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Herança do Vazio Celestial

Quando o Sol brilhou à Noite

No reino de Barityh, onde a magia da mana e a força da aura governam o destino dos mortais, nasce uma criança envolta em mistério e poder. Galen, filho de uma nobre família, veio ao mundo sob um fenômeno raro — raios de sol na calada da noite — e uma profecia que promete que ele poderá trazer tanto a prosperidade quanto a ruína.

Entre dois continentes, em um mundo dividido entre a Terra Normal, o Subsolo dos monstros e o Céu dos deuses, Galen é enviado a uma escola onde jovens de todas as classes aprendem a governar, lutar e controlar suas forças. Mas seu caminho será tudo menos fácil.

Entre alianças, rivalidades e segredos ancestrais, o jovem herdeiro enfrentará desafios que testarão não só seus poderes, mas sua essência e sua vontade de desafiar o destino que foi traçado para ele.

Será ele a luz que salvará Barityh? Ou a sombra que a destruirá?

No princípio, existia apenas o Deus Absoluto, a essência primordial da criação. Com seu poder infinito, ele moldou o mundo, dando forma às terras, céus e mares. Porém, sozinho, sentiu a necessidade de companhia e auxílio, e assim criou outros deuses — entidades poderosas, encarregadas de cuidar das raças que habitariam aquele mundo recém-formado.

Esses deuses foram incumbidos de proteger e guiar as diversas criaturas, abençoando-as com dons especiais e concedendo poderes únicos para que pudessem prosperar. No entanto, nem todos os deuses seguiram o propósito divino. Alguns se rebelaram, desejando criar suas próprias espécies, temerosas do controle do Deus Absoluto. Desses atos nascentes, surgiram os monstros — seres terríveis e poderosos, destinados a desafiar a ordem estabelecida.

O mundo se dividiu em dois grandes continentes. Em Elyndor, habitavam os humanos, forjando seus reinos e histórias. No outro continente, Vaeloria, moravam elfos, anões, gigantes e outras raças lendárias, cada qual recebendo bênçãos e desafios próprios dos deuses. Famílias nobres em cada país carregavam em seu sangue as marcas das divindades que os protegiam, herdeiros de poderes e responsabilidades ancestrais.

Neste cenário complexo, nasce um menino — Galen, filho de uma família nobre de Barityh, um reino nas terras humanas, onde se formam os futuros reis e guardiões do equilíbrio entre magia, força e sabedoria.

A noite estava envolta em silêncio e escuridão, quando, em um dos salões do castelo da família nobre, uma criança veio ao mundo. Galen nasceu com um choro firme e cheio de vida, mas foi o que aconteceu logo em seguida que deixou todos sem fôlego.

De repente, no céu estrelado, raios de sol rasgaram a escuridão, iluminando as nuvens com uma luz dourada e brilhante — algo que jamais fora visto antes naquela noite. Era como se o próprio céu celebrasse o nascimento daquele menino.

Os anciãos da família e os sacerdotes da corte logo se lembraram da antiga profecia, transmitida por gerações. No vigésimo ano do calendário, uma criança nasceria, abençoada com poder e inteligência incomuns. Essa criança seria um farol de esperança para o mundo, capaz de trazer prosperidade sem igual… ou, se o destino assim o decidisse, poderia se tornar uma força de destruição sem precedentes.

Todos olhavam para o pequeno Galen com misto de admiração e temor, conscientes de que o futuro daquele mundo poderia repousar sobre seus frágeis ombros.

O salão ficou em silêncio após o fenômeno no céu. O pai de Galen, um homem de postura firme e olhar calculista, encarou o filho recém-nascido com um misto de orgulho e apreensão. — Dizem os antigos que, no vigésimo ano, uma criança nascerá com o poder de mudar os rumos do mundo — murmurou ele, como se falasse mais para si do que para os presentes. A mãe de Galen, com um sorriso cansado, segurava o bebê nos braços, sentindo o calor da vida pulsando tão forte. — Pode ser bênção ou maldição — completou o sacerdote que acompanhava o parto, seus olhos brilhando com uma sabedoria antiga. — Não sabemos quem será essa criança, mas seu nascimento marcará um tempo de grandes mudanças. As palavras pairaram no ar, sem confirmação, mas com o peso da expectativa. Ninguém sabia ao certo se aquele menino nos braços da mãe seria o escolhido da profecia — ou se o destino reservaria seu papel para outro.

