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LAURA— A Veterinária e o Capataz

Capítulo 1

...Esse é o livro 2 de A Veterinária e o Vaqueiro. ...

...LAURA:...

...Meu nome é Laura, tenho 22 anos e estou no último ano da faculdade de Medicina Veterinária. Desde cedo, soube que queria seguir essa profissão. Uma escolha fortemente inspirada pela minha mãe, Helena, uma mulher extraordinária. Ela é veterinária e proprietária de duas clínicas, uma em São Paulo e outra em Minas Gerais....

...O amor pelos animais nasceu em mim ainda na infância. Meu primeiro contato veio por meio do meu pai, que, na época, trabalhava como vaqueiro em uma fazenda que hoje é de sua propriedade. Eu adorava acompanhá-lo e passar o dia entre os animais. Aquilo, para mim, era como visitar um parque de diversões. Mais tarde, esse carinho pelos bichos se aprofundou através do exemplo da minha mãe, que sempre demonstrou dedicação e sensibilidade no cuidado com seus pacientes de quatro patas....

...Helena não é minha mãe biológica. Ela entrou na vida do meu pai quando eu tinha cerca de seis anos, e começaram a namorar, pouco depois do divórcio com minha mãe de sangue. Com o tempo, os dois se casaram, e desse novo capítulo nasceu meu irmão, Leon, que hoje tem 14 anos. Desde os meus sete anos, chamo Helena de mãe. E não é força de hábito ou conveniência. É convicção. Porque, ela é sim a minha mãe. Sempre foi. Sempre será. Quanto à minha mãe biológica… Prefiro nem tocar nesse assunto. Mal nos falamos, na verdade. ...

...Voltando ao assunto da faculdade de Veterinária, desde a minha pré-adolescência, eu já tinha a certeza de que era isso que eu queria para a minha vida. Ser veterinária não era apenas uma opção, mas um destino que eu sentia pulsar em mim. E, mesmo que um dia eu viesse a mudar de ideia, uma coisa sempre foi clara. Minha profissão, de um jeito ou de outro, teria que estar ligada aos animais....

ISABELA:—Vamos passar no café antes?

LAURA:—Uhum. Vamos sim.

ISABELA:—Amiga…e você e o Gabriel?

LAURA:—Como assim?

ISABELA:—É impressão minha ou ele passou o dia todo tentando fazer ciúmes em você com a Inara?

LAURA:—É mesmo? Nem notei. Tava ocupada demais pra ficar prestando atenção nele.

ISABELA:—Achei foi engraçado. Ele tá fazendo de tudo pra chamar sua atenção.

LAURA:—Ah , ele tá é perdendo o tempo dele.

ISABELA:—Mas ele não te interessa nem um pouco? Tipo, zero interesse?

LAURA:—Zero. É que ele não faz o meu tipo. Você sabe bem disso, vai. Me conhece o suficiente.

ISABELA:—Sim. Eu sei. Mas que ele é gato, ah, isso ele é,né?

LAURA:—Ele é. Mas só ser gato não basta. Pelo menos não pra mim.

ISABELA:—Huum. Que exigente ein.

LAURA:—Uhum. Sou mesmo.

...Rimos. ...

ISABELA:—Mas essa coisa de usar outra mulher pra fazer ciúmes, é bem coisa de adolescente. Achei bem imaturo.

LAURA:—Pois é. Concordo. Esse é um dos motivos dele não fazer o meu tipo.

ISABELA:—Enfim…Mas o dia hoje foi demais né? Nossa é tão bom cuidar desses cãezinhos e gatinhos resgatados. Ao mesmo tempo, da uma dor no coração de vê-los tão machucados assim.

LAURA:—Nem me fala. Eu chorei cuidando daquela cachorrinha. Tão machucada. Você viu o olhar dela?

ISABELA:—Olhar de dor. Implorando por socorro.

LAURA:—Hum rum. Me dói a alma.

