LIVROS DA FAMÍLIA CASTELLI:
Livro 1 - Legado de Uma Noite
Livro 2 - Castelli
Livro 3 - Émile Castelli
Livro 4 - Castelli: O Último Jogo
Livro 5 - Castelli: Os Pecados que Herdamos
AVISO:
Este livro é sobre máfia, contém cenas explícitas de violência, sexo, linguagem imprópria e temas sensíveis. É uma história intensa, crua e sem censuras, onde o perigo e a paixão caminham lado a lado.
Se você gosta de um romance intenso, repleto de tensão, desejo e caos… então, seja bem-vindo.
Leia por sua conta e risco.
Ele estava sem camisa.
O som da tempestade engolia o mundo lá fora, e mesmo assim, tudo que eu ouvia era o sangue pulsando nos meus ouvidos.
A chuva encharcou tudo, até minha sanidade.
Nem sabia que Noah tinha tatuagens.
Ele não tinha... até agora.
O tecido grudento deslizou por seus ombros largos enquanto ele puxava a camisa molhada para fora do corpo.
Os cabelos ruivos pingavam. A água escorria pela pele como um toque que eu invejei.
Meus pés se moveram antes da razão.
Me aproximei.
Toquei suas costas.
Os dedos deslizaram pelos traços escuros, recém-tatuados. Linhas misteriosas. Rudes. Belas. Marcadas por dor e silêncio.
Ele virou lentamente.
E aquele olhar…
Aquele maldito olhar me rasgou inteira.
Era fome. Era tormento. Era desejo represado e à beira de romper.
Meu olhar caiu para o peito dele. O ar me faltou.
— Você… tatuou esses números...
Engoli em seco, o coração se partindo com cada batida.
— Isso não são só números...
Meu dedo tremeu ao contornar a pele marcada.
— É uma data…
Ergui os olhos para os dele, ofegante.
— A data do meu aniversário, a data do nosso primeiro beijo... Por quê, Noah?
Mas eu já sabia.
A resposta estava na maneira como ele me olhava. Como se me quisesse mais do que conseguia suportar.
Foi então que vi.
Ali, entre as marcas e sombras, uma pequena frase gravada.
Meu coração quase parou.
— Essa frase...
Minha voz saiu embargada.
— É do meu livro favorito…
Pousei a mão sobre o peito dele, sentindo o calor. A respiração dele ficou irregular.
— "Ele tentou não olhar para ela, como se fosse o sol, mas, como o sol, ela estava lá, impressa até mesmo no escuro.” — Murmurei a citação, como um sussurro de guerra.
Ele ainda não dizia nada.
Só me fitava com aquela intensidade absurda, como se me despisse com o olhar e ao mesmo tempo me protegesse do mundo.
— Até quando, Noah? — minha voz finalmente rompeu, rouca, ferida. — Até quando você vai esconder o que sente? Vai continuar fingindo que não queima por dentro?
Ele desviou o olhar, deu um passo para trás.
Aquilo me feriu mais do que qualquer palavra.
— Me responde, droga! — rosnei, o peito arfando — Até quando você vai fingir que não sente? Que isso aqui não significa nada?
Ele continuava fugindo.
Como sempre fazia.
— Sabe o que eu acho? — avancei até ele, com o coração em chamas — Que você é um covarde. Um maldito covarde.
— Minha voz saiu cortante. — Você foge de nós. Foge de tudo que sente.
— Meu olhar cravou no dele, desafiador. — Você é o homem mais covarde que eu já conheci, Noah.
Ele parou.
O silêncio era cortante.
A tensão entre nós, elétrica.
De repente, ele se virou com fúria crua nos olhos.
Avançou até mim, o peito subindo e descendo com violência.
Me empurrou contra a parede sem tocar. Só sua presença me esmagava.
Seu rosto a centímetros do meu. Seu cheiro, sua respiração quente… Tudo nele me consumia.
— Quer que eu diga, Bella? — a voz dele saiu rouca, grave, arrastada pela dor e desejo — Quer que eu grite o que sinto, é isso?
O mundo parou.
