O som dos saltos de Isabella ecoava pelos corredores frios do Palazzo di Verona. Era um evento exclusivo, mascarado por filantropia, mas por trás dos olhares elegantes e dos vestidos de alta-costura, ela sabia: ali estavam reunidos os homens mais perigosos da máfia europeia.
Ela não devia estar ali. Mas estava.
Com um vestido preto que moldava seu corpo como uma segunda pele, ela se movia com confiança, mesmo que o coração batesse forte no peito. Ela precisava da foto. Precisava da prova. E precisava sair viva.
Foi quando o viu.
Ele estava encostado no balcão do bar, com um copo de uísque nas mãos e um olhar que queimava como fogo. Alto, impecavelmente vestido, com olhos cinzentos e uma aura de poder que fazia o ar pesar ao redor dele.
Alessandro De Luca.
O nome que fazia policiais tremerem. O nome que, por alguma razão que ela ainda não entendia, fazia seu corpo reagir como se estivesse sendo tocada apenas com um olhar.
— Não costuma ser educado observar uma dama sem se apresentar — ela disse, se aproximando com um sorriso que escondia sua tensão.
Ele sorriu. Um sorriso lento, perigoso, e ainda assim... devastadoramente charmoso.
— Alessandro — respondeu, estendendo a mão. — E você é a mulher mais ousada desta sala.
Ela apertou a mão dele. A corrente elétrica foi instantânea.
A partir daquele toque, Isabella soube: não haveria volta.
Isabella sentiu o calor da palma dele invadir sua pele, subindo por seu braço como fogo líquido. Soltou a mão antes que perdesse o controle da própria expressão.
— Isabella — disse, inclinando levemente a cabeça. — Apenas uma jornalista curiosa.
Os olhos dele brilharam por um instante, como se saboreasse o nome.
— Curiosa... É um traço perigoso, especialmente nesta sala. Está aqui a trabalho?
Ela deu de ombros, fingindo leveza.
— Digamos que estou observando. E você?
— Sempre observando. Às vezes, jogando. Às vezes, decidindo quem sobrevive ao jogo.
Ela riu baixo, provocante, tentando esconder o arrepio que percorreu sua espinha.
— Isso soa ameaçador.
— E você gosta de perigo, Isabella?
Ela não respondeu. Apenas o fitou nos olhos, ousada.
O silêncio entre eles era denso, carregado de algo que ia além da atração. Era como se suas almas reconhecessem uma escuridão comum — diferentes, mas complementares. Como se tivessem sido feitos para se cruzar... e destruir um ao outro.
— Vem comigo — ele disse de repente, quebrando o feitiço.
— Para onde?
— Para um lugar onde possamos conversar. Em particular.
Ela hesitou. Sabia que estava brincando com fogo. Mas também sabia que aquela era sua chance de se aproximar da maior fonte que já tivera. E, secretamente, queria mais do que informações.
Queria sentir o gosto do perigo.
Ele a guiou pelos corredores do palazzo até uma sala luxuosa e isolada, com janelas altas e cortinas vermelhas. O ambiente cheirava a couro e uísque caro. Assim que a porta se fechou, Alessandro a encarou novamente — e havia desejo em seus olhos, sim, mas também algo mais profundo... um aviso silencioso.
— Você sabe quem eu sou, Isabella. Então me diga: por que realmente está aqui?
Ela se aproximou dele com passos lentos. Podia sentir a tensão, o cheiro dele, a força contida naquele corpo treinado tanto para o prazer quanto para a violência.
Os dedos de Alessandro deslizaram pelas costas nuas de Isabella, traçando linhas invisíveis de desejo em sua pele sensível. O quarto estava mergulhado em sombras e sussurros, o ar denso com o cheiro do corpo dos dois, do vinho que ainda descansava na taça esquecida sobre o aparador, e do pecado que não pedira licença para entrar.
— Você me deixa insano — murmurou ele, com os lábios encostados em seu pescoço.
Isabella fechou os olhos, sentindo o peso do corpo dele sobre o seu, a respiração quente, a segurança e o perigo dançando juntos naquela cama. Ela queria se perder. Queria esquecer o mundo lá fora. Esquecer quem ele era. Quem ela era.
Mas algo… algo não a deixava relaxar completamente.
Talvez o instinto de repórter. Ou o trauma de filha de mafioso.
Ou, quem sabe, o arrepio que percorreu sua pele como um presságio.
Lá fora, no corredor, uma figura recuou para a penumbra assim que ouviu passos se aproximando.
O homem vestia preto, com luvas de couro e uma cicatriz atravessando o queixo. Em suas mãos, um pequeno dispositivo de escuta. Já tinha o que queria.
Pegou o celular e mandou uma única mensagem para um número sem identificação:
“Ela está com ele. Sozinha. O momento chegou.”
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Horas depois, Alessandro dormia ao lado dela, com o braço possessivamente jogado sobre sua cintura. Isabella, no entanto, permanecia desperta. O céu fora da janela começava a clarear, tingindo o quarto com tons azulados.