...Isabela e eu acabamos de sair do estágio e decidimos passar em um café antes de voltarmos para casa. Moramos juntas em um apartamento em Belo Horizonte. Nos conhecemos na faculdade e, desde o início, criamos uma conexão instantânea....

...Isabela tem 24 anos. É uma mulher linda, de pele bronzeada, cabelos castanhos com luzes douradas e olhos castanho-claros grandes e expressivos. Sua aparência remete à beleza marcante das mulheres indianas. O apartamento é dela, e foi ela quem me convidou para morar ali. Queria companhia, e também queria me ajudar a economizar com aluguel. Aceitei a proposta sem hesitar. Saí do lugar onde morava e me mudei para o apartamento dela. Desde então, já se passaram mais de quatro anos vivendo sob o mesmo teto....

...Depois de sairmos do café, vamos direto pra casa. Tomo um banho quentinho, me sento na cama e ligo pro meu pai por chamada de vídeo. ...

📱

“—Eii pai!”

“—Eii meu girassól! Como você tá meu amor?”

“—Tô muito bem pai! E por aí, tá tudo bem?”

“—Tudo bem sim filha! Com muitas saudades de você!”

“—Ah eu também! Mas agora falta pouco, graças a Deus!”

“—Graças a Deus! E nós estamos contando os dias meu amor. Estamos tão orgulhosos de você minha princesa!”

“—Muito obrigada pai! Eu te amo!”

“—Te amo demais meu amor!”

“—Minha mãe e meu irmão estão aí?”

“—Estão sim. Peraí que vou passar pra eles tá? “

“—Ta bom.”

“—Helena, meu amor! Filho, vem cá! É a Laura!”

...Minha mãe aparece na tela. ...

“—Eii filha! Tudo bem meu amor? Leon, vem cá filho! Sua irmã!”

“—Eii mãe! Tudo sim. E você,tá bem?”

“—Estou sim meu amor! Contando os dias pra você se formar e vir pra cá!”

“—Eu também mãe. Não vejo a hora! Falta bem pouquinho!”

“—E como tá indo o TCC?”

“—Ah, tá indo tudo bem. Ainda falta um pouco pra eu terminar.”

“—Estamos tão orgulhosos de você meu amor!”

“—Ah mãe, obrigada! Te amo tanto!”

“—Também te amo demais querida!”

...Leon aparece do lado da minha mãe. ...

“—E aí girassól? Tudo bem por aí princesa?”

“—Eii chato! Tudo sim. E você,tá bem?”

“—Estou. Mas com uma saudade do caramba! Acaba logo isso aí e vem pra cá!”

“—Tambem estou morrendo de saudades! Mas tá quase. Relaxa que daqui a pouquinho estou aí pra te encher o saco. E não vou sair daí mais!”

“—Não vejo a hora! Se bem que talvez eu vou acabar enjoando de ver essa sua cara todos os dias!”

“—Hum engraçadinho. Até parece!”

...Fico mais um tempo aqui conversando com eles. Os amo tanto! Estou com tantas saudades! Sempre que tenho um tempinho livre, eu vou pra lá. Em feriados prolongados por exemplo e nas minhas férias. E minha mãe também já veio aqui me visitar algumas vezes. ...

Capítulo 2

ISABELA:—Laura.

LAURA:—Oi.

ISABELA:—Desculpe, tá em ligação?

LAURA:—Não, já terminei. Pode falar.

ISABELA:—O que vamos fazer pro jantar hoje?

LAURA:—Não faço ideia. Pode decidir.

ISABELA:—Que tal strogonoff?

LAURA:—Maravilha! Pode ser.

ISABELA:—Beleza então.

LAURA:—Vou lá te ajudar.

...Me levanto, pego a Cristal no colo e vou com a Isa pra cozinha. Cristal é a gatinha da Isa. Ela é toda branquinha de olhinhos azuis. Uma lindeza. ...

