●Matteo Bianchi
●44 anos
●Alto, forte, tatuado
●Barba bem feita, cabelo grisalho, olhos negros penetrantes
●CEO bilionário, dono de uma rede de restaurantes, hotéis e mansões
●Sério nos negócios, sarcástico com amigos, extremamente ciumento
●Viúvo há 5 anos de um casamento arranjado sem amor
●Nunca teve filhos
●Não acreditava mais no amor — até conhecê-la.
●Aisha Moretti
●25 anos
●Loira, olhos verdes, corpo delicado
●Italiana, doce, determinada e gentil
●Família fria e negligente; contato apenas com uma tia, tio, primos e sua melhor amiga Mirella
●Sonha em construir uma família verdadeira e ser amada de verdade
●Inteligente e competente — e está prestes a conquistar muito mais do que um emprego.
Capítulo 1 – O CEO Solitário
A chuva caía pesada sobre Milão naquela manhã de outono, pintando os vidros da cobertura com gotas densas e constantes. O som abafado da água contra as janelas misturava-se ao silêncio absoluto do apartamento de Matteo Bianchi — um silêncio que já durava cinco anos.
Matteo estava de pé diante da parede de vidro que dava vista para a cidade. Alto, imponente, com os braços cruzados sobre o peito forte, seus olhos negros observavam o horizonte como quem buscava respostas que não vinham. O cabelo grisalho, perfeitamente alinhado, combinava com a barba bem feita e com o terno escuro que vestia, como se ele próprio fosse uma extensão da paisagem urbana fria e elegante ao redor.
Era um homem de presença. Um homem que parava salas apenas ao entrar. Dono de uma rede bilionária de restaurantes, hotéis de luxo e propriedades ao redor do mundo, Matteo era um dos CEOs mais temidos e respeitados da Itália. Seu nome carregava poder. Sua imagem, respeito. Mas ninguém sabia o que ele escondia por trás do olhar firme e da postura intocável.
Cinco anos desde que Giuliana havia morrido.
Cinco anos desde o acidente de carro que levou sua esposa.
Cinco anos de luto silencioso... não por amor, mas por tudo o que aquela união forçada havia tirado dele: o direito de escolher, o direito de amar, o direito de sentir.
O casamento com Giuliana fora um contrato entre famílias tradicionais. Ela era bela, rica, mas arrogante e cruel. Nunca o amou, e tampouco ele a ela. Tratava funcionários como lixo, desdenhava de tudo que estava abaixo do seu padrão. Matteo a suportava em nome dos negócios. Nada mais. A única coisa que sentiu quando ela se foi foi... alívio. E culpa por sentir alívio.
Desde então, viver se resumia a trabalhar. Crescer. Expandir. Controlar tudo.
E evitar se apegar a qualquer coisa ou pessoa.
Mas naquela manhã, algo parecia diferente.
Ele se afastou da janela e pegou o celular ao lado do café intocado. Havia uma mensagem de sua assistente pessoal.
> "Senhor Bianchi, a senhorita Aisha Moretti está aguardando para a entrevista. Envio para a sua sala em 10 minutos?"
Ele arqueou uma sobrancelha. A nova candidata à vaga de secretária executiva. Depois que a última pedira demissão por “ambiente insuportavelmente tenso”, Matteo optou por entrevistar ele mesmo a nova funcionária. Queria alguém que aguentasse pressão, fosse competente e... discreto. Nada de sorrisos desnecessários ou conversas vazias.
Ele digitou:
> "Envie."
A sala principal da empresa Bianchi Group era um templo de vidro e mármore. O elevador se abriu diretamente no 34º andar e Aisha sentiu o estômago revirar. Era como se o ar ali fosse mais pesado, como se a energia da grandiosidade que cercava aquele ambiente exigisse algo mais do que ela podia oferecer.
Mas ela levantou o queixo.
Respirou fundo.
E avançou.
Com 25 anos, Aisha Moretti havia aprendido a sobreviver sozinha. Criada por pais frios e ausentes, sempre ouvira que não era boa o suficiente, que jamais seria alguém. Cresceu em meio a gritos, desprezo e comparações cruéis. Aos 18, foi embora de casa, acolhida por uma tia doce que lhe ensinou o valor do afeto e da dignidade. Com ajuda dessa tia e de trabalhos pequenos, pagou seus estudos, formou-se em administração e aprendeu línguas. Agora, estava ali — diante da maior empresa de hotelaria da Itália — esperando para ser entrevistada pelo próprio CEO.
Vestia uma saia lápis preta, camisa branca impecável, cabelos loiros presos num coque elegante. Os olhos verdes vibravam com ansiedade e determinação.