Assim, enquanto Galen dormia tranquilo, o futuro permanecia envolto em mistério e possibilidades infinitas.

A mãe apertou suavemente o pequeno nos braços, seu olhar firme e sereno.

— Não me importa se ele é a criança da profecia — disse ela, com voz doce, mas resoluta. — O que desejo mesmo é que ele seja saudável, que cresça feliz e que encontre seu próprio caminho. Todo o resto… o destino cuidará disso.

O pai lançou-lhe um olhar, como que ponderando as palavras da esposa, antes de voltar a encarar o bebê.

— Que assim seja — murmurou ele por fim, em tom baixo.

E naquela noite, entre raios de sol que ainda brilhavam no céu, um novo capítulo começava para Barityh, para Elyndor e para o próprio mundo.

Aos três anos, Galen já demonstrava que não era uma criança comum.

Na manhã em que tudo aconteceu, os jardins da ala leste estavam silenciosos, embalados apenas pelo som suave das folhas dançando ao vento. Galen brincava sozinho, descalço sobre a grama, enquanto seus olhos curiosos seguiam o voo de um bando de pássaros dourados. Seu rosto pequeno franzia em fascínio — havia algo ali que ele não compreendia, mas que o chamava, como se o ar ao redor estivesse... vivo.

Foi então que sentiu.

Uma leve vibração em seu peito, como se uma faísca brilhasse dentro de si. O mundo pareceu mais nítido. As árvores ao seu redor, o murmúrio da água da fonte, até o som do vento — tudo pulsava com uma energia invisível.

Sem saber, Galen havia tocado a mana pela primeira vez.

No instante seguinte, ao estender a mãozinha para o céu, imitando o bater de asas dos pássaros, uma descarga de luz atravessou as nuvens com um estalo violento. Um raio desceu do nada, rasgando o céu limpo e caindo direto sobre a antiga fonte de mármore no centro do jardim.

A explosão ressoou pelos corredores do castelo.

Quando os guardas e servos chegaram, encontraram Galen sentado na grama, ileso, olhando para a fonte destruída com a expressão tranquila de quem ainda não entendia o que havia feito.

Na varanda, oculto entre as colunas, seu pai observava em silêncio.

E pela primeira vez, temeu o que o filho poderia se tornar.

Após o incidente no jardim, não havia mais como negar: Galen era diferente. E perigoso.

Seu pai, mesmo tendo presenciado o raio com os próprios olhos, recusava-se a confiar apenas no acaso. No dia seguinte, mensageiros foram enviados para contratar os melhores instrutores de mana de Barityh, e entre eles, um Avaliador — uma figura especializada em medir potencial latente, usada geralmente para candidatos às ordens mágicas do reino.

Quando o Avaliador chegou, não encontrou uma criança selvagem ou descontrolada, mas um menino de olhar agudo, que mesmo com apenas três anos já carregava no rosto a sombra do orgulho.

Os testes começaram dias depois. Galen foi submetido a pequenos desafios, alguns físicos, outros mentais. Era claro que o garoto ainda não entendia por completo o que estava fazendo, mas sua resistência e raciocínio rápido já começavam a se destacar.

Por fim, veio a prova que o Avaliador usava para delimitar os limites físicos de crianças sem treino: erguer uma pedra de 25 quilos.

— Isso é só para ver até onde ele aguenta — disse o homem, lançando um olhar para os pais, que observavam de longe, ocultos entre as cortinas da sacada.

Galen aproximou-se da pedra com determinação nos olhos. Tentou erguê-la com ambas as mãos, e fracassou. De novo. E mais uma vez. Seus braços tremiam, seu rosto se contorcia de esforço.

Mas ele não desistiu.

Cada tentativa parecia mais intensa que a anterior, como se sua vontade estivesse sendo forjada ali, naquele exato momento. O suor escorria, as pernas vacilavam — e então, algo mudou.

Uma centelha explodiu dentro de seu corpo.

Não era mana.

Era diferente — mais denso, mais quente, mais bruto. Era aura.

Com um grito abafado, Galen firmou os pés no chão, segurou a pedra com uma mão só, e a levantou como se tivesse se tornado leve como um pedaço de madeira.