Ela se levantou sem fazer barulho, vestiu a camisa dele, e caminhou até a varanda. Milão ainda dormia, mas a cidade respirava perigo mesmo em silêncio.
Aquela paixão tinha um gosto viciante. Mas havia algo errado. A sensação de estar sendo vigiada não passava. Seus instintos estavam em alerta.
Seu celular vibrou.
Era uma mensagem de um número antigo. Um que ela não via há anos.
“Você está sendo observada, Bella. Fuja enquanto ainda pode.”
Seu coração disparou. O apelido — Bella — só uma pessoa o usava assim. Matteo, seu antigo protetor. O homem que seu pai havia enviado para vigiá-la quando criança. O único que ela amara como um irmão.
E se ele estava mandando aquela mensagem… significava que o inferno estava mais perto do que ela pensava.
Ela se virou rapidamente e olhou para Alessandro dormindo. Seu rosto calmo contrastava com tudo o que ela sabia sobre ele. Tudo o que não sabia também.
Será que ela podia confiar nele?
Ou estaria se deitando com o próprio inimigo?
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Na escuridão de um galpão abandonado do outro lado da cidade, um homem recebia as fotos de Isabella com Alessandro. Seus olhos brilharam ao ver o rosto da mulher.
— Isabella Moretti… finalmente saiu das sombras.
Ele apertou a foto contra os lábios, como se saboreasse a lembrança.
— O velho Don Vittorio ficaria orgulhoso de ver sua filha onde ela pertence… no meio do fogo.
Então, ele girou uma faca entre os dedos e sorriu.
— Hora de trazê-la de volta para a família.
Com um gesto rápido, apagou a luz do galpão e desapareceu na escuridão, onde o passado de Isabella esperava.
O dia amanhecia lento em Milão. A cidade ainda despertava, alheia à guerra silenciosa que começava a se desenhar nas sombras.
Na cobertura, Isabella observava a mensagem de Matteo pela décima vez. As palavras pareciam cravadas em sua pele.
“Você está sendo observada, Bella. Fuja enquanto ainda pode.”
Ela sabia que não podia simplesmente fugir. Não agora. Não depois daquela noite. Alessandro não era um homem comum — e ela não era mais uma mulher comum.
O nome Moretti corria pelas veias dela, por mais que tivesse tentado enterrá-lo.
Ela respirou fundo e voltou para o quarto. Alessandro ainda dormia, o corpo parcialmente coberto pelos lençóis. Por um instante, Isabella o observou em silêncio, tentando entender por que parte de si já sentia algo além de desejo.
Mas antes que pudesse se aproximar, o telefone dele vibrou.
A tela acendeu por um segundo e revelou uma mensagem curta, enviada de um contato salvo apenas como “Fratello” — irmão.
“Confirmado. Estão se movendo. Preciso de você esta noite. Vingança.”
Vingança?
O sangue de Isabella gelou.
Ela recuou, silenciosamente. Aquilo não era um jogo de sedução. Era um campo minado.
E ela estava no centro.
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Horas depois, Isabella se encontrava em uma cafeteria discreta do bairro Brera, esperando o único homem que podia lhe dar respostas. Matteo não era apenas um fantasma do passado — ele era alguém que devia a ela sua vida. E jamais a procuraria sem um bom motivo.
Ele chegou sem fazer barulho. O mesmo olhar atento. As cicatrizes marcando o rosto de quem viveu mais batalhas do que paz.
— Você não devia ter voltado, Bella — disse ele, sentando-se à sua frente. — Eles sabem.
— Quem?
— Todos. As famílias. Os inimigos do seu pai. Aqueles que achavam que você estava morta... ou fraca.
— Eu não sou mais aquela menina assustada — respondeu ela, firme.
Matteo olhou fundo em seus olhos.
— E Alessandro De Luca? Acha que ele está com você por amor?
— Não sei — ela murmurou. — Mas sei que algo nele é real. Ou quero acreditar que seja.
Matteo suspirou.
— Há algo que precisa saber… sobre o seu pai. E sobre Alessandro.
— O quê?
Ele olhou em volta, então se inclinou:
— Alessandro foi criado para destruir os Moretti. O pai dele morreu por ordem do seu.
Isabella sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés.
— Está dizendo que... tudo isso foi planejado?
— No mundo da máfia, nada é por acaso.
Do outro lado da cidade, Alessandro observava a mesma foto antiga que havia deixado para Isabella. O retrato da garota e de Don Vittorio.
Ele fechou os olhos. Lembrava-se do dia em que seu pai fora morto. Lembrava do nome “Moretti” sussurrado como veneno por sua mãe, noite após noite.
E agora, a filha do inimigo estava na cama dele. No coração dele.
— Droga… — murmurou, socando a mesa com força.
Porque tudo nele dizia que deveria afastá-la.
Mas tudo nele… também queria protegê-la.
E isso, ele sabia, o tornava fraco.
Fraco o suficiente para ser destruído.
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