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Isainny

o início de tudo

Meu nome é Isainny. Desde cedo, tive que aprender a me virar sozinha. Meus pais faleceram quando eu era criança, aos meus quatro anos. A partir daí, comecei a morar no Jornal.

Depois disso, minha vida nunca mais foi a mesma. O Jornal não era um abrigo comum — era um prédio antigo, quase esquecido pelo tempo, onde se imprimiam as últimas páginas de um mundo que parecia já não se importar com o que vinha depois. Foi lá que cresci, entre pilhas de papel amarelado, o cheiro forte de tinta e o silêncio pesado das madrugadas.

Os funcionários que restavam me aceitavam por pena ou por conveniência. Eu era pequena, ágil, e logo aprendi a ajudar com o que podia: varria os corredores, carregava bobinas de papel, ajudava nas entregas noturnas. Em troca, ganhava um canto no almoxarifado, uma refeição fria e o direito de continuar existindo.

Mas havia algo mais ali. Algo estranho. Algo que ninguém parecia perceber — ou talvez fingissem não ver. Vozes sussurravam entre os linotipos desligados. Certos jornais traziam manchetes que não existiam no dia anterior. E, às vezes, eu sonhava com ele.

Durante o dia, minha vida era só rotina. Mas à noite...

À noite era diferente.

Todas as noites era o mesmo sonho. Eu nunca conseguia ver o rosto dele. Às vezes, ele aparecia entre os papéis velhos e amarelados, que flutuavam ao meu redor como se soprados por um vento que só existia naquele mundo. Outras vezes, estávamos em um quarto que eu não reconhecia — e, ao mesmo tempo, parecia familiar. Um espaço banhado por uma luz vermelha suave, como se o tempo ali fosse outro. Um lugar sem nome, onde só existia eu... e ele.

O mais estranho é que eu não sentia medo. Pelo contrário. Sentia algo profundo, quase incontrolável. Um calor silencioso que nascia dentro do peito e se espalhava pelo corpo inteiro, como se meu sangue se aquecesse só com a presença dele. E ali, naquele quarto, eu não era mais a mesma menina esquecida nos corredores de um prédio vazio. Eu era mulher. Linda. Forte. Desejada.

Sempre me via com os cabelos soltos, a pele iluminada pela luz quente, os olhos fixos na escuridão que o escondia. Sentia o toque invisível dele... como se ele me conhecesse mais do que eu própria. Às vezes sussurrava meu nome. Outras, apenas observava, como se esperasse minha permissão para algo que eu ainda não compreendia.

E então, sempre, eu acordava.

Acordava com o coração acelerado, a pele quente, os lábios entreabertos como se tivesse acabado de ser beijada. Mas não havia ninguém. Só as sombras do Jornal e o som distante da cidade adormecida.

Naquela manhã, algo era diferente. Enquanto varria a sala onde ficavam os arquivos antigos, uma folha escapou de uma das estantes e caiu aos meus pés. Era uma edição do Jornal que eu jamais tinha visto — nem sequer parecia real. A data impressa estava borrada, e a manchete me arrepiou inteira: autora queridos leitores essa é minha primeira obra espero que gostem

quem é aquele homem...

No centro da foto, havia um homem. Jovem, de porte atlético, cabelos negros como a noite e olhos... aqueles olhos penetrantes, escuros, que pareciam me despir só de olhar. Eu senti como se estivesse nua diante dele — mesmo ali, completamente vestida. Aquela sensação me incendiou por dentro, me fazendo tremer sem saber se era medo ou excitação.

O jornal era de 1982, e a reportagem falava sobre uma antiga família muito influente, dona de inúmeros imóveis na cidade. Mas o que me prendeu não foi o texto — foi aquele rosto. Tinha algo de familiar. Cada vez que eu lia, cada vez que meus olhos voltavam para ele, mais certa eu estava: eu o conhecia. Aqueles olhos já tinham me olhado antes... mesmo que eu não soubesse como isso era possível.