Quando a porta da sala se abriu, ela sentiu o coração acelerar.
E então o viu.
Ele era tudo que os jornais diziam — e mais. Matteo Bianchi era o tipo de homem que fazia o tempo desacelerar. Alto, com postura dominante, olhar afiado e uma energia que preenchia o espaço. Seu perfume amadeirado chegou até ela antes mesmo da voz rouca e firme.
— Senhorita Moretti?
— Sim, senhor Bianchi. É um prazer conhecê-lo.
Ele analisou cada detalhe dela sem disfarçar. O rosto delicado, os lábios rosados, os olhos grandes que o fitavam com coragem. A postura correta. As mãos firmes, mesmo com a tensão visível.
Algo nela o atingiu de forma inesperada. Era diferente. Autêntica. Ela não estava tentando impressioná-lo com charme ou submissão. Apenas sendo... ela mesma.
Mandou que ela se sentasse. E assim começou a entrevista.
— Tem experiência com CEOs temperamentais?
Ela sorriu, e foi a primeira vez que Matteo sentiu o próprio coração acelerar em anos.
— Tenho experiência com chefes exigentes, senhor. Temperamentais... bom, depende do humor deles no dia.
Ele arqueou a sobrancelha, surpreso com a resposta ousada.
— E você saberia lidar com meus humores?
— Posso tentar. Mas se não souber, prometo não fugir no primeiro dia.
Ele riu. Um riso curto, rouco, real. Há quanto tempo não ria assim?
O resto da entrevista transcorreu como uma dança — provocativa, leve e séria ao mesmo tempo. Aisha demonstrava domínio técnico, mas também algo que Matteo não sabia nomear. Talvez fosse coragem. Talvez fosse humanidade.
Talvez fosse tudo o que ele havia esquecido como era.
Quando ela saiu da sala, Matteo permaneceu alguns minutos encarando a porta. Sentiu algo se agitar dentro do peito. Um desconforto estranho... quente.
Aisha Moretti era só mais uma candidata. Mas havia algo nela que o fazia querer saber mais.
E isso o irritava profundamente.
Horas depois, ao cair da noite, Matteo estava novamente na cobertura, agora sentado em frente à lareira, com um copo de whisky na mão.
Pensava nela.
Na sua resposta afiada.
No brilho dos olhos.
No sorriso que quebrava o gelo que ele havia cultivado por anos.
Soltou um suspiro pesado e disse em voz baixa, como se confessasse a si mesmo:
— Ela não é como as outras.
E isso... era perigoso.
Muito perigoso.
Mas, pela primeira vez em muito tempo, Matteo não queria evitar o perigo.
Queria sentir algo real.
E talvez, só talvez... Aisha Moretti fosse o início disso.
Aisha desceu do elevador com o coração ainda acelerado. O salto ecoava no mármore claro do hall, cada passo mais lento que o anterior. Quando a porta se fechou atrás dela, ela parou por um instante, encostando-se à parede de vidro. Precisou respirar. Profundo. Longo.
Ela não sabia dizer o que tinha sido aquilo.
Nunca, em toda a sua vida, um olhar a atravessara daquela maneira. Matteo Bianchi não era apenas bonito — ele era avassalador. A presença dele tomava o ar, ocupava cada espaço. Mas não era só o físico que chamava atenção. Era algo nos olhos. Nos silêncios. Um homem que carregava um passado denso, que escondia dor sob camadas de autoridade e controle.
Mas também havia algo mais ali.
Algo que fez a pele dela se arrepiar.
No 34º andar, Matteo não conseguia se concentrar nos relatórios. Leu a mesma frase três vezes antes de desistir, jogando a caneta sobre a mesa. Estava incomodado. Ele, que sempre tomava decisões com frieza e estratégia, agora se via distraído pela lembrança de um sorriso.
Pegou o telefone.
— Gianna — disse à assistente —, mande preparar os papéis de contratação para Aisha Moretti.
— Tem certeza, senhor? Ainda temos outras entrevistas marcadas para...
— Cancele.
O silêncio do outro lado durou dois segundos.
— Claro. Vou providenciar imediatamente.
Desligou.
Não sabia exatamente por que tomava aquela decisão tão rápida. Apenas... sabia que precisava tê-la por perto. Mesmo que isso significasse desafiar a regra que ele mesmo impusera: nunca misture o pessoal com o profissional.
Mas alguma coisa lhe dizia que, com Aisha, não haveria escolha. Ela já estava misturada em seus pensamentos desde o primeiro olhar.
Na manhã seguinte, Aisha recebeu a ligação de Gianna enquanto tomava café com Mirella.