— Eu sou louco por você. Obcecado. Possuído. Viciado em cada maldito pedaço seu. — Seu maxilar trincava. — E isso me mata. — Ele passou a mão pelos cabelos molhados. — Eu te amo, droga. E odeio cada segundo por isso. — A voz dele tremeu. — Porque cada vez que te vejo, eu quero te beijar até não saber mais meu nome. Quero você inteira. Debaixo de mim. Gritando por mim. Mas não posso, não agora. E você sabe por quê...
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ALGUM TEMPO ANTES...
Aquele sábado parecia ter acordado de mau humor. O sol brilhava demais, o barulho dentro da mansão Castelli era insuportável, e cada canto da casa pulsava com vozes, preparativos e passos apressados. Era o dia do meu aniversário de dezessete anos, mas, sinceramente, não parecia meu.
Eu sou Bella Castelli.
Filha de Louis Castelli, o temido chefe da máfia de Nova York, o homem que carrega o sobrenome mais respeitado, e temido, de toda a França e dos Estados Unidos. Cresci cercada por luxo, regras silenciosas, olhares que diziam tudo sem dizer nada. Uma princesa dentro de um castelo de ouro manchado de sangue.
— Bella! — a voz da minha mãe ecoou pelo segundo andar com a urgência de quem tenta controlar o caos. — Você está atrasada para o cabeleireiro! Eles estão te esperando há quase uma hora! Onde você estava, pelo amor de Deus?
Parei no topo da escada, os olhos encontrando os dela. Minha mãe estava mais animada do que eu. Seus olhos brilhavam como se ela mesma fosse a aniversariante. O vestido justo realçava sua elegância inata e seu cabelo impecável mostrava que ela havia acordado cedo para esse momento.
Eu, por outro lado, estava distante. Meu corpo estava ali, mas minha mente… estava presa em outro lugar. Em outra pessoa. Alguém que sequer se deu ao trabalho de me mandar uma mensagem de feliz aniversário.
— Bella, estou falando com você! — a voz da minha mãe se impôs novamente, agora mais séria.
— Ah… me desculpa, mãe. Eu… eu estava com a Harper. Perdemos a noção do tempo — respondi, me esforçando para soar convincente.
Ela caminhou até mim, seu olhar suavizado por uma preocupação que ela tentava disfarçar. Tocou meu rosto com delicadeza, e por um instante vi minha imagem refletida nela, o mesmo tom de loiro nos cabelos, os mesmos olhos marcantes, o mesmo ar de nobreza misturado à força.
— Filha… você está mesmo bem? Ultimamente tem estado tão… distante. Seus olhos estão tristes, Bella. Eu te conheço.
— Estou sim, mãe — menti com um sorriso forçado. — São só as coisas da faculdade, você sabe... tudo está mudando, essa semana vou começar... É só isso.
Ela não respondeu. Mas eu sabia. Ela pressentia que ia além disso, desconfiava, mas não forçava. Preferia respeitar meu silêncio.
— Tudo bem… vamos, meu bem. Você precisa estar deslumbrante esta noite. Será uma celebração memorável — disse ela, sorrindo com ternura.
Retribuí com um sorriso de canto, mas por dentro, eu estava tensa.
As horas seguintes foram uma prisão de maquiagens, vestidos, joias e opiniões. Tudo precisava estar impecável. Era o mínimo esperado de uma Castelli. Quando a noite finalmente chegou, eu já estava pronta. Vestia um modelo exclusivo, feito sob medida, desenhado por um estilista italiano que devotava sua carreira à nossa família. Meus cabelos estavam presos com delicadeza, e eu usava a pulseira que Noah, meu primo, me deu aos quinze anos.
A porta se abriu suavemente. Eu estava ajustando o fecho da pulseira.
— Chérie, puis-je entrer (Querida, posso entrar)? — a voz do meu pai ecoou como uma melodia antiga.
Me virei devagar. Louis Castelli estava parado ali, vestindo um terno preto perfeitamente alinhado, os cabelos loiros penteados para trás, o ar severo suavizado por um orgulho quase comovente nos olhos.
— Claro, pai — murmurei, tentando disfarçar a emoção.
Ele caminhou até mim e parou por um instante, me analisando como se quisesse eternizar aquela imagem.
— Tu es magnifique, ma petite (Você é linda, minha pequena). Radiante... como a sua mãe no dia do nosso casamento. — Disse ele, sua voz rouca e carregada do sotaque francês que o acompanhava desde sempre.