Naquele dia, senti que algo estava prestes a acontecer. Como se o destino tivesse se dobrado, como se um elo estivesse se formando entre passado e presente. Sentindo o peito apertado, com o corpo ainda quente pela sensação daquele olhar, fui me recolher para o almoxarifado — meu pequeno refúgio escondido.

Encostei na parede fria, tentando entender o que aquilo significava. Olhei para o teto, respirei fundo e deixei que as lembranças da minha vida deslizassem pela mente. As confusões, os desejos contidos, os sonhos interrompidos... tudo parecia convergir para aquele instante.

E então adormeci, sem perceber que, naquele exato momento, a sombra daquele homem começava a se mover... saindo da imagem, atravessando o tempo, vindo ao meu encontro.

---Para minha surpresa — e certo desapontamento — fui arrancada daquele transe por uma voz familiar:

— Acorda, dorminhoca! Vamos trabalhar — disse Isadora, com aquele tom brincalhão e provocante que só ela tem.

Ela entrou no almoxarifado com passos firmes e sensuais, como sempre. Vestia um conjunto social preto que moldava seu corpo com elegância, os cabelos presos em um coque impecável. Em cada mão, um copo de café expresso recém-feito. Aquela cena, por um instante, me pareceu fora do tempo, como se tudo nela fosse meticulosamente desenhado.

Isadora tem 22 anos, assim como eu. Também é órfã, mas teve a sorte de ser adotada por uma família simples, cheia de afeto. Desde que nos conhecemos, estamos sempre juntas. Ela é meu porto seguro e, ultimamente, tem insistido para que eu tente o vestibular de medicina — meu sonho esquecido, adormecido por entre boletos, noites mal dormidas e esse emprego puxado no jornal.

Acordei atordoada, sem saber direito o que era sonho, o que era lembrança, o que era... aquele olhar no jornal. Isadora apenas riu ao me ver confusa:

— A gente já tá atrasada — disse, entregando o café nas minhas mãos.

— Atrasada pra onde, Isa? — perguntei, tentando juntar os pensamentos.

Ela apenas sorriu de canto, daquele jeito que me desconcertava às vezes, e saiu do almoxarifado como se esperasse que eu entendesse sem explicações. Levantei e fui ao pequeno banheiro do corredor. Lavei o rosto, escovei os dentes, me encarei no espelho. As olheiras estavam profundas, não só por causa do trabalho exaustivo de madrugada — mas pelos sonhos. Aquele sonho. Sempre o mesmo. Aqueles olhos. Aquela sensação de estar sendo observada. Desejada.

— Isaínny! — chamou ela do lado de fora, batendo na porta. — Você não tá dormindo nada. Olha essa cara! Mas calma, eu dou um jeito nisso...

Ela abriu minha bolsa e tirou de lá um nécessaire de maquiagem e um conjunto azul escuro que tínhamos comprado juntas num brechó charmoso do centro. Era justo, elegante... e marcava meu corpo de um jeito que me deixava confiante.

— Veste isso. Hoje pode ser o dia que muda sua vida — disse ela, como se soubesse de algo que eu não sabia.

Isadora sempre foi assim: misteriosa, intensa, com um jeito de me tocar que atravessava camadas — da pele à alma. Eu ainda não sabia o que me esperava naquele dia. Mas sentia. Algo estava prestes a acontecer.

Algo que talvez envolvesse mais do que apenas sonhos... algo entre o desejo e o destino.

a prova

Isadora sempre foi assim: misteriosa, intensa, com um jeito de me tocar que atravessava camadas — da pele à alma.

Eu ainda não sabia o que me esperava naquele dia. Mas sentia.

Algo estava prestes a acontecer.

Algo que talvez envolvesse mais do que apenas sonhos... algo entre o desejo e o destino.

Ela sempre foi uma caixinha de surpresas.

Finalmente, estou pronta. Quase não me reconheço. Sei que sou uma mulher apresentável agora.

Essa roupa... parece transformar quem sou.