ISABELA:—Ixi! Tem peito de frango?

LAURA:—Acho que tem sim.

ISABELA:—Achei.

LAURA:—Vou fazer o arroz tá?

ISABELA:—Não senhora! Eu faço o arroz. Quero que você faça o strogonoff, por que o seu tempero é sensacional. Fica muito melhor que o meu.

LAURA:—Hum. Que mentira.

ISABELA:—Você sabe que é verdade.

LAURA:—Ta. Eu faço então.

ISABELA:—Ótimo!

...Faço o strogonoff enquanto a Isa faz o arroz e um suco pra bebermos....

ISABELA:—Caramba, não tem nenhum docinho pra sobremesa e pra minha tpm.

LAURA:—Tem ingredientes. Quer que eufaça algo?

ISABELA:—Pode deixar que eu faço. Vou fazer um brigadeiro que é mais rápido. Pode ser?

LAURA:—Claro!

...Terminamos de preparar o strogonoff e nos sentamos nas banquetas, diante da bancada, para jantar. Depois da refeição, arrumamos a cozinha e fomos para o sofá. Passamos o resto da noite ali, comendo brigadeiro enquanto assistíamos TV....

...Por volta das nove e quarenta, escovei os dentes e fui para a cama — Isa fez o mesmo, depois de termos cochilado um pouco no sofá....

LAURA:—Boa noite.

ISABELA:—Boa noite.

………

...No dia seguinte, nosso estágio começava à uma da tarde. Mesmo horário e local do dia anterior....

...Acordamos por volta das dez da manhã. Tomamos café com calma e organizamos a casa inteira; gostamos de sair sabendo que, ao voltar, encontraremos tudo em ordem, sem ter nada pra ter que arrumar. Às onze e quarenta, saímos e chegamos ao estágio poucos minutos antes do início....

LAURA: — Oi, mocinha! Como você está hoje? Vou te examinar, tá bem? Prometo que não vou te machucar.

...Falo com a cachorrinha que cuidei no dia anterior. Aqui na ONG, atendemos animais resgatados, muitos deles em situação crítica. Ela foi encontrada na rua, bastante ferida, com as patas traseiras quebradas. A cena me tocou profundamente. Cheguei a chorar. O olhar dela parecia implorar por ajuda....

...Cuidei dela com o máximo de atenção e carinho. Fiz os exames necessários, apliquei a medicação, dei as vacinas… Agora, ela está no abrigo da ONG, em processo de recuperação. Meu maior desejo é que ela fique bem....

LAURA:—Vai ficar tudo bem,meu amor. Qual nome posso dar pra você, ein? Que tal.. Flora? Você gosta?

GABRIEL:—Flora? Eu gosto.

LAURA:—Ai,que susto Gabriel!

GABRIEL:—Foi mal. Eu acho engraçado o jeito que você conversa com eles. Parece que tá falando com uma criança.

LAURA:—Bom…Na verdade é o que eles são.

GABRIEL:—É. Tem razão.

LAURA:—E como tá o cachorrinho que você cuidou ontem?

GABRIEL:—Ah, ele vai ficar bem.

LAURA:—Tomara.

GABRIEL:—E aí, o que você vai fazer amanhã à noite?

LAURA:—Não sei. Por que?

GABRIEL:—Quer ir pra algum lugar comigo?

LAURA:—Hum…Acho que não.

GABRIEL:—Por que não? Podemos ir comer alguma coisa. Conversar…

LAURA:—Desculpe. Mas não vai rolar. Sério.

GABRIEL:—Pô mulher! Nunca vai aceitar sair comigo não?

LAURA:—Bom…Na verdade não Gabriel. Desculpe.

GABRIEL:—Eita! Você é difícil pra caramba ein! Mas beleza então. Se mudar de ideia, me fala tá?

LAURA:—Uhum. claro.