Por um breve instante, ele sentiu o corpo leve, os músculos pulsando com uma energia que não vinha do lado de fora, mas de dentro. Era como se os limites de seu corpo tivessem sido estilhaçados.

Os olhos do Avaliador se arregalaram.

— ...Ele já despertou a aura. Sem meditação. Sem condução. Apenas por esforço puro.

Os murmúrios se espalharam entre os instrutores. O pai de Galen, que até então mantinha uma postura rígida, finalmente apertou os punhos. E sua mãe, do alto da sacada, sorriu com orgulho silencioso.

Galen, ainda ofegante, olhou para a pedra e depois para a própria mão.

Sem entender, mas com uma certeza no peito: ele era diferente.

Naquele dia, não foi apenas uma fonte que se partiu.

Foi o silêncio do destino, rompido pelo grito de uma criança.

Foi a barreira entre o comum e o extraordinário, despedaçada por uma faísca de vontade.

Foi o nascimento de uma lenda que ainda nem sabia o próprio nome completo.

Enquanto o sol se punha sobre os jardins estilhaçados, Galen olhava para a palma da mão com curiosidade — sem medo, sem culpa. Apenas a certeza silenciosa de que algo dentro dele havia mudado para sempre.

E entre sussurros de sacerdotes, olhares calculistas de nobres e promessas que ainda não haviam sido feitas, o mundo começou a girar em torno de um garoto que, em breve, aprenderia a desafiar até os céus.

O herdeiro da luz e da ruína havia despertado.

O despertar do Orgulho

Galen tinha acabado de completar quatro anos quando o incidente no jardim dos aposentos reais deixou claro que ele não era uma criança comum. Seus pais, preocupados e ao mesmo tempo maravilhados, tinham contratado os melhores instrutores de mana e um avaliador renomado para medir suas capacidades.

Naquela manhã, o sol brilhava forte sobre Barityh, e o jovem Galen observava com olhos curiosos o instrutor preparar uma pedra de vinte e cinco quilos para um teste aparentemente simples: levantar o peso.

— Tente erguer esta pedra — ordenou o instrutor, com um sorriso confiante.

Galen, com o pequeno corpo tenso, agarrou a pedra. No começo, nada aconteceu. Mas à medida que a pressão aumentava, algo dentro dele despertou — uma força invisível, um poder que fazia o peso parecer leve como uma pena.

Com um esforço final, ele ergueu a pedra com um braço só, deixando o instrutor boquiaberto.

— Impressionante — murmurou o avaliador. — Você tem um poder raro, garoto. Mas lembre-se: força sem controle pode ser perigosa.

Galen olhou para a pedra, depois para sua mão, sentindo uma mistura de surpresa e orgulho.

— Eu sou diferente — pensou ele.

Galen passou os últimos dois anos imerso em treino. Sob a supervisão rigorosa dos instrutores, seu domínio sobre a mana avançava rapidamente, e ele já alcançava o patamar de adepto. Feitiços básicos já saíam de suas mãos com precisão, e o corpo — endurecido pelas artes marciais — aguentava horas de exaustão sem ceder.

O povo do território observava com esperança e admiração o jovem lorde. Angel, seu pai, e Sara, sua mãe, sentiam orgulho, mas também uma responsabilidade enorme sobre os ombros do filho. Galen ainda não carregava o orgulho que viria mais tarde, mas sua determinação já era visível em cada passo.

Num dia claro, o castelo babilônico de Barityh foi surpreendido pela chegada de um mensageiro impecavelmente vestido, escoltado por guardas reais. Sem demora, ele foi conduzido até Angel, entregando uma carta lacrada com o selo do rei.

Angel quebrou o lacre com um olhar sério e leu em voz alta:

— “Sua presença, junto de Lady Sara e do jovem Galen, é solicitada no castelo real de Barityh para a celebração do quinto aniversário do príncipe herdeiro. Sua participação é de grande importância para o reino.”

O silêncio que seguiu foi carregado de expectativa. Essa era uma oportunidade rara e valiosa, e a família sabia que o destino de Galen poderia começar a tomar um novo rumo a partir daquele convite.