A maquiagem é leve, mas ressalta o suficiente.

O conjunto azul caiu perfeitamente no meu corpo, marcando minhas curvas como se tivesse sido feito para mim.

"Lá vamos nós", penso. Nem sei para onde.

Isadora está ainda mais misteriosa que o normal.

Saímos do prédio do jornal e pegamos a primeira condução.

Ela está animada, mas se recusa a revelar nosso destino.

A primeira parada: uma faculdade.

Fiquei sem entender.

Ela me olhou com tanto amor, com tanta doçura no olhar... e disse:

— Amiga, eu te escrevi nessa faculdade. Hoje é o dia da prova.

Perdi o chão.

Como assim?

Eu não tinha estudado, não sabia de nada, não fazia ideia.

Como ela fez isso por mim?

Como ela teve coragem?

E... como eu iria pagar?

Fiquei sem saber o que dizer. Um nó se formou na minha garganta.

— Você é doida mesmo, Isadora... — foi tudo o que consegui falar. — Como fez isso? Sabe que eu não tenho como pagar!

Ela me olhou com aquele sorriso sapeca e os olhos cheios de ternura. Riu.

— Quem disse que você vai precisar pagar?

Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ela completou:

— Hoje é a prova para bolsistas. Só tem duas vagas. Uma é minha... e a outra é sua.

Senti as pernas tremerem. O coração disparou. O mundo parecia girar ao meu redor, mas os olhos dela eram o meu ponto de equilíbrio.

— Agora vai, Isainny Souza Andrade. Vai lá e mostra quem você é.

Ela disse isso com tanta firmeza, com tanta fé em mim, que por um instante eu quase acreditei que era capaz. Quase.

Mas naquele instante, o “quase” já era o suficiente para dar o primeiro passo.

Fiquei sem saber o que dizer. Um nó se formou na minha garganta.

— Você é doida mesmo, Isadora... — foi tudo o que consegui falar. — Como fez isso? Sabe que eu não tenho como pagar!

Ela me olhou com aquele sorriso sapeca e os olhos cheios de ternura. Riu.

— Quem disse que você vai precisar pagar?

Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ela completou:

— Hoje é a prova para bolsistas. Só tem duas vagas. Uma é minha... e a outra é sua.

Senti as pernas tremerem. O coração disparou. O mundo parecia girar ao meu redor, mas os olhos dela eram o meu ponto de equilíbrio.

— Agora vai, Isainny Souza Andrade. Vai lá e mostra quem você é.

Assim que entrei na sala, vi mais de quarenta alunos já sentados.

Meu coração disparou. A primeira vontade foi sair correndo, desistir antes mesmo de tentar.

Mas então... lembrei da minha mãezinha.

Ela sempre dizia: “O céu é o limite. Nunca desista antes de tentar.”

Só de lembrar, meus olhos se encheram d’água. Respirei fundo, engoli o medo, e me permiti acreditar — nem que fosse só por hoje.

— Bom dia — murmurei ao entrar.

Alguns viraram o rosto, outros nem notaram.

Escolhi uma carteira vazia perto da janela e me sentei.

O professor estava em pé à frente da sala — um senhor de meia-idade, óculos redondos, olhar perspicaz.

Vestia calça social marrom e um casaco de tricô vinho, que dava a ele um ar acolhedor, mas exigente.

— Bom dia a todos — disse ele, firme.

A turma respondeu em coro, e então ele anunciou:

— Vamos começar a prova.

Em seguida, começou a distribuir os papéis. Eram cinco páginas.

Vi os olhos de alguns alunos se arregalarem. Outros já começavam a folhear com nervosismo.

Enquanto isso, mais cinco pessoas entraram na sala. Eram monitores — estavam ali para garantir que ninguém colasse. O clima ficou tenso.

Engoli seco. Minhas mãos suavam. Mas respirei fundo mais uma vez, fechei os olhos por dois segundos... e pensei:

É agora. É por mim. É por ela.

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