...Acho que não vou mudar de ideia. O Gabriel está no meu pé há algum tempo, desde que começou a estudar na mesma universidade que eu. O que aconteceu há poucas semanas, pois antes ele cursava em outra instituição....

...Ele tem pele clara, olhos castanhos claros que às vezes parecem verdes (não tenho certeza da cor exata), barba bem feita, cabelo cortado rente e um rosto bem definido... Será que ele é bonito? Sim, é. Mas, tirando isso, ele definitivamente não é o meu tipo....

……..

...No dia seguinte, é sábado e não temos estágio nem aula na faculdade. Eu e Isa passamos a manhã toda dormindo e decidimos sair na parte da tarde. Saímos de casa às uma, e fomos almoçar em um restaurante. ...

LAURA:—Huum… Carne cozida ao molho escuro, angu com Ora-pro-nobis.

ISABELA:—Huum. Também quero esse.

LAURA:—Invejosa.

...Fazemos o nosso pedido, e que delícia de comida. Esse tipo de comida me faz lembrar dos meus pais e dos meus avós. A comida da minha mãe, da Berta e da minha vó Eva,…Ah meu Deus, não vejo a hora de terminar o curso e voltar definitivamente pra lá. ...

...Comemos a sobremesa pagamos a conta e saímos. ...

...Depois de darmos um passeio, encontramos com uma amiga e passamos em algumas lojas. No fim da tarde, voltamos para a casa. ...

LAURA:—Vou tomar um banho.

ISABELA:—O que acha de pedirmos hambúrguer ou pizza mais tarde?

LAURA:—Topo.

ISABELA:—Qual dos dois?

LAURA:—Hambúrguer. Pode ser?

ISABELA:—Hum rum. Mas daquele que costumamos pedir né? Por que aquele que experimentamos semana passada, eu não gostei.

LAURA:—Ah eu também não gostei.

ISABELA:—Então o de sempre né?

LAURA:—Yes! Com batata frita por favor. E não esquece de pedir pra mandarem molho verde.

ISABELA:—Sim senhora. Mais alguma coisa?

LAURA:—Não. Só isso.

ISABELA:—Ok.

LAURA:—Vou lá tomar um banho.

ISABELA:—Vai lá.

...Tomo um banho e me deito na sala. Coloco algo pra assistir....

ISABELA:—Amiga. Advinha com quem estou conversando?

LAURA:—Com quem?

ISABELA:—Daniel.

LAURA:—Que Daniel?

ISABELA:—O da festa aquele dia. Lembra?

LAURA:—Aah,lembro sim. Eu gostei bastante dele viu. Muito simpático.

ISABELA:—E bem gato também. Acabou de perguntar se topo sair com ele hoje à noite. Disse que tá querendo me conhecer melhor.

LAURA:—Huum. Olha soó! E você vai ir?

ISABELA:—Ah,não sei. O que você acha?

LAURA:—Você quer?

ISABELA:—Quero. Mas…sei lá. Acha que devo ir?

LAURA:—Uai, se você quer. Vai mulher.

ISABELA:—Mas tudo bem você ficar aqui sozinha?

LAURA:—Não se preocupe comigo. Vou pedir meu hambúrguer e comer assistindo minha série.

ISABELA:—Então tá.

LAURA:—Mas cuidado ein. Vai pra um lugar perto daqui. Por segurança.

ISABELA:—Uhum. E vou compartilhar minha localização com você. Qualquer coisa, você me salva.

LAURA:—Uhum. Pode deixar.

Capítulo 3

...A noite, Isa sai com Daniel e eu fico aqui no Ap sozinha. Peço um hambúrguer e assisto uma série enquanto como. ...

...A tela do meu celular acende. Mensagem do Leon. O meu irmão. ...

“—Ei,princesa. Olha, estamos fazendo a noite da pizza aqui. Só falta você. 😢”

...Junto com a mensagem, ele me manda uma foto com todo mundo junto. Meus pais, o vô Afonso, a Berta e até a Vó Eva e o Vô João. Ah meu Deus. Que saudadees. Só falta eu lá. ...

