Capítulo 1
Lunna Moretti
Dizem que a liberdade tem gosto de vento. Mas, naquele dia, ao atravessar os portões de pedra do convento que me acolheu desde os cinco anos, tudo o que senti foi o peso da responsabilidade se agarrando aos meus ombros como correntes invisíveis.
O céu estava nublado, como se o mundo lá fora sentisse que algo em mim morria lentamente.
Irmã Teresa apertou minhas mãos com força antes de me soltar.
— Vá com fé, minha menina. Deus caminha com você.
Eu sorri, como sempre fiz — mesmo quando tudo dentro de mim gritava. Eu era boa em sorrir. Me ensinaram que as mulheres do mundo real precisavam ser suaves mesmo diante do fogo. Mas eu não era suave. Eu era cinza. Era vento preso em vidro.
A limusine preta me aguardava do lado de fora. Dois seguranças ao lado da porta. O brasão dos Moretti marcado discretamente no canto da lataria. Entrei sem dizer uma palavra. O cheiro de couro misturado a perfume masculino me enjoou, mas não reclamei.
Foram quase quatro horas de viagem até a mansão Blacove, onde minha irmã mais velha, Lorena, se casaria com Apolo Blacove, o Dom da máfia Belford. A união de uma Moretti com o primogênito dos Blacove era vista como uma bênção para os clãs, selando décadas de aliança e poder.
Eu não entendia bem tudo aquilo, não naquela época. Só sabia que estava sendo arrancada do silêncio e colocada num palco onde eu não tinha escolha sobre meu papel.
A casa era gigantesca. Uma fortaleza mascarada de luxo. Escadas de mármore. Cortinas de veludo. Soldados armados disfarçados de garçons. E no centro de tudo, minha irmã — linda como uma rainha condenada ao seu trono de gelo. Ela me abraçou com um sorriso verdadeiro, mas seus olhos estavam cansados.
— Você cresceu... — sussurrou.
— E você parece pronta para a guerra.
Ela riu, mas não respondeu.
O casamento foi como um espetáculo macabro. As alianças reluziam, as promessas ecoavam nos salões dourados, mas tudo era ensaiado, medido, estratégico. Como num jogo de xadrez em que as peças acreditam ser livres.
E foi ali, no fim do brinde, que meu mundo virou de cabeça para baixo.
Meu pai, Enzo Moretti, levantou sua taça de cristal e olhou para mim como se estivesse oferecendo um prêmio ao inimigo.
— Hoje celebramos a união de Lorena e Apolo, e também anuncio, com orgulho, o noivado de minha filha mais nova, Lunna, com Dante Blacove, irmão de Apolo.
O salão explodiu em aplausos. Meus olhos encontraram os de Dante — um homem alto, elegante, com um sorriso ensaiado e olhos que diziam: “Eu também não tive escolha”.
Eu tinha dezessete anos. Nunca havia tocado um homem. Mal sabia como o mundo funcionava fora dos muros do convento. E agora eu pertencia a ele. A um Blacove. A um estranho.
Meu pai sorriu para mim como se estivesse me entregando ao futuro. Mas tudo que eu sentia... era que ele estava me entregando à guerra.
Se desejar, posso continuar o Capítulo 2 mostrando o começo do noivado e como ela vai lidar com Dante, ou já preparar a sequência com o acidente e a entrada do Lucas na história. Deseja seguir nessa linha?
Capítulo 2 – Lucas Blacove
O problema das festas da máfia é que todo mundo finge que está feliz, enquanto todos querem se matar por dentro. Nada ali é real. Nem os sorrisos, nem os brindes, nem os votos de fidelidade. O casamento de Apolo com Lorena Moretti era um espetáculo bonito de se ver, mas só pra quem não sabia o que estava por trás de cada arranjo de flor.
Eu sabia. E por isso, estava de canto. Como sempre.
A música clássica tocava alto demais, e o som dos saltos ecoava pelos corredores da mansão. Eu segurava um copo de uísque que já estava quente. Meus olhos vasculhavam o salão, mas pararam assim que pousaram nela.
Lunna.
A caçula dos Moretti.
Filha do conselheiro mais antigo e respeitado da máfia, criada num convento, mantida longe de tudo isso até agora. Ela era... diferente. Frágil na aparência, mas com uma raiva silenciosa no olhar que não combinava com nenhuma das mulheres que conheci até hoje.
Vestido verde escuro justo no corpo pequeno e elegante. Cabelos negros e lisos desciam até quase a cintura. Ela tinha classe, mas não era metida. Tinha beleza, mas não parecia saber disso. E, acima de tudo, tinha um olhar... de quem odiava estar ali.
— Bonita, não é? — murmurou Dante ao meu lado, me tirando do transe.
Olhei pra ele de canto. Dante era o irmão do meio. Educado, contido, o tipo que agrada qualquer mesa de jantar. Ele estava sorrindo. Mas eu conhecia aquele sorriso.