— Você foi contratada — anunciou gianna, sorrindo empolgada. — Sabia que ia conseguir, Aisha!
Aisha ficou em silêncio por um segundo, atônita. Depois, abriu um sorriso genuíno.
— Contratada? Mesmo?
— Sim! Começa na segunda-feira. E sabe o que mais? O próprio Matteo mandou cancelar todas as outras entrevistas. Você foi a única.
Mirella levantou a sobrancelha, suspeitando.
— Isso é estranho.
— Por quê?
— Porque o Matteo Bianchi não é conhecido por tomar decisões impulsivas. Dizem que ele leva dias analisando uma contratação. E você saiu da entrevista ontem, já foi chamada hoje, e... — ela estalou os dedos — puff, cancelaram o resto.
Aisha mordeu o lábio inferior, pensativa. Não queria admitir, mas também havia sentido algo estranho durante a entrevista. Algo que ainda latejava por dentro.
— Talvez ele tenha gostado do meu perfil profissional.
Mirella gargalhou.
— Ou talvez ele tenha gostado do seu perfil inteiro, amiga.
Aisha a empurrou de leve, rindo também, mas no fundo... sabia que não era só brincadeira.
Na segunda-feira, Aisha chegou quinze minutos mais cedo. Sempre gostou de começar bem. Estava impecável, com um conjunto nude elegante, salto médio e cabelos presos em um rabo de cavalo baixo. Queria transmitir profissionalismo. Precisava provar que era capaz. Não apenas por ela, mas pela tia que sempre acreditou nela — e pelos pais que sempre disseram que ela jamais chegaria a lugar algum.
Ao entrar no andar executivo, foi recebida por Gianna, uma mulher eficiente, de sorriso educado e olhos atentos.
— O senhor Bianchi está em reunião agora, mas pediu que você aguardasse na sala dele. Ele quer apresentar pessoalmente os próximos passos.
Aisha assentiu. Foi guiada até a sala que já conhecia da entrevista. Ao entrar, o cheiro amadeirado o atingiu de novo. Fechou os olhos por um segundo, absorvendo o ambiente.
Tudo ali era Matteo.
Sóbrio, elegante, minimalista e poderoso.
Caminhou até a mesa, sentou-se na cadeira à frente da dele e cruzou as pernas. Estava nervosa, mas respirava fundo para não demonstrar.
Dez minutos depois, a porta se abriu. Ela se levantou imediatamente.
Matteo entrou com um leve sorriso no canto dos lábios.
— Senhorita Moretti — disse, a voz tão grave quanto ela lembrava —, seja bem-vinda oficialmente ao Bianchi Group.
— Obrigada pela oportunidade, senhor Bianchi.
— Matteo — corrigiu ele, calmamente. — Aqui dentro, todos me chamam de Matteo. Não gosto de formalidades excessivas com minha equipe direta.
Aisha hesitou. Dizer o nome dele parecia íntimo demais. Mas assentiu.
— Claro, Matteo.
Ele caminhou até sua cadeira e se sentou, os olhos escuros pousando nela com mais intensidade do que um chefe normalmente faria.
— Preparei um treinamento com algumas tarefas da rotina, mas quero que você vá conhecendo tudo aos poucos. Terá acesso direto à minha agenda e compromissos. E... — ele fez uma pausa, inclinando-se ligeiramente para a frente — confio que saberá manter discrição em tudo o que envolve meu dia a dia.
— Sou extremamente discreta e profissional — respondeu ela com firmeza. — Pode confiar.
Ele sorriu de leve. Era raro. E aquilo o tornava perigosamente encantador.
— Foi isso que me fez contratá-la.
Aisha não soube o que responder. Havia um subtexto ali. Algo no tom da voz dele, na maneira como a encarava, como se cada palavra tivesse um segundo significado oculto.
Ela desviou o olhar por um instante. Precisava manter o foco. Não podia se deixar abalar por aquele homem, mesmo que ele fosse a personificação do desejo reprimido.
— Começamos hoje mesmo — disse ele. — Gianna vai te entregar os acessos e te conduzir pelas áreas. À tarde, teremos uma reunião com os diretores. Quero que participe. Quero ver como você se sai em ambientes de pressão.
— Sim, senhor — ela disse automaticamente. Depois, corrigiu: — Sim, Matteo.
Ele inclinou a cabeça levemente, satisfeito.
— Até mais tarde, Aisha.
Quando ela saiu da sala, o coração martelava no peito. Nunca fora tão afetada por uma simples troca de palavras. Nunca sentiu aquele calor no estômago, aquela eletricidade nas veias. Algo estava acontecendo. Algo maior do que ela queria admitir.