Sorri, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. Ele me puxou para um abraço apertado, e por um momento, senti segurança.
Meu pai podia ser cruel, impiedoso, capaz de eliminar uma cidade inteira se necessário. Mas comigo… ele era só um pai. Protetor. Ciumento. Obsessivamente atento a cada passo meu. Mais do que com meu irmão mais novo Arthur, sem dúvidas.
— Vamos? — disse ele, estendendo o braço com aquele charme elegante de sempre.
Aceitei, entrelaçando o meu no dele. Caminhamos pelo corredor em direção ao salão reservado da mansão. A música clássica preenchia o ambiente, e convidados já se agrupavam em pequenos círculos, taças em mãos, sorrisos calculados.
A família de Damián Castelli, primo do meu pai, veio até mim. Sophie estava deslumbrante em um vestido dourado, enquanto Damián mantinha sua postura aristocrática. O filho deles, Tomás, me olhava com um sorriso genuíno.
— Bella, parabéns, querida! — disse Sophie, me abraçando com entusiasmo.
— Obrigada, Sophie. Você está maravilhosa — retribuí com delicadeza.
— Petit, que este novo ano lhe traga tudo o que o seu coração deseja. — Disse Damián, me puxando para um abraço acolhedor. — Você é uma estrela nesta família.
— Obrigada, Damián. De verdade — murmurei, tocada pelo carinho dele.
— Para você, Bella — disse Tomás, me estendendo uma pequena caixa envolta em fita de cetim.
— Obrigada, Tomás. — Sorri e então, sem conseguir me conter, perguntei:
— E… onde está o Noah? Ele… ele não veio com vocês?
Sophie hesitou. Seus olhos buscaram os de Damián por um segundo.
— Ele… teve um evento com alguns amigos — disse ela com um sorriso desconfortável. — Não sabemos se ele virá, querida. Mas… ele deve passar por aqui mais tarde, talvez.
As palavras entraram em mim como um soco. Forcei um sorriso.
— É... eu entendo — menti.
Meu pai apareceu com uma taça de vinho na mão.
— Damián, você precisa provar isso. Uma novidade da nossa vinícola. C’est exceptionnel (É excepcional). — Disse, estendendo a taça ao primo. Eles começaram a conversar sobre uvas, safras, aromas e exportações, e aproveitei o momento para sair de fininho.
Minha mãe recebia os convidados com sorrisos, meu pai conversava com os amigos e o primo Damián. E eu? Eu estava encostada na janela, celular na mão, rolando as redes sociais como quem tenta provar algo para si mesmo. Onde ele estava? O que poderia ser mais importante do que estar aqui?
Abri o Instagram e vi: stories do melhor amigo dele. Eles estavam em uma festa, cervejas na mesa, música alta demais, mulheres rindo ao redor. Postado duas horas atrás. Então era isso. Do outro lado da cidade, aquilo valia mais.
Somos solteiros, claro. Afinal, ele era só meu primo de segundo grau... Só o cara que cresceu comigo, que me entendia sem palavras, que um dia olhou pra mim e fez meu coração acelerar como se fôssemos mais do que isso. Houve um tempo em que jurei ver a mesma chama nos olhos dele, mas faz dois anos que ele começou a se afastar. As mensagens rarearam, os encontros viraram lembranças. Talvez eu tenha inventado tudo. Talvez ele nunca tenha sentido o mesmo que eu, ou talvez, apenas talvez, ele tenha sentido o mesmo, e justamente por isso decidiu Se afastar.
Fechei o celular. A festa continuava, mas eu já não ouvia a música.
Fechei o celular. A festa continuava ao meu redor, as luzes pulsavam em sintonia com a música, mas tudo pareceu entrar em silêncio. Meu peito parecia apertado demais para conter meus próprios pensamentos.
— Bella! — a voz de Harper me atingiu como um raio.
Ela surgiu sorridente ao lado de Zane, os dois com copos nas mãos e olhares vibrantes. Harper, minha melhor amiga, desde que me entendo por gente, usava um vestido azul sofisticado. Já Zane, sempre charmoso, trajava um terno escuro com a gravata folgada, como se já tivesse dançado a noite inteira.