“—Aaah todo mundo juntoo. Que delícia! Queria tanto estar aí!”🥹

“—Estão falando sobre você aqui!”

“—Ah é? Espero que bem!”

“—Tá todo mundo ansioso e louco pra que você volte logo pra cá. Todo mundo,menos eu!”

“—Hum sei. Palhaço!”

“—Tá tudo bem aí? O que ta fazendo?”

“—Hum rum. To comendo hambúrguer e assistindo série!”

“—Teve estágio hoje?”

“—Hoje não.”

“—Entendi. Bom, deixa eu comer aqui, senão, não vai sobrar pra mim. Boa noite girassól. Todos estão te mandando um abraço aqui!

“—Boa noite chato. Manda um abraço pra eles também. Beijos, te amo! Amo vocês!❤️”

“—Amamos você também princesa! Boa noite!”

...Ah, que amor! Todo mundo juntinho. Ah, como eu queria estar lá também. ...

...Coloco o celular do meu lado e volto a comer meu hambúrguer. Um tempo depois, tomo um banho e vou dar uma adiantada no meu TCC. Isa ainda não chegou. Mando uma mensagem pra ela, só pra saber se tá tudo bem. ...

“—Oii. Desculpe, não quero atrapalhar vocês. É só pra saber se tá tudo bem aí.”

“—Oii. Tá tudo ótimo. Ele é maravilhoso amiga. Estamos tendo uma conversa tão gostosa.😍”

“—Ah que maravilha!😍”

“—Mas e você, tá tudo bem por aí?

“—Hum rum. Tá sim. Tô aqui escrevendo o TCC. Qualquer coisa me liga tá? E não vem embora muito tarde.”

“—Sim,senhora!”

“—Bom…Não quero atrapalhar. Boa noitee! E vê se não demora. E nem pense em ir pra algum outro lugar com ele. Direto pra casa.”

“—Ta bom mãe. Não se preocupe!”

“—Engraçadinha!”

“—Relaxa. Não vou pra lugar nenhum. Vou direto pra aí. Daqui a pouquinho já tô indo!”

“—Ta bom. Beijos!”

“—Beijoos!”

...Fico mais ou menos uns quarenta minutos escrevendo o TCC e vou me deitar. Coloco o celular do meu lado e me aconchego em baixo do edredom. Ligo a tv e abraço a Cristal que tá aqui do meu lado. Tão peludinha que parece um ursinho de pelúcia. Um tempo depois, acabo adormecendo....

……

...Acordo com o barulho da porta do meu quarto se abrindo. ...

ISABELA:—Ei. Só pra avisar que cheguei.

LAURA:—Eii. E aí, como foi lá?

ISABELA:—Ah foi…Foi uma merda. Você não vai acreditar!

LAURA:—Ai meu Deus!..

...Me sento na cama. ...

LAURA:—O que aconteceu??

...Isabela começa a rir. ...

ISABELA:—Tô brincandoo. Foi maravilhoso.

...Pego um travesseiro e jogo nela. ...

LAURA:—Isabela! Palhaça!

ISABELA:—Foi muito bom, amiga. Ele é gentil, respeitoso... E a conversa não foi aquela coisa chata, sabe? Foi muito leve e descontraída. Ele me ouvia com total atenção, e sempre olhando nos meus olhos. Sério, foi maravilhoso.

LAURA:—Hum, nossa! Que ótimo. Então, acho que vocês vão sair de novo, né?

ISABELA:—Sim, já combinamos para o próximo fim de semana.

LAURA:—Ah, que lindo. Já estou torcendo por vocês.

ISABELA:—Quem sabe, né? Vamos ver no que dá.

LAURA:—Sim. Quem sabe.

ISABELA:—Bom, vou deixar você descansar agora, tá? Boa noite!