Nos dias que antecederam a partida para o castelo real, o castelo babilônico fervilhava em atividade. Os servos trabalhavam intensamente para preparar roupas e armaduras impecáveis para Angel, Sara e o jovem Galen. Galen, embora ainda criança, foi envolvido em reuniões e apresentações sobre o protocolo da corte, enquanto seus instrutores reforçavam seu treino físico e mental, preparando-o para os desafios que viriam.

No primeiro dia da viagem, a caravana deixou as muralhas do castelo ao amanhecer, seguindo por estradas que cruzavam campos dourados e pequenas aldeias adormecidas sob o céu azul. O caminho era tranquilo, e os dias foram aproveitados para descanso, conversas e pequenos treinamentos.

No segundo dia de viagem, o sol brilhava suavemente entre as copas das árvores enquanto a caravana avançava por uma estrada de terra que serpenteava entre colinas e florestas densas. O ar era fresco, impregnado com o cheiro da terra úmida e do pinhal próximo. Passarinhos cantavam em sinfonia, e o murmúrio distante de um riacho se misturava com o som dos cascos dos cavalos.

De repente, o silêncio foi quebrado por um rugido gutural e o barulho de passos pesados. Dois orcs selvagens surgiram entre as árvores, olhos vermelhos brilhando com fúria, empunhando machados enferrujados.

A escolta real não hesitou. Com movimentos coordenados e precisos, os cavaleiros enfrentaram os invasores. Em poucos minutos, o combate terminou — os orcs caíram, e não houve baixas entre os guardas.

Galen, observando atento, sentiu um misto de excitação e determinação. Ainda jovem, mas curioso e ávido por aprender, estava ansioso pelo que viria a seguir.

Mais tarde naquele dia, ao chegarem a uma vila rústica, a comitiva enviou alguns cavaleiros ao ferreiro local para reparar suas armas e armaduras. Galen, curioso, insistiu em acompanhá-los.

O ferreiro, um homem robusto de mãos calejadas e olhar desconfiado, encarou o jovem lorde com certo desdém. “Você, um nobre? Melhor deixar essas coisas para os profissionais.”

Mas Galen não se deixou intimidar. “Quero aprender. Posso absorver os ensinamentos rapidamente.”

Relutante, o ferreiro decidiu dar uma chance. Mostrou a Galen técnicas básicas — o modo certo de aquecer o metal na forja, os golpes precisos com o martelo, e a importância da paciência na arte da forja.

Para surpresa do mestre, Galen aprendeu rápido, fazendo perguntas precisas e entendendo nuances que nem mesmo alguns aprendizes antigos compreendiam.

Na manhã seguinte, após um breve descanso, a caravana se preparou para partir. Mal sabiam eles que, assim que deixaram a vila para trás, um grupo de orcs aproveitou a ausência dos guardas para atacar, trazendo fogo e caos às casas e aos moradores.

Sem saber desse destino sombrio, Galen e sua família seguiram seu caminho, ansiosos pelo encontro no castelo real.

Depois de cinco dias de viagem, a caravana finalmente avistou ao longe as torres imponentes do castelo real de Barityh. Situado no topo de uma colina, o castelo parecia tocar o céu, suas muralhas douradas reluzindo sob a luz do sol poente. Estendia-se abaixo dele uma cidade vibrante, onde as bandeiras reais tremulavam orgulhosas e o burburinho de preparativos ecoava pelas ruas.

À medida que se aproximavam, os guardas da entrada principal abriram os portões com solenidade, saudando Angel, Sara e Galen com reverência. O caminho para o salão principal era adornado com tapetes vermelhos e flores frescas, anunciando a importância do evento.

Dentro do castelo, o ar estava carregado de expectativa e sutil competição. Nobres de diversos territórios e famílias haviam chegado para celebrar o quinto aniversário do príncipe herdeiro, trazendo consigo seus filhos e protegidos.

Galen observava cada rosto, cada gesto, atento às alianças e tensões que permeavam aquele ambiente. Entre os convidados, estavam jovens nobres de linhagens poderosas, alguns exibindo olhares desdenhosos ao notar o jovem lorde de Barityh.

Angel e Sara cumprimentaram os anfitriões com formalidade, enquanto Galen sentia o peso do olhar de todos sobre si. Naquele momento, ele sabia que estava em um novo palco — um lugar onde seu valor seria testado não apenas por seus poderes, mas também por sua vontade e orgulho.