— Finalmente, a rainha da noite! — disse Harper, me puxando para um abraço apertado. O cheiro do seu perfume floral me envolveu, quase me fazendo esquecer do torpor que me dominava.
Disfarcei o nó na garganta, e esbocei um sorriso.
— Parabéns, Bel. — Disse Zane, me abraçando com firmeza. Sua voz estava carregada de sinceridade. — Você tá incrível.
— Que bom que vocês estão aqui. — Murmurei, a voz baixa, mas tentando soar convincente. — Eu precisava disso… de vocês.
Harper estreitou os olhos e segurou meu braço com delicadeza, mas firmeza o bastante pra que eu não fugisse.
— É impressão minha ou minha melhor amiga tá com cara de funeral em pleno aniversário? — disse ela, com aquele tom que só ela sabia usar: entre a provocação e a preocupação.
— Eu só… tô com uma dorzinha de cabeça, nada demais. — Menti, desviando o olhar.
Harper arqueou uma sobrancelha, cética.
— Nada disso, senhorita Castelli. Eu e Zane vamos garantir que essa noite fique gravada na sua memória. Não aceito menos do que isso.
Ela me puxou pelo braço com um sorriso travesso.
— Vamos, Zane. Chega de drama, vamos mostrar pra essa pista o que é dançar com estilo.
Zane deu uma risadinha e nos acompanhou. E então fomos. A música vibrava como um segundo coração dentro do peito. As luzes rodavam acima de nós, dançando como constelações elétricas. O DJ soltou uma batida poderosa, e nos deixamos levar por ela.
— Uuuh, isso aí! Solta esse quadril, Bella! — Harper gritava, rindo enquanto dançava.
Eu ri também. Era impossível não se contagiar com a energia dela. Harper era a alegria em pessoa.
O tempo passou e, ofegantes da dança, nos sentamos num lounge afastado, com luz baixa e sofás de couro preto. Harper jogou os cabelos para trás, suando como se tivesse corrido uma maratona.
— Bella… aquele seu primo, Tomás… meu Deus do céu. Aquilo é um pecado com pernas. — Ela disse, com um olhar de quem estava prestes a cometer uma loucura.
Soltei uma risadinha abafada.
— O Tomás? Ah, ele tem lá seus momentos… mas calma, Harper, não exagera. Ele é só… o Tomás.
— Só o Tomás? Garota, com aquele olhar, aquele sorriso torto, aquela maldita covinha… Credo! Isso devia ser ilegal!
— Você é uma vadia descontrolada, sabia? — provoquei, rindo.
— Com orgulho, minha rainha. — Ela piscou.
Mas então ela lançou a pergunta. Aquela maldita pergunta.
— E o Noah? — perguntou, quase sussurrando, mas o nome dele cortou meu humor como uma faca.
Na mesma hora, parei de beber o meu refrigerante. Coloquei o copo na mesa e cruzei os braços, tentando não deixar a emoção transparecer.
— Eu não sei. — Falei, seca. — E, sinceramente, Harper… eu também não quero mais saber.
Ela arregalou os olhos, surpresa com o tom firme.
— Uau… tá bom então. Nada de Noah. Entendido. — Respondeu, mais contida.
E ficamos ali. Conversando sobre nada e tentando fingir que tudo era normal. Fingindo que meu mundo não estava desmoronando por dentro.
As horas passaram. Chegou o momento do parabéns. Todos se reuniram ao redor do bolo, que mais parecia uma escultura, com cinco andares e flores de açúcar tão reais que pareciam recém-colhidas.
Eu me coloquei em frente ao bolo, os flashes explodindo, as vozes gritando meu nome, o coro começando.
— Parabéns pra você…
A voz dos convidados ecoava como uma melodia distante.
— Nesta data querida…
Meus olhos percorriam os rostos, cada um deles feliz, sorridente, celebrando comigo.
Eu sorri, baixei o olhar para o bolo, fechei os olhos e fiz um pedido silencioso.
Soprei as velas com força, prolongando mais do que deveria.
Mas quando abri os olhos…
Ele estava lá.
Parado no fundo do salão.
Entre as sombras.
Atrás dos convidados.
No limite entre a luz e o escuro.
Os olhos dele cravados nos meus.
