Mundos Trocados
|Capítulo 01|
|Existem diversos mundos e dimensões na imensidão do universo. Uns habitados... outros não, mas isso não é relevante no momento.
Hoje vamos falar sobre o quão diferentes e bons..ou ruins alguns mundos podem ser.|
|Alguns são como o nosso: caóticos, realistas, duros. Onde a sobrevivência às vezes pesa mais que os sonhos.
Outros, apesar de antigos, seguem regras que fogem à nossa lógica, onde hierarquias biológicas definem destinos, e o amor, muitas vezes, é uma sentença.|
|Em uma dessas dimensões, mais antiga, governada por um império onde o sistema A.B.O dita as estruturas da sociedade vive Lui. Um ômega dominante, raro e desejado, que carrega o peso de ser prometido ao próprio imperador. Não por amor. Mas por obrigação.
Em outra, semelhante à nossa realidade, vive Benjamim. Um homem comum, cheio de dívidas, preso num ciclo de azar e cobranças. A vida dele é um campo minado, onde cada passo pode atrair um agiota mais impaciente que o anterior.|
|Dois mundos. Duas vidas. Dois destinos presos por escolhas que não fizeram.|
|Mas e se o universo ou algo além decidisse trocar tudo?
Se Lui acordasse no corpo de Benjamim, cercado por problemas que não compreende, sem imperadores, sem submissão... apenas caos moderno?|
|E se Benjamim abrisse os olhos no corpo de Lui, prestes a se casar com um homem que o enxerga como posse, num sistema que o obriga a obedecer?|
|Essa não é apenas uma troca de corpos.
É uma troca de mundos, de verdades, de medos e descobertas.|
|E nenhuma vida voltará a ser a mesma depois disso.|
|Capítulo 02|
|O perfume de jasmim queimava no ar como incenso. Os corredores do palácio ecoavam com passos contidos, e tudo cheirava a silêncio. Silêncio forçado, controlado, treinado.
Lui odiava aquilo.|
|Estava sentado na beira da cama, vestindo um manto azul-claro com bordados dourados. A seda era cara, delicada, feita sob medida e ainda assim, coçava. Tudo nele parecia feito para agradar aos olhos alheios. Como se o corpo que carregava fosse mais um presente embrulhado do que, de fato, uma pessoa.|
|A criada penteava seus cabelos com gestos suaves e automáticos. Lui encarava o próprio reflexo no espelho à frente. Seus olhos estavam vazios.|
Criada 1
O imperador chega amanhã.
|Disse a criada, como se fosse uma bênção.|
|Lui não respondeu.
“Chega”, ele pensou. “Chega pra me possuir. Chega pra me prender.”|
|No mundo dele, ômegas dominantes eram raros. Tão raros que viravam troféus. E Lui era o troféu perfeito: belo, educado, elegante, obediente ao menos, na superfície. Por dentro, ele se contorcia. Nunca quis pertencer a ninguém, muito menos a um homem que só conhecia pelos retratos e pelas cartas frias assinadas com selo imperial.|
Criada 1
Está ansioso?
*pergunta gentilmente*
Lui
Não, estou entediado.
*tramontina*
|Ela sorriu como se fosse normal. Ali, ômegas não podiam sentir raiva. Não podiam sentir muito, na verdade. Só deviam sorrir, agradecer, deixar-se ser amado ou tomado..|
|Lui se levantou. Caminhou até a varanda de seu quarto, onde o vento batia forte. Lá fora, os jardins imperiais estavam impecáveis. Ele os achava sufocantes. Cada flor podada na medida certa. Cada caminho de pedra perfeitamente alinhado. Tudo organizado demais, perfeito demais... morto demais.|
Lui
Eu só queria fugir..
*murmura*
Criada 1
Pra onde, senhor? O mundo é do imperador.
Lui
*vira o rosto devagar*
Lui
Talvez o universo não seja.
*sussura*
|Ela não entendeu. E ele não explicou. Porque nem ele sabia exatamente o que queria dizer com aquilo. Só sabia que algo dentro dele implorava por ar. Por erro. Por bagunça. Por vida.|
|Naquela noite, antes de dormir, Lui olhou para o teto e pensou:
“Se há algum deus ouvindo… qualquer um… me tira daqui.”|
|Ele não sabia, mas alguém ouviu.
E o universo... bom, o universo tem um senso de humor bem peculiar.|
|Capítulo 03|
|O despertador tocou às 6h da manhã. Benjamim apertou o botão de soneca às 6h01. E de novo às 6h06. E mais uma vez às 6h11.
Às 6h20, ele pulou da cama com um grito.|
|Saiu tropeçando em um tênis, chutou uma garrafa de água vazia e, no impulso, quase bateu a cabeça na parede do minúsculo quarto alugado. Era o terceiro mês que ele atrasava o aluguel. O senhorio já não o cumprimentava com “bom dia”, só com “vai pagar quando?”.|
|O café da manhã foi um pão murcho com requeijão vencido e um gole de Coca quente. Luxo. Afinal, ontem o almoço tinha sido só uma coxinha de posto e água da pia.|
Benjamim
Ok, Benja. Força. Hoje é o dia que tudo muda!
|Disse pra si mesmo, se olhando no espelho trincado do banheiro.
O reflexo o encarava de volta com olheiras profundas, barba malfeita e a cara de quem já tinha perdido no jogo da vida, mas ainda fingia que ia virar o placar nos acréscimos.|
|Ele vestiu a camisa amassada do trabalho e saiu correndo. Desceu os cinco andares de escada do prédio porque o elevador “tava em manutenção” há três meses.|
Benjamim
*sente uma vibração no bolso e pega o celular*
[Agiota - Não atender] Mensagem: “Bom dia, querido. Hoje é dia 5. Você sabe o que isso significa. 💸😊”
Benjamim
Significa que o universo me odeia, só pode.
|Pegou o ônibus lotado, encostou num vidro sujo e ficou olhando a cidade passar com aquela sensação de que a vida inteira dele era uma fila de espera que nunca andava.|
|Ele trabalhava num restaurante por quilo como auxiliar de cozinha (na real, ele era um faz tudo). Não que soubesse cozinhar, mas era ótimo em lavar louça, se fingir de morto quando o gerente gritava e outras coisinhas.|
|Na hora do almoço, enquanto estava sentado no chão da cozinha observava o bandejão de salsicha boiando num molho duvidoso, pensou: "Será que em outro mundo eu sou rico? Bonito? Desejado? Será que eu como comida de verdade e durmo sem medo de alguém me quebrar no soco por causa de 500 conto?"|
|E então, por um segundo, ele fechou os olhos.
Só por um segundo.
E quando abriu…
...não estava mais ali.
Nem o cheiro de fritura, nem o som dos pratos, nem o calor da cozinha.|
|Tudo tinha mudado.
Mas isso... isso é história pro próximo capítulo.|
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