A celebração estava prestes a começar, e o destino de Galen começava a se desenhar sob os olhos atentos da corte real.

O salão principal estava repleto de luzes douradas e vozes animadas, enquanto nobres e convidados se misturavam entre taças e conversas. No centro da festa, o príncipe herdeiro de Barityh fazia sua entrada triunfal. Alto, de porte imponente e expressão altiva, ele parecia o próprio sol da corte, irradiando uma arrogância quase palpável.

Ao avistar Galen, o príncipe ergueu uma sobrancelha com desprezo e murmurou para seus acompanhantes:

— Olhem só, um jovem lorde qualquer do meio da nobreza. Que ameaça poderia ele ser? Não quero que essa festa se transforme num desfile de futuros perdedores.

Galen, sentindo os olhares se voltarem para ele, manteve a postura firme, os olhos fixos no príncipe.

O príncipe aproximou-se com passos largos, sua voz cortante:

— Dizem que aqui está a criança da profecia, não é? Aquela que pode mudar o destino do reino. Mas... e se essa profecia não passar de conversa fiada? E se o poder que dizem possuir for apenas imaginação?

A multidão silenciou, esperando pela reação do jovem lorde.

Galen, com o orgulho aceso e sem hesitar, respondeu:

— Prefiro que duvidem do meu poder do que que subestimem minha determinação. Não é uma questão de nascer com destino, mas de forjar meu próprio caminho.

O príncipe riu, um som cheio de escárnio.

— Palavras ousadas para alguém que ainda não provou nada. Lembre-se, menino, no fim, o trono pertence aos mais fortes — e eu não pretendo perder para ninguém.

Com um gesto, o príncipe afastou-se, deixando no ar um desafio explícito. Galen sentiu a tensão crescer dentro de si, uma mistura de fúria e determinação, mas também uma semente de orgulho que começava a germinar.

Naquele momento, no brilho do salão e sob os olhos atentos de todos, uma rivalidade que poderia mudar os rumos do reino começava a tomar forma.

Ainda reverberavam no salão as palavras do príncipe quando um jovem herdeiro, alto e com expressão arrogante, se aproximou de Galen. Ele era Tage, filho do visconde local, conhecido por sua língua afiada e orgulho exagerado.

Com um sorriso cruel, Tage jogou um pouco de vinho na roupa de Galen, que estava ao seu lado.

— Olha só, o “grande” herdeiro não sabe nem se proteger da sujeira — zombou Tage, puxando um lenço e se preparando para um desafio. — Já que está molhado, que tal um duelo? Quero ver se você é tudo isso que dizem.

As risadas ecoaram pelo salão, e os nobres ali presentes começaram a se aglomerar ao redor, curiosos para ver o confronto.

Galen, indiferente à provocação, limpou a roupa com um gesto tranquilo, e respondeu com firmeza:

— Vou aceitar seu desafio, Tage. Mas só vou usar meus punhos.

O murmurinho se espalhou, pois Tage empunhava uma espada, e apostar na força bruta contra a lâmina parecia loucura.

O duelo começou. Tage investiu com golpes rápidos e cortantes, mas Galen se esquivava com uma graça e precisão surpreendentes. Cada ataque falhado deixava Tage mais frustrado e Galen mais confiante.

Com um sorriso que crescia a cada movimento, Galen contra-atacava com golpes precisos, derrubando Tage sem esforço. A cada impacto, o jovem lorde ria, o som ecoando pelo salão:

— Você é fraco demais para um nobre! — zombava Galen, dando um passo para trás enquanto Tage tentava se recompor no chão.

Com a vitória clara, Galen se ergueu, rindo alto e olhando para os nobres ao redor:

— Isso é tudo o que os nobres mais altos são capazes de fazer? — disse, com um brilho desafiador nos olhos. — Talvez seja melhor que eu tenha o título de rei.

O silêncio tomou conta do salão, quebrado apenas pelos cochichos chocados e pelo olhar furioso de Tage, que ainda se levantava lentamente.

Naquele instante, o orgulho de Galen começava a se forjar na chama do desafio, e sua reputação ganhava um novo capítulo — um capítulo que não passaria despercebido.