Um arrepio percorreu minha espinha.
Noah.
Meu coração deu um salto brutal, como se tentasse pular para fora do meu peito.
Noah.
Meu coração deu um salto brutal, como se tentasse pular para fora do meu peito.
Os flashes ainda estouravam, os sorrisos ao redor continuavam a brilhar, mas tudo ficou desfocado quando os olhos dele encontraram os meus. Era como se só existisse ele. Alto, envolto por uma aura de sombra e mistério, com aquela jaqueta de couro escura que moldava seu corpo como se tivesse sido feita sob medida. Os cabelos ruivos desalinhados, o maxilar trincado, o olhar… Deus, aquele olhar. Intenso. Penetrante. Mortal.
Ele não sorriu. Apenas me observou. E isso bastou para fazer minhas pernas ameaçarem ceder.
— Parabéns, ma fille. — A voz do meu pai me puxou de volta à realidade, forte e segura. Ele me envolveu num abraço apertado, me protegendo do caos que se instalava dentro de mim. — Que você brilhe mais do que qualquer estrela que já vi, e que o mundo te conheça por tudo o que é… e tudo o que será. — Disse, beijando o topo da minha cabeça com carinho.
Minha mãe, sempre elegante, apareceu logo em seguida.
— Meu tesouro… — sussurrou, com os olhos marejados. — Que sua luz nunca se apague. Que o mundo jamais te diminua. Parabéns, meu amor. — Ela me beijou na bochecha com um afeto que quase me desmanchou.
Meu tio, Gabriel Salazar, surgiu logo atrás, com um copo de uísque na mão e um sorriso genuíno nos lábios.
— Minha sobrinha linda, minha herdeira de fogo… — disse ele, erguendo o copo em minha direção. — Se alguém tiver coragem de partir esse seu coração, juro que dou um jeito… à moda antiga. — Piscou e me puxou para um abraço forte.
— Tio, obrigada… — sussurrei contra seu ombro. Ele era minha rocha, minha ponte segura entre o mundo e meus próprios abismos. — Você sempre sabe o que dizer.
Nos abraçamos e, um a um, os convidados vinham me felicitar. Sorrisos. Brindes. Beijos. Mas meu olhar teimava em procurar por ele.
Noah.
Ele estava ali. Conversando com Tomás, seu irmão mais novo. Os dois pareciam relaxados, mas eu sentia o calor do olhar dele como um raio de sol em plena tempestade. Nem precisava me encarar diretamente, meu corpo já sabia quando ele estava por perto. E doía. Queimava.
...----------------...
O tempo passou arrastado. Fui para o jardim com Harper e Zane. O ar noturno trazia um frescor que aliviava a tensão.
— E pensar que semana que vem a gente já vai estar na faculdade e separados… — murmurou Harper, com um suspiro triste. Ela jogou o cabelo para trás e tomou um gole do refrigerante. — E que eu não vou ter vocês dois para enlouquecer minhas manhãs.
— Vou sentir falta de você nas aulas, sua maluca dramática — disse, forçando um sorriso. — Quem mais vai me passar cola e arrumar confusão com o professor de física? Nem sei como vou sobreviver sem o caos de vocês dois — completei, tentando manter o tom leve.
Zane riu e nos abraçou, os três fingindo um momento de despedida como em um filme de drama barato.
Ficamos assim por um momento.
E então, quando ergui os olhos, quase deixei meu copo cair.
Lá estava ele.
Apenas alguns passos à frente. Alto. Imponente. Com um copo nas mãos. Os olhos cravados nos meus.
— Bom… — murmurou Harper, engolindo seco. — Zane… que tal pegarmos mais alguma coisa para beber? — disse, tentando soar casual, mas a voz dela vacilou.
Zane assentiu. Ele e Noah se encararam feito dois lobos. Não sei por que, mas Noah nunca simpatizou com ele. Talvez fosse ciúmes. Ou apenas frescura.
Meus amigos se afastaram, e então ele se aproximou.
— Parabéns, Bella. — A voz dele era baixa, rouca… e cada palavra parecia arrancada do fundo da garganta. Carregava uma intensidade que me cortou feito lâmina. — Você está linda...