LAURA:—Boa noite! A Cristal vai dormir comigo, viu? Nem pensa em tirar ela daqui.

ISABELA:—Hum, tá. Mas amanhã ela dorme comigo.

...……………….....

...DIAS DEPOIS…....

LAURA: — Droga! Cadê esse analgésico? Onde está?

...Estou no banheiro do estágio, procurando desesperadamente pelo meu analgésico. Não pode ser que eu tenha esquecido! Sempre deixo ele na minha bolsa. Será que eu tirei daqui sem perceber?...

...Me agacho em frente à pia, me contorcendo de dor. Ah, como dói, meu Deus... como dói!...

...Meu período menstrual sempre foi extremamente doloroso, desde a primeira vez, aos doze anos. Me lembro como se fosse ontem, a minha mãe desesperada, me levando ao médico enquanto eu chorava de tanta dor na barriga, acompanhada de um sangramento intenso. Naquele dia, só estávamos eu e minha mãe em casa. Leon estava na escola e meu pai, na fazenda. Quando soube do ocorrido, ele largou o trabalho e correu pro hospital para ficar ao meu lado....

...Alguns meses antes daquele dia, meus pais finalmente me revelaram, com detalhes, o que havia acontecido comigo quando eu tinha apenas sete anos. Contaram sobre o bolo envenenado com abortivos, sobre os danos que aquilo causou ao meu útero, e sobre a possibilidade, ainda incerta, da minha infertilidade. Na época, eu era pequena demais para entender tudo; tinham me poupado dessa parte dolorosa, deixando para me contar anos depois, pouco depois de eu completar meus doze anos. Foi também por volta daquele tempo, que Luana, a minha “verdadeira mãe”, entre aspas, a responsável por tudo aquilo, saiu da prisão. Ela foi liberada quando eu estava prestes a completar doze anos....

...Naquele dia, corremos para o hospital. Eu conseguia ver o medo nos olhos dos meus pais. O medo de que aquilo fosse algo sério, algo ligado ao passado. Ao que Luana havia feito comigo. E de certa forma, era. Eles estavam certos. Tinha, sim, relação com tudo aquilo....

...No fim, não era uma emergência médica. O sangramento intenso e a dor lancinante que me faziam contorcer, eram na verdade, a minha primeira menstruação. Cólica, disseram. Mas não era uma dor comum. Não era para doer tanto assim. Havia algo errado. Meus pais, hesitantes, contaram ao médico o que havia acontecido anos antes. O bolo contaminado com abortivos, os danos silenciosos que se alojaram no meu corpo infantil. O médico pediu exames, e foi com eles que veio a verdade. A dor mensal que me causa desconforto a anos, vem dos estragos causados ao meu útero. Estragos deixados por veneno disfarçado de sobremesa. O bolo que minha própria mãe preparou, não para mim, mas para Helena. Para que ela perdesse o bebê. Para que o meu irmão sequer chegasse a existir....

...Mas quem comeu fui eu....

...Por causa dela, eu poderia ter perdido meu irmão. Poderia ter perdido a Helena. Eu mesma poderia ter morrido....

LAURA: — Ah, que dor… Droga! Preciso do analgésico...

...Estou agachada no chão do banheiro, com as mãos pressionando meu abdômen, de tanta dor. Fernanda, uma das pessoas que está estagiando comigo, entra apressada e se assusta ao me ver daquele jeito. ...

FERNANDA: — Laura? O que aconteceu??

...Ela se aproxima preocupada e se agacha em minha frente. ...

FERNANDA: — O que houve??

LAURA: — Não se preocupe… É só uma cólica muito forte. Preciso de um analgésico… Por favor...

FERNANDA: — Certo… Eu vou ver se alguém tem algum remédio.

LAURA: — Fala com a Isabela, talvez ela tenha.

FERNANDA: — Tá bom. Eu já volto.

...Ela sai apressada e eu permaneço aqui, na mesma posição, com os olhos marejados pela dor. ...

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