Após a vitória sobre Tage, um burburinho tomou conta do salão. Vários jovens nobres, famosos por suas habilidades de combate, aproximaram-se, desafiando Galen na tentativa de provar seu próprio valor — ou talvez de restaurar o prestígio ferido do grupo.

Mas um a um, foram derrotados com facilidade. Galen se movia com uma agilidade e força que deixavam todos atônitos, seus golpes precisos e eficazes. E, a cada oponente que caía diante dele, um sorriso satisfeito se espalhava pelo rosto do jovem lorde.

— Fracos demais — murmurava para si mesmo, o orgulho crescendo com cada combate. — Nenhum deles está à minha altura.

Finalmente, os pais de Galen, Angel e Sara, chamaram o filho para que a família se preparasse para partir.

— Galen, lembre-se do que te ensinamos — disse Sara, com uma expressão séria. — Orgulho demais pode ser uma armadilha. Humildade também é força.

Angel acrescentou:

— O caminho para a liderança não é só força, mas sabedoria e respeito.

Galen ouviu o sermão, mas sua mente estava longe dali. Observava os jovens nobres que tinha enfrentado, seus rostos e posturas.

— Esses são meus futuros rivais — pensou ele, com um brilho de confiança inabalável. — Fracos, todos eles. Apenas eu mereço o título de rei. Não há ninguém que possa me deter.

Enquanto a família se afastava do salão real, Galen sentia dentro de si a semente do orgulho e da determinação crescerem — sinais de que sua jornada seria marcada por desafios, mas também por uma ambição que não caberia em nenhum reino.

Espelhos e Máscaras

2 anos haviam se passado desde a visita ao castelo real de Barityh.

A viagem de volta fora silenciosa, marcada mais pelas reflexões de Galen do que pelas paisagens que cruzaram. Desde o incidente com os nobres, uma nova chama havia se acendido em seu peito — ardente, orgulhosa, insaciável.

Nos campos de treino, Galen era uma tempestade de precisão.

Seus instrutores, antes mestres de prestígio, agora eram apenas degraus em sua escalada. Ele absorvia técnicas como se estivesse destinado a elas. Quando lutava, ria. Quando caía, levantava com fúria. Quando vencia — e ele sempre vencia — deixava claro que não se contentava com menos do que o topo.

Dentro do castelo, o ambiente também havia mudado.

Os servos já não conversavam com ele como antes. Havia admiração, sim, mas também receio. Os olhos que o observavam não sabiam se viam um herói ou um rei antes da coroa.

Numa manhã cinzenta, com nuvens preguiçosas cobrindo o céu, uma carruagem ornamentada parou diante dos portões do castelo. Dela desceu um mensageiro trajado em dourado e azul — as cores reais de Barityh.

Angel, o pai de Galen, leu a carta com o cenho franzido.

— Haverá um encontro de herdeiros — disse, a voz pesada. — Uma convocação para um ciclo de treinamento intensivo. Um programa de formação antes da academia real.

— Reunir os que disputarão o trono…? — murmurou Sara, com apreensão.

— Exatamente. Eles desejam observar o talento, moldar alianças… e medir ameaças.

Galen, sentado à sombra de uma das colunas do salão, ergueu os olhos lentamente.

— Então vão me colocar no meio de mais crianças mimadas? — disse com desdém. — Perfeito. Posso esmagar as ilusões deles antes mesmo da academia.

Angel o encarou, mas não disse nada. Apenas fechou a carta.

Dois dias depois, Galen partiu. A comitiva era menor desta vez, composta por soldados de confiança e dois servos. O destino era o Território de Vareth, uma região neutra no coração dos reinos nobres — palco escolhido para o programa de elite.

A viagem seguiu tranquila. Galen mal falava, concentrado em seus próprios pensamentos.

“Se nem os nobres reais puderam me enfrentar… que tipo de ‘rivais’ me aguardam agora?”

“Talvez... algo finalmente interessante.”

Ao chegar, foram recebidos por um grande portão de pedra com entalhes arcanos, guardado por cavaleiros em armaduras negras com detalhes púrpura. No pátio central, jovens herdeiros de todo o continente já estavam reunidos, trocando cumprimentos formais ou medindo forças com olhares disfarçados.

Mas um, em especial, chamou a atenção de Galen.