Continuei sentada, mantendo a postura firme, mesmo que meu coração estivesse prestes a explodir.
— Obrigada. — Respondi, seca. Queria soar fria. Imune. Mas minha voz falhou no final.
Ele então meteu a mão dentro da jaqueta de couro e puxou uma pequena caixa preta. Estendeu para mim com a mesma mão que tantas vezes segurou a minha.
— É pra você. — Disse, olhando nos meus olhos, como se aquilo significasse mais do que um simples presente.
Fiquei olhando para a caixa com desprezo. Peguei-a devagar, e então levantei os olhos para ele.
— É isso que você vai fazer de novo? Vai me dar algo e sumir? — Minha voz saiu firme.
Me levantei, colocando a caixa fechada no banco ao meu lado.
— Você chega aqui como se nada tivesse acontecido. Como se eu fosse uma figurante na sua vida. Finge que se importa comigo e vai embora de novo. É isso que você faz, Noah. — Meus olhos ardiam, mas me recusei a chorar na frente dele.
Ele hesitou. A tensão nos ombros dele ficou visível.
— Você tá nervosa… é melhor eu ir antes que a gente fale merda e se arrependa depois… — disse, virando-se de costas.
Dei uma risada amarga, sem humor, o peito em combustão.
— Claro que vai fugir. É isso que você faz, não é? Foge. Se esconde. Age como se eu fosse uma fração, um mero detalhe. — Dei um passo à frente. — Você não vê? Não vê o que eu sinto por você? Ou simplesmente ignora?
Ele parou, os ombros tensos. Mas não respondeu.
— Fala comigo, Noah... — Estendi a mão, tocando o braço dele.
Ele se virou lentamente. Os olhos encontraram os meus. Tão penetrantes, tão intensos. Tão cheios de tudo o que ele tenta esconder.
E então eu fiz.
Deus, eu fiz.
Subi nas pontas dos pés, ignorando o salto alto, e me aproximei tão rápido quanto o fogo que me consumia por dentro.
Beijei-o.
Antes que ele reagisse, eu o beijei.
Um beijo sem jeito, inexperiente, mas carregado de sentimentos.
A boca dele era fogo e pecado. Era raiva e saudade. Era sentimento não dito e desejo descontrolado.
Ele segurou minha cintura com força, os dedos afundando na minha pele como se quisesse me manter ali. Presa.
Por um segundo eterno, o mundo perdeu o som.
A festa virou poeira.
Só existia ele. E eu. E esse sentimento gritando dentro de nós.
E então…
Ele afastou o rosto.
Mas os olhos dele… estavam em chamas.
— Esquece o que acabou de acontecer, — ele murmurou contra minha testa, a respiração dele ainda quente no meu rosto, ofegante como a minha. — Não cometa esse erro de novo, Bella. Foi a primeira e última vez, entendeu?!— Ele cravou as palavras como punhais e se afastou.
Eu pisquei, travando o choro, sentindo o gosto do beijo ainda queimando na minha boca.
Dei um passo à frente. E o encarei com tudo que havia dentro de mim: mágoa, orgulho, dor e amor sufocado.
— Não se preocupe, Noah. — minha voz saiu baixa, mas afiada como uma lâmina — Eu vou esquecer. Esquecer cada maldito segundo desse beijo.
Meu olhar cravou o dele, e eu vi quando ele travou a mandíbula. Eu tinha atingido.
— E se depender de mim… nunca mais meus lábios vão tocar os seus. Eu cansei. — Dei uma risada amarga. — Cansei da sua indiferença, da sua covardia disfarçada de frieza. Você quis me afastar, muito bem, você conseguiu. Parabéns.
Ele ficou em silêncio, mas eu vi.
Vi os olhos dele vacilarem.
Vi a dor que ele tentava esconder atrás daquele rosto de mármore.
— Vai. Volta para suas festas de fachada. Volta pra tua vida cheia de luzes falsas, risos vazios e amores descartáveis. — Minha voz tremia, mas era firme. — E leva isso com você. — Peguei o presente que ele tinha trazido. — Toma. Eu não quero, não quero nada de você.
E virei as costas.
Saí andando sem olhar para trás.
Noah queria que eu esquecesse? Queria me afastar?
Tudo bem. Eu faria exatamente como me pediu.
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