Na reunião da tarde, Matteo a apresentou de forma breve, mas o suficiente para que todos notassem o tom especial em sua voz.
— Esta é Aisha Moretti, minha nova secretária executiva. Direta, discreta, muito competente. Confio nela plenamente.
Os olhares sobre Aisha foram diversos: curiosos, surpresos, alguns julgadores. Ela manteve a postura. Anotou cada detalhe da reunião com precisão, absorvendo tudo o que podia.
Matteo observava. E gostava do que via.
Quando um dos diretores, Marco, se inclinou para conversar com Aisha durante uma pausa, Matteo franziu o cenho. Viu o sorriso dele, viu Aisha responder com educação... e sentiu uma fisgada no peito.
Ciúmes?
Ele se recostou na cadeira, os olhos escurecendo.
Isso não podia estar acontecendo.
Ele não era um homem ciumento. Não se envolvia com funcionárias. Mas alguma coisa dentro dele se acendeu quando viu outro homem tentando conquistar o sorriso que ele já sentia ser dele por direito.
A reunião terminou. Matteo não disse nada. Mas seu silêncio falava alto.
E Aisha percebeu.
No fim do expediente, ela bateu na porta da sala dele.
— Posso?
— Entre.
Ela entrou com passos cuidadosos.
— Só queria agradecer por hoje. Aprendi muito, e... — hesitou — espero não ter decepcionado.
Ele a encarou por alguns segundos longos. Depois, disse:
— Você foi excelente. Mas...
Ela franziu o cenho, esperando.
— Apenas tome cuidado com alguns homens desta empresa. Nem todos são confiáveis.
Aisha entendeu.
Sorriu de leve, os olhos fixos nos dele.
— Pode deixar. Sei me defender.
E saiu, deixando um leve perfume floral no ar e um CEO cada vez mais intrigado.
Matteo recostou-se na cadeira, passou a mão pela barba e murmurou sozinho:
— Você vai me dar trabalho, Aisha Moretti.
Mas, estranhamente... ele estava começando a gostar da ideia.
Aisha chegou cedo novamente. O sol mal tinha aquecido os telhados de Milão quando ela entrou na sede do Bianchi Group com passos firmes, caderno em mãos e a cabeça cheia de pensamentos.
Não conseguia esquecer os olhos de Matteo na reunião do dia anterior. Aquilo não era só olhar de chefe. Era algo mais. Algo que aquecia o estômago e deixava o ar ao redor pesado, carregado de tensão.
Ela tentou se convencer de que estava imaginando coisas. Talvez fosse só o estresse. Talvez o cansaço. Mas o que sentira no fundo dos olhos dele... era desejo. Contido, sim. Mas pulsante.
E isso era perigoso.
Gianna a recebeu com um sorriso gentil e entregou a ela a nova agenda de Matteo, além de cartões de acesso e a programação de compromissos da semana.
— Aqui estão seus acessos. E um aviso: o Matteo é um homem metódico. Gosta de pontualidade, discrição e odeia fofocas. Mas se você se mantiver profissional, ele é justo. Até generoso, às vezes.
— Vou fazer o meu melhor — disse Aisha, determinada.
E realmente fez.
Durante toda a manhã, ela revisou contratos, respondeu e-mails, organizou a agenda de reuniões e tomou nota de documentos importantes. Matteo não apareceu até quase o meio-dia — o que ela achou um alívio. Precisava de tempo para respirar sem ser observada por aquele olhar profundo que a desconcertava.
Mas assim que ele chegou, o clima no andar mudou.
Era como se todos automaticamente se ajeitassem nas cadeiras. Como se o ar ficasse mais denso, mais intenso.
Matteo entrou como um rei em seu castelo: terno impecável, barba bem feita, olhos negros como a noite, e um perfume amadeirado que marcava o ambiente com sua presença.
— Bom dia, Aisha — disse ao passar por ela, com um leve sorriso.
— Bom dia, Matteo — respondeu, e por um momento, os olhares se cruzaram de novo.
Aquela troca de olhares foi rápida, mas suficiente para deixá-la inquieta por dentro.
Pouco depois, Matteo chamou Aisha para acompanhá-lo a uma reunião externa com investidores de um novo hotel em Florença.
Ela organizou a pasta, confirmou a reserva do carro e o acompanhou até o elevador. Era a primeira vez que estariam sozinhos fora do ambiente da empresa. E isso não passava despercebido por nenhum dos dois.
No carro, o silêncio era confortável, mas carregado de tensão.
— Está nervosa? — ele perguntou, sem tirar os olhos da janela.
