara mais ainda.
As duas riem baixo, cúmplices.
Viviane volta a conversar com o pessoal, mas de vez em quando… o olhar dela e o de Nando se cruzam de novo. Rápido. Intenso. Silencioso.
Enquanto isso, Bruna vai pro canto com o Grego, trocando olhares disfarçados. Vivi repara, mas finge que não viu.
A noite segue, leve, mas com aquela tensão no ar que só quem já viveu sabe explicar.
roupa do Nando
Roupa da Bruna
Roupa da vivi
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