Um rapaz de cabelos escuros e curtos, com uma postura estranhamente precisa. Seus olhos eram frios, calculistas, e sua aura — embora controlada — transbordava de disciplina.

Ele não buscava atenção. Nem olhares. E talvez por isso… tivesse toda a atenção de Galen.

— Quem é aquele? — perguntou Galen a um dos servos.

— Arthur Varesth, senhor. Herdeiro de uma família do norte. Discreto, mas dizem que derrotou um mago veterano com apenas 10 anos.

Galen arqueou uma sobrancelha, com um leve sorriso.

— Interessante.

Galen então se aproximou com um sorriso, decidido a provocar um pouco.

— Você é Arthur, não é? Ouvi dizer que derrotou um mago veterano quando tinha só 10 anos. Impressionante para alguém que mal conheço.

Arthur ergueu o queixo, encarando Galen sem se intimidar.

— E você deve ser Galen. Também ouvi falar de você — respondeu com voz calma. — Parece que ambos temos reputação, mas reputação não ganha batalhas.

Galen riu, cruzando os braços.

— É verdade. Então que tal provar quem realmente merece respeito? Não com palavras, mas com ação.

Arthur sorriu de leve, um brilho competitivo no olhar.

— Aceito o desafio. Vamos ver se suas habilidades são tão grandes quanto sua arrogância.

Ambos se prepararam, atraindo os olhares curiosos dos demais jovens nobres. O duelo não seria só um teste de força, mas o início de uma rivalidade que marcaria seus destinos.

Galen e Arthur seguiram em silêncio até o campo de treinamento, um espaço amplo e isolado nos fundos do castelo de Vareth. O chão era firme, coberto por terra batida, perfeito para lutas intensas e sem restrições. Muralhas baixas cercavam a área, garantindo que poucos poderiam interferir ou assistir sem permissão.

No campo de treinamento, os jovens herdeiros se reuniram em círculo, ansiosos para assistir ao duelo entre Galen e Arthur. As tochas penduradas lançavam uma luz bruxuleante sobre o solo marcado pelas batalhas anteriores.

Arthur sacou sua espada longa, grossa e brilhante, e anunciou com voz firme:

— Sou Arthur Varesth, herdeiro do território do Norte. Venho mostrar a força da minha família.

Galen sorriu, desembainhando suas próprias palavras com orgulho.

— Eu sou Galen Angel, futuro líder do território de Barityh. Vamos ver quem realmente merece essa honra.

O duelo começou com Arthur avançando rapidamente, sua espada cortando o ar com precisão mortal. Galen, ágil, invocou lâminas de pedra que surgiram do chão como estacas afiadas, tentando impedir o avanço do adversário. Arthur saltou com maestria por cima das lâminas, preparando um golpe descendente.

No último instante, Galen conjurou uma magia de luz, disparando um brilho intenso direto nos olhos de Arthur, que vacilou, errando o ataque. Aproveitando a brecha, Galen lançou um soco poderoso na barriga de Arthur, arremessando-o para trás. Antes do impacto, Arthur cravou a espada no chão para amortecer a queda.

Galen, sem hesitar, disparou várias bolas de fogo, mas Arthur as repeliu facilmente, envolto em uma aura invisível que absorvia os golpes.

Arthur então recuperou-se com um olhar determinado e avançou de forma mais calculada, dominando o combate com ataques precisos e rápidas esquivas.

Galen começou a criar espadas com as mãos, ora feitas de pedra, ora de gelo, usando-as tanto para ataque quanto para defesa. Cada vez que uma espada se partia, ele rapidamente conjurava outra, tentando acompanhar o ritmo feroz de Arthur.

Arthur, percebendo que a luta com a espada não lhe dava a vantagem desejada contra os ataques mágicos de Galen, deu um passo atrás. Com um gesto firme, deslizou a espada para dentro da bainha.

— A espada não basta para vencer você, Galen — declarou, seus olhos brilhando com intensidade. — Agora, vou mostrar a verdadeira força da minha aura.

A aura ao redor de Arthur começou a pulsar, crescendo em intensidade e brilho. Seus movimentos ficaram mais rápidos e poderosos, como se cada passo e golpe fossem impulsionados por uma força invisível, esmagadora.