— Um pouco. Não costumo lidar com investidores grandes. Só trabalhei com empresas menores até agora.
— Você vai se sair bem — disse ele, e dessa vez olhou diretamente para ela. — Gosto de pessoas que são sinceras sobre o que sabem e o que não sabem. Isso é raro.
Aisha sorriu, sentindo um leve calor nas bochechas.
— Obrigada.
Por dentro, seu coração batia acelerado. Estar tão próxima dele num espaço tão pequeno, sem testemunhas, era... perigoso. Matteo parecia tão relaxado agora, tão diferente do CEO sério da empresa. Ele observava a cidade passar pela janela como se estivesse distante, mas os dedos tamborilavam no couro do banco com um certo nervosismo.
A reunião foi longa, técnica e exigente. Aisha permaneceu ao lado dele o tempo todo, tomando notas, organizando materiais e até respondendo uma pergunta inesperada de um investidor francês — em francês.
Matteo a olhou surpreso.
— Você fala francês?
— Fluente. Também falo inglês e um pouco de alemão — disse, sem arrogância.
— Impressionante — murmurou, e Aisha viu, pela primeira vez, uma faísca de admiração genuína em seus olhos.
Ao saírem da sala de reunião, Matteo manteve o silêncio até entrarem novamente no carro.
— Onde você aprendeu tanto?
— Eu sempre soube que precisaria me virar sozinha. Então estudei. Li muito. Trabalhei duro. Não tive quem me bancasse.
— Sem família?
— Só uma tia e alguns primos. Meus pais... preferem fingir que eu não existo.
Matteo ficou em silêncio. Aquilo o atingiu mais do que gostaria de admitir. Ele sabia como era não ser visto. Sabia como era não ter escolha. Mas ouvir isso dela, com tanta naturalidade, fez nascer uma empatia inesperada.
— Eles perderam algo precioso — disse, quase num sussurro.
Ela o encarou, surpresa.
E pela primeira vez, viu que Matteo Bianchi era mais do que um CEO poderoso. Ele era humano. E havia dor dentro dele também.
Na volta à sede, Matteo pediu que ela subisse direto à sua sala com os documentos.
Aisha entrou alguns minutos depois, organizando os papéis na mesa.
— Excelente trabalho hoje — ele disse.
— Só fiz o que deveria.
— Fez mais do que isso. Foi eficiente, rápida, fluente em francês e ainda teve jogo de cintura. Isso é raro.
Ela ergueu os olhos, encontrando os dele. Estavam mais escuros agora. Mais intensos.
Matteo se levantou e caminhou lentamente até ela, parando do outro lado da mesa. Seus dedos tocaram levemente a lateral do papel, mas seus olhos não desgrudavam dos dela.
— Há quanto tempo você está solteira, Aisha?
A pergunta caiu como um raio.
Ela ficou paralisada por um segundo.
— Eu... Não acho que essa pergunta seja apropriada, Matteo.
Ele sorriu de canto, um sorriso perigoso.
— Não é. Mas ainda assim, quero saber.
— Por que quer saber?
Ele deu a volta na mesa e parou a menos de um metro dela. Aisha sentiu a pele arrepiar.
— Porque estou tentando entender por que uma mulher como você ainda está sozinha.
Ela mordeu o lábio inferior, nervosa.
— Talvez porque os homens costumam se intimidar com mulheres que sabem o que querem.
Matteo ergueu uma sobrancelha.
— Eu não me intimido com nada.
O silêncio entre eles era espesso agora. O ar parecia eletrificado.
Ele deu mais um passo, a apenas centímetros dela.
— Eu gosto de saber o que está ao meu redor. Gosto de controle. Mas você... — ele murmurou, o olhar desceu para a boca dela por um breve segundo — você me tira do controle, Aisha.
Ela sentiu o corpo inteiro aquecer.
Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Gianna bateu à porta, interrompendo a tensão como um balde de água fria.
— Matteo, os contratos com os investidores de Florença chegaram. Precisa assinar antes das 18h.
Ele afastou-se lentamente, recobrando a postura fria e profissional.
— Obrigado, Gianna. Já vou.
Aisha respirou fundo, tentando acalmar o coração disparado. Recolheu os papéis e fez menção de sair.
— Aisha — ele disse, antes que ela alcançasse a porta.
Ela virou-se lentamente.
— Não fuja de mim — disse ele, num tom mais baixo.
Ela sorriu.
— Talvez você devesse correr de mim, Matteo.
E saiu, deixando para trás um homem que, pela primeira vez em anos, sentia que estava perdendo o controle. E gostando disso.
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