— A noiva é sua, não minha — rebati, sem humor.
— Ainda não no papel. Mas em breve. — Ele bebeu o uísque de um gole só. — Nosso pai e o conselheiro fecharam isso há meses. Apolo levou a mais velha. Eu fico com a caçula. Todo mundo sai ganhando.
"Todo mundo", ele disse.
Menos ela.
Lunna olhava em volta como quem estava presa numa gaiola de ouro. Era visível o incômodo dela. Não sorriu em momento nenhum. Não dançou. Mal tocou na comida. Nem sequer olhou para Dante. Só observava. Atenta. Calada. E quando nossos olhos se cruzaram por acaso, ela sustentou o olhar com uma firmeza que me pegou de surpresa.
Eu sorri, de lado, provocando. Ela, com desprezo elegante, simplesmente desviou.
Arisca. Orgulhosa. Quebrada por dentro, mas ainda inteira por fora.
— Boa sorte com ela — murmurei para Dante. — Parece do tipo que não vai abaixar a cabeça fácil.
— Eu gosto de desafios — respondeu ele, como se tivesse total controle da situação.
Mas eu sabia que não tinha.
Aquela garota não era feita pra ser domada. Ela era feita de ferro, escondida sob seda. E por mais que Dante tentasse vestir o papel de príncipe encantado... se ela decidisse não querer ninguém, não haveria aliança que a segurasse.
Naquele momento, eu não fazia ideia de que o destino ia ferrar com tudo e colocar ela no meu caminho.
Mas quando isso aconteceu, nem Deus conseguiu me impedir.
Naquele momento, eu não fazia ideia de que o destino ia ferrar com tudo e colocar ela no meu caminho.
Mas quando isso aconteceu, nem Deus conseguiu me impedir.
Capítulo 3 — Luto e Despedida
Narrado por Lunna
Sete meses. Esse foi o tempo que me mantive longe de tudo, escondida no orfanato que um dia me acolheu como abrigo. Depois do casamento da minha irmã com Apolo Blacove, eu voltei para lá — não porque me faltasse casa, mas porque sentia que o mundo havia mudado e eu não sabia mais onde era o meu lugar.
Eu não era mais só uma menina criada entre freiras e silêncio. Eu tinha um nome agora. Um sobrenome que pesava. Uma promessa feita por meu pai a uma família perigosa. Eu era a noiva de Dante Blacove. Ou pelo menos era.
Naquela manhã fria e cinzenta, o sol nem ousava aparecer por entre as nuvens. As irmãs do convento falavam pouco, e eu gostava assim. A rotina me anestesiava. Ajudar com as crianças pequenas, varrer os corredores, costurar roupas doadas. Tudo me ajudava a não pensar nele… em Dante. Em como ele pegava minha mão com delicadeza nos jantares formais. Em como ele sorria de lado quando me via tentando parecer confortável em meio aos mafiosos.
Mas naquele dia… tudo desmoronou.
A irmã Beatriz entrou em meu quarto com os olhos marejados e um envelope branco nas mãos. Ela não disse nada. Apenas me entregou a carta e acariciou minha cabeça como quando eu era criança. Meus dedos tremiam quando abri.
As palavras estavam ali, firmes, como balas atingindo meu peito:
“Seu pai, Cristiano Valentini, faleceu em um acidente de carro. Dante Blacove estava com ele. Ambos não resistiram.”
O mundo girou. A carta caiu no chão. Eu queria gritar, mas nem consegui. Minhas pernas cederam, e eu caí de joelhos, com as mãos no rosto. A dor me rasgou por dentro. Não consegui conter as lágrimas, os soluços, o gosto salgado da perda. Meu pai… meu porto seguro, o único que eu tinha no mundo, se foi. E Dante, o homem com quem eu me preparava para dividir minha vida, também. Me vi, de novo, sozinha.
Horas depois, alguém bateu na porta. Não era uma freira. Era minha irmã.
— Lunna... — disse ela com suavidade, já com a barriga evidente de cinco meses. — Você não precisa passar por isso sozinha.
Eu corri para os braços dela. Chorei tudo de novo. Ela alisou meus cabelos enquanto sussurrava palavras de consolo que mal ouvi. Ela era mais velha, casada com Apolo agora, o chefe dos Blacove, e parecia tão diferente. Forte. Determinada. Grávida de um herdeiro que nasceria cercado por luxo e perigo.
— Daqui a dez dias você faz dezoito, irmã. Você vai sair daqui comigo. Vai morar na minha casa. Você tem uma família agora — ela disse, beijando minha testa.
Eu apenas assenti, sem forças para discutir. No fundo, eu sabia… Nada mais seria o mesmo.
O que eu não sabia era que o destino ainda me reservava mais do que dor. E que o lugar deixado por Dante na minha vida não ficaria vazio por muito tempo. Ele seria ocupado por alguém que eu jamais teria escolhido... e que mudaria minha vida para sempre.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!