Galen, vendo isso, recuou para uma postura mais defensiva, tentando analisar e aprender os movimentos e técnicas que Arthur usava com a aura.

A batalha seguiu intensa, Arthur forçando Galen a usar uma variedade maior de magias e golpes corpo a corpo para se defender. Galen tentava imitar os movimentos de Arthur, mas a fluidez e o domínio da aura pelo adversário eram impressionantes.

Galen, concentrado, manteve-se na defensiva enquanto Arthur atacava com golpes potentes, cada movimento envolto naquela aura pulsante e letal. A cada investida, Galen tentava copiar os passos e técnicas de Arthur, focando no ritmo, na força e na forma com que ele manipulava sua aura.

Quando Arthur investiu com um chute giratório, Galen bloqueou com uma espada feita de gelo, que imediatamente se partiu ao impacto. Sem perder tempo, ele conjurou outra, agora feita de pedra, que usou para desviar um soco carregado.

A cada espada que se quebrava, Galen criava outra, tentando acompanhar a velocidade implacável de Arthur. Com um sorriso concentrado, ele lançava feitiços variados: rajadas de vento para desequilibrar, lâminas de gelo lançadas com precisão, até mesmo pequenas explosões de terra para dificultar os passos do adversário.

Arthur reagia a tudo, sua aura brilhando intensamente, neutralizando os ataques e contra-atacando com golpes de corpo a corpo que testavam os limites de Galen.

O confronto tornou-se um balé violento de espadas de gelo e pedra, magias elementares e socos potentes. Galen, mesmo na defensiva, absorvia cada detalhe, sua mente rápida buscando padrões, fraquezas e aberturas.

Por fim, Arthur lançou uma sequência de golpes velozes, forçando Galen a recuar até o limite. Um soco direto atingiu o ombro de Galen, que sentiu a força da aura pulsante no impacto, mas ainda resistiu firme.

Com um movimento ágil, Galen conjurou uma espada de pedra gigantesca, pesada e afiada. Ele a brandiu com força, tentando criar uma barreira definitiva.

Arthur desviou com um salto, desaparecendo momentaneamente em meio a uma névoa tênue, sua aura vibrando como um trovão prestes a explodir.

Quando reapareceu, Arthur lançou uma investida final, uma explosão de aura pura que empurrou Galen para trás com força. A espada de Galen quebrou-se no impacto, mas ele não caiu. Manteve-se firme, o olhar fixo e desafiador.

— Você é forte — admitiu Galen, o orgulho evidente na voz, — mas eu não vou me ajoelhar diante de ninguém.

Arthur parou, surpreso com a resistência e a determinação do jovem.

— Parece que teremos muitos encontros pela frente — disse, sorrindo levemente, enquanto estendia a mão.

Galen respondeu ao gesto, firme e altivo.

— Sem dúvidas. Este é apenas o começo.

O duelo terminou sem um vencedor claro, mas ambos sabiam que haviam encontrado um rival à altura.

Os outros jovens nobres, impressionados, aplaudiram o confronto — não por um vencedor, mas pelo respeito e poder demonstrados.

A rivalidade entre Galen e Arthur estava apenas começando.

O silêncio tomou conta do campo de treinamento quando os dois jovens herdeiros recuaram, exaustos, deixando a luta terminar em empate. Os olhares atentos dos nobres e soldados se misturavam entre surpresa e respeito.

— Impressionante — murmurou um dos instrutores. — Nunca vi Galen enfrentar um rival à altura assim.

Os pais de Galen, Angel e Sara, trocaram olhares preocupados, mas orgulhosos. Angel aproximou-se do filho, a voz firme, porém carregada de conselho:

— Galen, essa luta mostrou que ainda há muito a aprender. Arthur não é um inimigo qualquer. Você precisa se preparar para o que virá no torneio.

Galen, com o peito arfando, sorriu de canto, o orgulho evidente em seus olhos.

— Ainda não perdi — pensou ele. — Mas finalmente encontrei alguém que pode me fazer crescer.

Enquanto a comitiva se preparava para seguir viagem rumo ao local do torneio, Galen sentia uma mistura de ansiedade e excitação. A batalha com Arthur fora apenas o começo de um desafio maior — um teste que definiria seu destino e seu caminho para o trono.

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